sábado, 29 de novembro de 2025
O BECO DO OUVIDOR
O Beco do Ouvidor.
(Por Antonio Samarone)
Em meados do século XX, Itabaiana era geográfica e economicamente dividida.
1) A Praça da Igreja, ruas do Sol e das Flores, e adjacências, onde moravam os ricos e remediados.
2) O grande Beco Novo, onde viviam os pobres de todos os gêneros e um ou outro rico. Claro, a cidade não era só isso, existiam outras tribos: os pobres das ruas do Fato, Cacete Armado e Nova; e os remediados, das praças de Santa Cruz e da Feira e rua da Vitória.
O Beco Novo, era a antiga entrada da cidade, para quem vinha do Aracaju, por Riachuelo ou Laranjeiras, e era a trilha de fuga de Santo Antonio, quando fugia da Igreja Velha.
As famílias no Beco Novo eram numerosas.
Os meninos pululavam aos magotes, jogando bola de meia, brincando de cipó queimado e de roda (Eu sou pobre, pobre, pobre de marré deci). Vivíamos, de calção e pés descalços, a procura de peraltices. Alguns se destacavam pela valentia: os filhos de Euclides Barraca e os de Rosalvo do Cabo Quirino. Eu, era do time dos "morfinas'.
O Beco Novo era uma rua comunitária, as distinções casa/rua eram nulas. A molecada entrava casa adentro, de qualquer um, sem pedir licença. As portas eram escancaradas.
O primeiro trecho do Beco estreito, nascia na rua do sol e cruzava a rua da Pedreira (onde Conselheiro, passou uns dias, em 1874).
O segundo trecho, findava no Beco do Ouvidor, onde nasci, que depois foi rebatizado como Monsenhor Constantino. Nesse trecho, moravam famílias tradicionais do Beco Novo: Dona Bilô, Antonio de Anjinho, Armelindo, Antonio Angico, Cabo João Mole, Seu Agenor, sapateiro, Dona Branquinha e Dona Gemelice, a melhor rezadeira do pedaço. Lembro-me das festas de roda junina na casa de Seu Sancho, onde se cantava “quebra, quebra gobiraba..”
O terceiro trecho, findava na rua Padre Felismino. Moravam Palmeirinha, Dona Sula, a mãe dos Geobas, Nilo Alfaiate, Antonino de Liberato, Tonho de Gustavo (recém falecido), Dona Graça, que fazia peido velho, e Zé de Artemiro, pai do Vereador João Candido.
O quarto e último trecho, ia até a rua Miguel Teixeira. No meio do trecho, funcionava o Clube do Trabalhador, organizado pelos comunistas, antes de 1964. Nos carnavais, os alto-falantes alegravam a rua com os frevos de Capiba. Quase em frente, moravam Miguel Fagundes e Seu Bebé dos Passarinhos.
No restante, até o Tabuleiro dos Caboclos, ficavam os três campos de futebol. A ocupação era menor. Dos famosos, lembro-me Seu Pierrô e Divo.
O preconceito, dizia que Santo Antonio dera as costas para o Beco Novo, pois a rua terminava no fundo da matriz. Mamãe achava o contrário, que a posição do Santo era de proteção ao Beco, mesmo por quê, era Santo Antonio dos Pobres.
A única procissão que passava no Beco Novo, era a de São Cristóvão, organizada pelo motorista João de Balbino. Depois Santo Antonio assumiu a proteção dos motoristas, tornando-se na atual Festa dos Caminhoneiros.
No perpendicular Beco do Ouvidor, só existem casas voltadas para o sol. O outro lado, era o muro de Zeca Mesquita, de ponta a ponta. Aliás, permanece assim. Na esquina, eram os quartos de aluguel de Manesinho Clemente. Cinco ou seis, todos ocupados pelas Damas da noite.
Na sequência, uma vila perpendicular, com sanitário comum; a casa do funileiro Zé de Alaíde (Fóbica) e a minha, essa da foto, com 4 metros de largura. Eu passava horas numa preguiçosa, na casa vizinha, assistindo à arte de furar ralos.
Na sequência, moravam uma filha de Seu Justino (Finha), casada com Orlando do Bom Jardim. Depois, mais uma vila, essa recuada do alinhamento, onde Dona Jovem fazia a vida. Uma famosa prostituta, acusada de transmitir lepra para a clientela. Morreu no leprosário do Conjunto Jardim.
Quase no meio do trecho, Seu Marinho, o eletricista da companhia de luz, com uma filharada incontável. Seu Marinho, trabalhava de bicicleta, com a escada no ombro. Ele, e Belmiro. O outro eletricista, era seu Álvaro, já idoso. Eram os únicos eletricistas da cidade.
Depois chegaram outros eletricistas: Jua, irmão de Pulga de Cós, Teixeirinha, Zé, irmão de Amorosa e o irmão de Tereza do Hospital.
No final do Beco do Ouvidor, pela ordem: Pedrinho, dentista, Seu João Mena, o pai de André, um marceneiro especialista em tamboretes de três pés; Cosme, funileiro, Seu Russo, o pai de Nilson, craque do Itabaiana. No mais, a memória apagou. O Alzheimer ameaça a todos.
Seu Justino, sapateiro, foi quem primeiro teve radiola e liquidificar no Beco Novo. Passaram a fazer “vitamina de banana” em casa. Um luxo. Quase uma ostentação.
O Bar Brasília, servia lanche de vitamina e pão com quitute fiambre, em especial, para os bancários do Banco do Brasil.
A famosa vitamina, com banana, leite e Toddy batidos, em forma cremosa, é filha do liquidificador. Uma iguaria esquecida. Os mais sofisticados pediam vitamina de abacate. No filme o “Exorcista”, a vítima vomitava uma gosma, parecida com vitamina de abacate.
Possuir um liquidificador, era um sinal de prosperidade familiar. Como era possuir um rádio de pilha Sharp, encouraçado, potente, sinal claro. No Beco Novo, o primeiro rádio Sharp, foi de Dedé de Olga, causando inveja e admiração.
Nesse tempo, Itabaiana era culturalmente guiada pelo Concílio de Trento. A música estava sob a batuta do Maestro Antonio Silva, da Filarmônica Nossa Senhora da Conceição, que está completando 280 anos.
Antonio Samarone – Secretário Municipal de Cultura.
quarta-feira, 26 de novembro de 2025
OS TELEFONEMAS DE LAMPIÃO
Os Telefonemas de Lampião.
(por Antonio Samarone)
Que me perdoem os doutores do cangaço, mas quero tirar a limpo uma estória que ouço desde menino. O médico e escritor Ranulfo Prata, escreveu um manifesto pedindo a cabeça de Lampião, em 1933.
Ranulfo se apresentou como porta-voz da angústia dos seres humildes, dos párias e pés-rapados, na verdade, falava em nome dos senhores dos latifúndios.
Lampião chegou a Sergipe por volta de 1929, saindo de sua toca, no Raso da Catharina.
O Raso é um deserto encravado entre Jeremoabo e a Várzea da Ema, com uma “flora de espessa trama de dilacerantes espinhos e folhagem urticante.
No livro/manifesto “Lampião”, Ranulfo transcreveu um diálogo insólito:
“Fazia meses que Lampião vivia em guerra aberta com a Bahia, mas em paz com Sergipe. Do Saco do Ribeiro, telefonou ao delegado de polícia e chefe da cidade de Itabaiana, Othoniel Dórea, chamando-o de colega.
- Colega, por quê? Indaga, intrigada, a autoridade.
Explica o Capitão:
- Pruque você é cego de um oio, cumo eu.
Dorinha morreu com a fama de valente, por peitar Lampião. O certo, é que Lampião seguiu o seu caminho.
Aqui, temos um impasse: Lampião telefonou de onde?
O telefone só chegou à Itabaiana em 1955, depois da chegada da luz elétrica de Paulo Afonso. Imagine no povoado Saco do Ribeiro.
“O telefone desembarcou em Itabaiana, funcionando numa central, no sobrado onde Aprígio Ferreira Passos morava, na esquina da Fausto Cardoso, com a atual Ivo de Carvalho.” – pag. 242, do livro Euclides Paes Mendonça, do mestre Vladimir Carvalho.
Essa versão do telefonema entre Lampião e Dorinha circula até hoje, como verdadeira, mesmo sem existir linhas telefônicas à época, nem na cidade de Itabaiana, nem no povoado Saco do Ribeiro. O que vale é a lenda!
Na bem documentada visita à Capela, onde Lampião foi ao cinema, a comunicação com as autoridades do Aracaju, foi feita pela via do telégrafo. O telegrafista era o famoso jornalista Zózimo Lima.
Vou pedir socorro ao pesquisador Robério Santos.
Antonio Samarone. Secretário Municipal de Cultura.
(por Antonio Samarone)
Que me perdoem os doutores do cangaço, mas quero tirar a limpo uma estória que ouço desde menino. O médico e escritor Ranulfo Prata, escreveu um manifesto pedindo a cabeça de Lampião, em 1933.
Ranulfo se apresentou como porta-voz da angústia dos seres humildes, dos párias e pés-rapados, na verdade, falava em nome dos senhores dos latifúndios.
Lampião chegou a Sergipe por volta de 1929, saindo de sua toca, no Raso da Catharina.
O Raso é um deserto encravado entre Jeremoabo e a Várzea da Ema, com uma “flora de espessa trama de dilacerantes espinhos e folhagem urticante.
No livro/manifesto “Lampião”, Ranulfo transcreveu um diálogo insólito:
“Fazia meses que Lampião vivia em guerra aberta com a Bahia, mas em paz com Sergipe. Do Saco do Ribeiro, telefonou ao delegado de polícia e chefe da cidade de Itabaiana, Othoniel Dórea, chamando-o de colega.
- Colega, por quê? Indaga, intrigada, a autoridade.
Explica o Capitão:
- Pruque você é cego de um oio, cumo eu.
Dorinha morreu com a fama de valente, por peitar Lampião. O certo, é que Lampião seguiu o seu caminho.
Aqui, temos um impasse: Lampião telefonou de onde?
O telefone só chegou à Itabaiana em 1955, depois da chegada da luz elétrica de Paulo Afonso. Imagine no povoado Saco do Ribeiro.
“O telefone desembarcou em Itabaiana, funcionando numa central, no sobrado onde Aprígio Ferreira Passos morava, na esquina da Fausto Cardoso, com a atual Ivo de Carvalho.” – pag. 242, do livro Euclides Paes Mendonça, do mestre Vladimir Carvalho.
Essa versão do telefonema entre Lampião e Dorinha circula até hoje, como verdadeira, mesmo sem existir linhas telefônicas à época, nem na cidade de Itabaiana, nem no povoado Saco do Ribeiro. O que vale é a lenda!
Na bem documentada visita à Capela, onde Lampião foi ao cinema, a comunicação com as autoridades do Aracaju, foi feita pela via do telégrafo. O telegrafista era o famoso jornalista Zózimo Lima.
Vou pedir socorro ao pesquisador Robério Santos.
Antonio Samarone. Secretário Municipal de Cultura.
quinta-feira, 20 de novembro de 2025
QUINTINO DE LACERDA E A CONSCIÊNCIA NEGRA.
Quintino de Lacerda e a Consciência Negra
(Por Antonio Samarone)
Comemora-se hoje, 20 de novembro, o dia da Consciência Negra, em homenagem a Zumbi dos Palmares, morto em 1695. A data foi instituída em 2011, pela Lei Federal 12.519 e, em 2023, tornou-se feriado nacional.
O Brasil é surpreendente. O dia da Consciência Negra Municipal, em Itabaiana, é 08 de junho, dia do nascimento de Quintino de Lacerda (08/06/1829), instituído pela Lei Municipal 965, de 2001, ou seja, 10 anos antes, da consciência nacional.
A mesma lei, elevou Quintino de Lacerda a herói abolicionista municipal, em Itabaiana.
Em Itabaiana, Quintino era escravizado por Antonio dos Santos Leite, no povoado Flechas. Ele foi vendido em 1874, aos 35 anos, para Antonio Lacerda Santos, em São Paulo. Foi escravo de ganho de Lacerda, de quem se tornou amigo e herdou o sobrenome. Alforriado em 1882.
Quintino liderou a fundação do Quilombo de Jabaquara, em Santos–SP, lutou pela abolição, ganhou fama e se tornou o primeiro Vereador negro do Brasil, em 1895.
O itabaianense, Quintino de Lacerda, faleceu em 10 de agosto de 1898, em Santos, aos 69 anos. O seu féretro foi conduzido por uma multidão.
Doutor Petronio Domingues, professor de história da UFS, em seu polêmico texto “João Mulungu: a invenção de um herói afro-brasileiro”, publicado em 2015, numa revista de Curitiba, também nega o heroísmo abolicionista do itabaianense Quintino de Lacerda, acusando-o de ter furado uma greve, em 1891, no Porto de Santos, e de ter oferecido serviços ao Governo de Floriano Peixoto, na Revolta da Armada, em 1893, tornando-se “Major Honorário do Exército".
O Dr. Petronio ressalva que, mesmo assim, Quintino se tronou um cidadão respeitado pela patuleia, granjeando prestígio político, tornando-se uma liderança popular e negociadora.
Desconsiderando os saberes acadêmicos, Itabaiana continuará homenageando o seu líder abolicionista. Em 14 de novembro de 2025, a semana passada, a Câmara Municipal aprovou a criação da Medalha Quintino de Lacerda.
A Comenda será concedida, anualmente, as personalidades negras, naturais ou residentes em Itabaiana, que tenham prestado relevantes serviços a sociedade.
Sobre o polêmico João Mulungu, outro herói negro sergipano, também itabaianense, nascido em 1840, no Engenho Piedade:
Entre a ciência do mundo acadêmico, os achismos do Conselho Estadual de Cultura ou a militância da Casa de Cultura Afro-Sergipana, coordenada pelo doutor honoris causa pela UFS, Severo d’Acelino, fui convencido que Severo está certo.
A Câmara de Vereadores de Itabaiana vai entronizar uma estátua de Quintino, em sua sede. Merecida!
Minhas simples homenagens aos dois itabaianenses, heróis negros: Quintino de Lacerda e João Mulungu e ao contemporâneo líder negro sergipano, Severo d’Acelino.
Antonio Samarone – Secretário Municipal de Cultura.
domingo, 16 de novembro de 2025
A MARCA DO SAGRADO
A marca do Sagrado...
(por Antonio Samarone).
“O Universo é assimétrico e estou persuadido de que a vida, como nós a conhecemos, é resultado direto dessa assimetria do Universo ou de suas consequências indiretas.” Louis Pasteur
Somos mesmo, a medida de todas as coisas?
A ciência descobriu que toda a diversidade da natureza está interligada e possui uma origem comum. As religiões, procuram religar essa variedade, com uma explicação divina. A ciência busca um código secreto da natureza.
Aristóteles propôs que esse código fosse uma quinta substância, a quintessência, eterna e incorruptível, distinta dos quatro elementos (terra, água, ar e fogo) que compunham as substâncias encontradas na Terra.
A ciência é uma narrativa humana.
O medo das trevas é o medo do escuro (do frio, do silêncio e do buraco negro). Na infância, brinquei de quem ia mais longe, em direção ao escuro. Eu sei, Deus já tinha criado a luz (fiat lux), mas só estava garantida durante o dia. As noites precisavam de luzes artificiais. Os meninos de hoje perderam esse medo.
A fuga da vida rural era em boa parte uma fuga dessa escuridão do campo. Bem ou mal, as cidades eram iluminadas, no início com lampiões, hoje com led.
Claro, existe uma ordem oculta mediando a natureza. A busca permanente dessa verdade, alivia o sofrimento, trata-se de uma “pró-cura”. As evidências cartesianas são ilusões. Somos capazes de acreditar em algo, mesmo sem qualquer evidência.
Precisamos de um consolo para a finitude: acreditar na vida pós-morte é um elixir poderoso. Essa crença atenua a ansiedade, gerando um conforto temporário, até o descanso eterno.
Por segurança, muita coisa precisa ser ressacralizada.
Antonio Samarone.
(por Antonio Samarone).
“O Universo é assimétrico e estou persuadido de que a vida, como nós a conhecemos, é resultado direto dessa assimetria do Universo ou de suas consequências indiretas.” Louis Pasteur
Somos mesmo, a medida de todas as coisas?
A ciência descobriu que toda a diversidade da natureza está interligada e possui uma origem comum. As religiões, procuram religar essa variedade, com uma explicação divina. A ciência busca um código secreto da natureza.
Aristóteles propôs que esse código fosse uma quinta substância, a quintessência, eterna e incorruptível, distinta dos quatro elementos (terra, água, ar e fogo) que compunham as substâncias encontradas na Terra.
A ciência é uma narrativa humana.
O medo das trevas é o medo do escuro (do frio, do silêncio e do buraco negro). Na infância, brinquei de quem ia mais longe, em direção ao escuro. Eu sei, Deus já tinha criado a luz (fiat lux), mas só estava garantida durante o dia. As noites precisavam de luzes artificiais. Os meninos de hoje perderam esse medo.
A fuga da vida rural era em boa parte uma fuga dessa escuridão do campo. Bem ou mal, as cidades eram iluminadas, no início com lampiões, hoje com led.
Claro, existe uma ordem oculta mediando a natureza. A busca permanente dessa verdade, alivia o sofrimento, trata-se de uma “pró-cura”. As evidências cartesianas são ilusões. Somos capazes de acreditar em algo, mesmo sem qualquer evidência.
Precisamos de um consolo para a finitude: acreditar na vida pós-morte é um elixir poderoso. Essa crença atenua a ansiedade, gerando um conforto temporário, até o descanso eterno.
Por segurança, muita coisa precisa ser ressacralizada.
Antonio Samarone.
sexta-feira, 14 de novembro de 2025
PROFESSORA MARIA DE ZIZI.
Professora Maria de Zizi (80 anos).
Por Antonio Samarone
Até meados do século XX, no ensino primário (primeiro grau), em Itabaiana, predominavam as escolas particulares, com turmas multisseriadas. A professora cuidava de alunos de séries e idades diferentes. Hoje, predomina a rede pública municipal, com 11.803 alunos, em 46 escolas.
A Escola Nossa Senhora de Fátima, da professora Maria de Zizi, não fugia a regra. Para manter a disciplina, o método de ensino mais usado era a Pedagogia da Palmatória. A tabuada e a conjugação dos verbos se apendia nas sabatinas. Errou, o pau comia.
Não estou falando da Idade Média. Os espancamentos e castigos cruéis só foram abolidos das escolas brasileiras com o (ECA), em 1990. Antes, se tentou, sem sucesso, substituir os castigos físicos por castigos morais.
Os alunos deveriam deixar o primeiro grau sabendo ler, escrever e contar. Eu aprendi a ler de carreirinha e fazer as quatro operações. Aliás, somar, eu somava até de cabeça. Escrever, foi o grande problema, colei grau no primário, sem saber redigir uma carta. Até hoje me embaraço com a escrita.
Maria José dos Santos (Maria de Zizi), nasceu em 14 de abril de 1945. Filha de Maria Zizi e Antonio José dos Santos. O pai, fogueteiro, morreu cedo. A mãe trabalhou pesado para criar os dois filhos: a professore e o seu irmão, Zé de Zizi.
Maria José (Maria de Zizi), começou a ensinar cedo. Aos 13 anos, ainda estudante, já ensinava banca, na própria residência. Fez o primário, com destaque, no Grupo Escolar Guilhermino Bezerra. Antes, fez as primeiras letras com a Professora Lenita Porto, irmã do Senador Passos Porto.
Era comum as meninas mais sabidas ensinarem as colega da mesma idade.
O Ginásio, Maria de Zizi cursou no Murilo Braga.
Logo, ela abriu a sua escola: Escola Nossa Senhora de Fátima. Encheu de alunos. Maria de Zizi já nasceu professora. Estudiosa, inteligente, vocacionada para o magistério. Por sua escolinha passou gente famosa. Ela se lembra dos detalhes da escrita do canhoto, doutor Átalo, filho de Zé Crispim.
Maria de Zizi concluiu o pedagógico na Pio Décimo, em 1980. Entretanto, desde 1978, ingressou na rede pública estadual, tornando-se professora do Murilo Braga. Fez uma carreira brilhante no magistério. Ocupou vários cargos técnicos pedagógicos.
Foi coordenadora pedagógica na rede estadual, nos Colégios Dr.Airton Teles e Deputado Djalma Lobo; Diretora do Colégio Estadual Nestor Carvalho e vice-diretora da DRE'3
Hoje, aposentada, memória afiada, vive feliz e em paz. Casada com Raimundo, um pacato funcionário público federal, aposentado. Meu colega, no Ministério do Trabalho. Eles não seguiram os ensinamentos bíblicos do “crescei e multiplicai”. O Casal não teve filhos biológicos.
Entretanto, quando Maria se casou com Raimundo, ele tinha um filho, com 4 anos.
O filho, Rogério, tornou-se o amado casal.
Rogério, seguiu a carreira do magistério. É bacharel em direito, oficial da polícia civil de Sergipe e professor de história do estado.
Missão cumprida, professora Maria de Zizi.
Antonio Samarone – Secretário Municipal de Cultura.
Por Antonio Samarone
Até meados do século XX, no ensino primário (primeiro grau), em Itabaiana, predominavam as escolas particulares, com turmas multisseriadas. A professora cuidava de alunos de séries e idades diferentes. Hoje, predomina a rede pública municipal, com 11.803 alunos, em 46 escolas.
A Escola Nossa Senhora de Fátima, da professora Maria de Zizi, não fugia a regra. Para manter a disciplina, o método de ensino mais usado era a Pedagogia da Palmatória. A tabuada e a conjugação dos verbos se apendia nas sabatinas. Errou, o pau comia.
Não estou falando da Idade Média. Os espancamentos e castigos cruéis só foram abolidos das escolas brasileiras com o (ECA), em 1990. Antes, se tentou, sem sucesso, substituir os castigos físicos por castigos morais.
Os alunos deveriam deixar o primeiro grau sabendo ler, escrever e contar. Eu aprendi a ler de carreirinha e fazer as quatro operações. Aliás, somar, eu somava até de cabeça. Escrever, foi o grande problema, colei grau no primário, sem saber redigir uma carta. Até hoje me embaraço com a escrita.
Maria José dos Santos (Maria de Zizi), nasceu em 14 de abril de 1945. Filha de Maria Zizi e Antonio José dos Santos. O pai, fogueteiro, morreu cedo. A mãe trabalhou pesado para criar os dois filhos: a professore e o seu irmão, Zé de Zizi.
Maria José (Maria de Zizi), começou a ensinar cedo. Aos 13 anos, ainda estudante, já ensinava banca, na própria residência. Fez o primário, com destaque, no Grupo Escolar Guilhermino Bezerra. Antes, fez as primeiras letras com a Professora Lenita Porto, irmã do Senador Passos Porto.
Era comum as meninas mais sabidas ensinarem as colega da mesma idade.
O Ginásio, Maria de Zizi cursou no Murilo Braga.
Logo, ela abriu a sua escola: Escola Nossa Senhora de Fátima. Encheu de alunos. Maria de Zizi já nasceu professora. Estudiosa, inteligente, vocacionada para o magistério. Por sua escolinha passou gente famosa. Ela se lembra dos detalhes da escrita do canhoto, doutor Átalo, filho de Zé Crispim.
Maria de Zizi concluiu o pedagógico na Pio Décimo, em 1980. Entretanto, desde 1978, ingressou na rede pública estadual, tornando-se professora do Murilo Braga. Fez uma carreira brilhante no magistério. Ocupou vários cargos técnicos pedagógicos.
Foi coordenadora pedagógica na rede estadual, nos Colégios Dr.Airton Teles e Deputado Djalma Lobo; Diretora do Colégio Estadual Nestor Carvalho e vice-diretora da DRE'3
Hoje, aposentada, memória afiada, vive feliz e em paz. Casada com Raimundo, um pacato funcionário público federal, aposentado. Meu colega, no Ministério do Trabalho. Eles não seguiram os ensinamentos bíblicos do “crescei e multiplicai”. O Casal não teve filhos biológicos.
Entretanto, quando Maria se casou com Raimundo, ele tinha um filho, com 4 anos.
O filho, Rogério, tornou-se o amado casal.
Rogério, seguiu a carreira do magistério. É bacharel em direito, oficial da polícia civil de Sergipe e professor de história do estado.
Missão cumprida, professora Maria de Zizi.
Antonio Samarone – Secretário Municipal de Cultura.
quarta-feira, 12 de novembro de 2025
OUTRA, RESIDÊNCIA TERAPEUTICA
Outra, Residência terapêutica.
(por Antonio Samarone)
Com a redução dos manicômios, o Ministério da Saúde criou uma rede de atenção psicossocial. A orientação é cuidar dos pacientes, inseridos na sociedade. Interná-los, só em casos específicos.
Para os pacientes crônicos, após longos períodos de internação, com famílias desestruturadas, foram pensadas as “residências terapêuticas”. O Poder Público oferece uma casa, e os pacientes formam, entre si, novas formas de convivência, uma família assistencial livre, com autonomia, mas, ainda monitorados pelo poder público. A assistência médica e psicológica são feitas pelos CAPs.
Em Itabaiana, oficialmente, existe uma dessas residências terapêuticas, ligada ao SUS municipal.
Fazendo o meu périplo regular por Itabaiana, ao passar pela entrada do Canto Escuro, na esquina de Seu Jubal, deparei-me com uma cena comovente, para um velho militante da luta antimanicomial.
Na varanda da casa, onde Seu Firmino do Fosco residiu, no sofá, dois irmãos, José Carlos (o Mudo de Firmino), e Airton (Grilo), portador de esquizofrenia, jogavam alegremente um carteado. Um exercício de ludoterapia.
Para quem se interessou, vou esmiuçar um pouco essa história.
Seu Firmino do Fosco (José Tiburcio de Oliveira), era um negro, magro, calmo, simpático, de fala mansa, chegou a Itabaiana para ser agregado na casa de Dona Graça de Rosendo. Não se sabe a origem. Seu Firmino faleceu de meningite, aos 61 anos.
Firmino constituiu uma grande família, ao lado de Dona Maria, vivendo de fabricar botes de fósforo, de sete pancadas. A moderna indústria de fósforos em palitos, levou Seu Firmino a falência. Para sustentar a família, ele mudou de ofício. Passou a consertar bicicletas, uma novidade em Itabaiana. Para completar a renda, ele ainda era apicultor. Criava abelhas-sem-ferrão, no quintal.
A família entrou para a história da psiquiatria. Uma evidência das raízes familiares da loucura. Para os mais apressados, uma influência genética.
O primeiro filho, Zé Luiz, logo cedo a esquizofrenia se manifestou. A cidade atribuía o transtorno, aos estudos. “Tá vendo, foi estudar demais.” Zé Luiz morreu novo. Assistido pela caridade, sobretudo de Dona Maria, esposa de Durval do Açúcar.
O segundo,Tonho, é um mecânico conceituado. Desde menino, se virou para ganhar a vida. Vendia rolete de cana na Praça da Igreja.
O terceiro, Airton (Grilo), um menino valente, foi o goleiro do Bahia de Melcíades, e do meu time, campeão do torneio do Campo de Baltazar. Meu primeiro título: Grilo, Beijo de Seu Bebé, Vadinho de Nilo, Zé Augusto de Zé Oinho, Eu e Nego Gato (Valter de Seu Bonito).
Grilo foi um grande goleiro, até ser vítima da violência policial, que deixou sequelas. Foi o mesmo delegado, que aleijou Zé das Cuias, um negro forte, que levantava uma mesa grande de sinuca, com a coxa. Não tardou a aparecer em Grilo, o mesmo transtorno mental do irmão mais velho.
O quarto, José Carlos (surdo/mudo de nascença), contrariou a medicina, que prognostica baixa capacidade cognitiva, para esses casos. O Mudo de Firmino sempre foi muito inteligente, perspicaz, mesmo sem acesso a uma educação específica. Apesar de tudo, José Carlos sempre entendeu como o mundo funciona. Hoje, é o comandante da casa terapêutica, onde vive com os irmãos.
O quinto filho, Beto, um craque, meia esquerda, também não tardou a chegar ao mesmo transtorno dos irmãos. E por último, dos homens, Vado, foi goleiro do Itabaiana. Os quatro, já viveram na mesma casa. Atualmente, Vado mora em Nossa Senhora do Socorro.
Os outros, continuam lá, na mesma casa, vivendo sem a tutela institucional dos Serviços de Saúde.
Seu Firmino ainda teve duas filhas. Uma falecida, e Maria José, casada, mãe de família, e é quem coordena e assiste aos irmãos. Todos continuam na casa do pai, formando uma residência terapêutica.
Os irmãos moram juntos, tudo muito limpo e arrumado. O Mudo cozinha e Maria José, a irmã, sempre zelosa, lava as roupas e supervisiona. São medicados pelo CAPs.
Tive a certeza que assistência aos portadores de transtornos mentais, pode ser feita no domicílio, sem o enclausuramento dos manicômios.
Quem os encontra pelas ruas, não imagina que eles vivem bem, harmônica e, regularmente, medicados. Todos recebem o BPC/LOAS. Sem romantismo, creio que são mais felizes, que muitos que os consideram loucos. Na verdade, pesa sobre os psíquicos divergentes um estigma.
De perto, ninguém é normal!
Antonio Samarone – Psiquiatra não praticante. Diplomado pela Estácio de Sá!
(por Antonio Samarone)
Com a redução dos manicômios, o Ministério da Saúde criou uma rede de atenção psicossocial. A orientação é cuidar dos pacientes, inseridos na sociedade. Interná-los, só em casos específicos.
Para os pacientes crônicos, após longos períodos de internação, com famílias desestruturadas, foram pensadas as “residências terapêuticas”. O Poder Público oferece uma casa, e os pacientes formam, entre si, novas formas de convivência, uma família assistencial livre, com autonomia, mas, ainda monitorados pelo poder público. A assistência médica e psicológica são feitas pelos CAPs.
Em Itabaiana, oficialmente, existe uma dessas residências terapêuticas, ligada ao SUS municipal.
Fazendo o meu périplo regular por Itabaiana, ao passar pela entrada do Canto Escuro, na esquina de Seu Jubal, deparei-me com uma cena comovente, para um velho militante da luta antimanicomial.
Na varanda da casa, onde Seu Firmino do Fosco residiu, no sofá, dois irmãos, José Carlos (o Mudo de Firmino), e Airton (Grilo), portador de esquizofrenia, jogavam alegremente um carteado. Um exercício de ludoterapia.
Para quem se interessou, vou esmiuçar um pouco essa história.
Seu Firmino do Fosco (José Tiburcio de Oliveira), era um negro, magro, calmo, simpático, de fala mansa, chegou a Itabaiana para ser agregado na casa de Dona Graça de Rosendo. Não se sabe a origem. Seu Firmino faleceu de meningite, aos 61 anos.
Firmino constituiu uma grande família, ao lado de Dona Maria, vivendo de fabricar botes de fósforo, de sete pancadas. A moderna indústria de fósforos em palitos, levou Seu Firmino a falência. Para sustentar a família, ele mudou de ofício. Passou a consertar bicicletas, uma novidade em Itabaiana. Para completar a renda, ele ainda era apicultor. Criava abelhas-sem-ferrão, no quintal.
A família entrou para a história da psiquiatria. Uma evidência das raízes familiares da loucura. Para os mais apressados, uma influência genética.
O primeiro filho, Zé Luiz, logo cedo a esquizofrenia se manifestou. A cidade atribuía o transtorno, aos estudos. “Tá vendo, foi estudar demais.” Zé Luiz morreu novo. Assistido pela caridade, sobretudo de Dona Maria, esposa de Durval do Açúcar.
O segundo,Tonho, é um mecânico conceituado. Desde menino, se virou para ganhar a vida. Vendia rolete de cana na Praça da Igreja.
O terceiro, Airton (Grilo), um menino valente, foi o goleiro do Bahia de Melcíades, e do meu time, campeão do torneio do Campo de Baltazar. Meu primeiro título: Grilo, Beijo de Seu Bebé, Vadinho de Nilo, Zé Augusto de Zé Oinho, Eu e Nego Gato (Valter de Seu Bonito).
Grilo foi um grande goleiro, até ser vítima da violência policial, que deixou sequelas. Foi o mesmo delegado, que aleijou Zé das Cuias, um negro forte, que levantava uma mesa grande de sinuca, com a coxa. Não tardou a aparecer em Grilo, o mesmo transtorno mental do irmão mais velho.
O quarto, José Carlos (surdo/mudo de nascença), contrariou a medicina, que prognostica baixa capacidade cognitiva, para esses casos. O Mudo de Firmino sempre foi muito inteligente, perspicaz, mesmo sem acesso a uma educação específica. Apesar de tudo, José Carlos sempre entendeu como o mundo funciona. Hoje, é o comandante da casa terapêutica, onde vive com os irmãos.
O quinto filho, Beto, um craque, meia esquerda, também não tardou a chegar ao mesmo transtorno dos irmãos. E por último, dos homens, Vado, foi goleiro do Itabaiana. Os quatro, já viveram na mesma casa. Atualmente, Vado mora em Nossa Senhora do Socorro.
Os outros, continuam lá, na mesma casa, vivendo sem a tutela institucional dos Serviços de Saúde.
Seu Firmino ainda teve duas filhas. Uma falecida, e Maria José, casada, mãe de família, e é quem coordena e assiste aos irmãos. Todos continuam na casa do pai, formando uma residência terapêutica.
Os irmãos moram juntos, tudo muito limpo e arrumado. O Mudo cozinha e Maria José, a irmã, sempre zelosa, lava as roupas e supervisiona. São medicados pelo CAPs.
Tive a certeza que assistência aos portadores de transtornos mentais, pode ser feita no domicílio, sem o enclausuramento dos manicômios.
Quem os encontra pelas ruas, não imagina que eles vivem bem, harmônica e, regularmente, medicados. Todos recebem o BPC/LOAS. Sem romantismo, creio que são mais felizes, que muitos que os consideram loucos. Na verdade, pesa sobre os psíquicos divergentes um estigma.
De perto, ninguém é normal!
Antonio Samarone – Psiquiatra não praticante. Diplomado pela Estácio de Sá!
quinta-feira, 6 de novembro de 2025
A CULTURA DOS VAQUEIROS
A Cultura do Vaqueiro.
(por Antonio Samarone)
O gado chegou a Itabaiana com os primeiros colonos (1602), acompanhando os vaqueiros da Casa da Torre. Foi a principal atividade econômica por 200 anos. Itabaiana nasceu à sombra dos currais.
O gado é uma mercadoria que anda, vai a pé aos mercados e matadouros. O gado era a força motriz, alimentação e transporte dos engenhos do Recôncavo Baiano e de Olinda.
De couro eram as portas das cabanas, os leitos, as camas para os partos, as cordas, as bolsas para se carregar água, o alforje para se levar comida, a maca para guardar roupa, a mochila para milhar cavalos, a peia para prendê-los, as bainhas das facas, as bruacas e surrões, as roupas para se entrar no mato e os bangues para os curtumes.
O gado era criado em “soltas”. O transporte em lombos de burros e carros de bois.
Os curraleiros deixaram uma profunda herança cultural. A carne é o prato típico de Itabaiana. Uma churrascaria em cada esquina. Acredita-se, que só a carne dá sustança.
A carne hoje é uma commodity. O gado é criado com alta tecnologia, genética apurada, chips, rações balanceadas e vigiados por drones. O vaqueiro é um técnico especializado.
O modo de vida dos antigos vaqueiros tornaram-se manifestações culturais. Mantiveram-se as tradições das pegas de bois, das toadas e dos aboios. Da mesma forma que os rodeios americanos e as touradas madrilenhas.
As pegas de bois na caatinga, ganharam regras e se transformaram em vaquejadas. Criaram-se parques, com essa finalidade. O Parque São José fez história. Hoje, Itabaiana possui o Parque Cunha Menezes, com uma estrutura invejável.
As cavalgadas são manifestações bucólicas da vida rural, saudades e reminiscências. Uma forma popular de hipismo.
Em Itabaiana, a tradição da vaqueirama aflorou com Djalma Lobo e a Rádio Princesa da Serra. Em seu programa, Manhãs Nordestinas (das 4 a 7 da madrugada), Djalma trouxe a cultura dos vaqueiros para o rádio.
As quintas, a dupla Leo e Zito, fazia o Canta Sertão, com aboios e toadas. Vavá Machado e Marcolino sempre presentes.
Marcolino gravou o prefixo: “A Rádio Princesa da Serra fala, e Djalma Lobo abala, a cidade de Itabaiana”. Quem se lembra? Palmeirinha e Neve Branca, na viola; Vânia Silva e o trio Cariri; Josa, o Vaqueiro do Sertão; Erivaldo de Carira, o pai de Mestrinho; Aurelino, o pai de Tatua; Adélson, seu irmão; e Cobra Verde, o velho.
Nessa empreitada, Zito (José Costa), um artista aboiador de Palmeiras dos índios, se mudou para Itabaiana. Hoje, ele tem gravado: 8 LP, 4 compactos duplos e 30 CDs. Com o filho, Ruan Costa, dominam o mercado das vaquejadas e festas de vaqueiros, em Sergipe.
Djalma Lobo foi mais longe. Em 1979, inspirado na Missa do Vaqueiro de Serrita, trouxe a festividade para Itabaiana. A festa repetiu-se em 1980/81.
O sucesso dessas missas, ascendeu a cultura do vaqueiro em Sergipe. A festa não teve continuidade, por conta da política. Djalma Lobo se tornou o Deputado Estadual mais votado de Sergipe.
A semente estava plantada. Em 1990, foi construído o Parque de Vaquejada São José.
Em 1993/94/95, com a chegada de João de Zé de Dona à Prefeitura de Itabaiana, o seu irmão Zé Milton, ressuscitou a Missa do Vaqueiro. Dessa vez, com mais força, tornando-se uma festa interestadual. Na última, 30 vaqueiros encouraçados vieram de Serrita. Vaqueiros de todo o Nordeste, mais de mil.
O cortejo de vaqueiros encouraçados encheram Itabaiana de alegria e espanto. Era uma tradição de 300 anos, que ressurgia fortalecida. A festa foi animada pelo Grupo Asa Branca: Dr. Wellington Mendes, sua esposa Dirce e a talentosa Amorosa.
Novamente, a missa do vaqueiro em Itabaiana foi interrompida pela política: Zé Milton se elegeu Deputado. Tomou posse a cavalo, com 500 vaqueiros montados, que subiram as escadarias da Assembleia Legislativa.
O mundo cultural do Aracaju, achou estranho, não entendeu. A cultura sertaneja é desconhecida no litoral.
Já se passaram 30 anos.
O Prefeito Valmir decidiu retomar a tradição. Missa, missa mesmo, parece que a diocese do Aracaju proibiu. Não sei as razões. O profano e o sagrado andam juntos em outras manifestações.
Como missa não pode, em Sergipe, vamos fazer a Festa do Vaqueiro. Com o mesmo proposito de cultuar uma tradição dos antigos. Será, no domingo, 30 de novembro. Os vaqueiros encouraçados voltarão as ruas de Itabaiana, com suas toadas e aboios.
Como sempre, será uma grande festa!
Zito e Zeti, só mudou o parceiro, vão abrilhantar. Vavá e Marcolino já morreram. Iguinho & Lulinha, naturais de Canindé de São Francisco, mas moram em Petrolina; e Arreios de Ouro, uma banda do Sertão de Moxotó, Pernambuco. Tudo dentro dos valores e tradições dos vaqueiros.
Os vaqueiros encouraçados voltarão a encantar às ruas de Itabaiana. Não percam...
Itabaiana, festejará as raízes e as tradições dos curraleiros. A Terra das Filarmônicas e da cultura erudita, também sabe festejar a cultura popular!
Antonio Samarone – Secretário Municipal de Cultura.
Foto: a última missa do vaqueiro em Itabaiana (1995).
(por Antonio Samarone)
O gado chegou a Itabaiana com os primeiros colonos (1602), acompanhando os vaqueiros da Casa da Torre. Foi a principal atividade econômica por 200 anos. Itabaiana nasceu à sombra dos currais.
O gado é uma mercadoria que anda, vai a pé aos mercados e matadouros. O gado era a força motriz, alimentação e transporte dos engenhos do Recôncavo Baiano e de Olinda.
De couro eram as portas das cabanas, os leitos, as camas para os partos, as cordas, as bolsas para se carregar água, o alforje para se levar comida, a maca para guardar roupa, a mochila para milhar cavalos, a peia para prendê-los, as bainhas das facas, as bruacas e surrões, as roupas para se entrar no mato e os bangues para os curtumes.
O gado era criado em “soltas”. O transporte em lombos de burros e carros de bois.
Os curraleiros deixaram uma profunda herança cultural. A carne é o prato típico de Itabaiana. Uma churrascaria em cada esquina. Acredita-se, que só a carne dá sustança.
A carne hoje é uma commodity. O gado é criado com alta tecnologia, genética apurada, chips, rações balanceadas e vigiados por drones. O vaqueiro é um técnico especializado.
O modo de vida dos antigos vaqueiros tornaram-se manifestações culturais. Mantiveram-se as tradições das pegas de bois, das toadas e dos aboios. Da mesma forma que os rodeios americanos e as touradas madrilenhas.
As pegas de bois na caatinga, ganharam regras e se transformaram em vaquejadas. Criaram-se parques, com essa finalidade. O Parque São José fez história. Hoje, Itabaiana possui o Parque Cunha Menezes, com uma estrutura invejável.
As cavalgadas são manifestações bucólicas da vida rural, saudades e reminiscências. Uma forma popular de hipismo.
Em Itabaiana, a tradição da vaqueirama aflorou com Djalma Lobo e a Rádio Princesa da Serra. Em seu programa, Manhãs Nordestinas (das 4 a 7 da madrugada), Djalma trouxe a cultura dos vaqueiros para o rádio.
As quintas, a dupla Leo e Zito, fazia o Canta Sertão, com aboios e toadas. Vavá Machado e Marcolino sempre presentes.
Marcolino gravou o prefixo: “A Rádio Princesa da Serra fala, e Djalma Lobo abala, a cidade de Itabaiana”. Quem se lembra? Palmeirinha e Neve Branca, na viola; Vânia Silva e o trio Cariri; Josa, o Vaqueiro do Sertão; Erivaldo de Carira, o pai de Mestrinho; Aurelino, o pai de Tatua; Adélson, seu irmão; e Cobra Verde, o velho.
Nessa empreitada, Zito (José Costa), um artista aboiador de Palmeiras dos índios, se mudou para Itabaiana. Hoje, ele tem gravado: 8 LP, 4 compactos duplos e 30 CDs. Com o filho, Ruan Costa, dominam o mercado das vaquejadas e festas de vaqueiros, em Sergipe.
Djalma Lobo foi mais longe. Em 1979, inspirado na Missa do Vaqueiro de Serrita, trouxe a festividade para Itabaiana. A festa repetiu-se em 1980/81.
O sucesso dessas missas, ascendeu a cultura do vaqueiro em Sergipe. A festa não teve continuidade, por conta da política. Djalma Lobo se tornou o Deputado Estadual mais votado de Sergipe.
A semente estava plantada. Em 1990, foi construído o Parque de Vaquejada São José.
Em 1993/94/95, com a chegada de João de Zé de Dona à Prefeitura de Itabaiana, o seu irmão Zé Milton, ressuscitou a Missa do Vaqueiro. Dessa vez, com mais força, tornando-se uma festa interestadual. Na última, 30 vaqueiros encouraçados vieram de Serrita. Vaqueiros de todo o Nordeste, mais de mil.
O cortejo de vaqueiros encouraçados encheram Itabaiana de alegria e espanto. Era uma tradição de 300 anos, que ressurgia fortalecida. A festa foi animada pelo Grupo Asa Branca: Dr. Wellington Mendes, sua esposa Dirce e a talentosa Amorosa.
Novamente, a missa do vaqueiro em Itabaiana foi interrompida pela política: Zé Milton se elegeu Deputado. Tomou posse a cavalo, com 500 vaqueiros montados, que subiram as escadarias da Assembleia Legislativa.
O mundo cultural do Aracaju, achou estranho, não entendeu. A cultura sertaneja é desconhecida no litoral.
Já se passaram 30 anos.
O Prefeito Valmir decidiu retomar a tradição. Missa, missa mesmo, parece que a diocese do Aracaju proibiu. Não sei as razões. O profano e o sagrado andam juntos em outras manifestações.
Como missa não pode, em Sergipe, vamos fazer a Festa do Vaqueiro. Com o mesmo proposito de cultuar uma tradição dos antigos. Será, no domingo, 30 de novembro. Os vaqueiros encouraçados voltarão as ruas de Itabaiana, com suas toadas e aboios.
Como sempre, será uma grande festa!
Zito e Zeti, só mudou o parceiro, vão abrilhantar. Vavá e Marcolino já morreram. Iguinho & Lulinha, naturais de Canindé de São Francisco, mas moram em Petrolina; e Arreios de Ouro, uma banda do Sertão de Moxotó, Pernambuco. Tudo dentro dos valores e tradições dos vaqueiros.
Os vaqueiros encouraçados voltarão a encantar às ruas de Itabaiana. Não percam...
Itabaiana, festejará as raízes e as tradições dos curraleiros. A Terra das Filarmônicas e da cultura erudita, também sabe festejar a cultura popular!
Antonio Samarone – Secretário Municipal de Cultura.
Foto: a última missa do vaqueiro em Itabaiana (1995).
quarta-feira, 5 de novembro de 2025
SERGIPANIDADE E LUIZ ANTONIO BARRETO
Sergipanidade e Luiz Antonio Barreto.
(por Antonio Samarone)
A Prefeita Emília fez justiça, ao renomear o Centro Cultural de Aracaju em Palácio-museu Luiz Antonio Barreto.
Sem muitas dúvidas, Luiz foi o maior intelectual sergipano, na segunda metade do século XX.
Luiz Antonio Barreto é o “Senhor Sergipanidade”, um guardião da cultura sergipana, como disse recentemente o sobrinho de Zé Calazans.
Luiz Antonio, acreditava que a sergipanidade era um conceito em construção, e começou com Tobias Barreto. Foi longe!
Contudo, sergipanidade é um conceito, por enquanto, mal construído.
Luiz Antonio deixou algumas dicas:
“Sergipanidade é o conjunto de traços típicos, a manifestação que distingue a identidade dos sergipanos, tornando-o diferente dos demais brasileiros, embora preservando as raízes da história comum.”
“A sergipanidade inspira condutas e renova compromissos, na representação simbólica da relação dos sergipanos com a terra, e especialmente com a cultura, e tudo o que ela representa como mostruário da experiência e da sensibilidade.”
Os atuais entusiastas da sergipanidade não acrescentaram nada.
Quais são esses traços típicos? Nada de consistente. Havia divergências sobre o dia da sergipanidade. O dia 24 de outubro foi instituído como dia da sergipanidade. A data foi oficializada em 2019, pela Lei nº 8.601, para celebrar o conjunto de traços culturais e o orgulho do povo sergipano.
“Alegrai-vos sergipanos, ressurge a mais bela aurora./ Com cânticos doces/ Vamos festejar, festejar, festejar...” Hino de Sergipe.
O Governador Marcelo Déda foi um entusiasta da sergipanidade.
Déda encomendou uma História do Povo de Sergipe, ao intelectual baiano Antonio Risério. O livro, não sei as razões, foi recolhido.
A comunicóloga e ex-secretária de Estado da Comunicação e da Cultura durante a gestão do governador Marcelo Déda (PT), Eloísa Galdino, destacou que, ao longo da gestão, parte do projeto e da missão era elevar a autoestima do povo sergipano, através do resgate de símbolos, datas, patrimônios. Mangue jornalismo (05/072023).
O jornal enxerga a criação do conceito de sergipanidade, a uma ação vinculada ao marketing governamental e aos intelectuais criadores da política cultural de Sergipe.
Parece que avançamos: sem muita convicção, a sergipanidade passou a interessar a acanhada política pública de turismo.
Luiz Antonio Barreto deixou uma ideia em construção.
Continuamos patinando.
Ao ser perguntado, um doutor da UFS, deu uma resposta evasiva: “A sergipanidade se manifesta no falar, no comer, no rezar e no viver cotidiano de cada sergipano. É um sentimento que não se vê, não se explica, mas se sente.”
Ou seja, a gente sente, mas não sabe o que é!
Luiz Antonio conhecia o pensamento de Gilberto Freire, que liderou a criação cultural do Nordeste, com o seu Manifesto Regionalista de 1936.
O Nordeste é uma realidade inventada pela literatura, música, movimentos messiânicos, cangaço, cordel, teatro, religião.
No início do século XX, não existia o Nordestino, como singularidade cultural.
Darcy Ribeiro teorizou sobre a criação do brasileiro, Gilberto Freire pensou o nordestino, Luiz Antonio teve a ideia de criar culturalmente o sergipano. Ele sabia muito, e sonhou com a sergipanidade.
Deixou a tarefa: o que o sergipano tem que não é comum aos demais brasileiros e mais, especificamente, que não é comum aos demais nordestinos.
O que torna o sergipano culturalmente original?
Cultura vista como a dimensão simbólica da existência humana.
Marcelo Déda acreditava que o conceito de sergipanidade aumentaria a nossa auto-estima, aliás, que continua baixa.
O dia da sergipanidade é comemorado pelo Poder Público com músicas, danças e bandas baianas.
Antonio Samarone – Secretário de Cultura de Itabaiana.
domingo, 2 de novembro de 2025
O CABO MAMONA
O Cabo Mamona.
(por Antonio Samarone)
“Cabo Mamona, comandante da milícia/ Não quis mais ouvir a missa/ do Cura do Patrimonio/ - Prende-se o Padre, Sacristão, com alegria/ Prendo as filhas de Maria e os músicos da Santo Antonio (Filarmônica)/ Mamona não é chalaça/ Vá tomar a sua cachaça.” – Caxangá, citado no livro do doutor Vladimir.
Mamona era o chefe de polícia do Coronel Sebrão. No dia 14 de junho de 1916, Sebrão botou a polícia na porta da igreja, para acabar com as Trezenas de Santo Antonio. A briga do chefe político com o padre Vicente Francisco de Jesus tinha radicalizado.
O padre, que gostava de confusão, botou os seus seguranças na porta da igreja. No, arranca rabo, o soldado Bicudo abateu a golpes de facão, o senhor Luiz Pereira de Andrade (avô de Francis de Andrade). A vítima caiu ensanguentado na Rua da Vitória, morreu na calçada, sem assistência, com a orelha esquerda e o nariz decepados. O crime ficou impune.
O Bispo, Dom José Thomas, suspendeu a procissão de Santo Antonio, em 1916. Fato único, nos 350 anos da Paróquia de Santo Antonio e Almas.
O Padre Vicente Francisco de Jesus, era um lagartense, da Terra de Itajay. Chegou a Itabaiana em 26 de janeiro de 1913. Um padre operoso. Segundo as más línguas, queria suceder o chefe político Batista Itajay, que andava adoentado e já morava em Aracaju.
O padre Vicente fechou o cemiterinho, do fundo igreja. A Irmandade das Almas assumiu o atual Cemitério das Almas. A Irmandade comprou três esquifes pretos, para enterrar os pobres. Os indigentes eram sepultados enrolados num cobertor. O caixão voltava para transportar os próximos.
Vicente Francisco de Jesus reformou a igreja. Construiu a capelo mor, colocou um relógio na torre (relógio construído pelo artista itabaianense Manoel Garangau). Trouxe um sino de São Paulo, inaugurado em 1º de janeiro de 1915. Sino que anda silencioso. O padre adquiriu os 15 quadros da via-a-sacra, que até hoje, estão nas paredes da igreja.
O padre Vicente fazia oposição aberta ao Coronel Sebrão, chefe político. Como retaliação, foi exonerado do cargo de Delegado da Educação, no município. Mexeu no bolso.
O padre não deixou por menos, durante uma Santa Missão, não permitiu que Dona Carrôla, amante do Coronel, crismasse uma criança. “A senhora não tem condições de ser madrinha.” Uma desfeita pública!
Circulava de mão em mão: “Dona Carrola por ser batuta na Taba/ O repertório não acaba/ Sem que traga confusão/ Mas que audácia de tamanha zabaneira/ Pois não passa de rameira/ Concubina de Sebrão. Aplique mercúrio em ampola/ Para a sífilis de Carrôla.”
O padre comprou uma briga ruim. Dona Carrôla, amante de Sebrão, não era uma qualquer. Era irmã de Antonio Dutra, comerciante e duas vezes Prefeito, e de Dona Caçula, a mãe de Oviedo Teixeira.
O saldo da briga foi a transferência do Padre Vicente, sendo substituído pelo Monsenhor Constantino, que permaneceu em Itabaiana até 1926.
O Monsenhor Constantino era natural de Penedo e nome oficial do Beco do Ouvidor, onde nasci. Cem anos depois, temos outro penedense, padre Paulo Lima, comandando a Freguesia de Santo Antonio e Almas.
Padre Vicente Francisco de Jesus é o nome da rua que sai da esquina do antigo Grupo Guilhermino Bezerra, em direção à Praça de Eventos, em Itabaiana.
E nome da antiga Escola do Padre: Educandário Cônego Vicente Francisco de Jesus, onde fiz o primário. A escola do Padre era particular, para os filhos dos endinheirados, e para os filhos dos pobres, patrocinados pelo Círculo Operário.
O Cabo Mamona, chefe da guarnição, foi promovido a sargento e Zé de Brió perdeu o avô.
Antonio Samarone – Secretário de Cultura de Itabaiana.
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