A dupla perda de memória.
(por Antonio Samarone)
A educação moderna começou em Itabaiana, com a inauguração do Grupo Escolar Guilhermino Bezerra (1936). Antes, eram escolas isoladas, de primeiras letras. Começou tarde.
A economia agrícola dominante, em bases tradicionais, não enxergava a necessidade de escolas. Espiritualmente, a comunidade era guiada pela igreja.
A música e a fotografia foram as manifestações dominantes. A Filarmônica Eufrosina foi criada pelo padre Francisco da Silva Lobo, em 1745. O primeiro Estúdio fotográfico foi montado por Miguel Teixeira, em 1902.
O nome do primeiro Grupo Escolar, Guilhermino Bezerra, fez justiça ao último político itabaianense do Império. O farmacêutico Guilhermino, formado na Bahia, também foi um conceituado rábula, jornalista, professor, um intelectual ativo e atuante. Foi deputado provincial por várias legislaturas. Um grande orador.
A emenda à lei que elevou Itabaiana de Villa a Cidade, 28 de agosto de 1888, foi de sua autoria.
Guilhermino Bezerra, monarquista, conservador, representou Itabaiana, na primeira Assembleia Constituinte Sergipana, em 1891.
Foi a sua última participação na vida pública. Envolveu-se em uma polêmica na eleição indireta do Governador. O seu voto passou a ser decisivo e ele queria votar no candidato da oposição. A pressão foi grande. Ele renunciou!
Abandonou a vida pública, foi viver da sala de aula. Um professor respeitado. Faleceu em Aracaju, em 1º de agosto de 1903, aos 56 anos.
Guilhermino nasceu em Itabaiana, em 03 de fevereiro de 1845. Filho de Amâncio José da Paixão e Dona Maria Joaquina do Sacramento Bezerra. Guilhermino Bezerra foi aluno de Tobias Barreto, em sua passagem por Itabaiana, como professor de latim.
A família Bezerra exerceu grande influência em Itabaiana. O sobrinho neto José Bezerra, dono de circo, aluno de Procópio Ferreira, foi o maior nome das artes cênicas em Itabaiana; o outro sobrinho famoso, Abdias Bezerra, foi um professor destacado em Aracaju.
Com a República, um médico lagartense, Batista Itajay, assumiu a chefia política em Itabaiana. Guilhermino saiu de cena.
O Governo do Estado deformou arquitetonicamente o Grupo Escolar Guilhermino Bezerra (veja foto), para transformá-lo em não sei o quê. O belo prédio virou uma caixa hermética de concreto.
Não precisava, foi um ato de retaliação a Itabaiana. Ficou pronto para uma prisão de segurança máxima.
Um desrespeito as memórias da educação e a do Dr. Guilhermino Bezerra.
Até onde sei, o único logradouro que restou, com o nome de Guilhermino, é uma pequena Travessa no Bairro 18º do Forte, em Aracaju. Não culpo o Secretário da Educação, ele é um político tradicional, não tem a obrigação de conhecer a história. Ele cuida de votos.
É muito difícil manter o patrimônio histórico e cultural em Sergipe, mesmo com o poder público a favor. Imagine, quando o ataque ao patrimônio é um ato de Governo.
Declaro, meu protesto impotente!
Antonio Samarone (Secretário de Cultura de Itabaiana).

Escolas são, por regra, presídios, por todo o Brasil. Temos esperança que o que acontece por dentro possa demolir o que aparece por fora. Pior: não cumprimos a promessa de que presídios possam ser escolas.
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