domingo, 10 de dezembro de 2023

NATAL, QUE NATAL?


 Natal, que Natal?
(por Antonio Samarone)

Fui à abertura do Natal em Itabaiana. A Praça da Igreja estava lotada, em torno da árvore de Natal e da iluminação de Led. Muitas luzinhas. Ficou bonito.

O povo gosta de folia. Muitos velhos e algumas crianças. Não vi os jovens. Por onde andam? Será se eles sabem que é Natal. Existem festas na vida virtual da Internet? Não sei.

Na Praça, estava o povo em carne e osso, para ouvir os dobrados da centenária Filarmônica.

Uma surpresa: encontrei Zé de Dalina.

Em Itabaiana tínhamos uma meia dúzia de doidos de estimação, Zé era um deles. Gente, Zé de Dalina está vivo, talvez seja o último. As doenças mentais já são outras, não existem mais os doidinhos.

Só Zé Dalina sobreviveu. Estropiado, cadeirante, faltando um perna, esquecido! Zé de Dalina, não lembra mais nem da idade. Deve beirar aos cem anos.

A beleza é que Zé de Dalina abriu um sorriso, quando a velha banda de música começou a tocar. Em Itabaiana o povo tem orgulho da sua Filarmônica. Vibra e aplaude os acordes do maestro Valtênio.

A boa música é popular em Itabaiana. Eu vi o povo aplaudindo-a.

Fiz uma viagem aos Natais do passado, da Praça de Santa Cruz. Não me lembro de quando as feirinhas de Natal, passaram para a atual Praça de Eventos. Acho que nem existem mais.

O Natal era um tempo de roupas novas!

Os meninos guardavam dinheiro durante o ano, em cofres de barro, para esperdiçar nos brinquedos da festa de Natal. As barcas do pai de José Costa, a onda de Zelito, o balanço de Seu Olavo, o pai de Carrasco; e o trivolí de Miguel Fagundes.

Eu achava uma glória pungar no trivolí, quando ele já estava nas últimas voltas. Quase parando. Os meninos iam nos cavalinhos e as meninas nas cadeiras. Não pegava bem as meninas escanchadas nos cavalos.

Hoje, o Natal é um visual luminoso que o povo assiste. Não se brinca mais. Onde estão as bancas de jogo de baralho, os bingos de goiabada e a banca do preá? Onde estão as maças do amor, o algodão doce, o quebra queixo de seu Oscar, a pipoca de seu Carlos, o rolete enfiado na taquara, a raspadinha, a gasosa e os sorvetes nas caixas de isopô?

Luzinhas coloridas de Led, não enchem barriga!

Acabaram até o serviço de autofalante, que tocava boleros e mandávamos mensagens para as paqueras. “Fulano de Tal, oferece a alguém, apaixonadamente, essa gravação.” E tome os boleros de Silvinho e Núbia Lafayete.

Eu ouvi falar em Papai Noel, aos 14 anos. Ele um desconhecido no Beco Novo. No Natal, era obrigatória a missa do galo, depois a feirinha. A minha ansiedade era que a missa acabasse logo.

Mamãe nunca soube que existia ceia de Natal, em casa.

Na feirinha, depois da meia noite, quando sobrava um dinheirinho, íamos comer arroz com galinha de capoeira, vendido em pequenas bancas, depois do Bar de Dedé Cachaça.

A galinha era cozida ali mesmo, em tachos de cobre, comprados aos ciganos.

Servia-se um prato feito, cheiroso, suculento, enxarcado com a graxa das penosas e coberto com a farinha da Matapoã ou das Flechas.

Comia-se em pé. Eu não sabia usar garfo e faca, comia com uma colher funda.

Neste ano, já encomendei esse arroz com galinha, com o mesmo tempero, o mesmo cheiro e o mesmo sabor das antigas festas de Natal, da Praça de Santa Cruz. Dona Joelma, uma chefe de cozinha das Queimadas, me garantiu que sabe fazer.

A minha ceia era esse arroz com galinha, das bancas do meio da feiras de Natal. Ainda salivo, só com as lembranças.

Feliz Natal, novos e antigos, os de Led e os de gambiarra.

Antonio Samarone – Secretário de Cultura de Itabaiana.

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