sábado, 9 de dezembro de 2023

PENSAR ITABAIANA (5)

 

 

 

Pensar Itabaiana (5) - (por Antonio Samarone)

A década de 1970, foi o tempo da ascensão do futebol em Itabaiana. Em 07 de março de 1971, foi inaugurado o Estadio Presidente Médice.

Inciamos a caminhada para o Penta campeonato sergipano. Em 24 de novembro de 1971, o tricolor serrano empatou com Ferroviário-CE em 1 a 1 e tornou-se Campeão do Nordeste, o único título nacional do futebol sergipano.

O futebol de Itabaiana mostrava a Sergipe, a força do crescimento da sua economia. Entretanto, sem a ousadia de Zé Queiroz, nada teria acontecido. O futebol sergipano era um jogo de cartas marcadas. As arbritagem eram parciais. As dificuladades para o futebol do interior eram imensas.

Zé Queiroz enfrentou, montou grandes times, trouxe juiz padrão FIFA para as decisões, contratou Valed Perry, assessor jurídico da CBF, pintou e bordou.

A força de Itabaiana se mostrava com o futebol. Na política, nada, estadualmente, sempre subalternos. Era clara a dicotomia: fortes na economia, fracos na política. Foi assim até 2012, com a chegada de Valmir de Francisquinho à prefeitura de Itabaiana.

A Copa do Mundo de 1970, eu assisti na porta da casa de Zé Madorna, do lado de fora, onde já existia televisão colorida.

Em 1963, foi fundada a Associação Comercial  de Itabaiana e, em 1969, chegou o Rotary. A civilidade urbana estava chegando, junto ao capital mercantil.

Naquela época, quem era bem sucedido no comércio, comprava uma fazenda no Sertão, para criar gado na solta, sem maiores tecnologias. Para ser rico, precisa ser fazendeiro. O pequeno comércio não dava esse status.

E os grandes do comércio tinham saído de Itabaiana: Mamede e Pedro Paes Mendonça, Gentil e Noel Barbosa, Oviedo Teixeira e Albino Silva da Fonseca. Empresários fortes que permaneceram em Itabaiana nessa época, lembro-me de Arrojado, Joazinho Tavares, Durval do Açúcar, Zezé Benvenuto, Miguelzinho Peixoto e Totó.  

Na década de 1970, iniciou-se a mudança do perfil agrícola de Itabaiana. Culturas tradicionais como o algodão, milho, feijão e mandioca começam a desaparecer. Itabaiana assumiu a sua vocação pela produção de hortaliças. Somos a capital brasileira do coentro. Os baianos sabem disso.

Um fato esquecido na década de 1970, mas que definiu a vida de muito estudante pobre. O curso cíentífico (atual 2º grau), acabava de chegar a Itabaiana (1969), um esforço de José Augusto Machado, o filho de Zé da Manteiga. Antes, quem terminava o ginásio e não tinha condiçoes financeiras de ir estudar em Aracaju, interrompia os estudos.

Eu me salvei. Entrei no científico do Murilo Braga em 1971. Os professores eram os estudantes universitários de Itabaiana: Arnaldo Fominha, Manteiguinha, Zé Costa, Edgar, Guga e tantos outros que agora eu não estou lembrando. Eu trabalhava pelo dia, no armazém de cereais de João Francisco da Cunha (Niu), e pela noite, lutava pela cidadania, enfiando a cara nos estudos.

Em 1974, passei no vestibular (segundo colocado em odontologia), e no ano seguinte, passei de novo, dessa vez em medicina. Foi um assombro para muitos. Ouvi na bodega de Belisário: o filho de Elpídio da Rua do Fato, passou em medicina. Boa parte, não acreditou. Um tia, morreu sem aceitar. Ela dizia onde chegava: “Quem já viu, um filho de pataqueiro vai ser médico.” (sem cota)

Na década de 1970, o comercio de Itabaiana continuva crescendo e os caminhões aumentando. A política local no mesmo rame/rame. O mesmo clientelismo e as mesmas paixões políticas. Nada de novo, a disputa continuava entre abelhas X mangangás (pebas X cabaús).

A cidade se desenvolvia pelo competencia da sociedade cívil: caminhoneiros, comerciantes e (agora) os estudantes universitários. Eramos os filhos do ginásio público. Lotamos a UFS, em todos os cursos e em todas as turmas.

O Reitor da UFS (1976 – 1980) Aloíso Campos, me disse certa vez, ao pé do ouvido: “os itabaianenses são diferenciados.” Eu acreditei.

Em 1978, foi inaugurada a Radio Princesa da Serra, dando um alavancada no desenvolvimento de Itabaiana. Mais uma iniciativa de Zé Queiroz. Esse fato precisa ser estudado.

Antonio Samarone – Secretário da Cultura de Itabaiana.

 

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