quinta-feira, 14 de fevereiro de 2019

MEDICINA DA FLORESTA


Medicina da Floresta (por Antonio Samarone). 

“Um conhecido ditado indígena usa dois lobos como metáfora para descrever os conflitos internos de todo ser humano. Um é o lobo do ódio, o outro do amor. Ambos disputam o poder sobre mim, diz a passagem. E quando me perguntam qual é o lobo vencedor, respondo: Aquele que eu alimento.”

Em 1930, Raimundo Irineu Serra (mestre Irineu) fundou o Santo Daime. Primeira religião brasileira a fazer uso do chá de ayahuasca fora do contexto indígena. Em 1943, o cientista suíço Albert Hoffman sintetizou o LSD. Nascia para o mundo as substâncias psicodélicas. Não confundam nem com os psicotrópicos, nem com os narcóticos.

Em 1969, o mundo assistiu espantado o Festival de Woodstock, movido com os psicodélicos. A consciência expandida, permitindo surfar em ondas sonoras e mirações psicodélicas de mandalas, fractais e luzes coloridas, tornou-se uma novidade. Em 1971, o presidente Nixon proibiu o uso dos psicodélicos e as pesquisas médicas sobre essas as substâncias. Nasceu aqui o movimento americano da contra-cultura.

Entre as substâncias psicodélicas, uma é brasileira. O Chá indígena ayahuasca, feito com a planta chacrona e o cipó jagube (mariri). A ayahuasca possuí um princípio ativo chamado dimetiltriptamina (DMT), que vem sendo estudado para o tratamento de transtornos mentais, como ansiedade, depressão e dependência química.

A professora Fernanda Palhano, publicou um estudo na revista “Psychological Medicine” sobre o efeito antidepressivo da ayahuasca, em pacientes com depressão profunda e que não respondem ao tratamento convencional.

Nas folhas da chacrona, um arbusto da família Rubiaceae, (Psychotria viridis), encontra-se um derivado triptamínico a N,N-dimetiltriptamina (DMT), agonista não seletivo dos receptores de serotonina, e cuja ação no receptor 5-HT2A promove os efeitos cognitivos e sensoriais da bebida, referida por alguns usuários como miração.

O cipó mariri, da família Malpighiaceae, (Banisteriopsis caapi), contém as β-carbolinas harmina, harmalina e tetrahidroharmina, que são alcaloides inibidores da monamino-oxidase (IMAO), enzima responsável pela degradação da serotonina.

A ayahuasca é uma combinação perfeita entre estas duas plantas que agem sinergicamente. O DMT seria rapidamente inativado pelas IMAOs presentes no fígado e intestino caso não houvesse a presença das β-carbolinas.

A Ayahuasca é um chá obtido, geralmente, através da decocção de duas espécies vegetais endêmicas da floresta amazônica: um cipó da família Malpighiaceae, Banisteriopsis caapi, que contém derivados beta-carbolínicos: harmina, harmalina e tetrahidroharmina; e um arbusto da família Rubiaceae, Psychotria viridis, que contém um derivado triptamínico a N,N-dimetiltriptamina (DMT).

As pesquisas com substâncias psicodélicas como ayahuasca (dimetiltriptamina), o LSD (ácido lisérgico), o ecstasy - MDMA (metilenodioximetanfetamina) e a psilocibina dos cogumelos, foram retomadas pela medicina. Em 2016, os Estados Unidos liberaram os estudos com o MDMA, no tratamento do estresse pós-traumático em veteranos de guerra e vítimas de abusos sexuais.

“O psiquiatra Luis Fernando Tófoli lembra dos estudos feitos com LSD pelo neurocientista Mendel Kaelen, do Imperial College London, que demonstram que a música funciona como o mapa da jornada a ser explorada durante a experiência psicodélica, evocando sensações de êxtase e transcendência. Tudo isso porque áreas que normalmente não se ligariam no cérebro passam a fazer conexões.”

"Substâncias psicodélicas como a ayahuasca têm um impacto enorme porque trazem soluções a sofrimentos psíquicos para os quais não existem respostas na psiquiatria tradicional, e nem creio que vá ter", afirma o neurocientista Sidarta Ribeiro, vice-diretor do Instituto do Cérebro. De fato, a última grande novidade da psiquiatria foi a fluoxetina (Prozac), de 1986.

“Se as substâncias psicodélicas são tão eficientes assim, por que são tão marginalizadas? Para Sidarta Ribeiro, uma das respostas pode estar na falta de interesse da indústria farmacêutica. Essas substâncias vão agir a partir de uma, duas ou três doses, então não há um negócio da China aí. Quem vai ganhar dinheiro com isso não são as grandes farmacêuticas, mas sim, no máximo, alguns poucos terapeutas. Será que interessa para a indústria que as pessoas parem de se tratar com remédios diários?” Faz sentido!

Antonio Samarone 

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