Sergipe não quer...
(por Antonio Samarone)
Conversando com o Dr. Lessa, médico, filosofo, músico, poeta, um intelectual a moda antiga. Fiz uma pergunta tola, achando que não existia resposta: do ponto de vista cultural, por que as coisas em Sergipe não andam?
Ele foi breve: Sergipe não quer! Somos provincianos por opção. Não é o destino nem a sina, é opção. Os nossos músicos, dançarinos poetas e pintores, são tolhidos no ninho. Os sergipanos ignoram tudo que nasce e se cria em Sergipe.
As nossas festas são transplantadas da Bahia. A música, a dança, os vestuários, tudo vem de fora. O talento local é tratado a pão e água.
Continuou o Dr. Lessa, vejam as praias do Rio Real:
A Praia do Saco está caindo aos pedaços, querem derrubar até uma capela centenária. As casas dos ricos, cada um isolado em seu canto, fecham o acesso a Praia. Um turista desavisado, chegando no Saco na hora do almoço, volta com fome.
No lado da Bahia, defronte ao mesmo rio, o Mangue Seco floresce entupido de visitantes. Uma boa parte de Aracaju. Pousadas, restaurantes, opções de trilhas, tudo funcionando. Do nosso lado, a mais profunda solidão.
Pelo Norte, às margens do Rio São Francisco, Piranhas é um avançado centro turístico das Alagoas, do nosso lado, Canindé paira na mais absoluta apatia. Lembrando que Lampião morreu do nosso lado e que existe um reserva de caatinga preservada.
Canindé tinha tudo para dar certo. Mas Sergipe não quer...
Até o São João, virou um evento político. São shows com artistas de fora, oferecidos pelos cofres públicos. Lembro-me que Paulo Correia e Chico Buchinho, quando foi secretário da Cultura, com Marcelo Déda, tentaram recuperar o significado da festa, mas isso faz muito tempo. Por onde andam Buchinho e Paulo Correia?
O sergipano quer ficar em seu canto, longe do mundo, isolado, olhando para o próprio umbigo, sentenciou o Dr. Lessa. Ninguém de Sergipe se destaca lá fora. Não temos nomes nacionais em nada, não é só na cultura e na arte. Somos provincianos medulares, temos uma alma atávica.
Sei que alguém vai apontar as exceções, certo, mas são exceções. Uma ou outra perdida.
Nas feiras de Sergipe, os cestos de caranguejos são abertos. Fiquei curioso e perguntei ao vendedor se os caranguejos não fugiam. Ele riu. Foge não, se um tentar os outros puxam para baixo.
Os nossos últimos poetas nacionais foram Hermes Fontes e Pedro de Calazans. O último músico nacional foi Luiz Americano. Quando fundaram a Academia Brasileira de Letras, Sergipe teve cinco titulares. A quanto tempo não temos candidatáveis?
Quando um ou outro sergipano começa a se destacar, a primeira providência é negar a sua origem. Dr. Lessa, abriu um exceção, se lembrou de Mestrinho, o filho de Erivaldo de Carira. De fato, é um nome nacional e diz de boca cheia que nasceu e se criou em Itabaiana.
Viva Mestrinho!
Não é pela inexistência de talentos, longe disso. Sergipe deu às costas ao mundo, por opção.
Fiquei inculcado com essa conversa. Salvo melhor juízo, chego a suspeitar que o Dr. Lessa pode ter razão.
Antonio Samarone. (médico sanitarista)
segunda-feira, 10 de abril de 2023
SERGIPE NÃO QUER
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