sábado, 14 de maio de 2022

A CURA HOMEOPÁTICA DA IMORTALIDADE

 

A cura homeopática da imortalidade.
(por Antonio Samarone)

A aceitação das ideias de Hahnemann (homeopatia) no Brasil foram facilitadas por belas histórias. Machado de Assis conta uma, em seu conto “o Imortal”
.
O protagonista da história de Machado é o homeopata Dr. Leão. O médico conta que o seu pai, Rui de Leão (Rui Garcia de Meireles e Castro Azevedo de Leão), nasceu em 1.600. Como a história é contada em 1855, o pai do doutor tinha se tornado imortal, vivido mais de duzentos anos.
O que conta o médico homeopata sobre o seu pai?

O velho Rui de Leão vivia em um convento franciscano, em Recife. Com a chegada dos holandeses, o velho fugiu sem rumo, indo parar numa tribo indígena. O velho caiu nas graças do pajé, que no leito da morte, presenteou Rui de Leão com uma garrafada, um elixir da longa vida, que conferia a imortalidade a quem a bebesse.

E porque o senhor não bebe, o velho perguntou ao índio. O Pajé acentuou, eu não bebo porque quero morrer, estou cansado, já vi muitas luas, quero descansar na terra.

O velho Rui aceitou o mimo por educação, mas sem acreditar na ciência do Xamã.
Com o tempo, o velho Rui adoeceu e, já desenganado pelos curandeiros, lembrou-se do elixir que ele tinha guardado. Não tenho mais nada a perder, vou arriscar: tomou a metade da garrafa do elixir do Pajé.
Para surpresa, o velho Rui se levantou do leito da morte e a vida já se arrastava por mais de 200 anos. O elixir teve a eficácia confirmada.
Rui aproveitou a sua longa vida, viajou muito, aprendeu vários idiomas, viu a guerra dos Palmares, a revolução francesa, a chegada da Família Real, sobreviveu a tiros e facadas, trabalhou em diversos ofícios.
Como a vida eterna cobra um preço, Rui de Leão ficou sozinho, amargurado, ao ver morrer todos os amigos, e por saber que seria assim pela eternidade. Rui de Leão começou a cobrar do filho, médico homeopata, um tratamento para a imortalidade.
A alma de meu pai chegara a um grau de profunda melancolia. Nada o contentava; nem o sabor da glória, nem o sabor do perigo, nem o do amor. Vegetava consigo; triste, impaciente, enjoado. Rui de Leão queria morrer.

Um parêntese: claro que “A Intermitência da Morte”, clássico de Saramago, não é plagio, mas que ele leu antes o conto de Machado de Assis, leu. O enredo é o mesmo.

O homeopata Dr. Leão, filho do imortal, começou a estudar um remédio para curar a imortalidade do velho Pai.

O Dr. Leão revisou a doutrina de Hahnemman em profundidade. A solução encontrava-se no princípio central da homeopatia: “Similia similibus curantur” – Semelhante cura o semelhante. O homeopata encontrou o remédio para o velho imortal.
O senhor guardou o resto do elixir do Pajé que não tomou? O velho continuava com boa memória. Guardei e sei onde está, respondeu o imortal. Então tome! O elixir que sobrou é semelhante a metade que o senhor tomou. A primeira metade lhe deu a imortalidade, a segunda metade lhe tira.

Dito e feito. O semelhante curou o semelhante, e em poucos dias o velho imortal bateu as botas.
Machado de Assis contou a história da psiquiatria no conto o “Alienista” (esse bem conhecido), e a história da homeopatia no conto “O Imortal” (menos divulgado).

Quem quiser ler o conto de Machado de Assis (está no domínio público), vai conhecer os detalhes dessa história maravilhosa da homeopatia. Quem tiver preguiça ou não gostar de ler, já ficou sabendo.

Antonio Samarone. (médico sanitarista)

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