sexta-feira, 20 de maio de 2022

EM BUSCA SOA SONHOS

 

Em busca dos sonhos.
(por Antonio Samarone)

Sonhei com a Revolução de Outubro e com o surrealismo. A militância política era inspirada pelas utopias e na luta pelos interesses das classes subalternas.

Herdei o DNA de Totonho de Bernardinho, meu avô. Um ferreiro sonhador, que cantava excelências na Matapuã. A sua biblioteca era lotada de Cordel, uma coleção memorável. Não sei que fim levou.

Aprendi a ler com esses Cordéis. Já cheguei na escola lendo de carreirinha e cantando. A professora pensava ser uma habilidade inata.

Totonho criava abelhas e passarinhos, plantava flores, ouvia os sapos na lagoa, plantou um pomar e deu o nome de suas filhas as jabuticabeiras. A primeira, recebeu o nome de mamãe. Bota até hoje. “Jabuticabeira Maria de Lourdes”, foi a única homenagem que mamãe recebeu em vida.”

O povo das Flechas dizia: “Totonho é doido”.
Na noite da sua morte, as abelhas saíram dos cortiços, sobrevoaram ruidosamente o seu corpo inerte e foram embora para sempre. Os cortiços ficaram vazios. Eu vi!

Ao amanhecer, o seu corpo foi levado numa rede, por homens treinados, num sacolejo harmônico e cadenciado. Na entrada da cidade o corpo passou para um ataúde cinza, seguindo até o sepultamento no Cemitério de Santo Antonio e Almas.

Não sei as razões de não sepultarem o meu avô no Cemitério do Rumo, no Pé do Veado, onde repousa parte da família.

Herdei parte do DNA do velho ferreiro. Ando em busca de novas utopias.

Antonio Samarone (médico sanitarista)

Nenhum comentário:

Postar um comentário