sábado, 13 de setembro de 2025

OS MISTÉRIOS DA CONSCIENCIA.

Os Mistérios da Consciência.
(por Antonio Samarone)

As neurociências simplificam: “a consciência é um produto das atividades cerebrais.” Emoções, talentos, pensamentos, memória, percepções, crenças, caráter, delírios, fé, resultam de fenômenos físico-químicos da matéria cerebral. Nessa concepção, a morte do corpo é o fim da consciência.

A insuficiência desse paradigma é exaustivamente demonstrado, embora, mantenha-se quase unanime entre os cientistas. O espaço aqui não me permite o aprofundamento das fragilidades dessa tese.

Já as religiões, apelam para as subjetividades metafísicas. Na cosmogonia cristã, a consciência foi um sopro divino, que criou a alma imortal, como imagem e semelhança de Deus. Não precisa de comprovação, sustenta-se pela fé.

Essa dualidade excludente possui lacunas, que tornam as duas principais doutrinas sobre a origem e o funcionamento da consciência misteriosas.

Hoje, aos setenta anos, após muitas leituras e reflexões, dúvidas e incertezas, cheguei pessoalmente a algumas evidências: a consciência é um fenômeno cósmico, de natureza quântica, e o nosso cérebro é um receptor. O que não é pouco.

A consciência não se extingue com a morte do corpo. O pó volta a ser pó. A consciência permanece. Continuo com a dúvida se ela se dilui ou não na energia cósmica.

Até onde entendi, não se trata de uma tentativa de “cientificizar” as visões das filosofias e das religiões orientais sobre a consciência, tão em moda em minha juventude. Sei que esse é o principal argumento dos que discordam e professam religiosamente a ciência.

Não, as pesquisas sobre a consciência quântica são buscas de outros paradigmas.

Entretanto, as fronteiras desse novo caminho, deixam brechas para a existência de um princípio organizador da vida. Aliás, a consolidada teoria Darwiniana está sendo revisada, para englobar em seu modelo de explicação, os fenômenos vitais de complexidades irredutíveis, sobretudo, ao nível molecular.

Eu desconfiava da natureza cósmica da consciência humana, por duas fontes: as leituras de um conto do argentino Jorge Luís Borges, sobre a imortalidade; e dos textos sobre o inconsciente coletivo, de Carl Gustav Jung.

Cheguei às teses da consciência quântica, pelas vias travessas das dúvidas.

Se você conseguiu chegar até aqui, vai entender agora as razões desses devaneios filosóficos.

Sinto que a sociedade no Brasil, forma um certo consenso contra os maus tratos animais. Nem sempre foi assim. A consciência se transforma coletivamente. Achar que essas mudanças decorrem da produção maior ou menor de “neurotransmissores”, ou da formação de novos circuitos neuronais, se aproxima do fanatismo científico. 

 Até onde vão às evidências da natureza cósmica da consciência?  
Essa semana, fui tomado por uma solidariedade estranha com o reino vegetal. Deparei-me com uma podagem predatória de um Nim indiano.

Um mal-assombrado resolveu depenar uma árvore, viçosa, carregada de brotos nascentes, para deixá-la na forma de uma casinha de péssimo-gosto. Parei, e tive a sensação que a planta estava me pedindo socorro:

“Peça a esse senhor que pare, eu estou me sentindo bem do meu jeito, com as minhas formas naturais. Não quero virar uma casa.”

Não queriam derrubar o Nim, não foi a popular causa contra o desmatamento, que me alertou.

A agressão era sútil, podendo ser até justificada como benéfica, ou até mesmo necessária. Nesse caso, o Nim pedia clemencia.

Logo o Nim, tão mal visto pelos ambientalistas de meia tigela, logo ele, que veio de longe, acusado de matar as abelhas, estava ali, imóvel, impotente, pedindo a minha solidariedade.

Eu passei direto, não fui solidário com o Nim. Confesso que fiquei com um peso na consciência. Estou passando cabisbaixo pelo Nim mutilado, um pouco envergonhado da omissão.

Antonio Samarone – Secretário de Cultura de Itabaiana.
 

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