“Academias de Letras”?
Antonio Samarone
Academia Itabaianese
de Letras
A expansão da economia
capitalista, a revolução dos meios de comunicação e dos transportes, transformaram
o mundo numa Aldeia Global. Por outro lado, as tentativas de universalização da
cultura, de um único modo de vida, não tiveram sucesso. Ao contrário, houve um
fortalecimento e até mesmo uma valorização das culturas locais, de um saber
local emergente. Em Sergipe, que primeiro enxergou a pujança desse movimento
foi Luiz Antonio Barreto.
Em várias localidades de Sergipe
surgiam iniciativas isoladas de produção cultural, de pessoas reinterpretando o
seu dia-a-dia, através da fotografia, livros, dança, teatro, folclore, etc. A
questão era o que fazer para dinamizar essa energia, potencializá-la, criar
canais de divulgação, e por fim, conectar essas manifestações com o chamado
mundo globalizado. Como fazer? O mais prático, foi utilizar os espaços das
agonizantes Academias de Letras, improdutivas, empoeiradas, mas com
reconhecimento social e uma burocracia constituída. Então, vamos juntar esses
novos pensadores, criadores de cultura, de novas interpretações do mundo, em
Academias de Letras.
Contudo, esse foi somente um
primeiro passo. As Academias se proliferaram por vários municípios. Mas o que é
uma Academia de Letras, para que serve, quais os seus objetivos, qual o seu
papel na sociedade? Essa parte não está resolvida. No momento, existem vários
projetos de Academia em disputa, várias visões, cada uma com os seus argumentos
e suas justificativas. Consigo enxergar alguns desses projetos. Vamos lá.
1. Academia
como espaço de reconhecimento dos talentos individuais de cada localidade; um
culto aos que se expressam na linguagem escrita; espaço onde devotos de uma
cultura erudita trocam loas e autoelogios, tomam chá e declamam poesias.
Normalmente, esses imortais vivem para os seus próprios umbigos, e o
compromisso é com uma estética universal, com o belo.
2. Academia
como um prolongamento do saber oficial professado nas universidades, quase um
programa de extensão. Espaço de reunião dos que vivem para a ciência, currículos
premiados, doutores e pós doutores; mandarins do saber. Sem compromissos
especiais com as realidades locais, estudam e pesquisam o que fortalece suas
carreiras profissionais. Combate aos charlatões (os demais).
3. Academia
como espaço aberto ao popularesco, ao relativismo cultural. Reunião de todos os
que falam ou escrevem em nome da cultura popular, a única verdadeira. Independentemente
do valor (que valor?). O espaço deve abrigar todos os que cantam, dançam, rimam
e trovejam, quase sempre injustiçados. Nesta visão, todos somos talentosos e
possuímos dons artísticos, perde-se qualquer referência.
4. Academia
como espaço de construção de novas interpretações da realidade local, da
ligação do específico com o global, do popular com o erudito. Espaço de criação
de uma realidade simbólica, de fortalecimento das manifestações espontâneas dos
talentos locais, de abertura para novos saberes, novas expressões culturais;
mas, também espaço de recuperação da memória social, da recuperação do já
produzido; da retirada do limbo do esquecimento, os que vieram antes, e começaram
a construir essa civilização.
Claro, devem existir dezenas de
outras visões, outros modelos de Academia, mas essa minha reflexão não é nem
exaustiva nem conclusiva. Pretendo apenas provocar um debate com os
interessados. Hoje, 05/06/2015, a Academia Itabaianense de Letras completa o
seu quadro estatuário, com a chegada de novos membros. Sejam todos bem-vindos.
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