segunda-feira, 25 de dezembro de 2023

A ALMA DO ARACAJU


 A Alma do Aracaju.
(por Antonio Samarone)

Nesse Natal, recebi alguns amigos das Minas Gerais, dos tempos da Residência Médica, na UFMG. Na despedida, fiz uma pergunta de rotina: o que eles acharam do Aracaju? Eles riram, e disseram coisas que eu não gostei.

“Na verdade, achamos a cidade bonitinha, limpinha, arrumadinha, mas sem uma marca cultural. Sem identidade! Nada que chame a atenção. Não parece uma cidade nordestina. A praia muito comum, com a água barrenta. Uma culinária sem identidade. Aracaju parece uma cidade média, do interior de São Paulo.”

“O monumento mais visitado é um caranguejo de fibra, na orla da Atalaia.”

Reagi indignado! Como desmentí-los?

Qual é a música, dança, artes plásticas, cinema, teatro, folclore, literatura, poesia que caracterizam Aracaju? Nos destacamos em quê? Quais os nossos nomes nacionais? O nosso último intelectual reconhecido nacionalmente foi Joel Silveira, morreu em 2007.

Quais os nomes que se destacam no esporte? O último nome nacional foi Maguila.

Nem na política. Nada! Nenhum destaque nacional, nem de direita, nem de esquerda. Os últimos nomes nacionais do Aracaju foram Albano Franco, Carlos Brito e Déda. Dois do interior.

Eu fiquei acuado para rebater aos mineiros. Nenhum prato típico, nenhuma música de sucesso, um livro, um atleta, um cientista, um religioso (mesmo da Universal), um curandeiro, um médico, um jurista.

Eu preciso de um aracajuano que se destaque nacionalmente, seja lá em que for. Esses mineiros precisam de uma resposta à altura. Preciso de destaques em qualquer coisa: sinuca, briga de galo, porrinha ou carteado.

Senti a falta de Luiz Antonio Barreto. Só ele responderia á altura, a esses mineiros desaforados. Quem nunca se viu, botar defeitos em terra alheia? Mesmo sendo recebidos com fidalguia.

Luiz Antonio Barreto, sobre Aracaju, tinha resposta para tudo.

Depois me conformei. A bela e acolhedora Aracaju não gera o sentimento de bairrismo. Nunca ouvi ninguém dizer de peito erguido: “Eu sou do Aracaju”!

Eu amo Aracaju! Gosto do seu jeito acanhado, provinciano e humilde. A música baiana realiza anualmente uma festa por aqui, e a gente ainda chama de Pré-Caju. Somos uma gracinha de cordialidade.

Entretanto, quando sou perguntado, você é de onde? Eu encho a boca: sou de Itabaiana, nascido e criado. O bairrismo é por Itabaiana.

Entenderam?

O aracajuano desconhe os prazeres e a doçura do bairrismo.

Antonio Samarone (médico sanitarista)

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