O Sonho é possível.
(por Antonio Samarone)
Em plena Copa do Mundo de Clubes, onde o futebol tornou-se uma valiosa mercadoria, regida pelo mercado financeiro, Eu tive um sonho: sou da geração do bicampeonato mundial do Brasil (1958 – 1962).
Sonhei que no Tabuleiro dos Caboclos, onde nasceu o futebol em Itabaiana, onde eu me criei brincando de bola, seria construído um estádio moderno: com cadeiras, arquibancadas cobertas, iluminação, vestiários climatizados, cabines de rádios confortáveis, grama-inglesa, drenagem e um museu do futebol.
O Tabuleiro dos Caboclos em minha infância chamava-se Cruzeiro ou Avenida. Uma comunidade de negros, vinda do quilombo do Barro Preto; e de descendentes dos Boymé, tribo que deixou muita gente. Os negros viviam da cerâmica (paneleiros), e os Boymé da lavoura, plantando aipim e algodão.
Na década de 1940, o Governo Federal criou nas proximidades, uma unidade agrícola de fomento e assistência técnica. Na chamada Fazenda Grande, tinha agrônomos cheios de novas técnicas agrícolas, se capacitava para o uso de máquinas e sementes selecionadas e para a melhoria dos plantéis dos animais de criação. O Jegue da Fazenda Grande virou lenda. A agricultura em Itabaiana recebeu muitos benefícios.
Foi nessa comunidade do Tabuleiro dos Caboclos que se construíram os três campos de futebol, em Itabaiana: o Etelvino Mendonça (o antigo), do Tricolor da Serra; o Campo do Cantagalo, os dois murados, e o Campo de Mané Barraca, para as peladas. Eu me tornei craque (gabolice), nesse último.
O velho rezador Mané Barraca, quebrador de britas, morava ao lado, em um casebre, ainda em pé. Em meu saudosismo incurável, passo lá, ocasionalmente. Ontem eu revivi um sonho de infância, eu passei.
Seu Mané tinha um time de meninos pobres, da localidade, imbatível, com ele no apito. Os times dos meninos da cidade, sempre os desafiavam. O Sergipinho de Carlos Alberto (Bem), neto de Pedro de Boanerges; o Bahia de Miguel de Durval do Açúcar, entre outros. Eu joguei no Bahia. A molecada sonhava como se estivesse disputando uma final de Copa do Mundo.
A Prefeitura, está construindo um Estádio Moderno, onde era o Campo de Mané Barraca. Um campo para o futebol amador, para os times dos bairros e dos povoados. Um campo para quem gosta de jogar futebol, como divertimento, para quem gosta de brincar de bola.
O Tabuleiro dos Caboclos virou o Bairro São Cristóvão em 1958, na gestão do Prefeito Serapião. Nesse ano, os caminhoneiros (já existiam mais de cem) fizeram a sua primeira carreata, puxada por João de Balbino, motorista do ônibus de Oviedo Teixeira.
Essa carreata conduzia São Cristóvão, protetor dos motoristas. Anos depois, os caminhoneiros, liderados por Rolopeu, ligaram a Carreata as Trezenas de Santo Antonio. Hoje é a festa dos caminhoneiros, nacionalmente conhecida.
A festa dos caminhoneiros em Itabaiana, completou 67 anos. Para que Pedro Bial não volte a perguntar por que Itabaiana é a Capital Nacional do Caminhão (por Lei Federal).
São Cristóvão, o bairro mais antigo da cidade, possui uma história viva. O Bairro se desenvolveu. Possui o grande Ginásio de Esporte Chico do Cantagalo; uma Praça da Juventude (em reforma); uma Escola Técnica Federal, Seminário católico, largas avenidas, loteamento de classe média, um bem administrado abrigo de idosos, sede de Paróquia, escolas, e um movimento de resistência cultural ativo.
O estádio municipal vai preservar a memória do futebol em Itabaiana. Futebol que une e mobiliza a cidade, que envaidece os itabaianenses, com as glórias da Associação Olímpica de Itabaiana. Essa memória será alimentada com a construção desse Estádio Municipal.
Eu sei, quem desconhece a vida esportiva em Itabaiana, pode achar que eu estou sendo um saudosista romântico. Sei também que alguns ranzinzas vão alegar: gastar dinheiro público com o lúdico, com o lazer, com o divertimento, com a memória e com a cultura? Não seria mais útil, construir escolas e hospitais!
Primeiro, a rede escolar municipal em Itabaiana é bem cuidada e o nível de ensino é de qualidade. Segundo, a gestão municipal já tomou as providências para a construção de um hospital municipal. Nesses tempos de desfinanciamentos federal e estadual da Saúde, construir um hospital municipal é uma ousadia necessária.
Voltemos ao lúdico, a memória e a cultura.
Numa era onde o futebol virou um grande negócio, os clubes se tornaram Sociedades Anônimas (SAF), onde os meninos torcem pelo Real Madrid ou Barcelona, voltar ao brinquedo de bola, ao amadorismo, ao futebol de rua, é uma forma de resistência da cultura local.
O clássico esperado volta a ser: São Cristóvão X Ideal, times organizados pelos sapateiros do Beco Novo.
Eu sei, é sonho! Mas a gestão municipal de Itabaiana também cuida dos sonhos coletivos.
Antonio Samarone. Secretário Municipal de Itabaiana.
OS: a foto é da centenária Capela do Bairro São Cristóvão.

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