sábado, 21 de junho de 2025

SERGIPE, A ROMA DO CAPETA.

Sergipe, a Roma do Capeta.
(por Antonio Samarone)

No final da década de 1970, apareceu em Sergipe o satanista José Luiz Howarth Silva. Alugou um escritório próximo à rodoviária velha, comprou um espaço na rádio liberdade, e começou a difundir a filosofia luciferiana. Como o povo acredita em tudo, em pouco tempo a nova igreja estava lotada de fiéis.

Howarth nasceu em Icapuí, no Ceará, onde o pai mantinha uma mercearia de beira de estrada. Lá costumava ouvir as histórias de ciganos e tropeiros, clientes da bodega, que adoravam descrever fenômenos místicos e narrar causos de assombração.

Não raro, o menino Luiz acordava de madrugada, impressionado com as imagens oníricas de tochas acesas e porteiras que se abriam para a passagem de uma força tão invisível, quanto descomunal. Nesse período, uma mulher voluptuosa, trajando vermelho, o visitou em sonho e o exortou a se libertar das amarras da religião. Era Lúcifer.

Luiz Howarth, resolveu sair pelo Brasil em busca de oportunidades para difundir a sua crença. Em Sergipe, o Papa do diabo prosperou.

Na década de 1980, Howarth morava em Aracaju e trabalhava como radialista. Em seu programa, dizia-se capaz de falar com almas penadas e disseminava crenças muito particulares, que mesclavam o candomblé, o espiritismo e o catolicismo. O Papa João Paulo II faria a sua primeira viagem ao Brasil, era uma oportunidade de dos 2 papas medirem forças.

Estimulado pelas adesões, Luiz Howarth decidiu construir uma catedral do diabo, no Parque dos Faróis, em Nossa Senhora do Socorro. Sergipe se tornaria a Roma do Capeta. Sergipe foi notícia nacional.

Até então Howarth vivia pacificamente em Aracaju, com o seu culto. Não aceitava o dízimo. Vivia da venda de velas CE. Umas velas enormes, grossas, pretas, feitas de petróleo. As velas queimavam por mais de 15 dias e atraia o satanás.

A sua desgraça foi aparecer no Fantástico, vestido luxuosamente com um terno comprado em Wilson do Gavetão. O povo se revoltou. Aracaju não poderia ser a Roma do Capeta. Vamos expulsá-lo.

Você pode não acreditar, mas foi esse religioso da foto, José Juarez da Cunha, um caraibeiro franzino, de Itabaiana, foi quem liderou o povo, na expulsão do Papa do diabo das terras sergipana.

Seu Juarez, um cruzado anônimo! Howarth foi visto como uma ameaça real a cristandade.

O povo, liderado por Seu Juarez da Água Branca (foto), inflado de superstição e de medo, saiu às ruas, com paus e pedras, para botar abaixo o templo do Capeta.

O governador Augusto Franco, sentindo a comoção popular, chamou o Papa em Palácio, perguntou quanto ele queria pela Catedral. Acertaram o preço, e o satanista foi indenizado. Literalmente, com o rabo cheio de dinheiro, Luiz Howartz abandonou os fiéis e se mandou de Sergipe.

Quem ficou curioso com o Papa, o jornalista Adiberto de Souza cobriu a inauguração da igreja (1981) e produziu um texto detalhado e bem escrito, que se encontra na Internet.

Luiz Howaryh, endinheirado, foi morar em Vitória, do Espírito Santo. Anda por lá até hoje. Escapou da Covid sete vezes.

Quem pensa que o povo se livrou do capeta, tá enganado. Ele tá vivo e atuante, com outras roupagens. Novas catedrais estão sendo construídas, com novos e velhos satanistas.

Como diz um filósofo do pé da serra, o paganismo venceu: “Tem quem duvide da existência de Deus (ateus e agnósticos), mas desconheço que tenha dúvidas da existência do diabo.”

Antonio Samarone. Secretário de Cultura de Itabaiana.
 

Nenhum comentário:

Postar um comentário