As Bonecas Reborn.
(por Antonio Samarone)
Os internautas estão indignados, não aceitam, que mulheres adotem bonecas como filhas. Até a loucura tem limites, bradam os influenciadores digitais. Dessa vez, chegamos ao fundo do poço!
Que crianças brinquem de ser mãe de bonecas, vá lá, mas adultos...
Essa insanidade está sendo vista como o fim da civilização, do bom senso e da razão.
Fazer guerra, usar drones para jogar bombas em hospitais, massacrar crianças, exterminar civilizações, tudo isso é pinto, perto de ser mãe de bonecas. Contudo, a revolta com a falsa maternidade é generalizada.
Como assim, não adoramos amuletos e estatuas como deuses? Acho essa revolta fabricada. Se até a inteligência é artificial, porque filho de faz de conta é loucura. A falsa gravidez é antiga. A novidade é a falsa mãe.
O que se sabe, é que as vendas de bonecas reborn no mercado livre explodiram. Corre o risco de escassez. Trump já taxou as tais bonecas, em 124%. No Brasil, tramita uma emenda para incluir as bonecas reborn, no Estatuto da Criança e do Adolescente.
A Associação Americana de Psiquiatria, responsável pelo DSM, manual de diagnósticos de Transtornos Mentais, por orientação da indústria farmacêutica, já se reuniu para dar um nome e indicar um remédio, para essa nova doidice: “Ser mãe de bonecas.” O nome favorito é “Transtorno do Espectro Maternal” (TEM).
Depois que a medicina assumiu a responsabilidade pela loucura, século XIX, Pinel e Kraepelin, pouca coisa evolui em sua etiologia. Antes, a loucura era vista como uma possessão por espíritos malignos, hoje, como falhas bioquímicas, deficiência ou excesso de neurotransmissores, produto de alterações genéticas. Duas divagações interessadas.
A pergunta milenar de qual é a fronteira entre a loucura e a sensatez, quais os limites entre a razão e desrazão, continua sem resposta.
A medicina americana transformou o louco, o doido, o insensato, o alienado, o sonso, o aluado, o maníaco, o melancólico, todas as esquisitices humana, em transtornos mentais. Uma pessoa tímida, reservada, voltada para o seu interior, virou um transtorno e passou a ter remédio em farmácia. Até menino traquino virou transtorno.
Mesmo as psicoses graves, esquizofrenia, depressões graves, permanecem envolvidas em mistérios.
Essa prática de taxar como loucura os comportamentos desviantes são antigas:
Na tradição judaica, Saul, o primeiro Rei dos israelitas, e Nabucodonosor, Rei da Babilônia, enlouqueceram, por ofender Javé. Saul, com o seu exército, passou o povo amalequita ao fio de espada. A história vem se repetindo com Netanyaru e o povo palestino.
David, afastava a sua esganadura, tocando harpa, espantando temporariamente a sua loucura. Hipócrates, o pai da medicina, via a epilepsia como um mal sagrado e a melancolia, como desequilíbrio da bile negra.
O que posso afirmar, é que as loucuras da pôs modernidade (tipo, ser mãe de bonecas), apequenaram os delírios. Em breve, a ciência médica descobrirá o tratamento, desse terrível mal.
O doido antigo achava que era Napoleão, hoje, que é mãe de bonecas. Saudade das histerias, tão frequentes na Belle Époque?
Antonio Samarone – Secretário de Cultura de Itabaiana.
PS: o texto contém ironias.

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