quinta-feira, 8 de agosto de 2024

ITABAIANA, 350 ANOS - SEU FAUSTINO.

Itabaiana, 350 anos! – Seu Faustino
(Por Antonio Samarone)

Faustino Alves Menezes, nasceu durante a seca de 1932, no povoado Saco, na estrada velha de Macambira, de quem sai pelas Queimadas. Filho de seu Francisco e Dona Josefa.

Órfão de pai aos sete anos, Faustino foi criado no Riacho do Bacalhau, atual Riacho Doce, nas Queimadas. Pouco frequentou a escola, só as primeiras letras, com a professora Lenita, irmã do Senador Passos Porto.

Aos 12 anos, ele já trabalhava, aprendendo a arte de sapateiro. Logo cedo, virou mestre. Tentou a vida no Sul (Rio e São Paulo) como sapateiro. Não deu certo, retornou ao ninho.

Até meados do século XX, a vida na província agrícola de Itabaiana acontecia na Zona Rural. No Censo de 1950, Itabaiana possuia apenas três mil e duzentos habitantes, no centro urbano.

Predominavam as “casas de rancho”, onde os proprietários só apareciam para fazer a feira, rezar e acompanhar as trezenas de Santo Antonio.

Itabaiana era uma cidade pobre, como demostra o seu patrimonio arquitetônico. Casarão, só a de Zeca Mesquita. Alguns sobrados de taipa, casas estreitas, baixas e sem platibanda. Se bebia água de cisternas, açudes e cacimbões.

Na Zona Urbana viviam os artesões (sapateiros, alfaiates, padeiros, ourives e marceneiros), pedreiros e carpinteiros, barnabés, pequenos comerciantes, biscateiros, fogueteiros, bodegueiros e os desocupados de todos os gêneros. Mais uma meia dúzia de profissionais liberais (professores, dentistas e rábulas). Médicos fixos, só Osmeil e Pedro Garcia Moreno.

Os caminhoneiros estavam começando.

Faustino entrou para a categoria de sapateiros, onde conheceu os mestres Zé Martins, alagoano, e Paulo Barros, de Laranjeiras, com quem conheceu o marxismo-leninismo e se converteu ao credo vermelho. A classe operária em Itabaiana era formada de sapateiros e alfaiates.

Somavam-se, aos poucos vermelhos, uma vanguarda intelectual: Antonio de Doci, Renato Mazze Lucas (médico), os irmãos Silveira (João e Zé) e Raimundo de Felismino. E muitos simpatizantes. Na lista subversiva: o camponês Zeca Cego, que cantava a Internacional em russo, Nilo Alfaiate, João Océas relojoeiro, João Barraca (padeiro), e outros que esqueci.

Os sapateiros e alfaiates formavam uma vanguarda esclarecida. Gente destacada na cidade. Evidente, a maioria nada tinha a ver com o comunismo. Seu Justino, veio de Paripiranga, Vicentinho e Zé de Gonçalo.

Não era fácil ser comunista numa terra de camponeses. Eles faziam de tudo, para politizar os trabalhadores. Fundaram um Clube dos Trabalhadores, para festas, e criaram o GLEI – Gremio Literário e Esportivo de Itabaiana, para estimular a alfabetização e a leitura.

O Clube do Trabalhador está em boas mãos. Salomão, somou-se com a família de Seu Bonito e dona Dulce, e comandam a quadrilha Balança Mais Não Cai, há mais de 50 anos.

Na antiga sede do GLEI, funciona hoje o Rotary.

O GLEI, já sob o comando de Chico do Cantagalo, construiu uma bela quadra de esportes, ao lado do Tanque do Povo. Hoje é um estabelecimento comercial.

Outra coisa, era um comunismo cristão. Todos batizavam os seus filhos, faziam primeira comunhão, frequentavam as aulas de catecismo e casavam-se na igreja.

Em Itabaiana, os comunistas apoiavam a UDN de Euclides Paes Mendonça, talvez por influência de Robério Garcia.

Faustino jogou futebol no Itabaiana e no Cantagalo, fazendo parte do Itabaiana que ganhou o seu primeiro campeonato: Campeão da Zona Centro, em 1959. O futebol só cresceu em Itabaiana no final da década de 1960, por razões especiais.

Na década de 1960, a política local causou um banho de sangue: os líderes se mataram. A cidade mergulhou num clima sombrio, sem esperança e com baixa autoestima. Economicamente, a cidade crescia.

Dr. Pedro, Pedro Goes, Alemãozinho, Zé Queiroz, Zé de Gentil, Geoba, Mozart, entre outros, decidiram investir no esporte. O futebol mexeu com a cidade, devolveu o orgulho, o bairrismo, a autoestima. Em 1969, brotou o primeiro título.

Quem é de fora não entende: o Itabaiana não é apenas um time. É a cidade de chuteiras. Um elo de união, talvez, a única unanimidade. Independente da paixão politica, da crença religiosa, da faixa de renda, todos vestem a camisa tricolor.

Na letra do hino do Itabaiana, Alberto de Carvalho deixou claro: “Somos Itabaiana/ Cidade, celeiro/ Que vibra no esporte/ Com o seu Tremendão.” Não somos apenas um time, somos uma cidade.

Seu Faustino (92 anos), casado com Dona Jacira e pai de Chico e Romualdo, é um homem decente. Quando o Partido Comunista existia na clandestinidade, os documentos sigilosos eram guardados por ele, em quem todos confiavam.

Faustino foi atleta, dirigente e eterno torcedor da Associação Olímpica de Itabaiana. Ao lado de Fefi, Mozart e Zé Queiroz, entre os vivos, compõem o maior patrimonio do Tricolor da Serra.

Antonio Samarone – médico sanitarista.
 

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