O Mercado do Sofrimento.
(por Antonio Samarone)
“Eu libertei os homens da obsessão da morte, instalei neles as cegas esperanças...” Prometeu.
O neoliberalismo elevou ao extremo a produtividade e o lucro do Capital, internalizando nos trabalhadores a obsessão pelo desempenho. O conto do empreendedorismo transforma cada um em empresário de si próprio.
Com a redução estrutural dos empregos, a auto exploração é o que sobra como sobrevivência.
O insucesso é assumido como uma derrota pessoal e é psicologizado, transformando-se em sofrimento mental: “se não deu certo, a culpa é minha, que não tive a dedicação necessária.”
A estrutura social injusta não é mais responsabilizada. No máximo se busca ajuda no coaching.
A auto exploração é ilimitada.
O neoliberalismo exige o tempo e a dedicação integral de cada trabalhador, travestido de auto empresário. Se avança no tempo do sono, do descanso, do lazer e do entretenimento.
A última barreira à exploração capitalista é o sofrimento, o esgotamento mental e o Burnout.
Quem fracassa responsabiliza a si próprio. A injustiça social é psicologizada, transformando-se em depressão, ansiedade e Burnout. O suicídio, torna-se a revolta extrema.
A explosão epidêmica do sofrimento mental neste começo do século XXI, nomeado pela psiquiatria como transtornos mentais, decorrentes do desequilíbrio dos neurotransmissores, reflete na verdade, o avanço impiedoso do Neoliberalismo como modelo hegemônico de produção.
A psiquiatria de mercado oculta essa realidade fragmentando o psiquismo, esquartejando o mal-estar e o sofrimento mental em sintomas quantificáveis.
A psiquiatria precisou abandonar as grandes escolas (Freud, Kraepelin, Jung, Lacan, Jaspers), para abraçar a abordagem pragmática, ateórica, da psiquiatria americana.
A singularidade e as raízes do sofrimento humano são falseados pelo doping generalizado, com a prescrição de drogas farmacêuticas psicoativas, geradoras de dependência.
A psiquiatria de mercado abraçou a poli farmácia. “Uma droga para cada sintoma”.
Os medicamentos psicoativos se tornaram os mais consumidos. A indústria Farmacêutica explora o mercado do sofrimento.
O sofrimento humano é a última fronteira do Capital.
Antonio Samarone (médico sanitarista)
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