sábado, 27 de julho de 2019

SERGIPE ANTIGO (CAPÍTULO I)



(CAP. I)

Sergipe Antigo (Ciri-gy-pe – rio dos siris).  (por Antônio Samarone)

Entre as carências sergipanas, falta-nos uma história. Um explicação razoável das nossas origens. Do “porquê” essa pequena faixa do território brasileiro ganhou vida própria, passou a existir de forma independente. Aqui se formou uma gente que nem é baiano nem pernambucano. Quem somos?

O pouco da história de Sergipe que se conta é fragmentada e tendenciosa. É a história vista pelos portugueses, pelos donatários, pelos sesmeiros, pelos documentos deixados pelos Jesuítas. Uma história escrita nas sacristias, romantizada, sempre acabando bem para os de cima.

A sociedade brasileira começou dividida, eivada de ódios, divergências de raiz, das origens da nossa formação nacional. Nunca tivemos uma guerra de secessão. Contudo, colonizadores e nativos, nobres e plebeus, senhores e escravos, ricos e pobres, elite e povo, nunca resolveram as suas desavenças e contradições. “Só a antropofagia nos une. Socialmente. Economicamente. Filosoficamente.” Relembrando o velho manifesto de Oswald de Andrade.

“Antes dos portugueses descobrirem o Brasil, o Brasil tinha descoberto a felicidade.” Antes da ocupação portuguesa, existiam outras civilizações ocupando o território que hoje denominamos de Sergipe. Quem eram?

A ocupação portuguesa de Sergipe, em 1590, foi sangrenta, demorada, após um século de resistência. Vou contar o que sei, o que li e ouvi, sem pretensões. A partir de hoje publicarei essa história em capítulos. Se houver interessados, no próximo ano, bicentenário do desligamento de Sergipe da Bahia, publicarei em livro.

Essa história precisa ser recontada. O meu ponto de partida é o início do século XV, o ano de 1400, provável chegada dos Tupinambá em Sergipe. A presença do homem em Pindorama (Brasil) é anterior a 12 mil anos. Luzia tem 11 mil anos. Em Sergipe não se sabe ao certo.

Os Tupinambá, Tubüb-Abá, Tuppin-inba chegaram à Sergipe pelo São Francisco, por volta de 1400, após uma longuíssima viagem. Vieram das ilhas do Pacífico, da Polinésia. Estabeleceram-se inicialmente na Bolívia andina, às margens do Lago Titicaca. Existe uma evidência relevante dessa presença dos Tupis Guaranis nessa região.

A expansão do Império Inca expulsou os Tupis das margens do Lago Titicaca. Com a ameaça dos Inca, por volta do ano 1.300, os Tupis desceram o Rio Beni, afluente do Mamoré, rumo a bacia amazônica. O Rio Mamoré junta-se ao Abunã e ao Guaporé formando o Rio Madeira. Os Tupis abominavam a escravidão.

Os Tupis descem mais de mil quilômetros o Rio Madeira, em suas canoas, numa viagem penosa, para chegar ao Amazonas. Os Tupis desembarcaram numa grande ilha chamada Tupinambarana, passando a ser o lugar de dispersão desses índios andinos para o interior do Brasil. Com a dispersão, os Tupis foram ganhando novos nomes, a depender de cada Cacique ou circunstâncias.

Um dos grupos Tupis, os Tupinambá desceram o Rio Tocantins, entraram sertão adentro e chegaram à foz do Rio São Francisco. A entrada no litoral ocorreu por volta do ano 1.400, pela foz do São Francisco, sendo as primeiras aldeias criadas no território sergipano.

Na Chegada à Sergipe, os Tupinambás encontraram os Tupinaês, índios tupinizados, que já havia expulsados os tapuias para o Sertão. Os Tupinambá na guerra de ocupação derrotaram os Tupinaês, que são expulsos. Com a vitória, os Tupinambás avançaram desde a foz do São Francisco, pelo litoral, até a Bahia de Todos os Santos, estabelecendo-se cem anos antes da chegada dos portugueses.

Segundo Moacyr Soares Pereira: “Os Tupinambás amazônicos formavam um só povo, com a mesma língua, costumes, gentilidade e cultura.” Os Tupis tomaram nomes a depender do local de ocupação: Tupinambás, em Sergipe e Norte da Bahia; Caetés em Alagoas e Pernambuco; Potiguar no Rio Grande do Norte.

Pelas circunstâncias geográficas, as primeiras aldeias Tupinambás no litoral brasileiro foram implantadas na região do Pantanal de Pacatuba, em Sergipe, à altura da Ponta dos Mangues. Resta aos historiadores os recursos da arqueologia para desvendarem essa pré-história sergipana.

Entre a primeira guerra vitoriosa dos Tupinambás na chegada em 1.400, contra os Tupinaês; e a sua derrota para os portugueses em 1591, os Tupinambás mandaram em Sergipe por 190 anos, deixando uma valiosa contribuição cultural, presente até os dias atuais.

Continua Moacyr Soares Pereira:

“Os Tupinambá da vanguarda invasora em ampla frente, após a derrota dos Tupinaês, os lançaram e aos Tapuias para o Sertão. Os vencedores chegaram à beira mar; e senhoreando as áreas vizinhas, foram ocupando sucessivamente a terra conquistada, desde a foz do São Francisco até o Sul da Bahia de Todos os Santos, inclusive a bacia do Rio Paraguaçu.” Os tupinambás ocuparam da Foz do São Francisco ao Norte, e Camamu ao Sul.”

O rio São Francisco era rio Opará para os índios e no mapa de Barleus chamava-se rio Parapitinga.

“Um índio descerá de uma estrela colorida, brilhante
De uma estrela que virá numa velocidade estonteante
E pousará no coração do hemisfério sul
Na América, num claro instante
Depois de exterminada a última nação indígena
E o espírito dos pássaros das fontes de água límpida
Mais avançado que a mais avançada das mais avançadas das tecnologias.”
Caetano Veloso.

Foram esses Tupinambá do litoral sergipanos os primeiros a chegar no litoral (início do século XIV) e os últimos a sair, só sendo derrotados pelos portugueses em 1590. 

Existem evidências que os Tupinambá que vieram à Sergipe eram os malaios/polinésios?

Moacyr Soares Pereira cita as mais importantes: “A rede; as danças rituais de máscaras, as pontes suspensas; propulsor de flechas; a sarabatana; o arc à balle a massa feita de pedra anular ou em forma de estrela; os machados de cabo em cotovelo; as cabeças troféus; a flauta de Pan; o tambor de madeira, para sinais; o tambor cilíndrico de membrana de pele; o arco musical; o estojo de pênis; os vestidos de certas cascas de árvore abatida (o tapa polinésio); certos jogos de azar; as mutilações dentárias e as incrustações dos incisivos; a amputação das falanges, como sinal de luto; a trepanação craniana; as habitações sobre arvores; a cultura em terraço com irrigação; o Ikaiten (processo de tintura das fibras); a fabricação de bebidas fermentadas pela mastigação dos frutos ou grãos; as cordas de nós, como meio de numeração (kipu); e os mitos funerais.”

No próximo capítulo, trataremos desses Tupinambás que viviam em Sergipe, antes da chegada dos portugueses.

Antônio Samarone.       

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