terça-feira, 14 de maio de 2019

GENTE SERGIPANA - GUMERCINDO BESSA


Gente Sergipana – Gumercindo Bessa. (por Antônio Samarone)

Sergipe esquecido: “bom à beça” (ou a Bessa)?

Existe uma polêmica se a expressão “bom à beça” tem origem numa tirada do Presidente Rodrigues Alves (1902 – 1906), dirigindo-se ao maior jurista sergipano, Gumercindo Bessa. Acrescente-se, Gumercindo foi famoso nacionalmente, sem nunca ter deixado Sergipe.

Vamos aos fatos:

Quando o território do Acre foi desmembrado da Bolívia e acrescido ao Brasil, criou-se uma polêmica no STF: o estado da Amazônia reivindicou a União o território anexado; e os bravos acreanos, que lutaram na floresta, queriam criar o Acre.

A rica Amazonas (a borracha no apogeu) contratou a peso de ouro o consagrado Ruy Barbosa. Os acreanos, sem dinheiro, tiveram dificuldades em contratar alguém para enfrentar Ruy, que nunca tinha perdido uma causa no Supremo.

Os acreanos apelaram para Gumercindo Bessa, um sábio da pequena província de Sergipe. Gumercindo impôs duas condições para aceitar a causa: não receber remuneração e nem se afastar de Sergipe.

A primeira intervenção de Gumercindo no processo deixou o mundo jurídico nacional aturdido: quem é esse? Era a pregunta da mídia nacional. Rui Barbosa irritado, publicou a sua réplica zangada no Jornal do Comercio. Gumercindo respondeu, e o debate tornou-se público.

Para se ter uma ideia, o debate foi longo, vamos a um exemplo: Gumercindo ao citar Lomanaco, refere-se à segunda edição das Nozioni, atribuindo-lhe a data de 1904. Ruy ironizou: a segunda edição que eu conheço é de 1903, creio que não haverá duas segundas edições; e soltou um riso de vendedor.

Gumercindo foi à tréplica:

“Dizem que águia não apanha mosca. Engano! Em falta de presa maior vulto, nelas faz a chacina para valer.” Ruy emudeceu. O mais grave, é que de fato existiam duas segundas edições das Nozioni.

Noutra passagem brilhante, Gumercindo aponta um erro histórico na peça jurídica de Ruy Barbosa, que atribui a Robespierre, com citação textual, uma fala dita por Danton, em dramática reunião a que Robespierre ao menos compareceu.

Todos sabem quem venceu a peleja. Uma importante rua de Rio Branco, recebe o nome do sergipano Gumercindo Bessa.

Depois da vitória, conta-se que o Presidente Rodrigues Alves ao encontrar com o sergipano Gumercindo Bessa, fez um trocadilho: “o senhor tem argumentos a Bessa”.

Nota de repúdio: o grande dicionário de Antônio Houaiss, refere-se a Gumercindo como sendo alagoano.

Gumercindo Bessa nasceu em janeiro de 1859, na bela Estância. Estudou no seminário na Bahia, mas formou-se em direito em Recife, em 1855. Voltou para Sergipe.

Ao celebrar o cinquentenário do Aracaju (1905), Gumercindo fez uma singular homenagem a capital dos sergipanos:

“boemiazinha pobretona e presumida, filha de Inácio Barbosa e da malária, vulgo sezões... Nunca teve juízo. Sempre a vida de pândegas, de jogatinas, de serenatas... Tabaréia sacudida... Sempre que voltas de cada romaria, traz mais um namoro, mais uma dívida, mais um dente cariado... Exibe-se adorável nos salões e cata piolhos, escondida na alcova...”

Viva a Sergipanidade, pouco conhecida.

Antônio Samarone.

2 comentários:

  1. Que legal, só houve algum engano no parágrafo:
    Gumercindo Bessa nasceu em janeiro de 1859, na bela Estância. Estudou no seminário na Bahia, mas formou-se em direito em Recife, em 1855. Voltou para Sergipe.

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