terça-feira, 8 de outubro de 2013

Hospital Senhor do Bonfim (Laranjeiras).





Antonio Samarone
Academia Sergipana de Medicina


No setor da assistência hospitalar na Província de Sergipe, até 1850, tivemos o Hospital Senhor do Bonfim, em Laranjeiras. Sem nenhum patrimônio e sob um compromisso aprovado pelo Presidente da Província, foi criada em 1836 uma Instituição de Caridade, com o objetivo de instalar um hospital em Laranjeiras. Os Drs. José Cândido de Faria (primeiro diretor) e Francisco Alberto Bragança (Pai de Antonio Militão de Bragança) participaram da sua fundação. Após longos esforços, finalmente, em 29 de junho de 1840, no Governo do Coronel Wenceslau de Oliveira Belo, o “Hospital Senhor do Bonfim” será inaugurado. O hospital era administrado pela Irmandade do Senhor Bom Jesus do Bonfim.

A questão central para o funcionamento desse hospital era a mesma do Hospital São Mateus (o Hospital de Caridade de São Cristóvão), a falta de financiamento. Os legados e subvenções eram quase inexistentes e o que se arrecadava de esmola era muito pouco. É certo que a lei n.º 28, de 11 de março de 1839, no Governo do Presidente Joaquim José Pacheco, concedia o privilégio de exploração de loterias ao Hospital Senhor do Bonfim, mas àquela altura o instrumento das loterias andava bastante desgastado, e era muito difícil arrecadar-se alguma coisa por esse meio. Restava ao hospital à contribuição marítima do porto de Aracaju, em torno de 800$000 réis, que na prática, era a única efetiva.

Em 1847, O Presidente da Província, José Ferreira Souto, solicitou recursos à Assembléia Provincial para comprar uma nova casa para funcionamento dessa instituição, alegando completa falta de condições da existente:

“A que ora serve não pode por todos os motivos continuar. É pequena, baixa, quente, e a mais insalubre possível. Os doentes estão confundidos, e tudo ali é tão miserável, que só na última necessidade se poderá procurar aquele asilo.”[1]

De fato, as condições de funcionamento do Hospital Senhor do Bonfim, em Laranjeiras, não eram das melhores. O hospital funcionava em uma casa alugada, que possuía apenas 18 palmos de altura e 30 de largura em sua frente, era dividida em três salas e duas enfermarias, onde estavam instaladas de 16 camas, com um mínimo espaço de separação. A mortalidade atingia cerca de 50% dos internados. Em 1848, foram abrigados neste hospital 27 doentes, dos quais 13 faleceram, 09 receberam alta e 05 permaneceram internados até o ano seguinte. O Presidente Salvador Correia de Sá e Benevides, em seu relatório de julho de 1856, assim descreve a citada instituição:

“Existe esse pio estabelecimento em um edifício sumamente acanhado e sem nenhuma das condições exigidas para casas dessa ordem.” “A caridade particular pouco sustenta os pobres enfermos, e são tão diminutos, tão precários esses recursos, que apenas um limitadíssimo número de camas pode manter essa santa instituição.”

Esse hospital deixou de funcionar em 11 de junho de 1859[2]. Os senhores Ângelo Custódio Polliciano, José Joaquim Fernandes Sampaio e Eugênio José de Lima assinam o documento que assinala o fechamento do Hospital, com as seguintes justificativas:

“Pobre, sem patrimônio, reduzido à subvenção marítima da barra, a qual produz 1:200$000, quando as despesas orçam 3:600$000, não podia mesmo o hospital funcionar.”[3]

A situação da assistência hospitalar na primeira metade do século XIX na Província de Sergipe estava limitada a essas duas instituições de caridade e uma enfermaria militar. “Há somente dois asilos de enfermos, o São Mateus, nesta cidade, e o do Senhor do Bonfim na Vila de Laranjeiras”[4]. Eram casas voltadas para o amparo dos necessitados, para que não morressem à míngua. Ainda não tinham incorporado as mudanças já em andamento no Mundo Desenvolvido, que transformaria os hospitais em uma instituição voltada para a cura das doenças.


[1] Fala do Presidente da Província, José Ferreira Souto, à Assembléia Provincial, em 03 de maio de 1847.
[2] Relatório do Provedor de Saúde Pública, Dr. Francisco Sabino Coelho Sampaio, ao Presidente da Província, Dr. Manoel da Cunha Galvão, em 22 de fevereiro de 1860.
[3] OLIVEIRA, Philadelfo. História de Laranjeiras.
[4] Fala com que o Presidente da Província, Dr. Anselmo Francisco Pereti, abriu a 2a sessão, da 6a Legislatura da Assembléia Provincial, em 21 de abril de 1843.

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