Cada um, crie o seu Jardim.
(por Antonio Samarone)
Só a arte, a santidade, a filosofia e a guerra imortalizam. Melhor dizendo, tornam eternas as lembranças das pessoas. Conhecemos Homero pela ilíada e a odisseia.
Na Grécia, os heróis se reuniam no sítio "Akabemus", onde Platão costumava palestrar. Eram 40, e consideravam-se imortais.
A Academia Francesa foi criada em 1643, por Richelieu. Fechada pela revolução Francesa e reaberta por Napoleão, em 1808. No Brasil, Pedro primeiro criou a Academia de Medicina, em 1829.
De lá para cá, as coisas mudaram. O cidadão comum descobriu o caminho da imortalidade. Qualquer comunidade que se preze, possui uma academia. Ser acadêmico deixou de ser prerrogativa dos universitários.
Se alguém continua esquecido, mesmo com essa ampla rede de academias, não resmungue, não fale mal, crie a sua. É relativamente fácil.
Esse arrodeio, é para informar que na próxima sexta, dia 27 de junho, a Academia Itabaianense de Letras está reabrindo às portas, sob nova direção. O desembargador Vladimir Carvalho se aposentou e vai tomar conta da Casa de letras. Na verdade, a Academia não tinha morrido, respirava por aparelhos.
A novidade gerou esperança. Poetas, historiadores, trovadores e cronistas sairão da contemplação. Vão intensificar a criação de narrativas da saga itabaianense. A autoestima precisa de argumentos, para não parecer gabolice.
O Prefeito Valmir, sensível à cultura, já anunciou a doação de uma sede para a Academia, na Praça principal, onde, além casa de Fefi, de mesas de jogos de azar, da igreja e do correto, funcionam o cartório de Maria Helena, a Prefeitura e o museu da Filarmônica Eufrosina.
A Praça de Igreja em Itabaiana, de formato mouro, é o local ideal para uma Academia. A Praça, durante o dia, é lotada de idosos, que vão lorotar e cuspir, segundo o finado Zé de Álvaro.
Vou propor a expansão da Academia de Letras para os povoados, a começar pelo Bom Jardim. A secretaria da Cultura vai ali instalar um ponto de cultura e tentar reativar a banda de pífano.
Como se sabe, a Academia do Beco Novo esbarrou em entraves burocráticos: criou-se 40 vagas e inscreveram-se 92 candidatos, em 15 dias. Se pensou numa seleção por antiguidade, não deu certo, desuniu algumas famílias.
A tentativa de uma solução política, escolher 40 e deixar os demais como suplentes, gerou revolta. A imortalidade não cabe suplências, ou se é ou não. Não existe o quase imortal.
Não me venham com cobranças, critérios eruditos ou exigências descabidas. Merval Pereira é o Presidente da Academia Brasileira de Letras.
Imortalidade para todos, Já!,
Antonio Samarone.
Secretário de Cultura de Itabaiana.
terça-feira, 24 de junho de 2025
domingo, 22 de junho de 2025
O QUE ERA JOVEM E NOVO, HOJE É ANTIGO
O que era jovem e novo, hoje é antigo.
(por Antonio Samarone)
A política e a economia nem sempre andam juntas. O regime militar de 1964 acabou com os partidos políticos e colocou velhos inimigos, todos juntos, na Aliança Renovadora Nacional (ARENA).
Entre 1945/64, Itabaiana passou por uma transição econômica: a troca da agricultura pelo comércio, alavancado pelo transporte (caminhão). A política, liderada por Euclides Paes Mendonça, abriu os caminhos. O poder político colocou a polícia e o fisco, a serviço da acumulação primitiva.
A política, centrada na violência e no revanchismo, era o caminho mais rápido para o enriquecimento. Todas as facilidades aos correligionários, e o velho jargão, aos adversários, os rigores da lei. Melhor dito, aos adversários a feroz perseguição.
Quando da vitória de Leandro Maciel ao Governo de Sergipe - 1955 (UDN), Euclides Paes Mendonça, o chefe político de Itabaiana desabafou: “agora, quem passa contrabando sou Eu.”
Esse modo de dominação política terminou em sangue. Após 1964, a economia em Itabaiana mostrava sinais de pujança, queria crescer. A política do revanchismo passou a atrapalhar.
O que ocorreu com a política de Itabaiana, no pós 1964?
Os inimigos de ontem, foram obrigados a conviver num mesmo teto. Na primeira eleição (1967 – 1970), fizeram um acordo: elegeram Vicente de Belo, um nome da ex UDN, com o compromisso que na próxima eleição, o nome seria do ex PSD.
Em 1970, o nome da PSD, Mozart Fonseca, não foi aceito por Chico de Miguel, herdeiro do patrimônio eleitoral da UDN. Faltando 15 dias para o Pleito, Chico apoiou Filadelfo Araújo, candidato dos minúsculos MDB. Não deu outra: Filadelfo eleito.
Em 1972, a velha política “Pebas X Cabaús” retornou com força á Itabaiana. Chico de Miguel assumiu a hegemonia e governou por 20 anos. A oposição, liderada por Luciano Bispo, assumiu depois o poder por mais 20 anos.
Foram 40 anos, em Itabaiana, com a economia travada pela política. A lógica do revanchismo, PSD X UDN, dominou de forma soberana. Quem estava de cima, fazia e desfazia, mandava e desmandava, mesmo que as condutas atrapalhassem o desenvolvimento econômico. O único critério era: vota em quem?
Nesses 40 anos, a economia de Itabaiana cresceu sozinha, enfrentou incompreensões, perseguições políticas e indiferenças. Em Itabaiana, a economia ia bem, apesar da política. Nenhuma obra estruturante, nenhum cuidado com o urbanismo, nenhum planejamento do futuro, nenhum ideia nova, nenhuma luz.
Itabaiana vivia politicamente nas trevas. A política se bastava, vivia-se da politiquice. A cidade ganhou a fama de ser violenta e o sucesso econômico era atribuído a sonegação. Uma fama ruim, que foi superada.
Em 2013, Valmir de Francisquinho elegeu-se Prefeito e mudou as regras do jogo político: destravou a economia, investiu na gestão pública, apostou na infraestrutura, pôs fim ao revanchismo, e os resultados aparecem no Censo de 2022.
Itabaiana despontou como fenômeno econômico, surpreendendo aos desatentos. Itabaiana mudou a cara: cresceu 20 mil habitantes em uma década (108 mil habitantes, em 2024 / 87 mil em 2010), tornou-se um lugar seguro para investimentos, para se morar com qualidade de vida e segurança. Um polo bem-sucedido de empreendedorismo.
Até hoje, um dos líderes da política antiga, ainda usa o seu prestígio, para impedir que o governo estadual faça alguma coisa em Itabaiana, para não beneficiar os novos gestores. Meu Deus, que cegueira... “O hábito do cachimbo deixou a boca torta.”
Itabaiana vem andando com as próprias pernas, ajudada por emendas federais, de vários parlamentares, sobretudo do seu deputado federal, Ícaro de Valmir.
Nenhum milagre, a partir de 2013, a política e a economia passaram a andar juntas, em Itabaiana. Os resultados são evidentes: a construção de uma Itabaiana Grande.
Antonio Samarone – médico sanitarista.
sábado, 21 de junho de 2025
SERGIPE, A ROMA DO CAPETA.
Sergipe, a Roma do Capeta.
(por Antonio Samarone)
No final da década de 1970, apareceu em Sergipe o satanista José Luiz Howarth Silva. Alugou um escritório próximo à rodoviária velha, comprou um espaço na rádio liberdade, e começou a difundir a filosofia luciferiana. Como o povo acredita em tudo, em pouco tempo a nova igreja estava lotada de fiéis.
Howarth nasceu em Icapuí, no Ceará, onde o pai mantinha uma mercearia de beira de estrada. Lá costumava ouvir as histórias de ciganos e tropeiros, clientes da bodega, que adoravam descrever fenômenos místicos e narrar causos de assombração.
Não raro, o menino Luiz acordava de madrugada, impressionado com as imagens oníricas de tochas acesas e porteiras que se abriam para a passagem de uma força tão invisível, quanto descomunal. Nesse período, uma mulher voluptuosa, trajando vermelho, o visitou em sonho e o exortou a se libertar das amarras da religião. Era Lúcifer.
Luiz Howarth, resolveu sair pelo Brasil em busca de oportunidades para difundir a sua crença. Em Sergipe, o Papa do diabo prosperou.
Na década de 1980, Howarth morava em Aracaju e trabalhava como radialista. Em seu programa, dizia-se capaz de falar com almas penadas e disseminava crenças muito particulares, que mesclavam o candomblé, o espiritismo e o catolicismo. O Papa João Paulo II faria a sua primeira viagem ao Brasil, era uma oportunidade de dos 2 papas medirem forças.
Estimulado pelas adesões, Luiz Howarth decidiu construir uma catedral do diabo, no Parque dos Faróis, em Nossa Senhora do Socorro. Sergipe se tornaria a Roma do Capeta. Sergipe foi notícia nacional.
Até então Howarth vivia pacificamente em Aracaju, com o seu culto. Não aceitava o dízimo. Vivia da venda de velas CE. Umas velas enormes, grossas, pretas, feitas de petróleo. As velas queimavam por mais de 15 dias e atraia o satanás.
A sua desgraça foi aparecer no Fantástico, vestido luxuosamente com um terno comprado em Wilson do Gavetão. O povo se revoltou. Aracaju não poderia ser a Roma do Capeta. Vamos expulsá-lo.
Você pode não acreditar, mas foi esse religioso da foto, José Juarez da Cunha, um caraibeiro franzino, de Itabaiana, foi quem liderou o povo, na expulsão do Papa do diabo das terras sergipana.
Seu Juarez, um cruzado anônimo! Howarth foi visto como uma ameaça real a cristandade.
O povo, liderado por Seu Juarez da Água Branca (foto), inflado de superstição e de medo, saiu às ruas, com paus e pedras, para botar abaixo o templo do Capeta.
O governador Augusto Franco, sentindo a comoção popular, chamou o Papa em Palácio, perguntou quanto ele queria pela Catedral. Acertaram o preço, e o satanista foi indenizado. Literalmente, com o rabo cheio de dinheiro, Luiz Howartz abandonou os fiéis e se mandou de Sergipe.
Quem ficou curioso com o Papa, o jornalista Adiberto de Souza cobriu a inauguração da igreja (1981) e produziu um texto detalhado e bem escrito, que se encontra na Internet.
Luiz Howaryh, endinheirado, foi morar em Vitória, do Espírito Santo. Anda por lá até hoje. Escapou da Covid sete vezes.
Quem pensa que o povo se livrou do capeta, tá enganado. Ele tá vivo e atuante, com outras roupagens. Novas catedrais estão sendo construídas, com novos e velhos satanistas.
Como diz um filósofo do pé da serra, o paganismo venceu: “Tem quem duvide da existência de Deus (ateus e agnósticos), mas desconheço que tenha dúvidas da existência do diabo.”
Antonio Samarone. Secretário de Cultura de Itabaiana.
(por Antonio Samarone)
No final da década de 1970, apareceu em Sergipe o satanista José Luiz Howarth Silva. Alugou um escritório próximo à rodoviária velha, comprou um espaço na rádio liberdade, e começou a difundir a filosofia luciferiana. Como o povo acredita em tudo, em pouco tempo a nova igreja estava lotada de fiéis.
Howarth nasceu em Icapuí, no Ceará, onde o pai mantinha uma mercearia de beira de estrada. Lá costumava ouvir as histórias de ciganos e tropeiros, clientes da bodega, que adoravam descrever fenômenos místicos e narrar causos de assombração.
Não raro, o menino Luiz acordava de madrugada, impressionado com as imagens oníricas de tochas acesas e porteiras que se abriam para a passagem de uma força tão invisível, quanto descomunal. Nesse período, uma mulher voluptuosa, trajando vermelho, o visitou em sonho e o exortou a se libertar das amarras da religião. Era Lúcifer.
Luiz Howarth, resolveu sair pelo Brasil em busca de oportunidades para difundir a sua crença. Em Sergipe, o Papa do diabo prosperou.
Na década de 1980, Howarth morava em Aracaju e trabalhava como radialista. Em seu programa, dizia-se capaz de falar com almas penadas e disseminava crenças muito particulares, que mesclavam o candomblé, o espiritismo e o catolicismo. O Papa João Paulo II faria a sua primeira viagem ao Brasil, era uma oportunidade de dos 2 papas medirem forças.
Estimulado pelas adesões, Luiz Howarth decidiu construir uma catedral do diabo, no Parque dos Faróis, em Nossa Senhora do Socorro. Sergipe se tornaria a Roma do Capeta. Sergipe foi notícia nacional.
Até então Howarth vivia pacificamente em Aracaju, com o seu culto. Não aceitava o dízimo. Vivia da venda de velas CE. Umas velas enormes, grossas, pretas, feitas de petróleo. As velas queimavam por mais de 15 dias e atraia o satanás.
A sua desgraça foi aparecer no Fantástico, vestido luxuosamente com um terno comprado em Wilson do Gavetão. O povo se revoltou. Aracaju não poderia ser a Roma do Capeta. Vamos expulsá-lo.
Você pode não acreditar, mas foi esse religioso da foto, José Juarez da Cunha, um caraibeiro franzino, de Itabaiana, foi quem liderou o povo, na expulsão do Papa do diabo das terras sergipana.
Seu Juarez, um cruzado anônimo! Howarth foi visto como uma ameaça real a cristandade.
O povo, liderado por Seu Juarez da Água Branca (foto), inflado de superstição e de medo, saiu às ruas, com paus e pedras, para botar abaixo o templo do Capeta.
O governador Augusto Franco, sentindo a comoção popular, chamou o Papa em Palácio, perguntou quanto ele queria pela Catedral. Acertaram o preço, e o satanista foi indenizado. Literalmente, com o rabo cheio de dinheiro, Luiz Howartz abandonou os fiéis e se mandou de Sergipe.
Quem ficou curioso com o Papa, o jornalista Adiberto de Souza cobriu a inauguração da igreja (1981) e produziu um texto detalhado e bem escrito, que se encontra na Internet.
Luiz Howaryh, endinheirado, foi morar em Vitória, do Espírito Santo. Anda por lá até hoje. Escapou da Covid sete vezes.
Quem pensa que o povo se livrou do capeta, tá enganado. Ele tá vivo e atuante, com outras roupagens. Novas catedrais estão sendo construídas, com novos e velhos satanistas.
Como diz um filósofo do pé da serra, o paganismo venceu: “Tem quem duvide da existência de Deus (ateus e agnósticos), mas desconheço que tenha dúvidas da existência do diabo.”
Antonio Samarone. Secretário de Cultura de Itabaiana.
quinta-feira, 19 de junho de 2025
A DUPLA PERDA DE MEMÓRIA.
A dupla perda de memória.
(por Antonio Samarone)
A educação moderna começou em Itabaiana, com a inauguração do Grupo Escolar Guilhermino Bezerra (1936). Antes, eram escolas isoladas, de primeiras letras. Começou tarde.
A economia agrícola dominante, em bases tradicionais, não enxergava a necessidade de escolas. Espiritualmente, a comunidade era guiada pela igreja.
A música e a fotografia foram as manifestações dominantes. A Filarmônica Eufrosina foi criada pelo padre Francisco da Silva Lobo, em 1745. O primeiro Estúdio fotográfico foi montado por Miguel Teixeira, em 1902.
O nome do primeiro Grupo Escolar, Guilhermino Bezerra, fez justiça ao último político itabaianense do Império. O farmacêutico Guilhermino, formado na Bahia, também foi um conceituado rábula, jornalista, professor, um intelectual ativo e atuante. Foi deputado provincial por várias legislaturas. Um grande orador.
A emenda à lei que elevou Itabaiana de Villa a Cidade, 28 de agosto de 1888, foi de sua autoria.
Guilhermino Bezerra, monarquista, conservador, representou Itabaiana, na primeira Assembleia Constituinte Sergipana, em 1891.
Foi a sua última participação na vida pública. Envolveu-se em uma polêmica na eleição indireta do Governador. O seu voto passou a ser decisivo e ele queria votar no candidato da oposição. A pressão foi grande. Ele renunciou!
Abandonou a vida pública, foi viver da sala de aula. Um professor respeitado. Faleceu em Aracaju, em 1º de agosto de 1903, aos 56 anos.
Guilhermino nasceu em Itabaiana, em 03 de fevereiro de 1845. Filho de Amâncio José da Paixão e Dona Maria Joaquina do Sacramento Bezerra. Guilhermino Bezerra foi aluno de Tobias Barreto, em sua passagem por Itabaiana, como professor de latim.
A família Bezerra exerceu grande influência em Itabaiana. O sobrinho neto José Bezerra, dono de circo, aluno de Procópio Ferreira, foi o maior nome das artes cênicas em Itabaiana; o outro sobrinho famoso, Abdias Bezerra, foi um professor destacado em Aracaju.
Com a República, um médico lagartense, Batista Itajay, assumiu a chefia política em Itabaiana. Guilhermino saiu de cena.
O Governo do Estado deformou arquitetonicamente o Grupo Escolar Guilhermino Bezerra (veja foto), para transformá-lo em não sei o quê. O belo prédio virou uma caixa hermética de concreto.
Não precisava, foi um ato de retaliação a Itabaiana. Ficou pronto para uma prisão de segurança máxima.
Um desrespeito as memórias da educação e a do Dr. Guilhermino Bezerra.
Até onde sei, o único logradouro que restou, com o nome de Guilhermino, é uma pequena Travessa no Bairro 18º do Forte, em Aracaju. Não culpo o Secretário da Educação, ele é um político tradicional, não tem a obrigação de conhecer a história. Ele cuida de votos.
É muito difícil manter o patrimônio histórico e cultural em Sergipe, mesmo com o poder público a favor. Imagine, quando o ataque ao patrimônio é um ato de Governo.
Declaro, meu protesto impotente!
Antonio Samarone (Secretário de Cultura de Itabaiana).
(por Antonio Samarone)
A educação moderna começou em Itabaiana, com a inauguração do Grupo Escolar Guilhermino Bezerra (1936). Antes, eram escolas isoladas, de primeiras letras. Começou tarde.
A economia agrícola dominante, em bases tradicionais, não enxergava a necessidade de escolas. Espiritualmente, a comunidade era guiada pela igreja.
A música e a fotografia foram as manifestações dominantes. A Filarmônica Eufrosina foi criada pelo padre Francisco da Silva Lobo, em 1745. O primeiro Estúdio fotográfico foi montado por Miguel Teixeira, em 1902.
O nome do primeiro Grupo Escolar, Guilhermino Bezerra, fez justiça ao último político itabaianense do Império. O farmacêutico Guilhermino, formado na Bahia, também foi um conceituado rábula, jornalista, professor, um intelectual ativo e atuante. Foi deputado provincial por várias legislaturas. Um grande orador.
A emenda à lei que elevou Itabaiana de Villa a Cidade, 28 de agosto de 1888, foi de sua autoria.
Guilhermino Bezerra, monarquista, conservador, representou Itabaiana, na primeira Assembleia Constituinte Sergipana, em 1891.
Foi a sua última participação na vida pública. Envolveu-se em uma polêmica na eleição indireta do Governador. O seu voto passou a ser decisivo e ele queria votar no candidato da oposição. A pressão foi grande. Ele renunciou!
Abandonou a vida pública, foi viver da sala de aula. Um professor respeitado. Faleceu em Aracaju, em 1º de agosto de 1903, aos 56 anos.
Guilhermino nasceu em Itabaiana, em 03 de fevereiro de 1845. Filho de Amâncio José da Paixão e Dona Maria Joaquina do Sacramento Bezerra. Guilhermino Bezerra foi aluno de Tobias Barreto, em sua passagem por Itabaiana, como professor de latim.
A família Bezerra exerceu grande influência em Itabaiana. O sobrinho neto José Bezerra, dono de circo, aluno de Procópio Ferreira, foi o maior nome das artes cênicas em Itabaiana; o outro sobrinho famoso, Abdias Bezerra, foi um professor destacado em Aracaju.
Com a República, um médico lagartense, Batista Itajay, assumiu a chefia política em Itabaiana. Guilhermino saiu de cena.
O Governo do Estado deformou arquitetonicamente o Grupo Escolar Guilhermino Bezerra (veja foto), para transformá-lo em não sei o quê. O belo prédio virou uma caixa hermética de concreto.
Não precisava, foi um ato de retaliação a Itabaiana. Ficou pronto para uma prisão de segurança máxima.
Um desrespeito as memórias da educação e a do Dr. Guilhermino Bezerra.
Até onde sei, o único logradouro que restou, com o nome de Guilhermino, é uma pequena Travessa no Bairro 18º do Forte, em Aracaju. Não culpo o Secretário da Educação, ele é um político tradicional, não tem a obrigação de conhecer a história. Ele cuida de votos.
É muito difícil manter o patrimônio histórico e cultural em Sergipe, mesmo com o poder público a favor. Imagine, quando o ataque ao patrimônio é um ato de Governo.
Declaro, meu protesto impotente!
Antonio Samarone (Secretário de Cultura de Itabaiana).
sexta-feira, 13 de junho de 2025
A MENTE É A BASE DA REALIDADE.
A mente é a base da realidade.
(por Antonio Samarone)
É antigo o desejo da medicina em alterar a consciência, por meio de intervenções físicas no cérebro.
As neurociências apontam a consciência e o livre arbítrio como produtos do cérebro, dos seus circuitos neuronais, regulados elétrica e bioquimicamente.
O saber médico é resistente às trocas de paradigmas. A teoria humoral, da escola grega, durou vinte séculos. Somente na metade do século XIX, foi suplantado pela patologia celular de Rudolph Virchow (1858). O paradigma molecular veio rápido. A descoberta do DNA, como base da memória genética, é de 1954.
Nessa doutrina, os transtornos mentais são desregulações dos neuros transmissores e dos circuitos elétricos.
O médico alemão Franz Anton Mesmer (1774), descobriu o magnetismo animal. Passou a tratar os seus pacientes usando a estimulação magnética do cérebro, se contrapondo ao exorcismo do padre Johann Joseph Gassner, que apontava a doença mental como possessão demoníaca.
A Academia Francesa de Medicina nomeou uma comissão de sábios (o astrônomo Jean Bailly, o químico Lavoisier, o médico Guilhotin e o embaixador Benjamin Franklin), para compararem a eficácia entre o exorcismo do padre Gassner e a estimulação magnética de Mesmer.
O célebre médico francês Jean Martin Charcot, pai da neurologia, usou largamente o hipnotismo, como terapia contra as histerias, demonstrado em espetáculos públicos no Salpêtriére. Charcot era o Napoleão das neuroses. O nosso Pedro II, foi seu paciente e amigo.
O Salpêtríere era um albergue médico para idosos, com cerca de cinco mil pacientes internados.
A medicina, há séculos, avança sobre a consciência.
Montaigne, em seus “Ensaios”, tratou a imaginação (consciência) com a fonte de sonhos, visões, delírios, manias, ideias fixas, fobias e do sonambulismo.
Em 1938, Ugo Cerletti introduziu a estimulação elétrica do cérebro como tratamento da esquizofrenia. Estava inventada a eletroconvulsoterapia (o eletro choque), que se disseminou rapidamente pelo mundo. Cerletti foi indicado para o prêmio Nobel, mas não ganhou.
Em 1949, o médico português Egas Moniz, recebeu o prêmio Nobel em medicina, pela descoberta da lobotomia. Uma cirurgia onde o lobo frontal do cérebro é destruído, para libertar a mente dos efeitos patológicos do cérebro.
Muita barbaridade já foi feita, se acreditando que a consciência é um produto do cérebro.
O paradigma celular foi abalado pelo paradigma molecular, onde a memória genética foi desvendada, e é passível de manipulação pela engenharia.
A medicina não desiste.
Recentemente, um paciente com TOC (transtorno obsessivo compulsivo) grave, associado a Síndrome de Tourete e TCI (transtorno do controle de impulso), foi operado no Instituto de Psiquiatria da USP.
A nova cirurgia psiquiátrica visou o TOC, as outras ocorrências clínicas continuaram com o tratamento medicamentoso. Trata-se de uma trepanação, com introdução de eletrodos nos dois hemisférios, visando uma estimulação elétrica profunda do cérebro. O kit dos dois dispositivos com a bateria custam cem mil reais.
Depois da implantação, o sistema foi acionado. O psiquiatra da equipe, observou que o paciente apresentou leve euforia e redução momentânea da ansiedade. E concluiu: “não existia outra saída, esses pacientes graves são refratários a qualquer tratamento.”
Acho que o inventor da “Estimulação Cerebral Profunda” será um forte candidato ao Prêmio Nobel. Ele juntou a cirurgia com a estimulação elétrica. Dessa vez mais precisa, milimetricamente delimitada, por um halo estereotáxico.
Ocorre que a ciência não para, os estudos da física quântica apresentam novidades, mudanças de paradigmas, que alcançam a biologia. As descobertas dos microtúbulos neuronais e da irradiância ultravioleta do triptofano, são fenômenos quânticos conhecidos.
Plagiando os médicos: as evidências que a consciência é externa ao cérebro, produto da energia quântica são demonstradas. A consciência é um fenômeno cósmico. O cérebro é um receptor dessa consciência. A mente não é apenas química e elétrica, ela é essencialmente quântica.
A ciência, ao tentar eliminar o místico, tropeça no sagrado.
A medicina resiste ao novo paradigma sub atômico, por razões estruturais. Todo o arcabouço doutrinária seria abalado, com consequências econômicas profundas.
Essa tese da consciência quântica está suficientemente estudada, publicada e ignorada.
Enquanto isso, a medicina insiste em atuar fisicamente sobre o cérebro, como forma de alterar a consciência. Se o cérebro é apenas um receptor da consciência, as intervenções cirúrgicas são procedimentos cosméticos.
A criação da matemática, da música, da filosofia, da poesia e da ciência, não são obras de circuitos neuronais, estímulos elétricos e doses de neurotransmissores.
Não foi a matemática que criou a consciência, foi a consciência que criou a matemática.
Antonio Samarone – médico sanitarista.
(por Antonio Samarone)
É antigo o desejo da medicina em alterar a consciência, por meio de intervenções físicas no cérebro.
As neurociências apontam a consciência e o livre arbítrio como produtos do cérebro, dos seus circuitos neuronais, regulados elétrica e bioquimicamente.
O saber médico é resistente às trocas de paradigmas. A teoria humoral, da escola grega, durou vinte séculos. Somente na metade do século XIX, foi suplantado pela patologia celular de Rudolph Virchow (1858). O paradigma molecular veio rápido. A descoberta do DNA, como base da memória genética, é de 1954.
Nessa doutrina, os transtornos mentais são desregulações dos neuros transmissores e dos circuitos elétricos.
O médico alemão Franz Anton Mesmer (1774), descobriu o magnetismo animal. Passou a tratar os seus pacientes usando a estimulação magnética do cérebro, se contrapondo ao exorcismo do padre Johann Joseph Gassner, que apontava a doença mental como possessão demoníaca.
A Academia Francesa de Medicina nomeou uma comissão de sábios (o astrônomo Jean Bailly, o químico Lavoisier, o médico Guilhotin e o embaixador Benjamin Franklin), para compararem a eficácia entre o exorcismo do padre Gassner e a estimulação magnética de Mesmer.
O célebre médico francês Jean Martin Charcot, pai da neurologia, usou largamente o hipnotismo, como terapia contra as histerias, demonstrado em espetáculos públicos no Salpêtriére. Charcot era o Napoleão das neuroses. O nosso Pedro II, foi seu paciente e amigo.
O Salpêtríere era um albergue médico para idosos, com cerca de cinco mil pacientes internados.
A medicina, há séculos, avança sobre a consciência.
Montaigne, em seus “Ensaios”, tratou a imaginação (consciência) com a fonte de sonhos, visões, delírios, manias, ideias fixas, fobias e do sonambulismo.
Em 1938, Ugo Cerletti introduziu a estimulação elétrica do cérebro como tratamento da esquizofrenia. Estava inventada a eletroconvulsoterapia (o eletro choque), que se disseminou rapidamente pelo mundo. Cerletti foi indicado para o prêmio Nobel, mas não ganhou.
Em 1949, o médico português Egas Moniz, recebeu o prêmio Nobel em medicina, pela descoberta da lobotomia. Uma cirurgia onde o lobo frontal do cérebro é destruído, para libertar a mente dos efeitos patológicos do cérebro.
Muita barbaridade já foi feita, se acreditando que a consciência é um produto do cérebro.
O paradigma celular foi abalado pelo paradigma molecular, onde a memória genética foi desvendada, e é passível de manipulação pela engenharia.
A medicina não desiste.
Recentemente, um paciente com TOC (transtorno obsessivo compulsivo) grave, associado a Síndrome de Tourete e TCI (transtorno do controle de impulso), foi operado no Instituto de Psiquiatria da USP.
A nova cirurgia psiquiátrica visou o TOC, as outras ocorrências clínicas continuaram com o tratamento medicamentoso. Trata-se de uma trepanação, com introdução de eletrodos nos dois hemisférios, visando uma estimulação elétrica profunda do cérebro. O kit dos dois dispositivos com a bateria custam cem mil reais.
Depois da implantação, o sistema foi acionado. O psiquiatra da equipe, observou que o paciente apresentou leve euforia e redução momentânea da ansiedade. E concluiu: “não existia outra saída, esses pacientes graves são refratários a qualquer tratamento.”
Acho que o inventor da “Estimulação Cerebral Profunda” será um forte candidato ao Prêmio Nobel. Ele juntou a cirurgia com a estimulação elétrica. Dessa vez mais precisa, milimetricamente delimitada, por um halo estereotáxico.
Ocorre que a ciência não para, os estudos da física quântica apresentam novidades, mudanças de paradigmas, que alcançam a biologia. As descobertas dos microtúbulos neuronais e da irradiância ultravioleta do triptofano, são fenômenos quânticos conhecidos.
Plagiando os médicos: as evidências que a consciência é externa ao cérebro, produto da energia quântica são demonstradas. A consciência é um fenômeno cósmico. O cérebro é um receptor dessa consciência. A mente não é apenas química e elétrica, ela é essencialmente quântica.
A ciência, ao tentar eliminar o místico, tropeça no sagrado.
A medicina resiste ao novo paradigma sub atômico, por razões estruturais. Todo o arcabouço doutrinária seria abalado, com consequências econômicas profundas.
Essa tese da consciência quântica está suficientemente estudada, publicada e ignorada.
Enquanto isso, a medicina insiste em atuar fisicamente sobre o cérebro, como forma de alterar a consciência. Se o cérebro é apenas um receptor da consciência, as intervenções cirúrgicas são procedimentos cosméticos.
A criação da matemática, da música, da filosofia, da poesia e da ciência, não são obras de circuitos neuronais, estímulos elétricos e doses de neurotransmissores.
Não foi a matemática que criou a consciência, foi a consciência que criou a matemática.
Antonio Samarone – médico sanitarista.
quarta-feira, 11 de junho de 2025
UMA NOVA BASÍLICA.
Uma Nova Basílica.
(por Antonio Samarone)
O Censo de 2022 expressou duas novidades sobre Itabaiana: o crescimento populacional e a religiosidade. Na estimativa do IBGE, em 2024, Itabaiana possuía 108.488 mil habitantes. Um salto demográfico.
A religiosidade em Itabaiana, foi outra surpresa do Censo de 2022: a população evangélica em Itabaiana representa apenas 10,3% do total. É o menor índice do Brasil, entre os 5.569 municípios. A média nacional de evangélicos é 26,9%.
Em Itabaiana, os católicos são 80,7% e, no Brasil, 56,7%. O censo apontou o que já se suspeitava: Itabaiana é a cidade mais católica do Brasil.
O Papa Leão XIV, precisa saber. Podemos pleitear a elevação da Matriz de Santo Antonio e Almas a condição de Basílica, com pensa o padre Marcos Rogério.
Os ateus em Itabaiana são 6,1%, no Brasil, 9,3%. Mesmo assim, os ateus ainda são muitos, em uma terra que até os comunistas guardavam os domingos e dias santos, e jejuavam na quaresma.
O IBGE deu a certidão de religiosidade aos itabaianenses. Agora é oficial.
O turismo religioso não é uma invenção de especialistas, objeto do planejamento governamental. A religiosidade não pode ser criada artificialmente, para exploração turística.
O caminho é o inverso: se existe a religiosidade, a fé, os rituais, a devoção, a atividade turística pode ter sucesso, gerar renda, empregos, sem afetar as atividades sagradas.
A curto prazo, qualquer “Asa Branca”, desmorona. Sinhozinho Malta, Zé das Medalhas e a viúva Porcina tentaram vender a santidade de Roque Santeiro. Não deu certo. Para os mais novos, a novela de Dias Gomes, Roque Santeiro, ocorre na cidade de Asa Branca. Aliás, o sistema Globo está reapresentando Roque Santeiro.
Colocado essa premissa, a sociedade itabaianense possui essa religiosidade necessária ao desenvolvimento do turismo religioso. São dados do IBGE.
Historicamente, Itabaiana foi criada sob a égide dos Franciscanos e Beneditinos. Sob a proteção de Santo Antonio e de São Miguel. A Igreja, durante séculos, ocupou uma centralidade cultural, forjada nas sacristias.
Os padres em Itabaiana, sempre foram influentes no dia-a-dia. Fizeram história. O papel da igreja foi relativizada durante a última ditadura militar. A igreja católica proibiu os padres de militância política aberta.
Na segunda metade do século XIX, o Cônego Domingos de Melo Resende, pastorou o rebanho em Itabaiana por 50 anos (1852 – 1902). O Cônego era de família rica da Capela. O pai, era o Capitão Mor Manuel de Melo Resende, proprietário de Engenhos e Alambiques.
O Cônego era um liberal, ocupou cadeira na Assembleia Provincial. Um sacerdote que zelava pelas ovelhas carentes. Inimigo do Celibato, o Cônego Domingos deixou uma prole numerosa. Nunca escondeu, assumiu a todos e aparecia como pai, nas certidões de nascimento.
O Cônego Domingos faleceu em 1902, sendo sepultado dentro da igreja. Como era de costume.
O tumulo do Cônego Domingos de Melo Resende foi removido da Igreja, pelo Monsenhor José Curvelo Soares (1967 – 1975). Aqui é outra história que contaremos depois.
Aliás, para restabelecer a verdade, um neto do Cônego, João de Melo Resende (João de Balbino), foi que iniciou a festa do caminhoneiro em Itabaiana, durante a gestão do prefeito Serapião Antonio de Gois (1955 – 1958).
O Cônego Domingos foi substituído pelo padre Vicente Valentim da Cunha (1902 – 1912). Valentim era natural de Paripiranga, ligado aos Pebas, na política. Quanto ao celibato, mesmo sendo mais discreto, vivia com mulher e filhos em um sítio, no Canto Escuro (foto).
Na entrada do século XX, Itabaiana era uma comunidade pobre, sem estradas, sem água, voltada para a agricultura de subsistência. O que sobrava, era levado às feiras de boa parte de Sergipe, de Aracaju ao Sertão de Jeremoabo. A fama de celeiro.
Se não bastasse a política, dominada pelo médico lagartense Batista Itajay, O padre Valentim foi substituído pelo Monsenhor Vicente Francisco de Jesus (1913 – 1916). Outro filho de Lagarto.
O Monsenhor Vicente de Jesus chegou a Itabaiana em 26 de janeiro de 1913. Aliou-se politicamente a Itajay (já em decadência).
Começou reformando a igreja, colocou um relógio na torre, trocou os sinos e substituiu os quadros da via-sacra. Encerrou os sepultamentos no Cemitezinho, no fundo da igreja, em 19 de abril de 1913. No mesmo dia, inaugurou o Cemitério de Santo Antonio e Almas (o atual). Uma novidade, respeitava o celibato, pelo menos publicamente.
Sobre o conflito do Monsenhor Vicente Francisco de Jesus com o Coronel Sebrão, eu já falei no último texto.
O espaço é pequeno, depois eu conto quem foram os demais padres, o que fizeram e como cultivaram a religiosidade dos itabaianenses, durante a história. Qual foi o papel da igreja católica, no desenvolvimento de Itabaiana?
Sobre a Basílica, sabemos que a Matriz de Antonio e Almas tem uma história (350 anos) e relevância religiosa, mas precisa de um banho arquitetônico. O banho será dado.
Antonio Samarone – Secretário de Cultura de Itabaiana.
(por Antonio Samarone)
O Censo de 2022 expressou duas novidades sobre Itabaiana: o crescimento populacional e a religiosidade. Na estimativa do IBGE, em 2024, Itabaiana possuía 108.488 mil habitantes. Um salto demográfico.
A religiosidade em Itabaiana, foi outra surpresa do Censo de 2022: a população evangélica em Itabaiana representa apenas 10,3% do total. É o menor índice do Brasil, entre os 5.569 municípios. A média nacional de evangélicos é 26,9%.
Em Itabaiana, os católicos são 80,7% e, no Brasil, 56,7%. O censo apontou o que já se suspeitava: Itabaiana é a cidade mais católica do Brasil.
O Papa Leão XIV, precisa saber. Podemos pleitear a elevação da Matriz de Santo Antonio e Almas a condição de Basílica, com pensa o padre Marcos Rogério.
Os ateus em Itabaiana são 6,1%, no Brasil, 9,3%. Mesmo assim, os ateus ainda são muitos, em uma terra que até os comunistas guardavam os domingos e dias santos, e jejuavam na quaresma.
O IBGE deu a certidão de religiosidade aos itabaianenses. Agora é oficial.
O turismo religioso não é uma invenção de especialistas, objeto do planejamento governamental. A religiosidade não pode ser criada artificialmente, para exploração turística.
O caminho é o inverso: se existe a religiosidade, a fé, os rituais, a devoção, a atividade turística pode ter sucesso, gerar renda, empregos, sem afetar as atividades sagradas.
A curto prazo, qualquer “Asa Branca”, desmorona. Sinhozinho Malta, Zé das Medalhas e a viúva Porcina tentaram vender a santidade de Roque Santeiro. Não deu certo. Para os mais novos, a novela de Dias Gomes, Roque Santeiro, ocorre na cidade de Asa Branca. Aliás, o sistema Globo está reapresentando Roque Santeiro.
Colocado essa premissa, a sociedade itabaianense possui essa religiosidade necessária ao desenvolvimento do turismo religioso. São dados do IBGE.
Historicamente, Itabaiana foi criada sob a égide dos Franciscanos e Beneditinos. Sob a proteção de Santo Antonio e de São Miguel. A Igreja, durante séculos, ocupou uma centralidade cultural, forjada nas sacristias.
Os padres em Itabaiana, sempre foram influentes no dia-a-dia. Fizeram história. O papel da igreja foi relativizada durante a última ditadura militar. A igreja católica proibiu os padres de militância política aberta.
Na segunda metade do século XIX, o Cônego Domingos de Melo Resende, pastorou o rebanho em Itabaiana por 50 anos (1852 – 1902). O Cônego era de família rica da Capela. O pai, era o Capitão Mor Manuel de Melo Resende, proprietário de Engenhos e Alambiques.
O Cônego era um liberal, ocupou cadeira na Assembleia Provincial. Um sacerdote que zelava pelas ovelhas carentes. Inimigo do Celibato, o Cônego Domingos deixou uma prole numerosa. Nunca escondeu, assumiu a todos e aparecia como pai, nas certidões de nascimento.
O Cônego Domingos faleceu em 1902, sendo sepultado dentro da igreja. Como era de costume.
O tumulo do Cônego Domingos de Melo Resende foi removido da Igreja, pelo Monsenhor José Curvelo Soares (1967 – 1975). Aqui é outra história que contaremos depois.
Aliás, para restabelecer a verdade, um neto do Cônego, João de Melo Resende (João de Balbino), foi que iniciou a festa do caminhoneiro em Itabaiana, durante a gestão do prefeito Serapião Antonio de Gois (1955 – 1958).
O Cônego Domingos foi substituído pelo padre Vicente Valentim da Cunha (1902 – 1912). Valentim era natural de Paripiranga, ligado aos Pebas, na política. Quanto ao celibato, mesmo sendo mais discreto, vivia com mulher e filhos em um sítio, no Canto Escuro (foto).
Na entrada do século XX, Itabaiana era uma comunidade pobre, sem estradas, sem água, voltada para a agricultura de subsistência. O que sobrava, era levado às feiras de boa parte de Sergipe, de Aracaju ao Sertão de Jeremoabo. A fama de celeiro.
Se não bastasse a política, dominada pelo médico lagartense Batista Itajay, O padre Valentim foi substituído pelo Monsenhor Vicente Francisco de Jesus (1913 – 1916). Outro filho de Lagarto.
O Monsenhor Vicente de Jesus chegou a Itabaiana em 26 de janeiro de 1913. Aliou-se politicamente a Itajay (já em decadência).
Começou reformando a igreja, colocou um relógio na torre, trocou os sinos e substituiu os quadros da via-sacra. Encerrou os sepultamentos no Cemitezinho, no fundo da igreja, em 19 de abril de 1913. No mesmo dia, inaugurou o Cemitério de Santo Antonio e Almas (o atual). Uma novidade, respeitava o celibato, pelo menos publicamente.
Sobre o conflito do Monsenhor Vicente Francisco de Jesus com o Coronel Sebrão, eu já falei no último texto.
O espaço é pequeno, depois eu conto quem foram os demais padres, o que fizeram e como cultivaram a religiosidade dos itabaianenses, durante a história. Qual foi o papel da igreja católica, no desenvolvimento de Itabaiana?
Sobre a Basílica, sabemos que a Matriz de Antonio e Almas tem uma história (350 anos) e relevância religiosa, mas precisa de um banho arquitetônico. O banho será dado.
Antonio Samarone – Secretário de Cultura de Itabaiana.
terça-feira, 10 de junho de 2025
O TEMPO É DA CULTURA E DA RELIGIÃO.
O Tempo é da Cultura e da Religião.
(por Antonio Samarone)
O jornalista Pedro Bial, de forma preconceituosa, perguntou a Natanzinho, porque Itabaiana era a Capital Nacional do Caminhão (Lei 13.044, de 19 de novembro de 2014), se ali não existem fábricas de caminhões.
Natanzinho respondeu a Bial, ao seu modo.
Bial, se você tivesse usado critérios culturais, não teria feito essa pergunta, as respostas seriam óbvias.
A festa dos caminhoneiros começou domingo, com a carreatinha, a maior do mundo. Milhares de crianças saem às ruas, com os seus carrinhos de brinquedo, uma forma de homenagem aos familiares e amigos.
Bial, em Itabaiana, quando se pergunta a uma criança o que ele quer ser quando crescer, a resposta é quase unanime: “quero ser caminhoneiro.”
Ontem, foi a abertura da Feira do Caminhão. Um sucesso. Cento e vinte expositores. De grandes marcas, Volkswagen, Volvo, Scania... e a empresas locais diversificadas.
Poucos Stands públicos: Prefeituras de Aracaju e Areia Branca, PRF, Banco do Nordeste e SEST/SENAT. Era uma festa do setor privado.
Ninguém entendeu a ausência da Fecomercio, mesmo com o pedido de Edivaldo da Farmácia, uma importante liderança local do setor. Não acredito em desmotivação política, como se fala.
A feira do caminhão em Itabaiana está sendo grandiosa, guardando as proporções, lembra a World’s Columbian Exposition de 1893, em Chicago; e a Exposition Universelle de 1900, em Paris. Não é megalomania. Fiz a ressalva, levando-se em conta o tamanho da economia sergipana.
O brilho da feira tevê a digital de Marquinhos, da FM comunitária, competente agente cultural em Itabaiana. O Prefeito Valmir de Francisquinho sabe escolher.
Hoje, começa a festa musical. No primeiro dia teremos Natanzinho. Depois do Show na Praça de Eventos, Natanzinho fará uma alvorada, por iniciativa própria, na Marianga, bairro onde nasceu. Não adianta invejas, o cara é diferenciado. Mesmo com o sucesso nacional, Natanzinho mantém as raízes.
O Trezenário de Santo Antonio é parte da festa. O encerramento será na sexta, dia 13, com a centenária procissão. Nos últimos 200 anos, a procissão só não ocorreu em 1916. Suspensa pelo Bispo Dom José Thomas, devido a uma briga do Padre Vicente de Jesus e com o Coronel Sebrão. Nessa briga, o avô de Francis de Andrade foi assassinado, a golpes de sabres.
Esse ano, a procissão será especial, pois se comemora os 350 anos da Paróquia de Santo Antonio e Almas. Tenho certeza que encontrarei com Oviedo Teixeira, que nunca perdeu.
O único evento dissonante, foi uma manifestação pública do Presidente do Partido Liberal, em Sergipe. Em entrevista a Aélio Santos, na 93.1 FM, o empresário itabaianense Edvan Amorim, deu as cartas: isso pode, isso não pode. Vai ser assim, vai ser assado. Como se tivesse poderes para comandar a sucessão de 2026.
O competente e bem-sucedido empresário tem a fama de ser um político de bastidores, e que quando fala em público, o tiro sai pela culatra. Vamos aguardar!
A última grande manifestação pública do empresário Edvan Amorim, foi na campanha eleitoral de 2014. Ele resolveu ir à TV, no programa eleitoral, defender a candidatura do irmão. Os políticos experientes disseram à época, que a fala dele foi decisiva para a vitória de Jackson Barreto no primeiro turno, com 54% dos votos.
Itabaiana precisa uma trégua política, está em festa, a hora é da Cultura e da Religião.
Antonio Samarone – Secretário de Cultura de Itabaiana.
(por Antonio Samarone)
O jornalista Pedro Bial, de forma preconceituosa, perguntou a Natanzinho, porque Itabaiana era a Capital Nacional do Caminhão (Lei 13.044, de 19 de novembro de 2014), se ali não existem fábricas de caminhões.
Natanzinho respondeu a Bial, ao seu modo.
Bial, se você tivesse usado critérios culturais, não teria feito essa pergunta, as respostas seriam óbvias.
A festa dos caminhoneiros começou domingo, com a carreatinha, a maior do mundo. Milhares de crianças saem às ruas, com os seus carrinhos de brinquedo, uma forma de homenagem aos familiares e amigos.
Bial, em Itabaiana, quando se pergunta a uma criança o que ele quer ser quando crescer, a resposta é quase unanime: “quero ser caminhoneiro.”
Ontem, foi a abertura da Feira do Caminhão. Um sucesso. Cento e vinte expositores. De grandes marcas, Volkswagen, Volvo, Scania... e a empresas locais diversificadas.
Poucos Stands públicos: Prefeituras de Aracaju e Areia Branca, PRF, Banco do Nordeste e SEST/SENAT. Era uma festa do setor privado.
Ninguém entendeu a ausência da Fecomercio, mesmo com o pedido de Edivaldo da Farmácia, uma importante liderança local do setor. Não acredito em desmotivação política, como se fala.
A feira do caminhão em Itabaiana está sendo grandiosa, guardando as proporções, lembra a World’s Columbian Exposition de 1893, em Chicago; e a Exposition Universelle de 1900, em Paris. Não é megalomania. Fiz a ressalva, levando-se em conta o tamanho da economia sergipana.
O brilho da feira tevê a digital de Marquinhos, da FM comunitária, competente agente cultural em Itabaiana. O Prefeito Valmir de Francisquinho sabe escolher.
Hoje, começa a festa musical. No primeiro dia teremos Natanzinho. Depois do Show na Praça de Eventos, Natanzinho fará uma alvorada, por iniciativa própria, na Marianga, bairro onde nasceu. Não adianta invejas, o cara é diferenciado. Mesmo com o sucesso nacional, Natanzinho mantém as raízes.
O Trezenário de Santo Antonio é parte da festa. O encerramento será na sexta, dia 13, com a centenária procissão. Nos últimos 200 anos, a procissão só não ocorreu em 1916. Suspensa pelo Bispo Dom José Thomas, devido a uma briga do Padre Vicente de Jesus e com o Coronel Sebrão. Nessa briga, o avô de Francis de Andrade foi assassinado, a golpes de sabres.
Esse ano, a procissão será especial, pois se comemora os 350 anos da Paróquia de Santo Antonio e Almas. Tenho certeza que encontrarei com Oviedo Teixeira, que nunca perdeu.
O único evento dissonante, foi uma manifestação pública do Presidente do Partido Liberal, em Sergipe. Em entrevista a Aélio Santos, na 93.1 FM, o empresário itabaianense Edvan Amorim, deu as cartas: isso pode, isso não pode. Vai ser assim, vai ser assado. Como se tivesse poderes para comandar a sucessão de 2026.
O competente e bem-sucedido empresário tem a fama de ser um político de bastidores, e que quando fala em público, o tiro sai pela culatra. Vamos aguardar!
A última grande manifestação pública do empresário Edvan Amorim, foi na campanha eleitoral de 2014. Ele resolveu ir à TV, no programa eleitoral, defender a candidatura do irmão. Os políticos experientes disseram à época, que a fala dele foi decisiva para a vitória de Jackson Barreto no primeiro turno, com 54% dos votos.
Itabaiana precisa uma trégua política, está em festa, a hora é da Cultura e da Religião.
Antonio Samarone – Secretário de Cultura de Itabaiana.
sábado, 7 de junho de 2025
O PÃO DE CADA DIA
O pão de cada dia.
(por Antonio Samarone)
“Nem só do pão vive o homem” – Deuteronômio - 8:3
Os deuses gregos viviam de néctar e ambrosia. Os homens do pão (cereais) e do vinho. As carnes eram interditadas: o boi era para a lavoura, o carneiro para a lã e o porco era impuro. A vaca continua sagrada na Índia.
Os animais eram destinados aos sacrifícios religiosos. Nos banquetes, as carnes podiam ser partilhados com os homens, cerimonialmente.
Itabaiana, nos primórdios, foi uma terra de curraleiros, de criadores de gado. Culturalmente, a carne é o alimento mais desejado, em qualquer refeição. O consumo frequente de carne é um indicador do nível de renda.
Um quilo de carne equivalia a um dia de trabalho do assalariado. O valor de um dia de pedreiro, era o preço de um quilo de carne de boi fresca. A carne não era para a pobreza.
Hoje, o acesso à carne facilitou-se. Quando Lula prometeu “picanha” para todos, sabia o que estava dizendo. Foi no fundo das fantasias alimentares.
Na etiqueta de mamãe, dois vícios eram condenados. Primeiro, comer carne pura (ser arado). A carne era uma mistura, para melhorar o sabor. Segundo, invejar com o olhar a comida dos outros (ser ximão).
Carne farta só nas buchadas, mocotós e cabelouros.
Diante as restrições da carne, alguns artifícios eram usador para tornar a feijão com farinha palatável: os molhos de pimenta, vinagre, cebolas roxas e coentro.
Fazia-se manualmente um bolo com o feijão, o molhava-se no molho de cebola. Foi esse costume, que levou o povo de Laranjeiras a apelidar o itabaianense de ceboleiro.
O surgimento das churrascarias gaúchas, servindo churrasco corrido, sem limites, gerou uma forte desconfiança. Não deve ser verdade. O desejo era comer carne sem parar, por dias, ou semanas.
A minha primeira experiencia foi em uma churrascaria na BR – 101, defronte a Floresta Nacional da Ibura.
A fantasia da carne é ilimitada, o aguçamento do instinto de caçador.
O dia-a-dia era o feijão com farinha. O arroz era para os dias de festa, ou quando a mistura era galinha. O arroz era uma sofisticação na casa dos pobres. E o macarrão? Bem, eu desconhecia o macarrão. Comi pela primeira vez em Aracaju. Não vi nenhuma graça.
Os vinhos são bebidas alcoólicas de uvas fermentadas, entretanto, pode ser de outras frutas. Os vinhos de jenipapo e jurubeba eram frequentes entre o povo do Beco Novo, ao lado das aguardentes.
O café era torrado em casa.
Galinha só nos resguardos. Por sorte, mamãe pariu 18 filhos. Ou nas bancas de arroz com galinha, nas festas de Natal e Ano Bom. Por outro lado, bacalhau era barato, era parte dos peixes salgados.
Os tradicionais pão e vinho bíblicos, não faziam parte da minha dieta. Mamãe tinha preconceito com o pão. Ela achava de baixo poder nutritivo. Quando ela avistava um menino ensangado, raquítico, mirrado, dava logo o diagnóstico: “esse menino foi criado com pão!”
A pobreza tem os seus segredos culinários: um cuscuz de milho ralado, molhado com leite de coco é digno de um banquete romano. Carne frita com inhame; jabá gorda, assada, com aipim e toucinho de porco na brasa. Um torresmo fresco!
A qualidade de vida melhorou bastante. Os restaurantes em Itabaiana (churrascarias e espetinhos), exploram os desejos reprimidos, aproveitam-se das novas condições sociais, e oferecem carne a vontade.
Come-se carne pura sem peso na consciência, para compensar o período das vacas magras. A Gula é o menor dos pecados capitais, inofensivo aos outros. Merece perdão.
Antonio Samarone – Secretário de Cultura de Itabaiana.
(por Antonio Samarone)
“Nem só do pão vive o homem” – Deuteronômio - 8:3
Os deuses gregos viviam de néctar e ambrosia. Os homens do pão (cereais) e do vinho. As carnes eram interditadas: o boi era para a lavoura, o carneiro para a lã e o porco era impuro. A vaca continua sagrada na Índia.
Os animais eram destinados aos sacrifícios religiosos. Nos banquetes, as carnes podiam ser partilhados com os homens, cerimonialmente.
Itabaiana, nos primórdios, foi uma terra de curraleiros, de criadores de gado. Culturalmente, a carne é o alimento mais desejado, em qualquer refeição. O consumo frequente de carne é um indicador do nível de renda.
Um quilo de carne equivalia a um dia de trabalho do assalariado. O valor de um dia de pedreiro, era o preço de um quilo de carne de boi fresca. A carne não era para a pobreza.
Hoje, o acesso à carne facilitou-se. Quando Lula prometeu “picanha” para todos, sabia o que estava dizendo. Foi no fundo das fantasias alimentares.
Na etiqueta de mamãe, dois vícios eram condenados. Primeiro, comer carne pura (ser arado). A carne era uma mistura, para melhorar o sabor. Segundo, invejar com o olhar a comida dos outros (ser ximão).
Carne farta só nas buchadas, mocotós e cabelouros.
Diante as restrições da carne, alguns artifícios eram usador para tornar a feijão com farinha palatável: os molhos de pimenta, vinagre, cebolas roxas e coentro.
Fazia-se manualmente um bolo com o feijão, o molhava-se no molho de cebola. Foi esse costume, que levou o povo de Laranjeiras a apelidar o itabaianense de ceboleiro.
O surgimento das churrascarias gaúchas, servindo churrasco corrido, sem limites, gerou uma forte desconfiança. Não deve ser verdade. O desejo era comer carne sem parar, por dias, ou semanas.
A minha primeira experiencia foi em uma churrascaria na BR – 101, defronte a Floresta Nacional da Ibura.
A fantasia da carne é ilimitada, o aguçamento do instinto de caçador.
O dia-a-dia era o feijão com farinha. O arroz era para os dias de festa, ou quando a mistura era galinha. O arroz era uma sofisticação na casa dos pobres. E o macarrão? Bem, eu desconhecia o macarrão. Comi pela primeira vez em Aracaju. Não vi nenhuma graça.
Os vinhos são bebidas alcoólicas de uvas fermentadas, entretanto, pode ser de outras frutas. Os vinhos de jenipapo e jurubeba eram frequentes entre o povo do Beco Novo, ao lado das aguardentes.
O café era torrado em casa.
Galinha só nos resguardos. Por sorte, mamãe pariu 18 filhos. Ou nas bancas de arroz com galinha, nas festas de Natal e Ano Bom. Por outro lado, bacalhau era barato, era parte dos peixes salgados.
Os tradicionais pão e vinho bíblicos, não faziam parte da minha dieta. Mamãe tinha preconceito com o pão. Ela achava de baixo poder nutritivo. Quando ela avistava um menino ensangado, raquítico, mirrado, dava logo o diagnóstico: “esse menino foi criado com pão!”
A pobreza tem os seus segredos culinários: um cuscuz de milho ralado, molhado com leite de coco é digno de um banquete romano. Carne frita com inhame; jabá gorda, assada, com aipim e toucinho de porco na brasa. Um torresmo fresco!
A qualidade de vida melhorou bastante. Os restaurantes em Itabaiana (churrascarias e espetinhos), exploram os desejos reprimidos, aproveitam-se das novas condições sociais, e oferecem carne a vontade.
Come-se carne pura sem peso na consciência, para compensar o período das vacas magras. A Gula é o menor dos pecados capitais, inofensivo aos outros. Merece perdão.
Antonio Samarone – Secretário de Cultura de Itabaiana.
sexta-feira, 6 de junho de 2025
A SERGIPANIDADE DO AGRESTE.
A sergipanidade do Agreste.
(por Antonio Samarone)
Uso no texto o conceito de Luiz Antonio Barreto das três sergipanidades: a do litoral e zona açucareira, a do sertão e a do agreste. Sergipe é pequeno, diverso e múltiplo.
Luiz Antonio Barreto foi o idealizador dos Núcleos Locais de Cultura, usurpado por alguns espertalhões.
No Império, o território de Itabaiana era de 200 léguas (8.000 Km²): ia de Santa Rosa de Lima a Jeremoabo. Hoje, limita-se a 337 Km². Como se deu esse esquartejamento?
A primeira perda significativa foi pela força da economia açucareira. O Povoado dos Pintos foi elevado a Freguesia de Nossa Senhora da Conceição do Riachuelo, em 1837. Anos depois, 1874, virou a Villa de Riachuelo. Itabaiana perdeu os engenhos. Malhador foi junto.
A segunda perda se deu pela força do algodão. Na segunda metade do Século Dezenove, o povoado Chã do Jenipapo, derrubou as suas matas para plantar algodão. A riqueza do ouro branco chegou. Em 1890, virou a Vila de Frei Paulo, e se desmembrou de Itabaiana.
A última grande perda, foi Campo do Brito, essa por razões políticas. Em 1845, surgiu a Freguesia de Nossa Senhora da Boa Hora. Em 1891, o padre Francisco Freire de Menezes assumiu a Freguesia. Um homem preparado, político competente, deputado influente, começou a articular a autonomia de Campo do Brito, com uma grande resistência política de Itabaiana.
A oportunidade surgiu em 1912, no Governo de Siqueira de Menezes. Vamos aos fatos:
O chefe político de Itabaiana, Batista Itajay, político ligado aos cabaús de Olímpio Campos, chegou ao auge de sua carreira ao compor como vice a chapa de Rodrigues Doria. Um chapa com dois médicos. Chegaram ao governo em 1908.
Por motivos alegados de doença, o governador Rodrigues Dorea pediu licença e afastou-se do Governo. Em confiança, deixou uma carta de renúncia assinada, e viajou com uma orientação: se eu resolver não voltar, lhe comunico e você entrega a minha renúncia.
Mordido, pela mosca azul, Itajay se apressou e entregou a renúncia antes, por conta própria. Assumiu o Governo por pouco tempo. Rodrigues Dorea, com o apoio do Presidente da República, Nilo Peçanha, voltou e reassumiu.
Batista Itajay retirou-se para a oposição, com a fama de traidor, o que significou o ostracismo político.
O padre Francisco Freire de Menezes, aproveitou-se da conjuntura desfavorável de Itabaiana, e conseguiu, ainda em campanha, o compromisso do futuro governador, General Siqueira de Menezes, o compromisso de desligar o Campo do Brito de Itabaiana.
O padre foi o vigário de Campo do Brito por 40 anos, falecendo em 1929.
Com a queda de Itajay (1909), Itabaiana assistiu impotente a perda de uma grande fatia do seu território. Campo do Brito se desmembrou de Itabaiana em 1912, e ainda levou consigo Macambira e Pedra Mole.
Isso criou um mal-estar na população de Itabaiana, que não tendo força política para reagir, criou uma lenda, para diminuir a importância dos campo-britenses. Campo do Brito virou uma terra de lobisomens.
Uma vingança pueril.
O Campo do Brito, terra do Capitão-Mor Manuel Pestana de Brito, criador de gado na região, se tornou um importante município sergipano. E Itabaiana, com a perda do território, cresceu economicamente, e se tornou a atual Itabaiana Grande.
Todo o agreste foi historicamente desmembrado de Itabaiana. Todos já foram devotos de Santo Antonio. O que justifica a profunda identidade histórica, cultural e religiosa.
O atual vigário da Paróquia de Santo Antonio e Almas, reverendo Marcos Rogério, resolveu inteligentemente comemorar os 350 anos da freguesia, levando o Santo para visitar os demais municípios.
O agreste sergipano é único, unido pelo passado, pelo modo de vida, cultura, economia, religião, e pelo futuro.
Antonio Samarone – Secretário de Cultura de Itabaiana.
(por Antonio Samarone)
Uso no texto o conceito de Luiz Antonio Barreto das três sergipanidades: a do litoral e zona açucareira, a do sertão e a do agreste. Sergipe é pequeno, diverso e múltiplo.
Luiz Antonio Barreto foi o idealizador dos Núcleos Locais de Cultura, usurpado por alguns espertalhões.
No Império, o território de Itabaiana era de 200 léguas (8.000 Km²): ia de Santa Rosa de Lima a Jeremoabo. Hoje, limita-se a 337 Km². Como se deu esse esquartejamento?
A primeira perda significativa foi pela força da economia açucareira. O Povoado dos Pintos foi elevado a Freguesia de Nossa Senhora da Conceição do Riachuelo, em 1837. Anos depois, 1874, virou a Villa de Riachuelo. Itabaiana perdeu os engenhos. Malhador foi junto.
A segunda perda se deu pela força do algodão. Na segunda metade do Século Dezenove, o povoado Chã do Jenipapo, derrubou as suas matas para plantar algodão. A riqueza do ouro branco chegou. Em 1890, virou a Vila de Frei Paulo, e se desmembrou de Itabaiana.
A última grande perda, foi Campo do Brito, essa por razões políticas. Em 1845, surgiu a Freguesia de Nossa Senhora da Boa Hora. Em 1891, o padre Francisco Freire de Menezes assumiu a Freguesia. Um homem preparado, político competente, deputado influente, começou a articular a autonomia de Campo do Brito, com uma grande resistência política de Itabaiana.
A oportunidade surgiu em 1912, no Governo de Siqueira de Menezes. Vamos aos fatos:
O chefe político de Itabaiana, Batista Itajay, político ligado aos cabaús de Olímpio Campos, chegou ao auge de sua carreira ao compor como vice a chapa de Rodrigues Doria. Um chapa com dois médicos. Chegaram ao governo em 1908.
Por motivos alegados de doença, o governador Rodrigues Dorea pediu licença e afastou-se do Governo. Em confiança, deixou uma carta de renúncia assinada, e viajou com uma orientação: se eu resolver não voltar, lhe comunico e você entrega a minha renúncia.
Mordido, pela mosca azul, Itajay se apressou e entregou a renúncia antes, por conta própria. Assumiu o Governo por pouco tempo. Rodrigues Dorea, com o apoio do Presidente da República, Nilo Peçanha, voltou e reassumiu.
Batista Itajay retirou-se para a oposição, com a fama de traidor, o que significou o ostracismo político.
O padre Francisco Freire de Menezes, aproveitou-se da conjuntura desfavorável de Itabaiana, e conseguiu, ainda em campanha, o compromisso do futuro governador, General Siqueira de Menezes, o compromisso de desligar o Campo do Brito de Itabaiana.
O padre foi o vigário de Campo do Brito por 40 anos, falecendo em 1929.
Com a queda de Itajay (1909), Itabaiana assistiu impotente a perda de uma grande fatia do seu território. Campo do Brito se desmembrou de Itabaiana em 1912, e ainda levou consigo Macambira e Pedra Mole.
Isso criou um mal-estar na população de Itabaiana, que não tendo força política para reagir, criou uma lenda, para diminuir a importância dos campo-britenses. Campo do Brito virou uma terra de lobisomens.
Uma vingança pueril.
O Campo do Brito, terra do Capitão-Mor Manuel Pestana de Brito, criador de gado na região, se tornou um importante município sergipano. E Itabaiana, com a perda do território, cresceu economicamente, e se tornou a atual Itabaiana Grande.
Todo o agreste foi historicamente desmembrado de Itabaiana. Todos já foram devotos de Santo Antonio. O que justifica a profunda identidade histórica, cultural e religiosa.
O atual vigário da Paróquia de Santo Antonio e Almas, reverendo Marcos Rogério, resolveu inteligentemente comemorar os 350 anos da freguesia, levando o Santo para visitar os demais municípios.
O agreste sergipano é único, unido pelo passado, pelo modo de vida, cultura, economia, religião, e pelo futuro.
Antonio Samarone – Secretário de Cultura de Itabaiana.
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