quarta-feira, 9 de julho de 2025

A MEDICINA E AS GUERRAS.


 A Medicina e as Guerras.
(por Antonio Samarone)

Os estertores crepitantes da 3ª Guerra já podem ser auscultados. As guerras nunca foram estranhas à medicina.

O Pai da cirurgia, Ambrois Paré (1510 – 1590), viveu nos campos de batalhas. No tratamento aos feridos, ele substituiu os horrores do cautério com óleo fervente e ferro em brasa; pelo uso de gemas de ovos, óleo fresco de rosas e óleo frio de terebentina. Antes da assepsia e da anestesia, foi esse o maior avanço da cirurgia.

Sabemos apenas da Primeira Guerra, que ela começou quando Francisco Ferdinando, sobrinho do Imperador Francisco José, e herdeiro do Império Austro-Húngaro, visitava a cidade de Sarajevo, capital da Bósnia-Herzergovina, com sua esposa, quando foi alvo de um atentado cometido por um grupo de nacionalistas sérvios.

A Primeira Guerra Mundial (1914 – 1918) pôs fim aos Impérios Austro-húngaro e Otomano e facilitou a Revolução Bolchevique (1917). No início, o Brasil se declarou neutro. Os intelectuais eram simpáticos a França.

Em outubro de 1917, após o afundamento do cargueiro brasileiro Macau, o presidente Wenceslau Braz declarou guerra à Alemanha; sem condições para levar uma grande ação bélica a Europa, optou pelo envio de uma Missão Médica.

A missão especial médica, de caráter militar, partiu do Brasil em 18 de agosto de 1918.

Na praça Mauá, cerca de 4 mil pessoas se despediam do grupo, inclusive o presidente Wenceslau Brás. Chefiada pelo Dr. Nabuco Gouvêa, contava com 86 médicos, somando-se a seis médicos que já estavam atuando ali. Havia ainda 17 estudantes de medicina, 15 esposas, os médicos atuando como enfermeiras e 16 outros membros como farmacêuticos, intendentes e secretários.

Não encontrei sergipanos na comitiva. A disputa entre os médicos por uma vaga na expedição foi acirrada. Houve 354 inscrito. Era uma oportunidade de aperfeiçoamento profissional. Após a missão, a medicina brasileira andou sob inspiração francesa, por muitos anos.

A presença de Paulo de Figueiredo Parreiras Horta, na missão militar. Foi um laço indireto. Parreiras depois dirigiu em Sergipe, o Instituto com o seu nome. Ele foi o diretor do laboratório, do hospital brasileiro fundado em Paris, para atender aos feridos da Guerra e aos acometidos pela Gripe Espanhola, que grassava na ocasião.

Parreiras Hortas é merecidamente cultuado em Sergipe. Entretanto, existe uma história escabrosa sobre ele: como se sabe, o Brasil nunca ganhou o prêmio Nobel.  

Carlos Chagas chegou a ser indicado em duas ocasiões (1913 e 1921). Ele descobriu sobre a doença que leva o seu nome: o agente etiológico, o inseto transmissor, o ciclo biológico do parasita, os animais reservatórios e as forma clínicas agudas e crônicas da doença.

Carlos Chagas foi eliminado do Nobel por um relatório contrário dos seus colegas de Manguinhos, entre eles, Parreiras Hortas. Onde há fumaça, há fogo. Quando veio a Sergipe, Parreiras Hortas já tinha sido afastado de Manguinhos, trabalhava no Ministério da Agricultura.

No início do século XX, a saúde pública brasileira inspirou-se na americana, sob o patrocínio da Fundação Rockfeller. A clínica e a cirurgia nasceram sob a inspiração francesa. O principal livro de anatomia adotado nas escolas de medicina, Testut, só foi traduzido do francês, no final do século XX.

Em 11 de novembro de 1918, às 11 horas da manhã, a Grande Guerra chegava ao final. Com a rendição dos alemães, o Brasil se encontrava ao lado dos vitoriosos. O que fazer com a Missão Médica?

Apesar das dificuldades e elevados custos para manter uma centena de médicos na Europa, o Brasil estava entre os vitoriosos e os delegados brasileiros da Conferência de Paz, fizeram o possível para passar uma boa imagem do país.

Mesmo com pouco tempo de atuação, cerca de 6 meses desde sua chegada em território francês, a Missão Médica fez bonito, tornou-se um exemplo de solidariedade e altivez.

O hospital brasileiro seria sido fechado, oficialmente, em 20 de novembro de 1919. A partir daí, a Faculdade de Medicina de Paris, como nova administradora, instalou no local “uma clínica cirúrgica de cento e sessenta leitos”, com pequenos acréscimos, fazendo o hospital responder aos últimos avanços em higiene e da medicina moderna.

A glória da medicina brasileira foi na Primeira Guerra. Na Segunda, Sergipe enviou voluntárias da enfermagem. Não creio, que na 3ª Guerra, a medicina brasileira terá uma nova oportunidade.

Antonio Samarone – médico pacifista.

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