sexta-feira, 8 de março de 2024

UM ATEU DE ALDEIA


 Um Ateu de Aldeia.
(por Antonio Samarone)

Aristeu, um velho fidalgo do Beco Novo, está arrependido. Foi um crente na dialética. Um ateu, materialista puro-sangue, virou um agnóstico, um cético. “Graças a Deus, Deus não existe.”

Marx criou um ateísmo sócio econômico: a religião é o ópio do povo.

Aristeu acreditou em Friedrich Nietzsche, quando ele anunciou a morte de Deus: "Deus não existe! O que o mundo possuía de mais sagrado, de mais poderoso, sangrou sob os nossos punhais, quem lavará de nós a mancha de sangue? Com que água havemos de nos purificar?"

Hoje, aos 70 anos, Aristeu enxerga a fragilidades do materialismo científico. Ele está fazendo o caminho de volta.

Calma, não é pelo medo da morte, cada dia mais próximo.

Não!

Aristeu deseja um reencantamento do mundo, uma volta a sacralização do que é sagrado, uma necessidade do transcendente. É a revanche de Deus!

Dos três grandes enigmas: a criação do universo, o surgimento da vida e como o cérebro criou a mente consciente, talvez, esse último, seja o mais desconhecidos. Deixar a solução nas mãos exclusivas das ciências, não parece eficaz.

Aristeu suspeita que o surgimento alma, do espírito, da mente consciente não se encaixam na evolução darwinista.

Afastar a hipótese divina é uma flagrante arrogância. Não existem evidencias.

Lembrei-me de uma passagem clássica de Fernando Pessoa: “minha alma é uma orquestra oculta; não sei que instrumentos tangem e regem, cordas e harpas, timbales e tambores, dentro de mim. Só me conheço como sinfonia.”

A razão, mesmo divinizada, não deu conta do aparecimento da mente consciente.

Nossa mente consciente rompeu as barreiras dos limites da cognição. A narrativa bíblica fundamenta a expulsão do Paraíso após a tentação do fruto proibido.

A mitologia grega nunca perdoou Prometeu, por entregar o fogo aos humanos.

Aristeu não está só, nessa retorno ao sagrado.

Antonio Samarone. (médico sanitarista)

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