sexta-feira, 29 de dezembro de 2023

A MARCA DE DEUS


 A Marca de Deus...
(por Antonio Samarone).

A ciência é uma narrativa humana. Somos a medida de todas as coisas.

Acabo de ler um livro instigante de Marcelo Gleiser, “A Criação Imperfeita”. Um cientista que não diviniza a ciência, nem abraça o obscurantismo. Um texto acessível aos curiosos.

O medo das trevas, do escuro, do breu povoou a minha infância... Brincávamos de quem ia mais longe, em direção ao escuro. Eu sei, Deus já havia criado a luz, mas só estava garantida durante os dias. As noites precisavam de luzes artificiais. Os meninos de hoje perderam esse medo.

A escuridão cósmica me assusta!

A luz é um tipo de onda eletromagnética que se propaga a uma velocidade constante de 300 mil km/seg. Outro mistério: por que a essa velocidade e por que constante.

Porque não enxergamos o restante das ondas eletromagnéticas, somente a radiação com comprimentos de onda entre 380 e 750 nanômetros, chamada de luz.

Depois descobriram que a luz também são fótons, matéria e energia ao mesmo tempo. A fuga da vida rural, em boa parte, é uma fuga a essa escuridão cósmica do campo. Bem ou mal, as cidades são iluminadas, no início com lampiões, hoje com led.

A origem do universo, da vida, em especial da vida inteligente, continua um mistério, tanto para a ciência como para as religiões.

As duas versões partem do nada. A questão do que existia antes do nada é especulação. O que vem antes, tanto no Big Bang da ciência, como na gênese bíblica, requer uma na crença.

No Big Bang, temos um caldo energético (eterno), que em determinado momento (14 bilhões de anos) começa a se expandir, formando os átomos, a matéria, planetas, estrelas, a vida e a vida inteligente. Bem, e antes da explosão?

As religiões, apontam para a existência anterior de um deus, um demiurgo eterno, sobrenatural, principio criador de todas a coisas. Os deuses são sobrenaturais, não precisam da razão para existirem. E antes? Antes era o verbo...

A crença de que existe uma ordem oculta mediando a natureza, permanece uma crença. A incerteza é uma propriedade da matéria. Essa busca é um devaneio da razão.

A ciência descobriu que toda a diversidade da natureza está interligada e possui uma origem única. As religiões, procuram religar essa diversidade, com uma explicação divina; a ciência busca um código secreto da natureza.

A verdade, é que existe uma realidade fora da apreensão cognitiva. A ciência procura, sem sucesso, descobrir esse código secreto da natureza. Entretanto, somos capazes de acreditar em algo, mesmo sem qualquer evidência.

Crença por crença, acredito que a existência de vida inteligente tem um propósito. A vida inteligente está restrita a esse asteroide insignificante chamado Terra. O Cosmo é vazio, infinito, escuro, frio e indiferente. Existimos nessa solidão cósmica.

O livro me ensinou duas outras coisas, que sem a sua leitura eu morreria sem saber:

1. Em números arredondados, 75% da matéria que existe no cosmo é composta de hidrogênio, enquanto o hélio, o segundo elemento mais abundante, contribui em 24%. O resto dos elementos da Tabela Periódica, do lítio ao carbono e ao urânio, contribui com apenas 1% da matéria total. A química da vida é minoria absoluta!
2. Sabemos é que a energia escura toma em torno de 73% da energia total do Universo. O resto é composto de matéria escura (com 23%) e os nossos humildes prótons e elétrons (com apenas 4%). Sendo assim, chegamos à revelação mais chocante da cosmologia moderna, que 96% da composição material do cosmo é desconhecida!

Aprendi no livro de Glaiser, que a busca permanente da verdade alivia o sofrimento, trata-se de uma “pró-cura”.

Antonio Samarone – médico sanitarista.

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