segunda-feira, 10 de abril de 2023
AS RAÍZES
As raízes...
(por Antonio Samarone)
Sou de família de ferreiros. O patriarca João José de Oliveira veio de Portugal, na segunda metade do Século XIX. Instalou a sua tenda na Sambaíba, vizinho a Matapõa e Flechas, na Villa de Santo Antonio e Almas de Itabaiana.
Ao chegar no Brasil, João José casou com Nhanha. uma Tupinambá, que ele conheceu em Itaporanga. Tiveram 10 filhos.
João José teve uma prole imensa. Todos ferreiros! (ou quase todos, tinha os fogueteiros).
Sou do ramo de um dos filhos de João José, Bernardino José de Oliveira, meu bisavô. (Atropelado pelo trem (1926) no povoado Caititu, quando ia comprar ferro em Maruim).
Mais precisamente, sou neto do ferreiro Totonho de Bernardinho (foto) (Antonio Francisco de Oliveira). Os meus tios, José e Homero de Totonho, também foram ferreiros.
O ferreiros tinha a tradição de valentia.
O som da bigorna de Bernadinho era ouvido de longe. Som de bigorna é como som de sino, tem tonalidade própria. A bigorna de Bernardino está guardada, na tenda do primo Arnaldo.
Na Idade Média, os ferreiros tinham um pacto com as forças ocultas. A forja, o martelo e fogo moldavam o ferro. Pura alquimia. Só servia o carvão de jurema.
A minha avô materna, Maria do Céu Monteiro, filha de Nicolau de Honorato (judeu russo). Plantador de fumo em Lagarto.
Por parte de pai, Elpídio José de Santana, venho do Matebe, um velho engenho do Capunga. A matriarca Genoveva, minha bisavô, era uma pequena sitiante. O avô Ascendino de Genoveva, loiro de olhos azuis, bodegueiro nas Candeias, casado com Georgina (Gina), uma cafuza, quilombola do Tabuleiro dos Caboclos.
Não pertenço aos senhores donatários, nem aos sesmeiros. Nem mudei de lado.
Gente pobre, trabalhadora, mas cheia de brios, com a cara cheia de vergonha. Aprendi com dona Lourdes, minha mãe, que ninguém é melhor do que ninguém. Lá em casa, o mendigo e barão tinham o mesmo tratamento.
Mamãe tinha a cabeça erguida.
Dona Lourdes era uma feminista libertaria, sem saber. Me botou na escola e acompanhou o meu desempenho. Cobrava decência e disciplina. Me ensinou a não ser ximão, nem arado, nem pidão e nem oferecido. A não pegar as coisas dos outros. Eram defeitos morais imperdoáveis.
Me abriu as portas da cidadania.
Antonio Samarone (médico sanitarista)
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