sábado, 24 de setembro de 2022

GABINETES DE LEITURAS EM SERGIPE

 Gabinetes de Leitura em Sergipe.
(por Antonio Samarone)

A Academia de Medicina marcou uma visita ao gabinete de leitura de Maruim, instituição cultural criada em 1877. Não foi o primeiro, em 1860 tivemos um gabinete de leitura em Aracaju e, em 1875, tivemos outro em Ibabaiana. O gabinete de Maruim é o único em funcionamento.

Os Gabinetes de Leitura eram instituições culturais, com alcance social, com debates literários, políticos e científicos. O Gabinete de Maruim foi um antro de conspiração republicana em Sergipe. Lá discursou o rebelde médico baiano, Domingos Guedes Cabral.

O Brasil viveu uma onda de criação de Gabinetes de Leitura, no século XIX. O Gabinete Português de Leitura, criado em 1837, ainda funciona no Rio de Janeiro.

O Gabinete de Leitura de Itabaiana, que funcionava na Rua das Flores, foi criado em 28 de fevereiro de 1875. Teve vida efêmera. Foi a criação do inquieto Manoel Damásio Pereira Leite, um seminarista que virou professor. Um apaixonado pela cultura francesa, talvez tenha se inspirado nas “boutiques à lire”.

Assinaram o livro de ata da fundação do gabinete de leitura de Itabaiana: Professor Manoel Damásio Pereira Leite, Alferes Joaquim José de Oliveira Mesquita, Tenente Manuel Álvares Teixeira, Antonio de Oliveira Bezerra, Tenente Antonio dos Santos Leite, Capitão Manuel Joaquim de Carvalho Lima, Tenente José Teles de Góis, Professor Olímpio Pereira de Araújo, Alferes Antonio Joaquim de Oliveira Noronha, Guilhermino Amâncio Bezerra, José Amâncio Bezerra, Jose Martins Fontes, Tenente Marcelino de Melo Cardoso, Esperidião Zamiro de Sousa Lopes, Tenente José da Costa Fonte, Capitão Francisco Julião de Lemos, Dr. Francisco Dias César, Tenente-coronel Antonio Carneiro de Menezes, Samuel Pereira de Almeida, Antonio Cornélio da Fonseca, Tenente José Caetano de Távora, Alferes José Verano de Carvalho Lima, Francisco Farias de Barreto Freire, Antonio Pinheiro de Melo e Salustiano de Carvalho Lima.

Segundo o pesquisador Sebrão sobrinho, o gabinete de Itabaiana tinha por objetivo facilitar aos seus membros a instrução pela leitura dos bons livros e jornais, especialmente os nacionais. Porém, a principal função era oferecer o ensino básico à juventude Itabaianense.

O gabinete foi a mais democrática instituição de ensino surgida em Itabaiana, no século XIX. Os melhores professores de Itabaiana estavam no Gabinete. Num primeiro momento, recebeu mais de 70 matriculados.

No primeiro ano havia quatro professores: Olimpio Pereira de Araújo, Guilhermino Bezerra, Damásio Leite e Antonio Joaquim de Oliveira Noronha. As disciplinas ofertadas eram: Primeiras letras (professor Olímpio); Matemática elementar, Língua, Literatura nacional e Catecismo (Guilhermino Bezerra); História do Brasil, Geografia Moderna e Língua francesa (Damásio Leite) e Música (maestro Antonio Joaquim de Oliveira Noronha).

José Martins Fontes, juiz de Direito e posteriormente Presidente da Província, foi eleito presidente do gabinete de leitura de Itabaiana. Quando Presidente da Província nada fez pelo Gabinete, pelo contrário, transferiu o professor Manoel Damásio, o mais entusiasta pelo Gabinete, para a povoação de Nossa Senhora das Dores dos Enforcados, atual cidade de Dores.

A morte do professor Manoel Damásio, em 10 de janeiro de 1881, foi a morte do Gabinete de Itabaiana. Desgostoso, pobre e doente de beribéri. Morreu em Itabaiana, buscando a cura da sua enfermidade com a mística da Serra de Itabaiana.

A sua alegria era ver o letreiro do Gabinete estampado na porta da Instituição. Pelo contrário, a sociedade itabaianista, omissa e descuidada com a cultura, calou-se frente à agonia do Gabinete.

Itabaiana só voltou a falar em livros e leituras em 1959, com a criação da Biblioteca Pública Municipal de Itabaiana, batizada com o nome do farmacêutico e rábula Dr. Florival de Oliveira, avô do meu amigo Cibalena.

Esse texto é uma apressada resenha dos estudos do competente pesquisador Itabaianense, Wanderlei de Oliveira Menezes, em trabalho publicado sob o título: GABINETE DE LEITURA DE ITABAIANA (1875-1880).

E sobre o Gabinete de Leituras de Maruim, bem, sobre Maruim, ficarei sabendo no sábado após a visita.

Antonio Samarone (médico sanitarista)

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