sexta-feira, 22 de dezembro de 2023

FELIZ NATAL


 Feliz Natal!
(por Antonio Samarone)

Eu sempre tive uma encrenca com as festas onde sou obrigado a ser feliz. O Natal é um exemplo. Todos: parentes, amigos e o povo em geral, nos desejam um feliz natal.

Não me alegro nem com os natais antigos, nem com nos atuais.

O natal comemorava o solstício de inverno, no hmesfierio Norte. Os romanos celebravam a chegada do inverno (solstício de inverno). Eles cultuavam o Deus Sol (natalis invicti Solis).

A Igreja Cristã romana aproveitou a tradição pagã e atribuiu a data, o aniversário do nascimento de Cristo. Escolheram o 25 de dezembro. Uma boa escolha.

O capitalismo trouxe o Natal de volta ao paganismo. O deus sol virou o deus mercado. Papai Noel foi a maior criação de marketing do planeta. Deu certo. O Natal tornou-se uma imposição universal de consumo. Ou quase universal.

Entenderam? A felicidade é o livre acesso ao consumo. O Natal é o Paraíso na Terra.

Não me alegro nem com o Natal cristão: presépios, missa do galo, roupa nova e ceia. Nem com Natal do mercado: Papai Noel, árvores, luizinhas de Led, bolas de vidros, presentes e ceia.

Parece que os presentes e as ceias são comuns aos dois. Muda o protagonista: Cristo ou Papai Noel.

Ví numa loja de santos para presentes, um Cristo vestido de Papai Noel. Deus me perdoe: uma heresia. Segundo a proprietária, vendeu bastante.

Quando posso, assisto a Missa do Galo do Vaticano, pela televisão. Gosto das missas cantadas em latim. Adorava o Papa João de Deus cantando o “Pater Noster”. O meu bom Francisco canta menos.

Tenho muita dificuldade em escolher presentes. Eu não desejo nada, fora da banal necessidade. Não tenho fantasias de consumo. Imagine, descobrir as fantasias alheias.

Herdei essa insensibilidade de mamãe, que era pragmática: “eu prefiro presente em dinheiro, que eu compro o que estiver precisando.”

Soube que o Banco Central vai criar o pix/presente, em forma de uma ordem de compra. Só vale para comprar presentes, não serve para pagar as prestações atrasadas, nem conta de água e luz. O capitalismo pensa em tudo.

Em minha infância, era comum se presentear os meninos com dinheiro. “Olha aqui as suas festas”, diziam os adultos. Essa moda continua nos condominios e bancas de feiras, tem sempre uma “caixinha”, esperando as “festas”.

Nada disso me alegra!

Os meus neurônios dopaminérgicos não respondem a esses estímulos. Acho os Natais muito previsíveis, uma alegria programada, sem novidades.

A felicidade é uma emoção que vem de surpresa e dura pouco. O Natal é mês inteiro de felicidade. Não consigo!

Antes eu ficava entediado, melhorei, hoje assisto a felicidade dos outros. Sem me meter. No Natal, nem fico alegre nem triste.

Participo dos rituais natalinos normalmente, como todo mundo.

Dou e recebo presentes, decoro a casa com luizinhas, que acendem e apagam de 33 formas e ritimos diferentes, tem um Papai Noel no Jardim, tomando sol e chuva, uma árvores de natal na sala e a ceia desse ano, será cheia de novidades.

Não estou botando defeitos no Natal, só não me traz a felicidade prescrita.

Sou mais feliz com as fogueiras de São João.

Antonio Samarone – Médico Sanitarista.

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