O Paraíso das Selfies.
(por Antonio Samarone)
A Música, com Francisco da Silva Lobo (1745), e a fotografia, Com Miguel Teixeira da Cunha (final do século XIX), marcaram historicamente uma identidade cultural em Itabaiana.
A fotografia assombrou o mundo. E chegou cedo em Itabaiana.
Em 25 de outubro de 2025, teremos o Sétimo Festival Itabaianense da Canção (FIC). Esse ano, teremos uma novidade, o primeiro concurso público de fotografias. Treze prêmios.
Como fixar a imagem na câmara escura, conhecida desde Leonardo D’Vince? Niépce e Daguerre conseguiram, simultaneamente. De imediato, o governo francês, 1839, comprou a patente da fotografia e tornou-a de domínio público.
Os clichês de Daguerre eram placas de prata iodada e expostas na câmara escura que precisavam ser manipuladas em vários sentidos para produzir uma imagem cinza pálida. Os daguerreótipos.
Walter Benjamin, falando sobre a fotografia, afirmou:
“A natureza que fala a câmara não é a mesma que fala ao olhar; é outra, especialmente porque substitui um espaço preenchido pela ação consciente do homem, por um espaço que ele preenche agindo inconscientemente.”
“Percebemos, em geral, o movimento de um homem que caminha, ainda que de modo grosseiro, mas nada percebemos de sua postura na fração de segundo em que ele dá o passo.”
“A fotografia torna-a accessível, através de seus recursos auxiliares: câmara lenta, ampliação. Só a fotografia revela esse inconsciente ótico, como só a psicanálise revela o inconsciente pulsional”.
A fotografia é uma linguagem, podendo revelar aspectos não alcançados nem pelo olho nu, nem pelo discurso. A fotografia é como a velhice, mostra à genética.
A fotografia desvenda o semblante como um reflexo da alma, do self, do indivíduo. A fotografia pode perceber por trás das máscaras, enxergar um ar, uma alma sem idade, mas não fora do tempo.
“A nossa Era prefere à imagem a coisa, a cópia ao original, a representação à realidade, a aparência ao ser.” Feuerbach.
É a sensibilidade poética da fotografia, que o certame de Itabaiana sonha estimular. É um concurso é sobre a arte fotográfica. Por onde anda a alma de Sebastião Salgado?
Um caga raiva me provocou: “vai ser uma disputa entre as inteligências artificiais. Com a imagem digital, a tecnologia pinta e borda, põe e tira, ascende e apaga.
Os aplicativos colocam um pôr do sol, onde só existem nuvens sombrias. A fotografia não é a realidade, nem a sua cópia fiel. Sempre se editou as fotos analógicas. As belas fotos de Joãozinho Retratista tinha as digitais do seu lápis.
O caga raiva contra atacou: a IA embeleza o feio! Deixa o fotógrafo impotente...
Não creio!
Vivemos na Era das imagens, do fim das narrativas. Dormimos e acordamos em frente a telinha. As imagens saturaram o mundo, sem nada a dizer. É o império das selfies.
O concurso de fotografia em Itabaiana é uma utopia, uma busca das raízes. A crença na beleza das imagens, o desejo de esmiuçar o que elas tem para nos contar e o que elas ainda podem preservar da memória.
Antonio Samarone – Secretário de Cultura de Itabaiana.
(A foto é da igreja matriz de Malhador - sem texto)

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