A Sombra do Jenipapeiro.
(por Antonio Samarone)
Se queres ser universal, canta a tua Aldeia – Leon Tolstói.
Não sei quando e nem quem derrubou o chalé avarandado, casa paroquial do cônego Domingos de Melo Resende, ao lado da matriz de Santo Antonio e Almas.
Alcancei o terreno desocupado, onde o padre Everaldo, Bode Cheiroso, mandou iluminar, cercar de alambrado, e transformou numa quadra de areia, destinada à prática do Futebol de Salão.
O Futebol de Salão deixou a Praça da Feira.
A casa do Cônego era o principal centro de poder da Villa. Domingos de Melo Resende era um fidalgo da Capela, filho do Capitão-Mor Manuel de Melo Resende e Josefa Maria Resende. Em 1852, assumiu a Paróquia de Santo Antonio e Almas, por mais de 50 anos. Faleceu em 06 de janeiro de 1902, em Itabaiana. Deixou uma prole numerosa, todos registrados a paternidade.
A população adorava o velho Cônego. Bom de sermão, generoso, rico, família grande, a sua casa acolhia muita gente. Ele foi sepultado na igreja. Depois o Monsenhor Soares fez uma “reforma”, e apagou drasticamente a memória. Acho que a lápide do tumulo de Domingos de Melo Resende, se encontra na Capela de São Miguel. Vou conferir.
Defronte a casa paroquial, existia um frondoso e centenário Jenipapeiro. A sua sombra era um local de encontros e deliberações aldeãs. A vida de todos era passada a limpo.
José Crispim de Souza, empresário e alfaiate, em seu livro “Costumes de Minha Aldeia”, descreveu o jenipapeiro:
“Havia um jenipapeiro quase em frente a nossa igreja matriz, circundado de bancos de madeira, onde se juntavam os políticos e demais pessoas, fazendo dali um quartel-general, de onde ditavam leis e falavam dos adversários, da mulher casada ou solteira, da administração do Intendente A ou B, contanto que descarregasse o estilete em qualquer lugar e atingisse os seus inimigos.”
A profecia do Cônego se confirmava: Itabaiana gostava da vida simples da Vila.
Hoje, Itabaiana tornou-se uma metrópole. Cortaram o jenipapeiro, mas a resenha continua no belo calçadão de pedras portuguesa, entre os quiosques e um ponto de Taxi. No mesmo local do jenipapeiro.
Nunca soube de reações, por conta da derrubada desse jenipapeiro. Na mesma época, o corte de um tamarineiro, na Praça da Feira, terminou em rompimento político. Dorinha era o chefe político, o prefeito eleito, Antonio Dutra, era do seu grupo. Entretanto, apesar dos pedidos dele para não derrubarem a árvore, não houve jeito, passaram o machado. Antonio Dutra era tio de Oviedo Teixeira.
Hoje, a regra é plantar! Na calçada da Secretária de Cultura, florescem viçosos, dois belos Paus Brasil.
Antonio Samarone – Secretario de Cultura de Itabaiana.
O jenipapeiro era esse da foto.

Avalie plantar também ipês. Nos períodos de flora a cidade fica muito bonita.
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