quarta-feira, 26 de dezembro de 2018

O VENENO ESTÁ NA MESA


O veneno está na mesa... (por Antonio Samarone)
O agronegócio está centrado na grande propriedade, e na tríade tecnológica: agrotóxico, sementes transgênicas e fertilizantes químicos. Na safra de 2015/2016, esse setor pulverizou sobre as suas lavouras no Brasil, através de máquinas costais, tratores ou aviões, um bilhão de litros de agrotóxico.
Os agrotóxicos são produtos químicos ou biológicos tóxicos usados para eliminar as “pragas” da lavoura. (ervas daninhas, insetos, fungos, nematoides, ectoparasitas, infestação de ratos, etc.).
Os agrotóxicos químicos mais usados no Brasil são os organofosforados, carbamatos, piretróides, fenoxiacéticos, dipiridilos, dinitrofenóis, glicina substituída e neonicotinóides.
No fundo, a praga é o próprio veneno.
Somente 1% do veneno pulverizado por aviões atingem o alvo; 99% vão contaminar o solo, as águas e o ar. Os venenos agrícolas são residuais. Os organoclorados foram proibidos em 2013, e ainda se encontra resíduos no meio ambiente, nos alimentos, no sangue, nas gorduras e no leite materno humano.
A intoxicação pode ocorrer no trabalho, no meio ambiente e nos alimentos. Deu para entender porque o veneno está em nossa mesa?
Cerca de 130 empresas fabricam agrotóxico no Brasil. Em 2010, essas empresas tiveram um faturamento líquido de 15 bilhões de reais. Dessas empresas, apenas seis, Monsanto, Syngenta, Dow, Dupont, Bayer e Basf, controlam 68% das vendas, constituindo-se num oligopólio.
Existem comprovações científicas que os venenos agrícolas podem causar câncer, malformações fetais, doenças neurológicas e imunológicas, disfunções hormonais e transtornos mentais. Essas doenças têm aumentado, em especial nas regiões de largo uso dos agrotóxicos.
Os Ministério da Saúde, Agricultura e Meio Ambiente não possuem qualquer registro da relação agrotóxico doenças crônicas. Os médicos não costumam perguntar pela ocupação dos seus pacientes, muito menos sobre a qualidade da alimentação. Apareceu o câncer, vamos começar a quimioterapia.
O agronegócio está centrado na tríade tecnológica: agrotóxico, sementes transgênicas e fertilizantes químicos. Na safra de 2015/2016, esse setor pulverizou sobre as suas lavouras, através de máquinas costais, tratores ou aviões, um bilhão de litros de agrotóxico.
Os agrotóxicos contaminam os trabalhadores que manipulam, os solos, as águas, o ar, a chuva e os alimentos. Trata-se de um exemplo clássico de que quando existe conflito entre os interesses econômicos e saúde da população, a saúde é ignorada.
Segundo o Instituto Nacional do Câncer (INCA), os agrotóxicos utilizados na produção da maioria dos alimentos no Brasil causam danos ao meio ambiente e à saúde do produtor rural e do consumidor. Sempre que possível, dê preferência aos alimentos agroecológicos ou orgânicos.
O Brasil é o maior consumidor de agrotóxico no mundo.
Antonio Samarone.

segunda-feira, 17 de dezembro de 2018

O PITO DE PANGO, E A SUA HISTÓRIA.



O pito do pango, e a sua história. (Por Antônio Samarone).

Como legalizar a maconha virou moda no mundo civilizado, e até a Marlboro já está pensando em produzir o cigarro do demônio, eu resolvi contar o que sei, por ouvi dizer, sobre a Cannabis sativa em Itabaiana. Os benefícios medicinais da maconha são incontestáveis.

Tendo como motivação, que os dois primeiros trabalhos sobre a maconha no Brasil, foram escritos por médicos sergipanos: “Os fumadores de maconha: efeitos e males do vício”, trabalho de Rodrigues Dória, apresentado em 27/12/1915, no II Congresso Científico Pan-americano, em Washington; e o “Aspectos do maconhismo em Sergipe”, escrito por Garcia Moreno, em 1949.

As sumidades floridas do fumo d’Angola são usadas em Itabaiana desde os tempos imemoriais. A Cannabis sativa – maconha, cânhamo, pito do pango, liamba, diamba, riamba, marijuana, rafi, fininho, baseado, morão, erva maldita, cheio, fumo brabo, gongo, malva, fêmea, maricas e ópio de pobre, já foi de largo uso em Sergipe.

Apressadamente, se conta que a maconha em Itabaiana foi trazida por dois jogadores de futebol, vindo do Rio de Janeiro; outros mais antigos, acham que foram os filhos de um de manda chuva do Beco Novo, quem trouxe a novidade. Eu procurei saber, e a prática vem de longe.

Eu conheci em Itabaiana um mameluco, pele bronzeada e cabelos lisos, que morava às margens leste do Açude Velho. Um senhor paneleiro, pai de santo, dono de um terreiro de “candomblé de caboclo”, onde os rituais da jurema eram realizados. Foi lá que eu soube da maconha. Na Itabaiana daquele tempo, Hosono era considerado um macumbeiro. Na verdade, era mais um pajé!

Nas festas de São Cosme e Damião, a molecada do Beco Novo descia pela estrada do Batula, passava-se por um cemitério de anjos, para se chegar ao terreiro de Hosono; andando mais um pouco, em direção ao lagamar, chegava-se ao terreiro de João de Filipinho. No pé da serra, ficava o terreiro de Cidália. Era o nosso vale do amanhecer. A reduzida “classe ´media”, os brancos bem-nascidos, iam escondidos. A casa de João de Filipinho só andava cheia. Se existiam outros terreiros em Itabaiana na década de 1960, eu não me lembro.

Hosono era uma figura espiritualmente forte, enigmática, misteriosa, que causava medo e assombração a meninada. Eu me pelava. Não tinha coragem de ir sozinho aos terreiros. Só ia em grupo, dias de festas, e eu ficava de fora, longe... A minha turma do Beco Novo era destemida: liderada por Val de Euclides Barraca.

Ouvi dizer que nos terreiros usava-se o pito de pango, ritualisticamente, em dias especiais e raros. Uma tradição deixada pelos escravos. Basicamente as inflorescências femininas. A colheita se fazia na maturidade da planta. As inflorescências femininas, com algumas folhas e a palha eram dessecadas à sombra, expostas a correntes de ar. Depois de algumas noites, de preferência com lua cheia, a liamba ficava ao relento para receber o sereno da madruga, para ficarem curtidas ou sofrerem fermentação. Ao final, estavam prontas para o uso.

A maconha era bebida (fumada), coletivamente, num grande cachimbo de fornilho de barro enegrecido, com a fumaça da jurema verde. Fumava-se e cantava-se loas. O cabo ou haste do cachimbo era um canudo de pita, caule fistuloso de uma planta chamada canudeiro (Carpotroche brasiliensis Endl); enfeitado com anéis e riscos feitos com a pirogravura. Os mais avexados, faziam o baseado com palha seca de milho. Se dizia no Beco Novo que Hosono possuía um “marica de cabaça”, todo enfeitado, mas eu nunca vi.

Na feira de Itabaiana, na banca de Dona Anita, onde se vendia de tudo, de anil a mucunã; podia-se encontrar esses canudos de cachimbo, de todos os tamanhos e acabamentos. Era tido como um comercio de gente muito pobre. João Francisco, meu tio, repetia um aforismo: “Eu prefiro vender canudo de cachimbo na feira, do que ser empregado”. Esse era o espírito empreendedor dos itabaianenses.

Antonio Samarone.   

sexta-feira, 14 de dezembro de 2018

VAMOS EMPURRAR COM A BARRIGA...



Vamos empurrar com a barriga... (Por Antonio Samarone)

Encontrei um velho cacique da política sergipana, na festa de lançamento da biografia de Wellington Mangueira. Sem assunto, perguntei-lhe por formalidade: o que o senhor espera do futuro governo de Belivaldo? Ele foi sucinto: o estado está falido, vamos continuar empurrando com a barriga. Fiquei com isso na cabeça...

Os indicadores socioeconômicos são evidentes: Sergipe caiu no atoleiro. Perdemos o rumo nos últimos dez anos. Vivemos de improvisos. Nenhum diagnóstico consistente, nem um projeto, nenhuma ideia. Qual o nosso destino econômico, qual a nossa vocação desenvolvimentista?

Apostar que a nossa saída é produção de energia suja, poluidora, não sustentável, é apostar no atraso. Receber empreendimentos rejeitados, não é a solução. O mundo anda em outra direção.

A chegada da Petrobrás na década de 1960, e de outras estatais dos minérios, impulsionaram o desenvolvimento de Sergipe por 40 anos. Aracaju cresceu junto. Essa fase acabou, é só prestar a atenção ao que diz Paulo Guedes, futuro super ministro de Bolsonaro.

Estamos saindo de uma disputa política onde nenhum candidato apresentou propostas consistentes para o desenvolvimento de Sergipe. Existe um deserto de ideias, reina a indigência intelectual. Só generalidades, frases feitas, lugares comuns, marketing e lorotas. Só falta alguém dizer que o mercado resolve, e que o estado, o poder público perdeu o protagonismo.

Eu até concordo que o estado está falido. Sergipe é um bom exemplo, de que o estado perdeu a condição de investidor. Mas continua com o papel dirigente, de prover a infraestrutura, de cuidar do ensino, de apontar caminhos. Sem um rumo, sem a uma definição de prioridades, objetivos e metas, para onde vamos? Precisamos de estadistas, que pensem no futuro. O estado virou uma máquina voltada para a manutenção no poder dos seus ocupantes.

A sucessão de 2022 em Sergipe, já começou. O debate já é público. Mas é um debate pessoal: fulano é forte, beltrano também. Claro, as pretensões são legítimas, mas insuficientes. Sergipe precisa que os pleiteantes apresentem propostas, projetos de desenvolvimento para o estado. Informar a sociedade por que pretendem governar o estado.

O curioso é que o novo mandato de Belivaldo ainda nem começou, mas já é visto como cumprido. Nos próximos 4 anos basta que Belivaldo cumpra a tabela, deixe o tempo passar. Faça o feijão com arroz. Se conseguir pagar os vencimentos dos funcionários já está bom. A sociedade perdeu a esperança, ninguém cobra nada. A única questão que importa é, se ele será ou não candidato ao Senado, e se a vice assumindo, será ou não candidata ao governo. Os mais realistas já se conformaram: Sergipe não tem mais jeito!

Vamos continuar empurrando com a barriga?

Antonio Samarone.

quarta-feira, 12 de dezembro de 2018

Memento, homo, quia pulvis es et in pulverem reverteris...



Memento, homo, quia pulvis es et in pulverem reverteris...

Siddhartha Mukherjee, autor de “uma biografia do câncer, chamou a doença de “Imperador de todos os males”. E acertou! O câncer não é uma, são várias doenças, que tem em comum a multiplicação descontrolada das células. No fundo, é uma doença do DNA, do programa genético.

Indiferente ao brilho da medicina, o câncer avança sobre a humanidade. Segundo a OMS, o câncer é a segunda principal causa de morte no mundo e é responsável por 9,6 milhões de mortes em 2018. A nível global, uma em cada seis mortes são relacionadas à doença. Em breve será a primeira.

O câncer do discurso médico, chamado eufemisticamente de neoplasia, não é o mesmo sentido pelos pacientes, por quem sofre com a doença. Culturalmente, em nosso meio, nem o nome da doença deve ser pronunciado, no máximo sussurrado. Quando se vai dar a notícia, “fulano está com câncer”, baixa-se o tom da voz, muda-se a expressão facial, e o fato toma ares de uma condenação.

O nome da doença é usado como xingamento: fio do canso, canceroso. Da mesma forma que se usava peste, bexiga "cabrunco", gota serena no tempo das doenças pestilenciais. O câncer é visto como um anuncio de sofrimento e morte. A medicina, pelo menos, pode aliviar a dor e parte do sofrimento físico. O que não é pouca coisa.

Só que o câncer não é apenas sofrimento físico. Em nossa sociedade a morte é negada, escondida, vista como uma derrota, evento para o qual, poucos estão preparados. Mas sempre resta uma esperança, cada um vislumbra a possibilidade do seu adiamento. A presença da morte causa grande impacto nas crenças e valores. Uns depositam a esperança na ciência médica, outros nos poderes de Deus, em milagres, macumbas, força espiritual, fé, vontade de viver, ou em tudo junto e misturado. Morrer com dignidade é uma provação.

As terapias médicas, em alguns casos, têm eficácia; em outros prolongam a sobrevida. Se sabe até que a metade dos canceres são preveníveis, poderiam ter sido evitados; mas não é disso que estou falando. Por outro lado, quase como um contrassenso, a mortalidade por câncer avança no mundo. A minha fala é sobre o estigma da doença, e as suas consequências emocionais, religiosas, psicológicas, sociais, comportamentais, afetivas e familiares.

Quando menino, acompanhei a morte por câncer de uma parente, na Praça de Santa Cruz, em Itabaiana. Ainda se morria em casa. Lembro-me das interdições (nunca me deixaram vê-la); do sofrimento, dos gritos de dor, da comoção dos próximos. E do dia em que descansou.

Minha mãe contava uma narrativa tenebrosa da doença: o câncer é um monstro de muitas pernas, um tipo de caranguejo, que invade, penetra, e come as carnes das pessoas. Não se consegue arrancar. É necessário se colocar 3 kg de carne por semana, para aplacar a fome do bicho. Meio sem entender, eu acreditei em tudo...

O câncer tem os seus segredos. É uma doença nossa, intima, que não se pega e não se transmite. O que mais comove é que o nosso organismo resolveu trabalhar contra a gente. Muitas vezes de repente, de uma hora para outra, sem emitir sinais de descontentamento.

Se morre de todo jeito, sem chances, mas a morte por câncer é singular. Ela nos dar um tempo, permite um balanço da vida, reconciliações e arrependimentos. Tem certa semelhança com o sofrimento bíblico de Jó. A morte por câncer expõe a miséria da condição humana.

Antonio Samarone.

segunda-feira, 10 de dezembro de 2018

O PERIGO VERMELHO RONDA ITABAIANA



O perigo vermelho ronda Itabaiana. 

No dia santo, da imaculada Conceição, fui a Itabaiana. Ser querer, encontrei com Araponga, um filosofo da província, que levou a vida no anonimato. Poucos sabem, sobre a sua erudição. Foi ele que, há muitos anos, me falou detalhadamente sobre o pensamento de Descarte. Ele citava o “cogito ergo sum”, sempre em latim, e aquilo me impressionava.

Araponga anda assustado! Me revelou que um grupo direitista, clandestinamente, criou em Itabaiana o Movimento Olavo de Carvalho (MOC). O grupo pretende entrar em contato com Steve Bannon, para transformar o MOC numa “think tank”. Enquanto isso não acontece, o MOC iniciou o jogo sujo. 

O MOC começou a ameaçar os subversivos (ou supostos): deixe o Capitão assumir, que os comunistas serão varridos de Itabaiana, e você é um deles. Araponga não se conforma, não aceita ser chamado de comunista! Quando jovem, ele até tentou organizar uma centúria poética em Itabaiana, inspirado no realismo português de Eça de Queiroz. Araponga também não nega a sua admiração por Antero de Quental. Mas comunista, é demais...

Araponga nunca se meteu em política, muito menos com o comunismo. Até que em Itabaiana existiam alguns comunas, discretos, reservados, pois nunca foi fácil ser marxista no interior de Sergipe. Mas já morreram quase todos.

Segundo um intelectual itabaianense, afamado na Universidade de Pernambuco, os comunistas de Itabaiana não perdiam uma trezena de Santo Antonio, e uma meia dúzia era da Irmandade das Almas, saiam nas procissões com o secular colete verde, sob o comando de Zé Bigodinho.

Agora, me apareceu esse MOC querendo caçar comunistas em Itabaiana. Eles não descansam, enquanto não identificarem todos os inimigos. Não está fácil encontrar comunistas nem na Rússia, imagine em Itabaiana.

Araponga filosofou: se governa com “panem et circenses”, mas quando não se consegue, oferecer o sangue dos inimigos (reais ou imaginários) serve de consolo. Em Itabaiana, Araponga acha que ele foi o primeiro escolhido. Ele não pode negar a sua admiração por Antero de Quental, nem que segue as suas ideias, e adora os seus livros. Certa feita, foi à Portugal só para visitar o túmulo de Antero.

Araponga possui uma tela portuguesa (cópia), do famoso duelo de espada entre Antero de Quental e Ramalho Ortigão, e nunca negou sua imensa simpatia pelo primeiro. 

Ele não sabe como descobriram a sua ligação com Antero de Quental. Araponga é antigo, nunca usou as redes sociais, nem sabe; não anda de conversinha nas esquinas, nem o seu nome ele divulga; não gosta de aparecer. Poucos conhecem a sua filiação à maçonaria. Ele já pensa em usar essa condição em sua defesa: não existem comunistas na maçonaria.

Estou num beco sem saída, desabafou Araponga! O MOC entende a minha simpatia por Antero de Quental como uma prova inabalável da adesão ao credo vermelho. A perseguição está sendo feroz! Achei aquela conversa sem pé nem cabeça, e retruquei: não é possível, você deve estar vendo fantasmas, delirando. 

Araponga se aborreceu com a minha descrença, e bradou: os filisteus vão tomar conta do mundo, como dizia Antero de Quental. Com medo que eu não soubesse quem eram os filisteus, ele abriu um parêntese: os filisteus eram um povo inculto, que só possuíam interesses materiais, vulgares e convencionais.

Para encurtar a conversa, mesmo eu desconfiando da existência ou não desse MOC, aconselhei que ele botasse as barbas de molho, mas que não deixasse de pregar as ideias subversivas de Antero de Quental, em Itabaiana. E enceramos a conversa.

Antonio de Samarone.

sexta-feira, 7 de dezembro de 2018

GENTE SERGIPANA



Gente Sergipana. (por Antônio Samarone)

Antônio Santana Meneses, nasceu em Itabaiana, em 05 de agosto de 1944. Filho de Florival de Oliveira Menezes (Florival de Dario) e Dona Valdelina de Santana. O pai era comerciário, empregado do armazém de Manoel Teles (chefe político em Itabaiana). Seu Florival morreu cedo, deixando Antônio Santana com nove anos. Santana tem 4 irmãos: Zé Torneiro, João, Maria e Nivalda.

A vida ficou difícil para Antônio Santana, com a morte do pai. Como todo menino pobre daquele tempo, pegou carrego na feira, vendeu água em moringa, e aos dez anos, a mãe resolveu que estava na hora dele aprender um ofício. Empregou o menino na Alfaiataria de Zé Crispim (cortar ponta de linha, pregar botão, ascender o ferro em brasa). Sempre tinha o que fazer. Zé Crispim comprou uma loja de tecido, e o balconista foi Santana, aos 11 anos.

O trabalho educou e disciplinou o menino. Não o impediu de jogar bola na Praça da Feira, nem de frequentar e se sair bem na escola. Os tempos eram outros.

Antônio Santana nunca descuidou da escola. O primário começou na escola de Maria Branquinha e depois no Grupo Escolar Guilhermino Bezerra. O ginásio ele fez no grande Murilo Braga, com excelentes professores e muita organização. As escolas publicas funcionavam muito bem. Só iam para as escolas particulares os alunos que não queriam nada. Eram escolas “papai pagou, filhinho passou”.

A dificuldade apareceu para estudar o científico, em Itabaiana não tinha. E agora, como vir para Aracaju sem ter onde ficar, sem tem como se manter. Zé Crispim vendo aquilo, resolveu ajuda-lo. Fez contato com Valtênio Meneses, dono das lojas de tecidos Maracanã, e conseguiu um emprego para Santana. Em 1960, Antônio Santana se mudou para Aracaju.

Trabalhando, pode estudar o científico, à noite, no Colégio Atheneu Sergipense, onde estudava o rico e o pobre. Foi morar numa vila de quartos, na rua Japaratuba. Santana se destacou nos estudos. No 3º ano científico, Seu Valtênio Menezes, vendo o esforço do menino, fez uma concessão: - “você só precisa vir trabalhar depois do almoço, pela manhã fique em casa para estudar”. Foi o suficiente! Em 1963, Antônio Santana passou no concorrido vestibular de medicina da UFS, o único pobre da turma. Só passaram 11 alunos naquele ano.

Naquele tempo eram poucos os filhos de Itabaiana que se formavam. Em medicina tivemos o filho de Manoel Teles, Dr. Airton Mendonça Teles; e agora teríamos o filho de um balconista do armazém de Manoel Teles; Antônio Santana, o primeiro Itabaianense a forma-se em medicina pela UFS.

Durante o curso, logo cedo, Antônio Santana se interessou pela psiquiatria. Aproximou-se do Dr. Hercílio Cruz, professor e dono da única clínica particular em Sergipe, o Hospital Psiquiátrico Santa Maria. Além de Hercílio, exerciam a psiquiatria em Sergipe: Garcia Moreno, Renato Mazze Lucas, Jorge Cabral Vieira e Eduardo Vital Santos Melo. Um grupo pequeno, todos influentes na sociedade.

Antônio Santana Meneses concluiu o curso de medicina em 20 de dezembro de 1968. Em primeiro de janeiro, já estava empregado na Clínica Santa Maria. Em dezembro de 1970, casou com uma amiga de infância, uma ceboleira, Dona Carmen Santos Meneses.

Pouco tempo depois, deixou a Clínica do Dr. Hercílio para assumir a direção do Hospital Psiquiátrico Adauto Botelho, um velho depósito de pacientes. Mesmo recém-formado, o Secretário da Saúde não tinha alternativas, os psiquiatras famosos não aceitavam.

Antônio Santana encontrou o Adauto Botelho superlotado. Uma ala feminina, assistida pelo Dr. Renato Mazze Lucas; e uma ala masculina, sem assistência médica. Aos fundos, ainda existia um puxadinho, com os pacientes remanescentes da Colônia Eronides de Carvalho. O Adauto Botelho possui ainda uma ala dos “Sem Leitos” (eu alcancei), isso mesmo, os que dormiam no chão.

Entre os tratamentos dominantes no Adauto Botelho: a insulinoterapia (o paciente era induzido ao choque hipoglicêmico); o cardiozol (método químico de provocar convulsões); e o “sulfo”, (mistura de óleo de cozinha com enxofre em pó), que aplicado na bunda do suplicante, injeção intramuscular para produzir um abscesso, reduzia a agitação do infeliz. Um velho principio hipocrático: “a dor maior, cura a dor menor”.

De moderno, o Adauto Botelho possuía o eletrochoque, aplicado em quase todo o mundo. O choque era a panaceia, servia para tudo. O Dr. Antônio Santana demorou pouco tempo nessa casa de horrores. Doentes no chão, sem assistência médica, sobrevivendo a base dos choques. Santana pediu demissão e foi embora para São Paulo.

Antônio Santana foi compor a imensa legião de médicos sergipanos migrantes para São Paulo. Da segunda metade do século XIX, até hoje. Formamos uma elite de paus-de-arara, que partiram em busca de uma vida melhor. Não ajudamos a construir São Paulo só com o trabalho braçal, com o suor; exportamos também cérebros, inteligências, pensamentos, arte e sensibilidade.

Em 1972, Antônio Santana foi morar em São Paulo. Residiu primeiro em Piracicaba. Em 1975 mudou-se para Presidente Prudente, onde foi trabalhar no Hospital Psiquiátrico Bezerra de Menezes. Lá viveu, exerceu a medicina decentemente, e criou os seus filhos: Carla, oftalmologista; e Claudio, patologista. Antônio Santana desenvolveu um trabalho voluntário de combate ao alcoolismo, na cidade de Mirante de Paranapanema, próxima a Presidente Prudente.

Antônio Santana Meneses, o Dr. Meneses (para os paulistas), cinquenta anos de formado, reside hoje em São Paulo (capital), e ainda exerce a psiquiatria em seu consultório.

Antônio Samarone.

quinta-feira, 6 de dezembro de 2018

O PEIDO DA VACA



O peido da vaca.

O Presidente Bolsonaro não aceitou sediar a COP25, a próxima Conferência do Clima das Nações Unidas. Entende o Presidente, que essa ameaça de catástrofe climática é uma balela, e que o Acordo de Paris pretende criar "nações" indígenas dentro do Brasil, e um corredor ecológico conhecido como "Triplo A" (Andes, Amazônia, Atlântico), restringindo a nossa autonomia. Essas doidices devem ter saído da cabeça de Olavo Carvalho.

O Brasil abriu mão de um certo protagonismo mundial nas questões ambientais, e põe em risco a imagem do nosso agronegócio. O mundo quer consumir alimentos sustentáveis.

Para complicar, essa semana, o relatório “Criando um Futuro Alimentar Sustentável”, do Instituto de Recursos Mundiais (WRI), lançado durante a Conferência do Clima da ONU (COP-24), em Katowice, na Polônia, apontou que o consumo de carne no mundo precisa ser reduzido em 40%, para minimizar o aquecimento global. O Brasil é um grande produtor e consumidor de carne.

E por que peste, comer carne aumenta o aquecimento global, me perguntou Rodolfo, o marchante da feira do Mosqueiro? Tentei explicar: a digestão das vacas e de outros animais na forma de ventosidades e excrementos, juntamente com o uso da terra exigido para sua criação e alimentação, liberam mais gases que todo o setor mundial de transportes. O Marchante retrucou: quer dizer que o peido da vaca é quem causa o efeito estufa?

Eu disse, mais ou menos! Voltei para ciência - no peido da vaca são liberados metano e CO², resultante da fermentação ruminal, responsável por 22% dos gases do efeito estufa. Os ruminantes em geral, são mais perigosos que os combustíveis fosseis (petróleo e carvão). A coisa é séria!

Rodolfo, impaciente, encerrou a conversa: eu sabia, essa confusão com os matadouros em Itabaiana e Ribeirópolis deve ser o dedo desse tal Acordo de Paris. O velho churrasco está com os dias contados. O Chanceler de Bolsonaro tem razão, essa conversa de aquecimento global é uma conspiração dos comunistas.

Antônio Samarone.

quarta-feira, 5 de dezembro de 2018

EU ACREDITEI EM CEGONHAS



Eu acreditei em cegonhas. (por Antônio Samarone)

Nasci antes do Concílio Vaticano II (1961 - 1965). Vivi um tempo sob a égide do Concilio de Trento, onde o sexo era pecaminoso e precisava ser escondido das crianças.

O Concilio de Trento (1545 – 1563), tornou o casamento obrigatório; permitindo o sexo vaginal somente com fins de procriação. Tornou abomináveis e passiveis de excomunhão: o sexo oral, sodomia, abortos, incestos e adultério. Essas regras valiam em Itabaiana.

A repressão sexual das crianças era absoluta. A maternidade, o nascimento de uma criança, era obra da cegonha, que num horário imprevisto, secretamente, trazia o bebê para junto da mãe. Durante o parto de um dos meus irmãos, que nasceu em casa; fiquei a madrugada acordado, de olho no telhado, esperando a chegada da cegonha.

A minha estranheza maior era que não existiam cegonhas em Itabaiana, era a minha única desconfiança da explicação.

Outra crueldade era a interdição do onanismo. A doutrinação era pesada. Naquele tempo todos tínhamos um “anjo da guarda”, um dedo duro full time, o que tornava uma simples masturbação num martírio. Na confissão, o padre sempre perguntava se a gente tinha praticado o crime solitário. Eu sempre mentia!

Não sei se nas mudanças dos costumes propostas pelo novo Governo, essas coisas voltarão. A direita tem um certo fascínio pela Idade Média. É só aguardar...

Antônio Samarone.

domingo, 2 de dezembro de 2018

DROGAS: A DUPLA MORAL.



Drogas: a dupla moral.

Fui a um aniversário e tomei um susto, com a variedade e a quantidade de bebidas alcoólicas servidas. Sem exagero, os garçons passavam a cada 3 minutos: querem o que, uísque, vinho ou cerveja? Mesmo assim, não ficava copo cheio na mesa.

Eu fiquei acanhado para dizer que não usava álcool, e achei de comentar baixinho: eu não uso nenhum psicotrópico, e que se precisasse usar, preferiria a maconha, pelos reduzidos agravos a saúde. Assanhei uma caixa de maribondos...

A turma reagiu: maconha, que horror! O mais exaltado, um médico, bolsonariano até a alma, esbravejou: maconha, isso é coisa de comunista! O pau quebrou. De comunista? O doutor não se conteve, e levou a discussão para a política: se não bastasse a ideologia de gênero, a partidarização das escolas; agora vem você com essa asneira de legalizar a maconha. O Capitão tá chegando, para botar ordem nesse país. Eu nem tinha falado em legalizar nada, nem tinha interesse em discutir política.

Mas aquilo me incomodou e cair na besteira de aprofundar o debate. Disse ser uma grande hipocrisia, uma dupla moral. Como o álcool, extremamente lesivo à saúde, tinha o seu uso festejado, estimulado, tornado quase obrigatório em alguns eventos; e a maconha, usada até como remédio, era amaldiçoada, considerada a “erva do demônio”, e duramente proibida.

A turma de fogo, e eu sóbrio. Vejam as minhas chances nesse debate. Falava-se três ou quatro de cada vez, todos aos gritos. A racionalidade sufocada pela paixão política. Cheguei a suspeitar que Bolsonaro, comparado com a sua base, não é tão de ultra direita assim.

Tentei sair da política e voltar para a discussão das drogas. Apelei para uma narrativa de sanitarista. Gente, deixe eu falar! Me levantei, aumentei o tom da voz, e abri fogo:

O álcool etílico, etanol ou “spiritus vini” é quimicamente o (C2 H5 OH). Uma droga que se move facilmente através das membranas celulares. O álcool é o único psicotrópico de livre uso no Brasil.

Tem mais, além do etanol, são encontrados nas bebidas alcoólicas, outros produtos de sua maturação ou fermentação, como metanol, butanol, aldeídos, esteres, histaminas, fenóis, ferro, chumbo e cobalto, que são, em grande parte, responsáveis pela diferenciação de sabor entre os tipos de bebidas.

Fui vomitando dados: segundo o Ministério da Saúde, o consumo abusivo de bebidas alcoólicas é crescente no Brasil. A prevalência em 2006 era de 15,7%; elevando-se para 19,1%, em 2017. Trocando em miúdos: 19% da população consome álcool abusivamente no Brasil. O álcool sozinho, faz mais estragos que todas as drogas juntas. E tome argumentos!

Vocês sabem que existe uma inconteste relação do uso do álcool com a violência doméstica, homicídios e acidentes de trânsito. Só em 2017, os acidentes de trânsito causaram 32.615 óbitos; e 181.021 internações hospitalares, no SUS. Os procedimentos custaram aproximadamente R$ 260 milhões.

O álcool é o maior problema da Saúde Pública, exagerei: estão relacionadas ao consumo de álcool: anemia, gastrite; hepatite; cirrose hepática; impotência: infertilidade; pancreatite; infarto; trombose; câncer (especialmente no fígado, na laringe, na boca, no esôfago, no pâncreas e na faringe); pelagra; polineuropatia alcoólica; demência de Korsafoff e anorexia alcoólica.

Gente, o Código Internacional de Doenças (CID – 10), relaciona vários transtornos mentais e comportamentais devidos ao uso do álcool: intoxicação aguda, síndrome de dependência, síndrome de abstinência, delirium tremens, transtorno psicótico e síndrome amnésica.

O meu colega médico, bolsonariano até a alma, me rebateu com uma frase: “isso é papo de comunista”. Ele foi aplaudido de pé, e eu, recebi uma sonora vaia. Depois, eu mesmo achei o meu discurso chato, professoral e pretensioso, mas que não tinha nada a ver com o comunismo.

Nem a bandeira de legalizar a maconha; nem a da redução do consumo de álcool; encontraram acolhida naquela turma. Acho que vou deixar de ir para certos aniversários.
Antônio Samarone. 

terça-feira, 27 de novembro de 2018

A MINHA ESCOLA PRIMÁRIA.



Minha Escola Primária.

Passando esses dias pela frente do Asilo “Lar Cidade de Deus, avistei a minha professora primária (uma delas), Dona Helena de Branquinha. Estava lá, numa cadeira de rodas. Achei que ela baixou a cabeça quando me avistou. Não fiquei à vontade, não soube o que fazer.

O Educandário Santa Terezinha, de Dona Helena, ficava no segundo trecho do Beco Novo. Era uma casa de sala grande, com todas as séries misturadas. Sentávamos em bancos compridos, como numa igreja. Para se escrever existia uma mesa grande. Defronte, a professora e o quadro negro. Na mesa da professora, só me lembro de uma régua comprida, feita de braúna, e da maldita palmatória.

Nas dependências da escola não havia sanitário. Quem precisasse, ia no fundo do quintal, onde existia um mata-pasto. As folhas serviam de papel higiênico. Como controle, para que não saísse mais de um aluno de cada vez, existia uma pedra em cima da mesa da professora, chamada de licença. Se a pedra não estivesse na mesa, era porque o último que saiu não tinha voltado.

Certa feita a professora comprou uma escarradeira, para evitar que se cuspisse no chão, nos pés de paredes, ou tivesse que pedir licença para ir cuspir lá fora. Naquele tempo os meninos cuspiam muito. A professora comprou uma escarradeira de estanho, banca com flores azuis. Não tenho lembrança do seu uso, quem iria cuspir num objeto tão bonito? E agora, cuspi no chão não se justificava, existia a escarradeira. O jeito era segurar o cuspe. Acho que essa mania de cuspir começou a declinar após a introdução das escarradeiras nas escolas.

Dar a mão à palmatória: umas das atividades pedagógicas mais temidas no educandário de Dona Helena era as sabatinas aos sábados. A tabuada era cantada de trás para frente e da frente para trás. Cinco X quatro, vinte; cinco X cinco, vinte e cinco; cinco X seis, trinta... E assim até acabar. O coitado que errasse, a palmatória comia. Seis bolos, de doer até no fundo da alma. Não era raro o caboclo se mijar. O meu receio é que a turma da “escola sem partido” traga esse recurso disciplinar de volta.

A regra era: “escreveu não leu, o pau comeu”. Essa metáfora de se dizer que o aluno reprovado levava pau, fazia sentido. Não era só na tabuada. Também se cantava os verbos. A professora ordenava: conjugue o presente do subjetivo do verbo dizer. Se o aluno não soubesse ou tivesse esquecido, à palmatória cantava...

Qualquer desobediência, o castigo era moral e físico. Colocar o aluno de joelhos, com os braços abertos, e um livro grosso em cada mão; ficar em pé, num canto, por duas horas; encher um caderno com uma frase que o aluno escreveu errado, até ficar com câimbra nos dedos; etc. Todos esses castigos eram públicos, para servir de exemplos para os sonsos.

Eu escapei um pouco da violência nas escolas. Minha mãe não concordava que se batesse num filho dela. Se errou, me conte que eu tomo as providências. Se quiser bater, vá parir, dizia mamãe.  Fui logo transferido para o Grupo Escolar Guilhermino Bezerra, ali era público, não se batia. A liberdade era tanta, que eu até estranhei.

A novidade no Grupo, era a professora inspecionar a higiene pessoal dos alunos. Olhar se os meninos estavam com as unhas, orelhas, pescoço ou cabelos sujos. Procurar saber se tinham escovado os dentes. Com medo de passar vergonha, e ser mandado de volta para casa por imundice, muitos passaram a tomar banho com maior zelo. 

A educação nos Grupos Escolares não era voltada somente para os livros, se começava a introduzir a educação do corpo.
Antonio Samarone.

sexta-feira, 23 de novembro de 2018

ANTONIO CONSELHEIRO EM ITABAIANA.



Antônio Conselheiro em Itabaiana. (por Antônio Samarone)

A passagem de Antônio Conselheiro por Itabaiana está registrada por Sílvio Romero, no jornal de Estância, “O Rabuda”; por Mario Vargas Llosa, em seu livro “A Guerra do Fim do Mundo”; e para não deixar dúvidas, nos “Sertões” de Euclides da Cunha.

O povo de Itabaiana, os mais velhos, sempre ouviu falar da passagem de Conselheiro. Eu cresci ouvindo a minha mãe falar em Conselheiro, não lembro o que, porque eu não prestava a atenção.

Mas os intelectuais são desconfiados! Quando a Associação Sergipana de Peregrinos, resolveu homenagear Conselheiro com um monumento, em Itabaiana, registrando a sua passagem, apareceu logo o pessoal do contra, exigindo provas da sua estádia.

Como quem pesquisa acha, o renomado historiador José Rivaldávio Lima, o professor Rivas, neto dos Breus, me trouxe o que faltava. Um texto do Padre José Gumercindo Santos. O padre é de Itabaiana, filho de Dona Ritinha, professora no Zanguê. O padre nasceu na Rua da Pedreira e foi criado no primeiro trecho do Beco Novo. 

O Padre Gumercindo é quase um santo, não é de mentiras, conta o que viu, não por ouvir dizer. O texto a seguir é datado de 1916:

“Em Itabaiana havia uma festa toda esquisita. No aniversário da queda de Canudos, que se deu em 1897, no vizinho Estado da Bahia, a Praça da Matriz se enchia toda de ranchos de palha, imitando a Canudos de Antônio Conselheiro, homem venerado em Itabaiana, porque ali estivera nas suas andanças por Sergipe.”

“E, justamente na rua onde cresci, ele passara um mês em uma casa em construção, apenas coberta. Minha mãe que era menina, naquela época, o ouviu várias vezes.”

“Lá pelas noves do dia, havia uma batalha simulada na Praça. A população se apostava pela frente da Matriz, debaixo das palmeiras do reino e de outras árvores. Algumas pessoas da janela dos seus sobrados engalanados, tinham o privilégio da melhor visão.”

“Quando eu pela primeira vez vi o fogaréu do incêndio simulado, e a polícia e os soldados do exército esmolambados, a correr atrás dos jagunços e a correria do mata-mata, do pega-pega, por entre as labaredas e a gritaria geral, deixei a minha mãe e corri para atravessar a rua e me esconder. Nesse momento, um bando de jagunços, atirando dos seus bacamartes para o ar, desembocava ao meu lado. Eu aturdido chorava e gritava, correndo, sem saber para onde.”

“Eu não sei como passei o resto do dia, porque nem minha mãe me encontrava, nem eu mais acertava com a minha casa.”
Itabaiana, 1916. Padre José Gumercindo Santos.

Acho que se alguém tinha alguma dúvida, a questão está historicamente resolvida.

Antônio Samarone.

quarta-feira, 21 de novembro de 2018

DE ONDE BROTAM OS TALENTOS?


De onde brotam os talentos? (O texto é meu e a foto de Juarez dos Correios).
Nos Sertões de Euclides da Cunha, está registrado a passagem de Antonio Conselheiro por Itabaiana, em 1874. Ouvindo os antigos, se sabe que ele ficou arranchado por cerca de 90 dias, na Rua da Pedreira.
A Associação Sergipana de Peregrinos, por iniciativa de Ancelmo Rocha, resolveu registrar essa passagem com um monumento, que está em construção. Solicitou a Bosco de Seu Jubal a oitão de sua casa. E foi procurar um artista para executar a obra. Procurou Val de Euclides Barraca, um destacado designer local, para pedir sugestões. Val indicou Thiago Andrade (ou Trindade).
O talentoso Thiago é filho de camponeses da Gameleira, povoado de Campo do Brito (grande Itabaiana). Thiago nasceu em 01/11/1985, filho de Joselito dos Santos (Seu Tico) e Dona Genalva Silveira de Andrade (Dona Nalva). Seus pais vivem até hoje na lide das farinhadas. Thiago tem dois irmãos.
Thiago Trindade (que está na foto) concluiu o ensino médio no Colégio Guilherme Campos, em Campo do Brito. Pintor e escultor de grande talento, mora em Itabaiana, onde se tornou cidadão. Em Itabaiana ele consegue viver modestamente de sua arte. Na Gameleira, continuaria raspando mandioca. Mas Thiago que crescer...
A sensibilidade, os traços finos de uma escultura no cimento, o contexto, o realismo dessa obra de Conselheiro, me chamaram a atenção.
Pergunto por não saber: o que fazer para ajudar a esses talentos que brotam espontaneamente? Cadê as universidades, os órgãos de cultura, os mecenas, sei lá mais quem... É óbvio que entregue as leis do mercado, os talentos não se aperfeiçoam por milagres, precisam de uma base cultural, de uma integração com o universal.
Vocês estão convidados para a inauguração do monumento. Os Peregrinos estão procurando os intelectuais que conhecem e escreveram sobre Conselheiro em Sergipe, e vamos pedir a presença de músicos da Filarmônica Nossa Senhora da Conceição. 

Antonio Samarone.

A DISPUTA PELO MINISTÉRIO DAS DOENÇAS

A disputa pelo Ministério das Doenças. (Por Antonio Samarone)

O Presidente Bolsonaro anunciou que iria compor o seu Governo, sem considerar as pressões partidárias, o conhecido toma lá, da cá. E quais seriam os critérios? Não sei! Na Saúde, a incerteza está gerando curiosidade, e os interessados estão mexendo os pauzinhos.

O mais destacado é o Dr. Rey, Roberto Miguel Rey Júnior, também conhecido como o Dr. Hollywood, cirurgião das celebridades. O Dr. Rey não se acanhou: “se não for nomeado Ministro da Saúde ou Embaixador, abro mão da nacionalidade brasileira”. A ameaça está feita!

Outro candidato é o Dr. Luiz Henrique Mandetta, ortopedista, Tenente do Exército (reserva), Deputado Federal. Existe um abaixo assinado correndo na Internet de apoio a Mandetta. É amigo do Presidente.

Outro que corre com muita desenvoltura em busca do cargo é o Presidente da Associação Médica Brasileira (AMB), o Dr. Lincoln Lopes Ferreira. Vários manifestos e abaixo assinados de entidades médicas, inclusive da SOMESE, estão sendo enviados a Bolsonaro, em apoio. Nesse caso recente dos médicos cubanos, a AMB se apressou com uma nota pública, apresentando soluções para as dificuldades da saúde.

Correm por for fora, o conhecido e heterodoxo Dr. Lair Ribeiro; não sei quem são os seus padrinhos. Existe mais uma meia dúzia, menos conhecidos da imprensa, trabalhando na surdina, buscando apoios, rezando, fazendo macumba, cada um usando os seus recursos, em busca do tesouro.

A novidade foi circular o nome de Henrique Prata, neto do escritor e médico sergipano Ranulfo Prata, gente do Lagarto. Henrique Prata, não é médico, mas coordena o famoso Hospital do Câncer de Barretos, o melhor do país, e só atende pacientes do SUS.

Henrique Prata é um homem rico, fazendeiro, mas dedicado a filantropia e a caridade. Duvido que Henrique Prata esteja se mexendo em busca de apoio. Acho até que se convidado, não aceitará.
Antonio Samarone.

quarta-feira, 14 de novembro de 2018

QUEM VAI LIDERAR OS BOLSONARIANOS EM SERGIPE?


Quem vai liderar os bolsonarianos em Sergipe?

O PSL de Bolsonaro não elegeu ninguém em Sergipe. Os dirigentes do PSL são pessoas anônimas, gente desconhecida. Tarantella, o mais conhecido, foi afastado. Não existe vácuo na política. Por outro lado, existe uma base social que votou e continua apoiando o projeto da ultra direita, que ganhou as eleições. O cavalo está selado, aguardando os interessados.

Ter acesso ao governo federal não é pouca coisa em Sergipe. André Moura usando dessa prerrogativa, teve o apoio de quase todos os Prefeitos, na última eleição.

Não estou falando de coisa efêmera. Zé Dirceu, a maior liderança histórica do PT, depois de Lula; afirmou sobre Bolsonaro: “Não nos iludamos. É um governo que tem muita base social, muita força e muito tempo pela frente. Vai transformar a segurança em pauta".

Continuou o líder petista: o PT não foi derrotado apenas eleitoralmente nessas eleições, mas ideologicamente. Zé Dirceu, foi quem concebeu e liderou o projeto que levou o PT ao poder por treze anos. O fato do seu envolvimento em falcatruas, não anula os seus méritos de pensador político. Haddad é um bom moço, toca violão, vai à missa, educado, bem casado, mas não é líder político. Haddad é uma invenção de Lula.

Durante a campanha, Zé Dirceu lembrou que estava diante da disputa pelo poder, e não apenas de uma eleição para ocupação de cargos. O mundo quase desabou. Haddad, para não desagradar ao mercado, se apressou em desautorizar Dirceu, e acrescentar que em seu futuro governo, Zé Dirceu não estaria nos planos.

Nessa lógica de Zé Dirceu, a ultra direita não deixará o poder tão cedo. Eu pergunto, imitando Garrincha: “já combinaram com os russos?” Acho, que se a oposição for competente, pode reduzir esse martírio...

Em Sergipe, vislumbro no ex deputado João Fontes as melhores chances para liderar o projeto de Bolsonaro em Sergipe. Tem razões de sobra para não gostar do PT, liderou as manifestações dos coxinhas pelo impeachment da Dilma, e apoiou de forma militante a eleição de Bolsonaro.

Outro nome bem colocado nessa disputa é o de André Moura, por razões óbvias, já é afinado ideologicamente com o projeto. Eduardo Amorim, se continuar na política, também pode entrar nessa disputa. Fontes, Moura e Amorim estão sem mandatos, o que pode atrapalhar.

Entre os deputados federais que apoiarão Bolsonaro, deve surgir pretendentes pelo controle do PSL, em Sergipe. É um queijo muito suculento para ficar esquecido.
Antônio Samarone.

segunda-feira, 12 de novembro de 2018

SERGIPE ESTÁ IMPORTANDO JACA.



Sergipe está importando jaca.

Fui comprar um pratinho de jaca, uns vinte bagos, e a moça me cobrou dez reais. Estranhei, abençoada, dez reais? Ela esclareceu: fazer o quê, as jaqueiras estão acabando em Sergipe. Essas que eu estou vendendo, vem de Rondônia.

Pensei, só faltava essa, Sergipe está importando jaca. O que houve, está dando bicho nas jaqueiras? Será a “vassoura-de-bruxa”? Nada disso, logo descobri. Estão derrubando jaqueiras centenárias para fabricar móveis rústicos. Um modismo predatório de uma indústria de beira de estradas.  

A nossa jaqueira (Arthocarpus integrifolia) veio da Índia. Uma árvore que dura cem anos produzindo, alcança uma altura de 20 metros e o tronco chega a 1 metro de diâmetro. Leva dez anos para começar a produzir. A madeira é excelente.

O uso de madeira de qualidade (mogno, cedro, sucupira, braúna, aroeira) para a produção de móveis é coisa do passado. Essas árvores são protegidas, para se evitar o desmatamento. A indústria passou a usar os concentrados Medium Density Fiberboard (MDF), de madeiras reflorestadas (pinus e eucalipto).

Em Sergipe, na contra-mão da sustentabilidade, estão derrubando jaqueiras centenárias para fazer bancos, mesas e tamboretes. São móveis simples, sem arte e sem beleza. O único atrativo é a qualidade da madeira. A jaqueira não é da flora nacional, portanto, está desprotegida.

As jaqueiras em Sergipe estão com os dias contados.

Antônio Samarone.

quarta-feira, 7 de novembro de 2018

O HOSPITAL DE CIRURGIA À BEIRA DA MORTE.



O Hospital de Cirurgia à beira da morte.

Em 1926, o governador Graccho Cardoso construiu e equipou uma Casa de Misericórdia em Sergipe. O hospital foi entregue ao comando do Dr. Augusto Leite. Por muitos anos, o hospital de Cirurgia foi a salvação do povo pobre.

Já faz tempo, que o hospital de Cirurgia só é filantrópico na razão social. Permanece nessa condição, para assinar contratos com o poder público sem licitação, e ser isento de certas contribuições previdenciárias.

Na realidade, o hospital de cirurgia é um conglomerado de empresas e negócios, com várias clínicas privadas operando sob o seu guarda-chuva. Com bancos e empresas de ensino. Até o IPES Saúde, tem o seu lote nas dependências do Nosocômio. Do velho hospital de caridade, talvez tenha restado o setor de contabilidade, os livros de atas e os documentos.

O hospital de cirurgia vive em conflito permanente com o SUS e com a sociedade. Alguns serviços passam mais tempo parado do que funcionando. Desde janeiro, o contrato com o SUS deixou de ser com o município de Aracaju e passou para a Saúde estadual.

O hospital de cirurgia, sufocado por dívidas e gestões improvisadas, anda na corda bamba.

A Justiça resolveu determinar uma intervenção, nomeou a interventora, e passou o pepino para o poder público. Como a Justiça não tem como administrar diretamente um hospital, delegou a tarefa ao Estado. A pergunta é simples: quem vai disponibilizar os recursos para sanear financeiramente o hospital de Cirurgia?

O Estado que não consegue administrar bem a sua rede de hospitais, passa a ter mais esse encargo. Se forem necessários reformas físicas e novos equipamentos, quem vai providenciar?

Como ficará a relação da interventora com os diversos negócios privados que funcionam sobre o mesmo teto? Qual a proposta de reformulação que será adotada? O hospital voltará a ser filantrópico? Depois de saneado, o hospital voltará para o comando de quem? Em suma, o antigo hospital de caridade passará a ser o que, durante e após a intervenção?

A questão é delicada: um hospital a beira da falência, com muitos donos, pendencias financeiras e trabalhistas insanáveis, é entregue para o poder público resolver. E ainda se pergunta por que os recursos do SUS são insuficientes...
Antônio Samarone.

segunda-feira, 5 de novembro de 2018

VOLTA, SEU ROMEU!



VOLTA, SEU ROMEU!
Final de tarde, Seu Romeu era presença frequente na roda do cafezinho do Shopping. Seu Romeu, já idoso, morava só. Formado em agronomia, fazendeiro, patrimônio sólido, vivia com fartura. Os dois filhos são economicamente bem-sucedidos.
Seu Romeu, como todo idoso, falava muito em namorar. Uma das brincadeiras, era lhe perguntar pela namorada. Ele ria, falava pouco. Seu Romeu é de família tradicional de Itabaiana.
Em pouco tempo. Seu Romeu começou a perder a memória. Os amigos da roda do cafezinho, brincavam, mas nada que afetasse a cordialidade. Seu Romeu passou a aparecer menos. O passo seguinte: Seu Romeu passou a chegar acompanhado de uma cuidadora. Enquanto ele tomava o seu cafezinho, a cuidadora saia de perto.
Fisicamente, Seu Romeu continua bem, durinho, não sei a idade, mas é conservado. Mesmo com a memória fraquejando, as mulheres continuavam lhe despertando a atenção. Seu Romeu é viúvo. Ele continuava acolhido no grupo, passando a receber uma atenção especial.
De uns tempos para cá, Seu Romeu sumiu! Não sei quem tirou Seu Romeu de circulação... Não sei de quem foi a decisão. Seu Romeu deixou de aparecer no cafezinho e na vida!
De vez em quando, eu o encontrava na Sementeira, tomando sol de manhãzinha. Nunca mais... Me dei conta dessa barbaridade, mataram Seu Romeu com ele vivo.
Onde botaram Seu Romeu? Num asilo, numa clínica de repouso, está em casa cercado de cuidadoras? Não sei, perdi o contato! Volta, Seu Romeu!
Antônio Samarone.

quinta-feira, 1 de novembro de 2018

O PT QUER MAIS ESPAÇOS.



O PT quer mais espaços! (Por Antonio Samarone)
Terminada as eleições, uma legião de petistas ocupou os rádios de Aracaju com uma narrativa de vencedores: ganhamos, fomos decisivos na vitória de Belivaldo. Nessa circunstância, queremos mais espaço no Governo (espaço, na velha política, significa cargos, sinecuras, etc.).
Outra coisa, o PT falou nos rádios na reconquista da prefeitura de Aracaju e do governo do Estado como uma certeza, uma arrogância, como se fosse uma questão de tempo. Teremos candidatos, virou o novo grito de guerra do PT em Sergipe!
Com o olho na sucessão de Aracaju, deixaram outra mensagem: Edvaldo fez corpo mole na campanha, e poderemos romper... Não importa a realidade, essa é a versão a ser disseminada.
Liguei para um amigo petista perguntado, porque essa pressa? – Ele retrucou, qual a novidade, é a disputa pelo poder. Se o eleitorado nos escolheu em Sergipe, a preferência é nossa. E ainda, para mostrar erudição, ele citou Quincas Borba: "Ao vencido, ódio ou compaixão; ao vencedor, as batatas".
Pensei comigo, essa estória está mal contada, a esquerda foi derrotada nas eleições. A extrema direita elegeu um candidato improvável, e o antipetismo foi decisivo para a nossa derrota. Ao invés de uma autocrítica, vocês aparecem ufanistas, cantando vitória.
Disse ao amigo petista, vocês não apresentam nenhuma proposta para tirar Sergipe do buraco, não discutem a gestão pública, nenhuma contribuição, parecem apenas preocupados com o controle da máquina. Isso é a velha política! Se Belivaldo fizer um governo tutelado pelo PT, fechará as portas de Brasília. Isso é óbvio!
Como disse Charles Talleyrand sobre os Bourbon: “Eles não aprenderam nada e não esqueceram nada”. Há quem atribua a vitória da extrema direita, aos erros do PT.
Claro, essa foi a minha leitura. Como estou preocupado com o desmonte da democracia, achei que o PT em Sergipe está trocando o principal pelo secundário, centrando-se bem mais nas carreiras políticas dos seus líderes, que em defesa da sociedade.
Antonio Samarone.

terça-feira, 30 de outubro de 2018

A AMEAÇA COMUNISTA...



A ameaça comunista... (Por Antônio Samarone)
Vivam os espíritas, os monarquistas, os anormais, os criminosos de todas as espécies;
Viva a filosofia com muita fumaça e pouco fogo;
Viva o cão que ladra mais não morde, vivam os astrólogos libidinosos, viva a pornografia, viva o cinismo, viva o camarão, viva todo mundo, menos os comunistas.
Pablo Neruda

Hoje, as 3:15 da madrugada, a última célula comunista de Sergipe fechou suas portas. A ameaça de eliminação dos Vermelhos, fora o suficiente. Os últimos comunas organizados em células, obedientes ao centralismo democrático, caíram na clandestinidade eterna.
Agora que acabou, eu posso contar!
Durante a guerra fria, Aracaju foi a moscousinha do Nordeste. Anualmente, em todo 03 de janeiro, Aracaju acordava ao som da queima de fogos de artifícios, nos bairros operários. Era o aniversário de Luiz Carlos Prestes. Os mais velhos lembram e contam.
Nas eleições de 1947, segundo Luiz Antônio Barreto, “Aracaju deu maioria a Iêdo Fiúza, candidato dos comunistas a presidente, também deu mais votos a Luiz Carlos Prestes, para o Senado, do que aos candidatos sergipanos. Elegeu o médico comunista Armando Domingues, e o jornalista e empresário socialista Orlando Dantas, para a Assembleia Constituinte e Legislativa de Sergipe.”
Sem contar a eleição do comunista, Carlos Garcia, como o Vereador mais votado de Aracaju, em 1946.
Esta célula vermelha funcionava numa casa apertada, ao lado do quartel do 28 BC, no Bairro 18 do Forte. Eles eram apenas nove, o mais novo com 82 anos. Liam Marx, Hegel, Bukharin e Plekhanov, possuíam uma pequena biblioteca, e tinham guardadas as fotos da última visita de Prestes à Aracaju.
Eles eram apenas nove, o jornalista Fragmon Carlos Borges, o operário têxtil Manoel Vicente, o gráfico Zé Nunes, o mecânico Lourival, o Jornaleiro Careca, o filosofo Gilberto Burguesia, o relojoeiro João Océas, o servidor público Agonalto Pacheco e o ferroviário Pedro Hilário. E ainda Lídio da Cocada, que citava Lênin a três por dois. A célula recebia orientação de Rosalvo Alexandre, ex representante de Prestes em Sergipe.
Esta célula funcionava desde 1956. Criada logo após o XX Congresso do PCUS, onde Nikita Kruschev denunciou os crimes de Stalin. Hoje, pela madrugada, após a leitura de trechos do “Que Fazer”, clássico de Lênin, decidiram pelo inevitável, fecharam a célula. “Gato escaldado, tem medo de água fria”, profetizou Lídio da Cocada!
Após exaustivas discussões, decidiram, por unanimidade, fechar a célula. Por fim, cantaram a Internacional e, por via das dúvidas, lavraram uma ata circunstanciada. Nesse ato singelo, os últimos que lutavam pela coletivização dos meios de produção, ditadura do proletariado e o fim do estado burguês, penduraram a chuteira. Eles abominavam os vícios da pequena burguesia.
Por uma deferência pessoal, Rosalvo Alexandre me telefonou pela manhã relatando o ocorrido. Autorizou que eu repasse aos interessados pelas redes sociais. E assim está sendo feito.
Espero que esse fato tranquilize os bolsonarianos, e desobrigue-os da montagem de novos comandos de caça aos comunista.

Aproveito para informar ao Jornalista Xico Sá, que andou procurando por comunistas, em belo artigo no El País. O comunismo acabou em Sergipe! Sobraram meia dúzia de gatos pingados, que por questões de princípios filosóficos, coerência e afetividade continuam profetizando o marxismo. Acho que vão morrer assim!
Antonio Samarone.

domingo, 28 de outubro de 2018

SERGIPE QUE SAIU DAS URNAS



SERGIPE QUE SAIU DAS URNAS... (Por Antônio Samarone).
Encerrou-se um ciclo de dominação política em Sergipe, iniciado em 1982. O fim de uma Era! Os velhos chefes, que governaram o estado no período, saíram do jogo: João Alves, Albano Franco, Antônio Carlos Valadares, Jackson Barreto e Marcelo Déda. O futuro governo de Belivaldo será uma transição. Uma nova geração de políticos tentará assumir o comando do estado, a partir de agora.
Quem saiu na frente, em condições de liderar novos projetos de poder?
Quem irá liderar os futuros blocos de hegemonia política em Sergipe, com fôlego para disputar a sucessão de Belivaldo Chagas, em 2022? A política é o reino do imprevisto. O futuro depende dos projetos e das circunstâncias; da conjuntura e da capacidade dos líderes em construir caminhos. A disputa para sucessão de Belivaldo, passa obrigatoriamente pelas eleições municipais em 2020, sobretudo pela disputa da Prefeitura de Aracaju.
Num exercício de probabilidades, especulação, construção de cenários, análise de conjuntura, quem são os políticos que saem na frente nessa disputa, e quais as chances de cada um?
Delegado Alessandro – Recebeu um mandato de oito anos. Se tiver vontade e talento, está em condições de liderar um bloco, com o discurso de que é o novo. Antes, Alessandro precisa tomar duas definições: a sua relação com o governo Bolsonaro, e em qual Partido irá ingressar (A Rede não cumpriu as cláusulas de barreira). Dependendo do seu desempenho no Senado, pode apresentar um nome de peso para disputar a prefeitura de Aracaju. Vencendo, pode liderar um polo para disputar do Governo do Estado, em 2022. Como obstáculo, a inexperiência política, a grande expectativa criada e não possuir grupo político.
Rogério Carvalho – Senador eleito. Preside um Partido (PT) que já governou o estado. Se souber controlar os impulsos, Rogério pode liderar a oposição contra Bolsonaro em Sergipe. O PT disputará a prefeitura de Aracaju, em 2020, com possibilidades de vitória. Elegendo o Prefeito de Aracaju, Rogério Carvalho pode liderar um bloco para o disputar o Governo. Como complicador, Rogério disputará esse espaço de líder, dentro do próprio PT, com a vice-governadora Eliene Aquino.
Edvaldo Nogueira - Por ser o Prefeito de Aracaju, ter experiência nos bastidores e ser um gestor qualificado, entra na corrida para a sua própria reeleição. Dependerá do seu desempenho no restante do mandato e na construção de um bloco político. Sendo reeleito em 2020, Edvaldo criará condições para disputar, com chances, a sucessão de Belivaldo. Entre os obstáculos: Edvaldo não tem grupo político. Como complicador, o PC do B não cumpriu as cláusulas de barreira.
Belivaldo Chagas - Eleito governador com votação expressiva. Vai depender do exercício do próprio mandato, e da sua postura como líder. Belivaldo vai montar uma equipe, ter projeto próprio, comandar o governo? Esse é o seu grande desafio: realizar uma boa gestão e ter talento para liderar! Com o comando da máquina, ele poderá construir e liderar um novo grupo político, atraindo muita gente que precisa do oxigênio palaciano. Belivaldo é do PSD, que tende apoiar Bolsonaro. Vamos aguardar...
Claro, bola de cristal não funciona em política! Os quatros nomes apontados como favoritos podem emplacar ou não, são conjecturas. Outros cenários poderão ser construídos para 2022.
Pode aparecer outra turma?
Entre os derrotados: Valadares Filho, André Moura e Eduardo Amorim continuam vivos. Entre os eleitos: Fábio Mitidieri, Eliane Aquino e Fábio Henrique podem surpreender. Entre os bens votados e não eleitos: Milton Andrade, Emília Correia, Henri Clay e Emerson Ferreira estão na disputa. Claro, com as redes sociais, a qualquer momento pode emergir gente desconhecida, outsiders!
Quem mais terá projetos para o comandar politicamente o Estado de Sergipe?
Antônio Samarone.

sexta-feira, 26 de outubro de 2018

A ESPANTOSA HISTÓRIA DA MEDICINA



A espantosa história da medicina (o nascimento das neurociências - por Antônio Samarone)
Frenologia – o médico alemão Franz Joseph Gall (1758-1828), criou um método de avaliação das saliências do crânio (cranioscopia), onde se poderia identificar os traços do caráter das pessoas, suas habilidades mentais, e até as suas tendências criminosas. Gall dividiu o cérebro em 27 zonas, identificadas nas protuberâncias ósseas.    
Segundo Nicolelis, “Gall “identificou além de áreas especializadas para diferentes emoções, como o instinto de reprodução, o amor a própria prole, o orgulho, a arrogância, a vaidade e a ambição; sugeriu a existência de regiões corticais especializadas na definição da opção religiosa, no talento poético, na firmeza de caráter e na perseverança.”
A frenologia sofreu contestação, mas continuou produzindo consequências. Os consultórios frenológicos se espalharam pela Europa e USA, na primeira metade do Século XIX. A craniologia se tornou influente na era vitoriana, e foi usada para justificar o racismo, a colonização e a dominação de "raças inferiores".
O médico italiano Cesare Lombroso (1835-1909), incorporou outros elementos a frenologia, como a fisiognomia (avaliação das aparências), e criou uma teoria de antropologia criminal, que vigorou por muitos anos. Lombroso achava que certos criminosos apresentavam evidências físicas de um atavismo hereditário, reminiscente de estágios mais primitivos da evolução humana. 
No Brasil, o médico maranhense Nina Rodrigues, diretor do Instituto de Medicina Legal da Bahia, usou amplamente as concepções lombrosianas para realizar os seus estudos eugênicos e racistas.
Durante o Terceiro Reich, a certificação craniométrica tornou-se obrigatória por lei e era realizada por centenas de institutos e especialistas na Alemanha. Muitas pessoas foram condenadas aos campos de concentração ou tiveram negado o casamento ou o trabalho, em função desta "má medida do ser humano", segundo o Dr. Renato M.E. Sabbatini, da UNICAMP.
Antônio Samarone.