sexta-feira, 21 de agosto de 2020

O NOVO NORMAL

O Novo Normal!
(por Antonio Samarone)

Fiz parte de uma geração que acreditou na revolução, no progresso e na laicidade. Fomos movidos pelo otimismo tecnológico e científico, acreditamos no fim das injustiças sociais e na criação de um novo mundo.

Fomos derrotados! Só o indivíduo e a sociedade de consumo sobreviveram! Quanto mais a gente se expressa, menos se há o que dizer. Ninguém está interessado.

A pós-modernidade criou uma vida sem sentido, com múltiplas possibilidades, com sentidos provisórios, individuais, grupais ou simplesmente fictícios. Uma sociedade que não tem uma imagem gloriosa de si mesma, um projeto histórico mobilizador.

Hoje é o vazio que nos domina.

“O sujeito contemporâneo é um empreendedor de si mesmo que se auto explora. Ao mesmo tempo é um fiscalizador de si próprio. O sujeito auto explorador traz consigo um campo de trabalhos forçados, no qual é ao mesmo tempo carrasco e vítima.” Byung

É claro que o capitalismo não é eterno. O que não se sabe é o que acontecerá depois. Nada garante um paraíso, nem uma vida melhor.

A ante visão do Pós Pandemia é tenebrosa.

O novo normal é o velho normal maquiado. Com um agravante no Brasil: a sociedade está dividida de forma irreconciliável. O episódio do estrupo da menina de dez anos, por um tio, escancarou essa divisão.

A mensagem da Pandemia não foi entendida: O planeta não suporta a degradação, os recursos naturais são finitos e a questão ambiental não pode ser protelada. A solução não é uma vacina, mas a mudança do modo de vida.

Isso de crise ambiental parece distante, ingênuo, pensamento de estudante sueca (Greta Thunberg). A urgência não é reconhecida, isto é uma dificuldade. Se até agora se deu um jeitinho, pôde-se adiar, poderemos esperar mais um pouco. Os sinais (a Pandemia é um) apontam que não.

O sujeito contemporâneo é um empreendedor de si mesmo que se auto explora. Ao mesmo tempo é um fiscalizador de si próprio. O sujeito auto explorador traz consigo um campo de trabalhos forçados, no qual é ao mesmo tempo carrasco e vítima. Byung

Um segundo obstáculo é a crescente automação. A riqueza passa a ser criada sem o trabalho humano. Para não causar controvérsia desnecessária, com menos trabalho humano. Dizendo de forma mais direta: o desemprego é estrutural.

Qual o destino dessa riqueza produzida pelas novas tecnologias? O que se pode fazer com as pessoas invisíveis, desnecessárias ao capitalismo? Prolongar o auxílio de emergência, criar penitenciárias, vigilância policial e circo?
Quais os projetos da esquerda para o Brasil?

Acabo de ler “O Projeto Nacional de Ciro Gomes”. O que ele propõe? Um capitalismo liberal de faceta humana. Teve o mérito de estudar, fazer o diagnóstico e uma proposta. A viabilidade de criação desse paraíso capitalista é outra discussão.

O Partido dos Trabalhadores insiste em seu projeto de distribuição de renda, sem mudanças estruturais. Como diz Lula, botar um prato de feijão na mesa do pobre. Essa conciliação se tornou inviável no Brasil. O “Natal sem fome” do Betinho acabou.

O mercado está faminto e quer raspar o tacho.

Antonio Samarone (médico sanitarista)

 

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