sexta-feira, 2 de agosto de 2024

A PESTE BRANCA EM SERGIPE.


 A Peste Branca em Sergipe.
(por Antonio Samarone)

Tuberculose – tísica, febre hética, febre lenta, sangue pela boca, fraqueza de peito, peste branca e chaga nos bafos. A tuberculose chegou ao Brasil com o descobrimento. Índios e negros eram duramente afetados. Uma doença comum entre os escravizados.

Aos fracos do peito, era recomendado o repouso, caldo de galinha, leite de burra ou de cabra e muito mocotó. Se acreditava nos efeitos benéficos do clima.

A tuberculose era uma doença de poetas, literatos e boêmios. Dois exemplos são representativos: D. Pedro I do Brasil e IV de Portugal, faleceu de tuberculose, aos 36 anos. O fabuloso Castro Alves, faleceu aos 24 anos, da mesma enfermidade.

A descoberta da Mycobacterium tuberculosis (bacilo de Koch), em 1882, recebeu o nome do seu descobridor: Robert Koch (1843 – 1910), médico alemão, Nobel de Medicina em 1905.

A primeira vacina contra a tuberculose foi desenvolvida, por Albert Calmette e Jean-Marie Camille Guèrin, em 1906. A vacina BCG (Bacilo de Calmette e Guèrin) foi usada pela primeira vez em humanos em 1921. O tratamento se tornou eficaz a partir da descoberta da estreptomicina, em 1943.

No início do século XX, a tuberculose surge como um problema importante para a saúde pública em Sergipe. Não que ela não existisse anteriormente, é que passou a ser percebida, sua mortalidade registrada e suas vítimas a perambular entre os bem nascidos.

Talvez, o fim da escravidão e o surgimento do trabalho livre urbano tenham contribuído para transformação da tuberculose num problema social. Em 1902, quando a tuberculose ocupava a sexta posição entre as causas de óbitos, o Dr. José Moreira de Magalhães, diretor clínico do hospital Santa Isabel, adverte para o problema:

“Sensível é a ausência de enfermarias onde se possam receber tuberculosos, com a exigência de sua profilaxia. Recusei a princípio a admissão de atacados desta terrível moléstia e, somente tocado de desgosto de negar amparo a quem mais carece, resolvi utilizar um dos pequenos compartimentos do edifício de que podia dispor, para instalação de duas camas para homens, as quais estão sempre ocupadas.”

Dessa primeira “enfermaria”, a assistência aos tuberculosos em Sergipe se arrastou até a inauguração, em 02 de julho de 1917, em grande solenidade, com missa concelebrada pelo Bispo Dom José Thomaz, de um “pavilhão para tuberculosos”, no hospital Santa Isabel, com capacidade para 13 leitos. Os serviços foram entregues à responsabilidade do Dr. José da Silva Melo.

O problema da tuberculose assola Sergipe, no início do século XX. Entre 10 de julho de 1903 e 30 de junho de 1904, ocorrem 360 óbitos em Aracaju, entre os quais 12 casos de peste bubônica, 23 de impaludismo e 27 de tuberculose pulmonar.

O Presidente do Estado, farmacêutico Josino Menezes, assim se manifestou sobre o assunto:

“A tuberculose, mais do que qualquer outro “morbus”, faz vítimas na população sergipana, que precisa aparelhar-se para a defesa sanitária resistente e metódica contra esse grande inimigo de todas as raças."

"É de aterrar a estatística da morte pelo bacilo de Koch. Onde ele se manifesta o luto é certo, prejudicando gerações inteiras; nada poupa, avançando na sua faina de destruição, ora como inimigo sorrateiro, covarde, que ataca de emboscada, ora de chofre, com a valentia dos incombatíveis.”

A preocupação com o problema da tuberculose se manifestou também nos estudos científicos dos médicos sergipanos. O Dr. Francisco Fonseca escolheu como tema de sua tese inaugural para conclusão do curso de medicina, em 1907, “Estudos Clínicos da Hemoptise Tuberculosa”.

A assistência hospitalar aos tuberculosos chegou tarde em Sergipe. O Hospital Sanatório, destinado aos tuberculosos, começou a ser construído em 1939, no Governo de Eronides Carvalho. Entretanto, só começou a funcionar em 1954, no Governo de Arnaldo Rollemberg, com a previsão de 60 leitos.

Com a descoberta do tratamento tríplice (estreptomicina, ácido paraminosalicílico e isoniaziada), final da década de 1940, com o avanço do tratamento ambulatorial da tuberculose, o Hospital Sanatório foi desativado, cedido a UFS, para transformação no atual Hospital Universitário.

A Tuberculose continua ativa. Passa despercebida, por conta da eficácia do tratamento. Os tisiologistas, médicos especializados em tuberculose, se transformaram em infectologista. Desconheço, se algum tisiologista sobrevive em Sergipe.

Antonio Samarone – médico sanitarista.

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