Os Telefonemas de Lampião.
(por Antonio Samarone)
Que me perdoem os doutores do cangaço, mas quero tirar a limpo uma estória que ouço desde menino. O médico e escritor Ranulfo Prata, escreveu um manifesto pedindo a cabeça de Lampião, em 1933.
Ranulfo se apresentou como porta-voz da angústia dos seres humildes, dos párias e pés-rapados, na verdade, falava em nome dos senhores dos latifúndios.
Lampião chegou a Sergipe por volta de 1929, saindo de sua toca, no Raso da Catharina.
O Raso é um deserto encravado entre Jeremoabo e a Várzea da Ema, com uma “flora de espessa trama de dilacerantes espinhos e folhagem urticante.
No livro/manifesto “Lampião”, Ranulfo transcreveu um diálogo insólito:
“Fazia meses que Lampião vivia em guerra aberta com a Bahia, mas em paz com Sergipe. Do Saco do Ribeiro, telefonou ao delegado de polícia e chefe da cidade de Itabaiana, Othoniel Dórea, chamando-o de colega.
- Colega, por quê? Indaga, intrigada, a autoridade.
Explica o Capitão:
- Pruque você é cego de um oio, cumo eu.
Dorinha morreu com a fama de valente, por peitar Lampião. O certo, é que Lampião seguiu o seu caminho.
Aqui, temos um impasse: Lampião telefonou de onde?
O telefone só chegou à Itabaiana em 1955, depois da chegada da luz elétrica de Paulo Afonso. Imagine no povoado Saco do Ribeiro.
“O telefone desembarcou em Itabaiana, funcionando numa central, no sobrado onde Aprígio Ferreira Passos morava, na esquina da Fausto Cardoso, com a atual Ivo de Carvalho.” – pag. 242, do livro Euclides Paes Mendonça, do mestre Vladimir Carvalho.
Essa versão do telefonema entre Lampião e Dorinha circula até hoje, como verdadeira, mesmo sem existir linhas telefônicas à época, nem na cidade de Itabaiana, nem no povoado Saco do Ribeiro. O que vale é a lenda!
Na bem documentada visita à Capela, onde Lampião foi ao cinema, a comunicação com as autoridades do Aracaju, foi feita pela via do telégrafo. O telegrafista era o famoso jornalista Zózimo Lima.
Vou pedir socorro ao pesquisador Robério Santos.
Antonio Samarone. Secretário Municipal de Cultura.

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