sábado, 14 de maio de 2022

A FÁCIES DOS CANALHAS

 

A Fácies dos Canalhas.
(por Antonio Samarone)

A “fácies” é a aparência da face, levando-se em conta os fatores anatômicos, fisionômicos, emocionais, espirituais e de caráter. A “fácies” é a face modelada pela alma. Antes de Freud, os franceses acessavam ao inconsciente pelo semblante.

Usamos máscaras (fora das pandemias) para escondermos as intenções.

A musculatura da face não mente, expressa sentimentos recônditos, escondidos pela linguagem. O manhoso manifesta-se à primeira vista.

O tempo ótico das câmeras fotográficas captam expressões de pessoas desprevenidas que o olho humano não alcança. Podem revelar aspectos do caráter mesmo em pessoas dissimuladas.

A “fácies”, portal da alma, foi usado pelo médico italiano Cesare Lombroso para especulações criminais. Pela eugenia, para justificar teses racistas. Ainda usamo-la para expressar nossos preconceitos: “Não fui com a cara deste sujeito”!

Eça de Queiroz identificou o caráter do Faraó Ramesses II, pela fácies da múmia. O maior escritor da língua portuguesa afirmou convicto: “A alma modela a face como o sopro do antigo oleiro modelava o vaso fino”.

O festejado médico Nina Rodrigues viu na “fácies” de Antonio Conselheiro a loucura e o crime. Depois pediu desculpas, assumindo o erro e enxergando a santidade do grande homem.

As feições são indiscretas e reveladoras. O ódio, a inveja, a maledicência, a astúcia e a vilania de cada um são expressas na “fácies”, vistas a olho nu por um observador treinado.
Próximo à morte natural assumimos uma “fácies” cadavérica (fácies hipocrática). Não precisa consultar o médico, basta olharmo-nos no espelho. “Olhos fundos e inexpressivos, lábios finos e entreabertos, sudorese, batimento de aletas nasais, palidez cutânea e cianose labial.” Pode começar a se despedir dos amigos.

A medicina antiga valia-se da “fácies” para vários diagnósticos: o doente renal, síndrome de Cushing, hipertireoidismo, Síndrome de Down, acromegalia, lepra, Parkinson, depressão, paralisia, miastenia etc.

Na verdade, cada doença tem a sua “fácies” específica. Um médico clinicamente bem treinado faz o diagnóstico na hora que o paciente entra no consultório. A anamnese é para conhecer a história da pessoa e da doença, afastando-se pequenas dúvidas.

Concordo que a leitura da “fácies” tem uma dose de subjetividade. E o que é que não tem? Algumas vezes as avaliações nos enganam. Já tomei muita gente por canalha e depois reavalio.

Não era aquilo tudo!

Eu sabia quando o meu pai estava me repreendendo pela fácies. Ele não precisava falar.

Prestem atenção na “fácies” dos políticos, sem pressa, e descobriremos muita coisa que os discursos escondem. Observem ao vivo, olho no olho. Na TV eles estão representando, com orientação de um profissional e muita maquiagem. As fotos nem se fala, o sorriso é postiço.

Antonio Samarone (médico sanitarista).

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