quarta-feira, 30 de janeiro de 2019

AS BOUTIQUES DE CARNES.


As boutiques de carnes. (por Antonio Samarone)
Em Aracaju existe uma cruzada contra a carne fresca. A justificativa é a higiene e a saúde pública. O discurso, a narrativa é que a população precisa ser protegida, dos riscos que desconhece. Culturalmente o povo não gosta da carne congelada dos supermercados e frigoríficos. Prefere a carne das feiras, muitas vezes ainda quentes, tingidas de sangue. Essa carne vem sendo assim consumida desde que Martins Afonso de Souza trouxe os primeiros bovinos para o Brasil.
Saindo da esfera dos costumes e dos hábitos alimentares, cabe uma pergunta: quais são os males causados pela carne, preveníveis pelo resfriamento? Quais são essas doenças? Qual a incidência, a letalidade, a mortalidade dessas patologias causadas pela carne, devido ao seu não resfriamento? A informação genérica é que o resfriamento evita a proliferação de bactéria, quais são essas bactérias? Quais dessas bactérias resistem ao cozimento? Vamos levar a conversa para o campo científico.
O controle sanitário do animal abatido, dos locais de abate e do transporte da carne é precário; creio ser ilusão resfriar a carne na feira, no ponto de venda. O consumidor terá uma ilusão de limpeza. Quem controla a carne, congelada e descongelada, exposta nas vitrines dos supermercados? Quando os pedaços de carne expostos a venda em pratinhos plastificados sobram, a carne escurece, qual a reciclagem feita para o dia seguinte? Eu não sei...
Lembram-se das irregularidades encontradas na operação “carne fraca”, quando a vigilância sanitária resolveu fiscalizar os grandes frigoríficos nacionais? Foi um Deus-nos-acuda! Nunca mais se falou nisso.
Como médico sanitarista, defendo a vigilância sanitária da origem do animal aos pontos de venda. Defendo o controle sanitário desde a criação do animal, do uso de hormônios, antibióticos, do capim empestado de agrotóxico, da qualidade das rações, das doenças do animal, das condições do abate, do transporte, e dos pontos de vendas. Fiscalizar apenas um subitem da lei, não parece eficaz.
O controle dos pontos de venda é o elo final de uma grande cadeia. Outra coisa, porque a cruzada recaiu apenas sobre os pequenos marchantes de feiras livres? O fato de as boutiques de carne possuírem balcões sofisticados, não garantem a qualidade do produto.
Claro, a ação é bem-intencionada. A intenção é proteger a saúde população, mesmo sem se saber direito de quê. Talvez o risco maior esteja ao lado, nas frutas, cereais e hortaliças, geralmente entupidos de agrotóxicos. Do plantio a conservação. Até para apressar o amadurecimento são usados artifícios químicos. Comprei uma fava um dia desses, quando foi cozinhar, a água ficou branca de veneno.
A verdade é que comemos mal. Os venenos são usados livremente na produção dos alimentos, inclusive das carnes. E esses venenos vem para a nossa mesa. Como os frangos são criados nos confinamentos das granjas? O que se usa nos viveiros de camarões? E o milho, quais os venenos que são espalhados de avião. Uma ação dos órgãos da vigilância sanitária seria muito bem-vinda.
Entretanto, exigir dos marchantes de feira livre um balcão refrigerado não altera a péssima qualidade dos alimentos que consumimos.
Antonio Samarone.

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