quarta-feira, 29 de maio de 2024

A ARTE, NASCE DO INCONSCIENTE.


A arte, nasce no inconsciente?
(por Antonio Samarone)

Fui questionado porque a primeira exposição de artes plásticas de Itabaiana, com artistas locais, tendo Mário Britto como curador, recebeu o nome de Cidade dos Milagres. Respondi com um verso de Caetano: “quem é ateu e viu milagres como eu.”

Vou tentar explicar o inexplicável, o que eu entendo por milagres. O senso comum acredita que só a fé, justifica os milagres. Acho que não! Vamos lá:

A cultura de uma comunidade é o complexo de convicções, usos populares, hábitos, técnicas, métodos econômicos, leis, moral, crenças religiosas, estruturas políticas e todos os modos de vida desenvolvidos durante séculos.

“Cultura procede de culto. O culto é uma reunião para adoração, isto é, uma tentativa das pessoas de comungar com um poder transcendente.” – Russel Kirk.

Portanto, o papel da religiosidade na evolução cultural é preponderante. O que move com mais força uma sociedade é a religiosidade e a moral. Não estou subestimando o papel do econômico, como defende o marxismo.

Acho que durante a revolução industrial e o nascimento do capitalismo, quando Marx escreveu o Capital, ele estava certo. O impulso principal de mudanças era o econômico.

Não acredito que essa lei seja universal, para todos os lugares, em todos os tempos.

Vou apelar para um conceito de Carl Jung: toda a civilização possui um inconsciente coletivo. Valores que circulam, são transmitidos de geração a geração, e que determinam o modo de vida. Certas crenças e valores, chamadas de arquétipos, conduzem silenciosamente a marcha cultural.

O arquétipo da religiosidade é estruturante da sociedade Itabaianense, que completa, em 2025, trezentos e cinquenta anos de fundada, pelos portugueses. Nesse tempo, os milagres fizeram parte do cotidiano.

A natureza se reproduz com certas doses de erros, de eventos destoantes das regras. Se assim não fosse, a evolução seria impossível. As mutações genéticas, necessárias a evolução, são anomalias da reprodução celular.

Esses eventos fora da curva normal, também compõem a realidade. A improbabilidade de que um evento aconteça é apenas estatística, ele pode acontecer naturalmente, como exceção.

Quem desconhece essa lei natural, o princípio da incerteza, atribuirá essa exceção a um milagre. Portanto, os milagres acontecem naturalmente.

Atribuí-los a uma força sobrenatural, ao acaso, a magia ou aos deuses, fica por conta de cada um, de cada cultura.

Algumas religiões se valem dos milagres, para reforçar os laços com o sagrado, outras, apresentam os milagres como regra, que acontecem a todo momento e podem ser retransmitidos ao vivo, pela TV. Nesses casos, são fraudes.

Portanto, os milagres são eventos naturais, ou quem sabe, até sobrenaturais. As dúvidas sobre a sua existência, passam pelo visão apressada do método científico.

O nome da Exposição, “Itabaiana, cidade dos milagres”, não deveria gerar nenhum espanto.

Antonio Samarone. (médico sanitarista)

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