sábado, 5 de março de 2016

HOSPITAL SANTA IZABEL (PARTE UM)

Hospital de Santa Isabel.

 Antonio Samarone de Santana.

Após a grande epidemia de cólera em Sergipe (1855), com mais de trinta mil óbitos em três meses, o Presidente da Província, Salvador Correia de Sá, manda edificar um Hospital de Caridade em Aracaju, que acabava de assumir a condição de capital do Estado. A resolução número 467, de 13 de março de 1857, determina a edificação de um hospital de caridade, em local apropriado. Entretanto, essa idéia não saiu do papel. Outra resolução, a de número 498, de 24 de maio de 1858, autorizava o Governo a estabelecer na capital, um hospital de caridade, de nome “Hospital Nossa Senhora da Conceição” (o atual “Santa Isabel”). Em 26 de maio de 1858, finalmente, foram encomendados ao Major Engenheiro Sebastião José Bazilio Pyrrilio, a confecção da planta e o orçamento da obra.

Desde 20 de julho de 1858, ao Dr. Francisco Sabino Coelho Sampaio, já nomeado médico do futuro hospital, é dado à incumbência de emitir parecer sobre a referida planta[1]. O hospital só funcionará a partir de 1862.

O Presidente da Província nesse período, Dr. João Dabney D’Avellar Brotero, preocupado para que os custos do futuro hospital não viessem recair exclusivamente sobre os cofres públicos, tentou, sem sucesso, criar uma Santa Casa de Misericórdia para administrar o futuro hospital. Foi criada uma comissão composta pelo chefe de polícia, Ângelo Francisco Ramos, pelo cônego vigário geral, Ignácio Antonio da Costa Lobo, pelos tenentes-coronéis Félix Barreto de Vasconcelos e Antonio Carneiro de Menezes e pelo Dr. Francisco Sabino Coelho Sampaio visando a arrecadar fundos para a futura instituição.

“Parece-me que um estabelecimento tão piedoso e filantrópico jamais devia ficar exposto à condição de uma duração efêmera; que essas comissões obsequiosas nomeadas pelo Governo raras vezes prestam-se ao cabal desempenho de seus misteres; que um hospital assim constituído teria de exclusivamente pesar sobre os Cofres da Província, quando por ventura não fosse suprimido por qualquer eventualidade, ocorreu-me que lhes dada uma existência mais vital e duradoura revestindo sua administração de um caráter e prestígio religioso, e que por isso a criação nesta Capital de uma Santa Casa de Misericórdia, a cargo de cuja mesa administrativa viesse a ficar o dito hospital, preencheria mais normalmente os fins a que se o destina; ao mesmo tempo em que esta com maior solicitude e rigoroso dever promoveria os meios de mantê-lo, e torná-lo estável, além da incontestável vantagem de conservar-se uma instituição de tal categoria, e cuja base é a prática dos salutares princípios de caridade, em uma Capital recente, onde sequer não exige uma só Corporação Religiosa.” [2]

A empreitada para organizar uma Santa Casa em Aracaju foi um fracasso. A filantropia social já estava em declínio na Província de Sergipe em meados do século XIX. Mesmo assim, para a construção do hospital, o Governo pede ajuda aos proprietários e capitalistas da província, conforme atesta o ofício circular, datado de 04 de julho de 1861. Não encontramos referências quanto ao possível valor arrecadado. Na realidade, o hospital foi construído praticamente com recursos públicos. Sobre os gastos do Tesouro com a construção do hospital “Nossa Senhora da Conceição”, assim se pronuncia o Presidente da Província, Dr. Thomaz Alves Júnior:

“Esta obra contratada com Joaquim José Alves Guimarães está concluída. Além dos 7:000$000, valor do contrato, despendeu-se mais com a pintura —316:500 — com o aterro de um grande buraco — 390:000 — e com o cercado do quintal se deve despender 200:000.”[3]

O Hospital “Nossa Senhora da Conceição” (atual Santa Isabel), começou a funcionar na Rua Aurora (atual Rua da Frente), no trecho em entre as ruas de Estância e Maroim, em 16 de fevereiro de 1862, no governo do Presidente Joaquim Jacinto Mendonça.

Após muita discussão, o hospital foi entregue para ser administrado a uma comissão nomeada pelo Governo da Província, de acordo com o “Regulamento” aprovado em 10 de fevereiro de 1862. Para sua manutenção, o Presidente entregou as rendas do recém-construído cemitério de “Nossa Senhora da Conceição” (atual cemitério Santa Isabel), que começou a funcionar em 27/02/1862. A Comissão Administrativa, sua composição e competência foram definidas pelo Regulamento[4] do Hospital.

“Esta comissão, da qual será tesoureiro nato o tesoureiro provincial, será composta deste e de mais seis cidadãos probos e conceituados dentre os quais designará o Governo um para Diretor e outro para Secretário.”[5]

Houve muita polêmica quanto a quem deveria ser entregue a administração do novo hospital, pois havia setores que defendiam que a saída não seria a criação de uma Santa Casa de Misericórdia, houve uma tentativa frustrada; más entregar o hospital a uma instituição religiosa já existente, como a “Irmandade do Santíssimo Sacramento”, o que também não deu certo. Como vimos, o hospital findou sendo entregue a uma comissão nomeada pelo Governo e funcionando quase como uma “Repartição Pública”. O hospital era visto como uma instituição que revelava o espírito de caridade dos homens e o seu estado civilizatório.

A construção do cemitério “Nossa Senhora da Conceição” (atual Santa Isabel), que será uma das fontes de renda para o hospital, só foi possível graças a recursos enviados pelo Imperador Pedro II e pela colaboração da “Sociedade de São José dos Artistas”, que ofereceu vinte oficiais pedreiros com os respectivos serventes, para que trabalhassem gratuitamente até o final das obras.

Também para a manutenção do Hospital, o Barão de Maruim (João Gomes de Melo) doou um terreno na rua da feira, para que a administração do hospital construísse uma “casa de mercado”, que passaria a ser mais uma alternativa de renda para o Hospital. O primeiro mercado de Aracaju pertenceu ao Hospital Santa Isabel.

O Presidente Joaquim Jacinto de Mendonça (1862) nomeia para dirigir o hospital “uma comissão composta de sete cidadãos prestantes e zelosos, cuja dedicação e caridade são proverbiais”[6], assim constituída: Presidente, Dr. Joaquim José de Oliveira; Secretário, Tenente Coronel Manoel Diniz Vilas-Boas; Tesoureiro, Major João Manoel de Souza Pinto, e mais, o Tenente Coronel Antonio Carneiro de Menezes, o Capitão Antonio Rodrigues das Cotias, o Capitão José Pinto da Cruz e o Alferes Antonio José Pereira Guimarães. Foi essa a primeira diretoria do atual Hospital “Santa Isabel”.

No seu primeiro ano de funcionamento, o Hospital de Caridade de Aracaju atendeu 442 pacientes, sendo as enfermidades sifilíticas, as afecções do peito e as sezões traumáticas as moléstias mais freqüentes. O Hospital contava com três enfermarias: São Roque, Santa Isabel e São Sebastião (militar), e possuía em torno de 60 leitos. O médico do Hospital, Dr. Francisco Sabino Coelho Sampaio, que também exercia as funções de cirurgião, cedeu cinco meses dos seus vencimentos para ajudar o funcionamento do hospital.




[1] Relatório com que foi entregue à administração da Província de Sergipe, no dia 07 de março de 1858, ao Dr. Manoel da Cunha Galvão pelo Dr. João Dabney D’Avellar Brotero.
[2] Relatório do Presidente da Província, Dr. João Dabney D’Avelar Brotero, em 07 de março de 1859, ao passar o Governo ao Dr. Manoel da Cunha Galvão.
[3] Relatório apresentado à Assembléia Provincial, em 04 de março de 1861, pelo Presidente da Província, Dr. Thomaz Alves Júnior.
[4] Regulamento aprovado pelo Presidente da Província, Joaquim Jacinto Mendonça, em 10 de fevereiro de 1862, de acordo com o previsto no artigo 4o, da Resolução Provincial n.º 498, de 24 de maio de 1858.
[5] Artigo 2o do Regulamento do Hospital Nossa Senhora da Conceição.
[6] Relatório do Presidente, Joaquim Jacinto de Mendonça, em março de 1863.

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