Jorge Carvalho do Nascimento.
(por Antonio Samarone)
Joel Silveira contava que deu o seu livro de poesias para Graciliano Ramos avaliar. O escritor alagoano demorou a responder. Impaciente, Joel o procurou: E aí, Graça, o que você achou do meu livro? Depois de um longo silencio, Graciliano pegou o livro de Joel e rasgou em pedacinhos. Não disse uma palavra. Uma crítica literária arrasadora!
Joel Silveira abrandou a sua veia poética.
Jorge Carvalho, pelo contrário, não pediu a ninguém para ler “Julho”, a sua novela, e todos a leram e se desmancharam em elogios.
Um amigo comum me perguntou: “e Jorge virou romancista depois de velho?” Eu respondi de pronto: qual é o problema, o grande Pedro Nava publicou o seu primeiro romance (Baú de Ossos) aos 70 anos.
Eu sou acanhado para elogiar os amigos, mas, nesse caso, o meu silencio seria injusto.
Existem muitos livros interessantes, agradáveis ou úteis, mas existem poucos livros sábios. A novela de Jorge Carvalho é cheia de sabedoria. Chega a contestar, com razão, um diagnóstico de esquizofrenia.
A novela de Jorge Faz um passeio pela história da psiquiatria no Hospício Adauto Botelho.
Estou caracterizando o livro de Jorge literariamente como “novela”, repetindo o que ouvir dos sabidos. Se me perguntarem o “por quê” é uma novela e não um romance, um conto, um ensaio, uma fábula, uma epopeia ou uma crônica.
Eu não sei!
Livros, filmes, músicas, obras de arte e outras coisas, Eu apenas gosto ou desgosto. Não sou versado nos critérios objetivos. Tem coisas que eu não gosto por cisma.
O livro de Jorge, eu gostei.
Não vou mentir e dizer que li numa sentada, como alguns tarados afirmaram. Li aos poucos, ando sem tempo, estou plantando “Capim Guiné”, imitando Raul Seixas.
Jorge Carvalho concluiu a sua primeira novela (Julho) com uma verdade universal incontestável: “A morte continua à espreita...”
Uma verdade acentuada pela Pandemia. Em “tempos de Cólera”, a morte está sempre em prontidão, à espreita de todos!
Palmas, para a estreia literária de Jorge Carvalho.
Antonio Samarone (médico sanitarista)
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