quinta-feira, 6 de novembro de 2025

A CULTURA DOS VAQUEIROS

A Cultura do Vaqueiro.
(por Antonio Samarone)

O gado chegou a Itabaiana com os primeiros colonos (1602), acompanhando os vaqueiros da Casa da Torre. Foi a principal atividade econômica por 200 anos. Itabaiana nasceu à sombra dos currais.

O gado é uma mercadoria que anda, vai a pé aos mercados e matadouros. O gado era a força motriz, alimentação e transporte dos engenhos do Recôncavo Baiano e de Olinda.

De couro eram as portas das cabanas, os leitos, as camas para os partos, as cordas, as bolsas para se carregar água, o alforje para se levar comida, a maca para guardar roupa, a mochila para milhar cavalos, a peia para prendê-los, as bainhas das facas, as bruacas e surrões, as roupas para se entrar no mato e os bangues para os curtumes.

O gado era criado em “soltas”. O transporte em lombos de burros e carros de bois.

Os curraleiros deixaram uma profunda herança cultural. A carne é o prato típico de Itabaiana. Uma churrascaria em cada esquina. Acredita-se, que só a carne dá sustança.

A carne hoje é uma commodity. O gado é criado com alta tecnologia, genética apurada, chips, rações balanceadas e vigiados por drones. O vaqueiro é um técnico especializado.

O modo de vida dos antigos vaqueiros tornaram-se manifestações culturais. Mantiveram-se as tradições das pegas de bois, das toadas e dos aboios. Da mesma forma que os rodeios americanos e as touradas madrilenhas.

As pegas de bois na caatinga, ganharam regras e se transformaram em vaquejadas. Criaram-se parques, com essa finalidade. O Parque São José fez história. Hoje, Itabaiana possui o Parque Cunha Menezes, com uma estrutura invejável.

As cavalgadas são manifestações bucólicas da vida rural, saudades e reminiscências. Uma forma popular de hipismo.

Em Itabaiana, a tradição da vaqueirama aflorou com Djalma Lobo e a Rádio Princesa da Serra. Em seu programa, Manhãs Nordestinas (das 4 a 7 da madrugada), Djalma trouxe a cultura dos vaqueiros para o rádio.

As quintas, a dupla Leo e Zito, fazia o Canta Sertão, com aboios e toadas. Vavá Machado e Marcolino sempre presentes.

Marcolino gravou o prefixo: “A Rádio Princesa da Serra fala, e Djalma Lobo abala, a cidade de Itabaiana”. Quem se lembra? Palmeirinha e Neve Branca, na viola; Vânia Silva e o trio Cariri; Josa, o Vaqueiro do Sertão; Erivaldo de Carira, o pai de Mestrinho; Aurelino, o pai de Tatua; Adélson, seu irmão; e Cobra Verde, o velho.

Nessa empreitada, Zito (José Costa), um artista aboiador de Palmeiras dos índios, se mudou para Itabaiana. Hoje, ele tem gravado: 8 LP, 4 compactos duplos e 30 CDs. Com o filho, Ruan Costa, dominam o mercado das vaquejadas e festas de vaqueiros, em Sergipe.

Djalma Lobo foi mais longe. Em 1979, inspirado na Missa do Vaqueiro de Serrita, trouxe a festividade para Itabaiana. A festa repetiu-se em 1980/81.

O sucesso dessas missas, ascendeu a cultura do vaqueiro em Sergipe. A festa não teve continuidade, por conta da política. Djalma Lobo se tornou o Deputado Estadual mais votado de Sergipe.

A semente estava plantada. Em 1990, foi construído o Parque de Vaquejada São José.

Em 1993/94/95, com a chegada de João de Zé de Dona à Prefeitura de Itabaiana, o seu irmão Zé Milton, ressuscitou a Missa do Vaqueiro. Dessa vez, com mais força, tornando-se uma festa interestadual. Na última, 30 vaqueiros encouraçados vieram de Serrita. Vaqueiros de todo o Nordeste, mais de mil.

O cortejo de vaqueiros encouraçados encheram Itabaiana de alegria e espanto. Era uma tradição de 300 anos, que ressurgia fortalecida. A festa foi animada pelo Grupo Asa Branca: Dr. Wellington Mendes, sua esposa Dirce e a talentosa Amorosa.

Novamente, a missa do vaqueiro em Itabaiana foi interrompida pela política: Zé Milton se elegeu Deputado. Tomou posse a cavalo, com 500 vaqueiros montados, que subiram as escadarias da Assembleia Legislativa.

O mundo cultural do Aracaju, achou estranho, não entendeu. A cultura sertaneja é desconhecida no litoral.

Já se passaram 30 anos.

O Prefeito Valmir decidiu retomar a tradição. Missa, missa mesmo, parece que a diocese do Aracaju proibiu. Não sei as razões. O profano e o sagrado andam juntos em outras manifestações.

Como missa não pode, em Sergipe, vamos fazer a Festa do Vaqueiro. Com o mesmo proposito de cultuar uma tradição dos antigos. Será, no domingo, 30 de novembro. Os vaqueiros encouraçados voltarão as ruas de Itabaiana, com suas toadas e aboios.

Como sempre, será uma grande festa!

Zito e Zeti, só mudou o parceiro, vão abrilhantar. Vavá e Marcolino já morreram. Iguinho & Lulinha, naturais de Canindé de São Francisco, mas moram em Petrolina; e Arreios de Ouro, uma banda do Sertão de Moxotó, Pernambuco. Tudo dentro dos valores e tradições dos vaqueiros.

Os vaqueiros encouraçados voltarão a encantar às ruas de Itabaiana. Não percam...

Itabaiana, festejará as raízes e as tradições dos curraleiros. A Terra das Filarmônicas e da cultura erudita, também sabe festejar a cultura popular!

Antonio Samarone – Secretário Municipal de Cultura.

Foto: a última missa do vaqueiro em Itabaiana (1995).
 

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