sábado, 30 de dezembro de 2023

NÃO HÁ NADA DE NOVO.


 Não há nada de novo!
(por Antonio Samarone)

As reuniões semanais dos itabaianistas, às quintas-feiras, no início da noite, na Praça Luciano Barreto Junior, em Aracaju, só tem uma exigência: a pauta será sempre no “pretérito-mais-que-perfeito”.

Para os que esqueceram a gramática, só tratamos do passado distante. A confraria é quase um consulado arqueológico.

Além do lazer, do bom papo, das ironias e da confraternização, a reunião é uma prevenção eficaz contra as demências. As histórias podem ser repetidas, mas não deixará de ser novidade.

Não existem histórias novas, a gente apenas desconhecia.

As reuniões das quintas é eivada de saudosismo. Voltamos a conversar pessoalmente, sem WhatsApp, com direito a disputa pela palavra. Quem tem a preferência? Falar alto não resolve.

A vez da fala é de quem atrai os olhares, a atenção dos demais. Não existem inscrições prévias, nem coordenadores.

Em Esparta, o Conselho de Anciões (Gerousia) tinha muitos poderes. Entre nós é apenas uma assembleia de conversadores. Gente que não quer esquecer.

Qual o segredo da longevidade dessa confraria? Primeiro, as divergências morrem ali. A confraria não pretende mudar a realidade, converter os incrédulos, convencer os que pensam diferente na política, nem atrair torcedores para o Fluminense.

Com o envelhecimento, a atrofia cerebral é uma realidade. Estamos resistindo!

Entretanto, o que resta do cérebro pode realizar as mesmas funções. Essa possibilidade é variada entre as pessoas. A limitação vai da demência ao pleno vigor cognitivo. Entretanto, existem pessoas onde a cognição fica mais afiada. Cada um pensa que é essa exceção.

Lembro-me de uma canção nordestina que afirma num verso: “cabeça grande é sinal de inteligência, eu agradeço a providência ter nascido lá” (lá, é em Itabaiana).

Não é bem assim! Mas o susto é grande, quando enxergamos que o nosso cérebro está encolhendo.

Calma, gente! Existem meios de preservação da memória. As neurociências descobriram novidades: o cérebro é móvel, maleável, vivo, cria novos circuitos e resiste. A derrota é a acomodação. Vamos pró curar, coisas novas.

As reuniões da Confraria das quintas mostram outra verdade: a memória coletiva permanece. O que um não lembra o outro lembra. Quando alguém pergunta: lembram de fulano? Quem não lembrava, quando a narrativa começa, a lembrança retorna.

O que ninguém lembra, não existiu.

Com essas reuniões, eu passei a simpatizar com o conceito de inconsciente coletivo, de Jung. Os arquétipos são visíveis. O enredo das narrativas tem a mesma linha, independente de quem conte as histórias. As graças e as desgraças são as mesmas.

Por isso, as reuniões são terapêuticas!

Antonio Samarone – médico sanitarista.

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