O Último Coronel...
(por Antonio Samarone)
O livro “Coronelismo, Enxada e Voto”, um clássico de Victor Nunes Leal, foi publicado em 1949. A propriedade da terra constituía o fundamento em que se baseava o coronelismo. O Coronel era o dono das terras e dos votos.
No caso de Euclides Paes Mendonça, de Itabaiana, o poder vinha do controle da Exatoria e da Delegacia de Polícia. Cobrar impostos seletivamente e prender e soltar ao arrepio da lei são forças descomunais do mando político.
Euclides mesclava a luta política com a econômica. A disputa pelo comando dos armazéns de secos e molhados, pela acumulação de riqueza, facilitada pela política. Quando chegou ao poder, Euclides cravou os seus objetivos, com uma frase famosa: “agora quem passa contrabando sou Eu.”
Ao final de 12 anos no poder, Euclides era o mais rico dos Paes Mendonça: Mamede e Pedro.
Muito já se escreveu sobre Euclides Paes Mendonça. Teses diversificadas, interpretações variadas e versões contrastantes. Dessa vez, o Desembargador Vladimir Carvalho, foi longe: são 450 páginas de letra miúda, passagens detalhadas, a vida de Itabaiana esmiuçada. Vladimir mexeu com quase tudo da vida do Coronel.
Vladimir Carvalho é o maior historiador da vida Itabaianense. Antes, entre outros, ele publicou: “A República Velha em Itabaiana.” Vejam pelo título, não se trata de Itabaiana na República Velha, como era o esperado. Não, é o inverso, O centro da história é Itabaiana.
Agora, o título é “Euclides Paes Mendonça – um político do passado”, quando na verdade o livro trata do passado de um político. Vladimir une o rigor acadêmico da história, com o dia a dia da vida Itabaianense. Os causos, as passagens grotescas, a memória oral de quem viveu e sentiu o que está contando.
A interrupção da carreira política de Euclides e do filho, drasticamente, com os assassinatos de ambos, decorreu, sobretudo, da chegada do PSD ao Governo, com Seixas Dória. Itabaiana passou a ter duas forças policiais armadas: a guarda municipal e a polícia estadual. Não acabou bem.
A trajetória política de Euclides Paes Mendonça transformou Itabaiana, deu inicio ao desenvolvimento mercantil, a construção de uma economia pujante, a uma revolução urbana. Itabaiana se tornou o centro da vida sergipana.
A história de Itabaiana entre 1945 e 1964, está contada e bem contada, nessa biografia de Euclides Paes Mendonça.
Desde a publicação por Vladimir de "Quando as cabras dão leite" (1971), "Santas Almas de Itabaiana Grande" (1973), "A República Velha em Itabaiana" (2000) e "Vila de Santo Antonio de Itabaiana".
Agora com “Euclides Paes Mendonça, Vladimir esvaziou os arquivos.
Esses livros acima são os específicos de Vladimir Carvalho sobre a história de Itabaiana.
Os livros de Vladimir Carvalho de contos: "Mulungu Desfolhado (1994), "Água de Cabaça" (2003), "Feijão de Cego". Os de poesia: "Sinal Verde, trânsito vermelho" (1972), "Dois Instantes e uma saudade". Os de folclore: "O Caxangá na história de Itabaiana" (1976), "Apelidos em Itabaiana", "Adivinhas Sergipanas" (1999). Todos tratam da alma universal de Itabaiana.
Vladimir Carvalho também escreveu livros jurídicos, que eu nunca me interessei, por razões óbvias.
Afirmo com segurança: Itabaiana é cidade mais estudada de Sergipe. Talvez sejamos uma terra de historiadores, pequenos e grandes. Estamos a comemorar o centenário de Maria Thetis Nunes.
Ontem eu fui ao lançamento do livro de Vladimir Carvalho, em Itabaiana. A sociedade local presente, as autoridades presentes, os correligionários presentes, a UFS presente, a alma do povo presente.
Agora eu vou começar a leitura. Ler aos poucos, homeopaticamente, para demorar na leitura. Coisa boa, se come aos poucos, degustando-se lentamente. Depois eu conto os detalhes sobre o livro.
Palmas para o Desembargador!
Antonio Samarone. (médico sanitarista)
quarta-feira, 25 de janeiro de 2023
0 ÚLTIMO CORONEL
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