domingo, 2 de novembro de 2025

O CABO MAMONA


 O Cabo Mamona.
(por Antonio Samarone)

“Cabo Mamona, comandante da milícia/ Não quis mais ouvir a missa/ do Cura do Patrimonio/ - Prende-se o Padre, Sacristão, com alegria/ Prendo as filhas de Maria e os músicos da Santo Antonio (Filarmônica)/ Mamona não é chalaça/ Vá tomar a sua cachaça.” – Caxangá, citado no livro do doutor Vladimir.

Mamona era o chefe de polícia do Coronel Sebrão. No dia 14 de junho de 1916, Sebrão botou a polícia na porta da igreja, para acabar com as Trezenas de Santo Antonio. A briga do chefe político com o padre Vicente Francisco de Jesus tinha radicalizado.

O padre, que gostava de confusão, botou os seus seguranças na porta da igreja. No, arranca rabo, o soldado Bicudo abateu a golpes de facão, o senhor Luiz Pereira de Andrade (avô de Francis de Andrade). A vítima caiu ensanguentado na Rua da Vitória, morreu na calçada, sem assistência, com a orelha esquerda e o nariz decepados. O crime ficou impune.

O Bispo, Dom José Thomas, suspendeu a procissão de Santo Antonio, em 1916. Fato único, nos 350 anos da Paróquia de Santo Antonio e Almas.

O Padre Vicente Francisco de Jesus, era um lagartense, da Terra de Itajay. Chegou a Itabaiana em 26 de janeiro de 1913. Um padre operoso. Segundo as más línguas, queria suceder o chefe político Batista Itajay, que andava adoentado e já morava em Aracaju.

O padre Vicente fechou o cemiterinho, do fundo igreja. A Irmandade das Almas assumiu o atual Cemitério das Almas. A Irmandade comprou três esquifes pretos, para enterrar os pobres. Os indigentes eram sepultados enrolados num cobertor. O caixão voltava para transportar os próximos.

Vicente Francisco de Jesus reformou a igreja. Construiu a capelo mor, colocou um relógio na torre (relógio construído pelo artista itabaianense Manoel Garangau). Trouxe um sino de São Paulo, inaugurado em 1º de janeiro de 1915. Sino que anda silencioso. O padre adquiriu os 15 quadros da via-a-sacra, que até hoje, estão nas paredes da igreja.

O padre Vicente fazia oposição aberta ao Coronel Sebrão, chefe político. Como retaliação, foi exonerado do cargo de Delegado da Educação, no município. Mexeu no bolso.

O padre não deixou por menos, durante uma Santa Missão, não permitiu que Dona Carrôla, amante do Coronel, crismasse uma criança. “A senhora não tem condições de ser madrinha.” Uma desfeita pública!

Circulava de mão em mão: “Dona Carrola por ser batuta na Taba/ O repertório não acaba/ Sem que traga confusão/ Mas que audácia de tamanha zabaneira/ Pois não passa de rameira/ Concubina de Sebrão. Aplique mercúrio em ampola/ Para a sífilis de Carrôla.”

O padre comprou uma briga ruim. Dona Carrôla, amante de Sebrão, não era uma qualquer. Era irmã de Antonio Dutra, comerciante e duas vezes Prefeito, e de Dona Caçula, a mãe de Oviedo Teixeira.

O saldo da briga foi a transferência do Padre Vicente, sendo substituído pelo Monsenhor Constantino, que permaneceu em Itabaiana até 1926.

O Monsenhor Constantino era natural de Penedo e nome oficial do Beco do Ouvidor, onde nasci. Cem anos depois, temos outro penedense, padre Paulo Lima, comandando a Freguesia de Santo Antonio e Almas.

Padre Vicente Francisco de Jesus é o nome da rua que sai da esquina do antigo Grupo Guilhermino Bezerra, em direção à Praça de Eventos, em Itabaiana.

E nome da antiga Escola do Padre: Educandário Cônego Vicente Francisco de Jesus, onde fiz o primário. A escola do Padre era particular, para os filhos dos endinheirados, e para os filhos dos pobres, patrocinados pelo Círculo Operário.

O Cabo Mamona, chefe da guarnição, foi promovido a sargento e Zé de Brió perdeu o avô.

Antonio Samarone – Secretário de Cultura de Itabaiana.

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