Gente Sergipana – Dr. Edson Brasil
(por Antonio Samarone)
A pretexto de comemorar o centenário de nascimento do Dr. Edson de Farias Brasil, a intelectual Ana Maria Fonseca Medina, produziu um texto delicioso.
Valendo-se dos aconchegos biográficos do casal Edson Farias Brasil e Yara Maria Freire da Fonseca Brasil, o livro de Ana Medina traça, com sensibilidade e erudição, cenas da vida privada em Sergipe, na primeira metade do século XX.
A descrição do nascimento de Edson Brasil (17/07/1920), no Engenho Cajá, na Vila do Espírito Santo (Indiaroba) é primoroso.
Seu Geminiano, o pai, comandou o ritual para o enterramento do cordão umbilical do menino, defronte à cancela do engenho, com toda a cantoria sacra de práxis. Era prenuncio de um bom destino.
Ana Medina conta os detalhes do resguardo de Dona Marocas, a mãe de Edson Brasil. O resguardo, que a medicina chama de puerpério, era de 40 dias fechados.
Os mesmos 40 dias da quarentena. O dilúvio foram 40 dias de chuva, Jesus é atentado pelo Satanás por 40 dias. Quarenta é um símbolo do ciclo da vida. Jesus ressuscitou 40 horas após o sepultamento.
Durante o resguardo, a parturiente mantinha uma garrafa de água inglesa ao pé da cama e era alimentada com suculentos pirões de galinha, para estimular a produção de leite.
Descreve Ana Medina:
“Nos lanches, merendas, como se dizia antigamente, eram oferecidas uma gemada com pouco café, alguns pingos do vinho do Porto e sequilhos feitos em casa. Nos lares de pessoas mais humildes era servida a meladinha. No caso da família Brasil eram servidos os licores de leite, abacaxi, caju, preparados em casa e guardados em licoreiras de cristal.
Edson Brasil se batizou com uma semana de nascido. Era comum nas famílias católicas, com medo do mal de sete dias, que lavava grande número de anjos. O mal de sete dias era o tétano do cordão umbilical, importante causa de morte.
Edson Brasil se criou no Engenho Cajá, com tudo que as crianças que viveram na zona rural daquele tempo tinham direito. Como acontece, depois Seu Geminiano veio morar em Aracaju, para facilitar o estudo dos filhos.
Os detalhes da vida rural e os seus folguedos estão no livro.
Para encurtar a história, Edson Brasil formou-se na Faculdade de Medicina de Recife. Concluiu o curso em 15 de dezembro de 1945.
Retornou à Aracaju para exercer a oftalmologia. Montou consultório no primeiro Centro Médico Odontológico de Aracaju, na Rua do Barão, onde depois passou a funcionar a Passarela.
O livro de Ana Medina descreve o luxo e o esplendor do comércio da Rua do Barão (atual João Pessoa). Uma página dedicada as memórias do Aracaju.
Outra boa passagem do livro trata da beleza das antigas procissões do Bom Jesus, no leito do Rio Sergipe.
Edson Brasil foi um médico da era humanista, como era comum naquele tempo.
Edson Brasil se casou em 08 de fevereiro de 1948, com uma baronesa de Boquim, Yara Maria Fonseca, afilhada do poeta Hermes Fontes. Ana Medina ao descrever os detalhes da cerimônia de casamento, produziu uma peça literária. Não vou citar trechos para atiçar a curiosidade de vocês.
O casamento ocorreu em Boquim e foi celebrado pelo padre Luciano Duarte.
Dona Yara possuía todas as prendas das moças bem-nascidas daquele tempo. Yara Foi interna do famoso Colégio Nossa Senhora de Lourdes, das irmãs Sacramentinas, habituada a iniciar as aulas cantando “Ave Maria”, em francês.
O livro de Ana Medina registra ainda uma troca de cartas do período de namoro ente Edson e Yara, reveladora dos modos e costumes da época.
O médico Edson Brasil faleceu em 28 de setembro de 1993 e Dona Yara pouco tempo depois, em 13 de dezembro do mesmo ano.
O livro de Ana Medina é um tratado da vida privada sergipana, nos idos do século passado. Profundo e bem escrito.
Antonio Samarone (médico sanitarista)
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