Antonio Samarone de Santana.
Academia Sergipana de Medicina.
A interiorização das ações de saúde e saneamento (PIASS), na
gestão de José Machado de Souza, final da década de 1970, foi à última experiência
consistente de saúde pública, no âmbito da Secretária Estadual de Saúde.
A saúde em Sergipe, nos últimos 30 anos, teve a infelicidade
de ser conduzida sob a égide dos interesses partidários e eleitoreiros, em três
longas e penosas experiências. Ao final de cada gestão, não se avançava na
qualidade dos serviços prestados a população, contudo, o gestor elegia-se o deputado
federal mais votado e tornava-se uma liderança política.
Na última dessas aventuras, curiosamente durante o “governo
das mudanças”, o modo petista de governar desmontou a rede básica; aparelhou o
controle social, desmobilizou os servidores, com o uso do critério de adesão
política para a escolha das chefias e gerências; levou a relação com os servidores
para estado de beligerância permanente; e operou os recursos financeiros de
forma perdulária. O próprio governador Marcelo Déda, num momento de desespero,
foi levado a assumir pessoalmente as responsabilidades com a Saúde.
Com a posse de Jackson Barreto uma surpresa, a gestão da
saúde foi entregue a um “outsider”, um engenheiro agrônomo, Zezinho Sobral. Sem
a pretensão de realizar uma reforma sanitária, sem verdades prévias, humildemente,
procurou os trabalhadores da saúde para pedir apoio e trabalhar em parceria,
ocupou as gerencias com técnicos, pois freios no descontrole financeiro,
desmontou os comitês políticos, botou o pé na estrada, e foi tentar consertar o
que parece não ter mais jeito.
Claro, muita coisa continua funcionando mal, o atendimento
continua precário, falta isso, falta aquilo, mas muita coisa já melhorou. Não é
fácil montar uma rede de serviços descentes a partir da situação encontrada. A
bagaceira era grande. Contudo, os ventos começaram a soprar noutra direção.
Zezinho Sobral precisou deixar a Secretaria, e aí surgiram as
especulações: quem seria o substituto? Para a minha surpresa e contentamento, o
Governador anunciou hoje o nome de Conceição Mendonça, uma enfermeira, sem
padrinhos políticos, sem sobrenome famoso; uma técnica, legitimada pela
competência e compromisso com a coisa pública, sem ambição de ser chefe
politico, sem ambição de enriquecimento, uma devota do serviço público, uma
servidora do Sistema Único de Saúde (SUS). Quem sabe não seja esse o caminho? A
Saúde que não deu certo em mãos dos coronéis da política pode ter encontrado o
seu caminho na gestão profissionalizada, técnica, centrada no planejamento e no
fim dos desperdícios com o dinheiro público.
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