Eternas Ladies.
(por Antonio Samarone).
Numa manhã pueril, cruzando os corredores da feira de Itabaiana, entupida de gente, deparei-me com essas duas senhoras, esbanjando bom gosto, fidalguia e educação requintada. São referências históricas de distinção e nobreza.
Elas estavam prontas, arrumadas, como se vai para uma missa de domingo, um casamento, uma festa de Natal. Sempre nos trinques.
Quem é de Itabaiana as conhecem. Maria José (professora) e Inês, as filhas de Dona Adalula, irmãs de Ezequiel Noronha (Cochilo). Mas, para quem não as conhece, Eu vou contar.
O capitalismo acabou com as bancas de miudeza, nas feiras. Onde se vendiam todas as quinquilharias e bugigangas da terra: rouge, batom, pó de arroz, brilhantinas, água de colônia, bicos, entremeios, grip, fitas, arremates, colchete de linha, dedal, arranjos, cristais, brilhos, pedrarias, paetês, imagem de santo, arranjos de flores, louças finas, quadros...
A clientela das bancas de miudezas era o povão.
As grã-finas compravam nos armarinhos. Lembro-me dos dois primeiros, em Itabaiana, na praça da feira, vizinhos a Sapataria de Zeca Titia. Os armarinhos de Dona Adalula e Dona Maurília. Lojas recheadas de luxo e bom gosto.
Adalula é a mãe de Ezequiel, Maria José e Inês.
Dona Maurília é avó da escritora Maria do Carmo.
Depois o negócio dos armarinhos cresceu. Surgiram os armarinhos de Dona Deja, Zaíra e Seu Abdias. E, finalmente, o Armarinho Tem Tem, de Fefi e Dona Marlene. O Tem Tem, marcou época.
Em Aracaju, teve a famosa Huteba, um Armarinho grande, mais sortido, onde já se vendia de tudo.
Hoje, as lojas de departamento, vendem até alfinete. Na verdade, essas lojas vendem até pipoca. O capitalismo não suporta os pequenos comerciantes. Acabaram-se as bancas de miudezas.
O castigo é que essas lojas de departamento são sociedades anônimas, impessoais e desalmadas. Perderam-se os estilos, os modos e as originalidades dos pequenos comerciantes. As lojas de departamentos são do mercado financeiro.
A pôs modernidade não é o mundo das filhas de Dona Adalula. Nem o meu. Somos de outros tempos.
Em Itabaiana existe uma nobreza, gente de fino trato e modesta riqueza material. As filhas de Dona Adalula são bons exemplos.
Lembro-me de uma sentença, em minha infância: "mais arrumadas do que as filhas de Dona Adalula."
Antonio Samarone (Secretário de Cultura de Itabaiana).

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