O que Conta é o Tempo que resta.
(por Antonio Samarone)
Lorotando pelo telefone, um velho amigo me provocou: “sinceramente, você espera mais dez anos de vida?” Eu pensei, dez é pouco, mas fecho um acordo por vinte. Contrato passado em cartório. No dia, entrego-me no cadafalso, sem reclamar.
É claro, não é um acordo com Mefistófeles, eu não eu pedindo nenhuma regalia, nem ofereço nada em troca. Assumo plenamente a velhice e as suas mazelas, sem muitas queixas.
A discussão é só do prazo!
Contrato assinado, no dia previsto já acordarei em decúbito dorsal, supina, pronto para o golpe fatal e o devido sepultamento. Se facilitar, já durmo amortalhado.
Imponho uma cláusula: só aceito morrer em casa, cercado de convidados. Nada de UTI.
Antes do prazo, quero dizer “umas boas”, aos mal-assombrados! À canalhice que está vencendo o jogo, no Brasil.
Com o acordo assinado, poria fim as concessões. Como diz o refrão dos Gaviões da Fiel: “É sangue no olho, é tapa na orelha, é o jogo da vida.”
Exercerei sem remorsos a suprema virtude da implicância, sem o mau humor da ranzinzice.
Meu amigo retrucou: “com essas condições não terá acordo, se conforme. E sentenciou: você continuará sujeito aos caprichos de Thánatos!”
Já me conformei. Aguardo a surpresa!
Venci na vida, mesmo derrotado na maioria das batalhas.
Concordo com Darcy Ribeiro: “Meus fracassos foram as minhas vitórias. Eu detestaria estar no lugar de quem me venceu”.
Antonio Samarone (médico sanitarista)
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