sexta-feira, 5 de junho de 2015

"ACADEMIAS DE LETRAS"?

“Academias de Letras”?
Antonio Samarone
Academia Itabaianese de Letras

A expansão da economia capitalista, a revolução dos meios de comunicação e dos transportes, transformaram o mundo numa Aldeia Global. Por outro lado, as tentativas de universalização da cultura, de um único modo de vida, não tiveram sucesso. Ao contrário, houve um fortalecimento e até mesmo uma valorização das culturas locais, de um saber local emergente. Em Sergipe, que primeiro enxergou a pujança desse movimento foi Luiz Antonio Barreto.
Em várias localidades de Sergipe surgiam iniciativas isoladas de produção cultural, de pessoas reinterpretando o seu dia-a-dia, através da fotografia, livros, dança, teatro, folclore, etc. A questão era o que fazer para dinamizar essa energia, potencializá-la, criar canais de divulgação, e por fim, conectar essas manifestações com o chamado mundo globalizado. Como fazer? O mais prático, foi utilizar os espaços das agonizantes Academias de Letras, improdutivas, empoeiradas, mas com reconhecimento social e uma burocracia constituída. Então, vamos juntar esses novos pensadores, criadores de cultura, de novas interpretações do mundo, em Academias de Letras.
Contudo, esse foi somente um primeiro passo. As Academias se proliferaram por vários municípios. Mas o que é uma Academia de Letras, para que serve, quais os seus objetivos, qual o seu papel na sociedade? Essa parte não está resolvida. No momento, existem vários projetos de Academia em disputa, várias visões, cada uma com os seus argumentos e suas justificativas. Consigo enxergar alguns desses projetos. Vamos lá.
1.       Academia como espaço de reconhecimento dos talentos individuais de cada localidade; um culto aos que se expressam na linguagem escrita; espaço onde devotos de uma cultura erudita trocam loas e autoelogios, tomam chá e declamam poesias. Normalmente, esses imortais vivem para os seus próprios umbigos, e o compromisso é com uma estética universal, com o belo.  
2.       Academia como um prolongamento do saber oficial professado nas universidades, quase um programa de extensão. Espaço de reunião dos que vivem para a ciência, currículos premiados, doutores e pós doutores; mandarins do saber. Sem compromissos especiais com as realidades locais, estudam e pesquisam o que fortalece suas carreiras profissionais. Combate aos charlatões (os demais).
3.       Academia como espaço aberto ao popularesco, ao relativismo cultural. Reunião de todos os que falam ou escrevem em nome da cultura popular, a única verdadeira. Independentemente do valor (que valor?). O espaço deve abrigar todos os que cantam, dançam, rimam e trovejam, quase sempre injustiçados. Nesta visão, todos somos talentosos e possuímos dons artísticos, perde-se qualquer referência.
4.       Academia como espaço de construção de novas interpretações da realidade local, da ligação do específico com o global, do popular com o erudito. Espaço de criação de uma realidade simbólica, de fortalecimento das manifestações espontâneas dos talentos locais, de abertura para novos saberes, novas expressões culturais; mas, também espaço de recuperação da memória social, da recuperação do já produzido; da retirada do limbo do esquecimento, os que vieram antes, e começaram a construir essa civilização.

Claro, devem existir dezenas de outras visões, outros modelos de Academia, mas essa minha reflexão não é nem exaustiva nem conclusiva. Pretendo apenas provocar um debate com os interessados. Hoje, 05/06/2015, a Academia Itabaianense de Letras completa o seu quadro estatuário, com a chegada de novos membros. Sejam todos bem-vindos.

Nenhum comentário:

Postar um comentário