terça-feira, 18 de outubro de 2022

JUNK FOOD

 Junk Food
(por Antonio Samarone)

A obesidade é uma realidade vistosa. Os gordos são maioria. A poderosa indústria alimentícia impôs um padrão alimentar lesivo a saúde.

A Saúde Pública conhece o problema, mas não tem força para reverter a narrativa dominante. Os nutrólogos classificam os alimentos pela composição química e o teor calórico.

As pesquisas não tuteladas pela indústria provaram que o principal vilão são os alimentos ultraprocessados. “O problema não é a comida nem os nutrientes, mas o processamento. Não são comidas, são formulações.” – Monteiro.

Não se trata de achismos. O Instituto Nacional de Diabetes e Doenças Renais, ligados ao NIH – USA, realizou ensaios clínicos, publicados na “Cell Metabolism”, dentro das exigências da chamada medicina por evidências, e os resultados são incontestáveis: os alimentos ultraprocessados são os vilões.

Não é o ovo nem o toucinho, são as porcarias, foram as descobertas dos estudos randomizados e controlados (ECR), o padrão ouro das ciências.

Existem mais de duzentos estudos científicos indexados mostrando a relação dos ultraprocessados com a obesidade, a síndrome metabólica, diabetes, neoplasias etc. Mais essas descobertas são escondidas ou minimizadas.

A revista Piauí de outubro quebrou o silencio: publicou uma entrevista com o epidemiologista da USP, Carlos Augusto Monteiro, pesquisador acreditado no mundo.

O que diabo são alimentos ultraprocessados? São os alimentos com alto teor calórico e raros nutrientes, produzidos industrialmente. Os biscoitos recheados, o macarrão instantâneo, os cheetos, comidas congeladas, salsichas, salgadinhos em pacote, refrigerantes etc., que o povo chama de porcaria ou Junk Food.

Mamãe era radical: aqui não se come porcaria. Lá em casa, até o pão era proibido. Essa conversa que o pobre come errado por ignorância é mentira. Come errado pela imposição de um padrão alimentar orientado pelo lucro da indústria de alimentos.

Não estou dizendo que só é saudável os alimentos “in natura”, não, existem os processamentos que enriquecem os alimentos. O leito pasteurizado, os queijos artesanais, as conservas de frutas, as geleias artesanais, sem conservantes, o azeita extraídos da azeitona etc.

Monteiro é um novo Josué de Castro, tratando da má nutrição induzida pelo capital. A miséria é outra e mais grave.

Se pensava que a obesidade era um traço de pessoas gulosas, sem força de vontade, descuidadas; depois a epidemia foi atribuída a uma cálculo matemática, ingestão/consumo, caloria por caloria. Tal alimento possui tantas calorias, tal exercício gasta tantas. O saldo é a obesidade.

A visão dominante entre os profissionais do mercado, considera a obesidade um problema individual, pessoal, de responsabilidade de cada um. São os aconselhadores das dietas: nunca coma o que você gosta.

Os médicos passaram a acreditar que a obesidade se devia a um aumento da produção de insulina estimulada pelo consumo aumentado de carboidratos. Surgiram as dietas tipo “Atkins”, onde só se comia carnes. Eu já entrei nessa roubada.

Tudo isso para não contrariar a poderosa indústria de alimentos.

A ciência já provou a “associação entre altos níveis de consumo de ultraprocessados e as doenças do coração, a obesidade e síndrome metabólica”. No Brasil, 20% dos alimentos são ultraprocessados, nos Estados Unidos chegaram a 70%.

A obesidade americana é mais um sintoma da decadência do Império.

É a determinação comercial das doenças. O abandono do aleitamento pela uso dos leites em pó ultraprocessados.

Segundo as pesquisas, a obesidade coletiva deve-se a mudança do padrão alimentar, que substituiu os alimentos “in natura” ou minimamente processados pelos ultraprocessados.

Mesmo que os ultraprocessados retirem o açúcar, o sódio, as gorduras, virem diet ou light, continuam sendo ultraprocessados.

O caminho é voltarmos ao velho feijão com arroz, uma saudável preferência nacional.

Sem grandes novidades!

Antonio Samarone (médico sanitarista)

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