sábado, 27 de abril de 2019

GENTE SERGIPANA - PROFESSORA HELENA MENESES


Gente Sergipana – Professora Helena Meneses (89 anos).

Dona Helena, filha de Dona Branquinha e Seu Zé Goioiô. Minha professora do primário, no Educandário Santa Terezinha, no Beco Novo.

Dona Helena era uma educadora austera, com a palmatória sempre à vista. Nos ditados, a gente tinha que perceber, pelo tom de voz e respiração da professora, se era ponto, dois pontos, exclamação, interjeição ou vírgula. E até ponto e vírgula.

Foi na escola de Dona Helena que aprendi a tabuada. Oito vezes nove, e nove vezes sete, foram os últimos que decorrei. E isso, cantado. Aos sábados, aula extra, era a temida sabatina. Errou, a palmatória cantava. Apesar de um excesso de rudeza, Dona Helena foi uma boa professora. Disciplinadora, só passava quem apreendia.

Na escola de dona Helena não tinha latrina. As necessidades eram feitas no quintal, num mata-pasto. Para evitar que saísse ao mesmo tempo um menino e uma menina, existia uma pedra na mesa dela. Quem saía levava a pedra. O curioso é que a gente chamava a pedra de licença. Professora cadê a licença? Se não está aqui é porque alguém está fazendo as necessidades, espere, respondia ela.

Quase que diariamente chegava uma mãe pedindo para Dona Helena liberar os alunos para acompanharem um enterro de anjo. Poucos meninos escapavam da mortalidade infantil. Só lá em casa foram três, dois do mal de sete dias.

Dona Helena morreu só, num abrigo em Itabaiana. Tentei visitá-la, mas não deu certo. Ao avistar-me, ela baixou a cabeça. Achei que ela ficou constrangida, e recuei. Fiquei de longe, pensando na dureza da vida.

Dona Helena de Branquinha, como era conhecida, foi uma católica praticante, fervorosa. Filha de Maria. Puxava os cantos das missas e organizava as procissões. Não merecia a solidão que teve na velhice. Morreu moça, nunca casou.

Cada um cumpre a sua sina. Foi a senhora que me ensinou a tabuada. Em reconhecimento estou indo ao seu sepultamento, no Cemitério de Santo Antônio e Almas, em Itabaiana.
Descanse em Paz!

Antônio Samarone. 

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