sexta-feira, 20 de maio de 2022

O HOSPITAL DO AMOR

 

O Hospital do Amor.
(Por Antonio Samarone)

Finalmente, fui visitar o hospital do câncer em Lagarto. Uma obra magnifica. Um hospital bonito, confortável e de alta tecnologia. A área do hospital é 500 mil metros quadrados, isso mesmo, 176 tarefas.

Calma, é verdade!
O hospital terá todas as formas de tratamento. Centros de prevenção, pesquisas, urgência e ambulatórios. Um setor infantil. Um hospital de primeiro mundo!

Será construído na área do hospital, casas e apartamentos. Não se assustem. São casas para acolher os familiares dos pacientes.

Está sendo construído um aeroporto na área do Hospital. Um aeroporto? Sim! Para trazer rapidamente medicamentos radioativos, pacientes de outros estados e profissionais especializados.

Alguns hospitais privados de São Paulo possuem heliporto. O Hospital de Lagarto terá um aeroporto. Suspeito que seja o primeiro do Brasil

Perguntei ao responsável pelo hospital: onde fica o setor privado para os pacientes que podem pagar? Ele foi sucinto: “O Hospital só possui uma porta de entrada, a porta do SUS. O hospital não visa lucros. Aqui a conta está paga!”

Entendi. É um hospital público não governamental. Uma obra da filantropia desinteressada. Uma obra da Fundação Pio XII, que já administra uma rede de hospitais bem-sucedidos, onde o mais conhecido é o Hospital de Barretos, em São Paulo.

Como essa maravilha chegou a Lagarto? O presidente da Fundação Pio XII é Henrique Prata, um religioso rico de São Paulo, neto do escritor lagartense Ranulfo Prata.

Na semana passada, escrevi que o hospital do câncer anunciado pelo governo, não seria prioridade e não iria funcionar. Não é só isso, é mais grave! O governo Belivaldo é contra o Hospital do Amor, em Lagarto. Vamos aos fatos:

O Hospital do Amor procurou a Assembleia Legislativa para ser considerado de utilidade pública. O ´projeto está tramitando, com uma novidade: os técnicos da Secretaria da Saúde foram contra. Que técnicos? Vamos falar a verdade, o governo Belivaldo é contra.

Sinceramente, que precisa provar que é de utilidade pública é a Assembleia Legislativa de Sergipe. Só falta a Assembleia rejeitar!

O Governador é de Simão Dias, passa semanalmente na porta do hospital. Nunca fez uma visita, mesmo sendo insistentemente convidado. Ignora acintosamente.

O Hospital do Amor será a mais importante Unidade de Saúde de Sergipe, depois do Hospital João Alves. Relembrando, o Hospital João Alves foi inaugurado em 07 de novembro de 1986. São 36 anos!

Deixei Lagarto com a alma embargada. Sou um velho sanitarista e participei modestamente da luta pela Reforma Sanitária. Sempre sonhamos com Serviços de Saúde de boa qualidade, universais e gratuitos. O Hospital do Amor é bem mais do que isso!

Quem não conhece Sergipe, não acredita que essa grande obra está sendo boicotada pela indiferença do governo, da medicina de mercado, das entidades médicas, dos políticos, da universidade, dos intelectuais, das igrejas e da sociedade.

Faço um apelo ao governador Belivaldo: vá visitar o Hospital do Amor! O senhor é um homem prático. Tenho certeza de que o senhor mudará de opinião.

Antonio Samarone (médico sanitarista)

EM BUSCA SOA SONHOS

 

Em busca dos sonhos.
(por Antonio Samarone)

Sonhei com a Revolução de Outubro e com o surrealismo. A militância política era inspirada pelas utopias e na luta pelos interesses das classes subalternas.

Herdei o DNA de Totonho de Bernardinho, meu avô. Um ferreiro sonhador, que cantava excelências na Matapuã. A sua biblioteca era lotada de Cordel, uma coleção memorável. Não sei que fim levou.

Aprendi a ler com esses Cordéis. Já cheguei na escola lendo de carreirinha e cantando. A professora pensava ser uma habilidade inata.

Totonho criava abelhas e passarinhos, plantava flores, ouvia os sapos na lagoa, plantou um pomar e deu o nome de suas filhas as jabuticabeiras. A primeira, recebeu o nome de mamãe. Bota até hoje. “Jabuticabeira Maria de Lourdes”, foi a única homenagem que mamãe recebeu em vida.”

O povo das Flechas dizia: “Totonho é doido”.
Na noite da sua morte, as abelhas saíram dos cortiços, sobrevoaram ruidosamente o seu corpo inerte e foram embora para sempre. Os cortiços ficaram vazios. Eu vi!

Ao amanhecer, o seu corpo foi levado numa rede, por homens treinados, num sacolejo harmônico e cadenciado. Na entrada da cidade o corpo passou para um ataúde cinza, seguindo até o sepultamento no Cemitério de Santo Antonio e Almas.

Não sei as razões de não sepultarem o meu avô no Cemitério do Rumo, no Pé do Veado, onde repousa parte da família.

Herdei parte do DNA do velho ferreiro. Ando em busca de novas utopias.

Antonio Samarone (médico sanitarista)

O NOVO SEMPRE VEM

 

O Novo sempre vem...
(por Antonio Samarone)

Na década de 1980, as campanhas políticas pela televisão eram novidades.

As eleições diretas para os prefeitos das Capitais, em 1985, foram o primeiro ensaio. Em Aracaju, despontou um jovem bem-falante, sorridente, sereno, inteligente, parecendo um mocinho de novela, encantador. O sucesso foi imediato. A cidade só falava em Marcelo Déda.

Nascia em Sergipe um novo político, o único que dominava a TV. Déda cresceu e chegou ao governo do Estado. Déda no início não precisou de marqueteiro, o seu talento para a comunicação televisiva era inato.

Claro que Déda tinha outros atributos, mas aqui falo apenas da comunicação.

Depois os marqueteiros dominaram o mercado eleitoral. O candidato era maquiado para produzir emoções no eleitorado. A imagem do candidato era fabricada. Bom pai, bom marido, temente a Deus, caridoso, de origem humilde, um amigo do Povo. Um mentira bem empacotada.

“O que era novo hoje é antigo” – Belchior.

Aristóteles Brito escreveu no Portal de Jozailto Lima:
“Aquela besta iludida com musiquinha solene e sorrisos na televisão não existe mais. Nas redes sociais o eleitor participa, opina, pergunta, discorda, descobre o mentiroso produzido por marqueteiro.”

Essa é a novidade: a militância política nas redes sociais.

As redes sociais exigem outra linguagem, que os marqueteiros ainda não sabem ensinar. O político que tiver talento para essa nova forma de comunicação será entendido. Nas redes sociais que não tiver como provar o que está dizendo será desmoralizado. As redes sociais favorecem os que são formados pela Universidade da Vida.

Aqui está a dialética: as redes sociais que manipulam usando os algoritmos, disseminam os fakes new, usam a inteligência artificial para criação da psicopolítica, mas isso ainda custa caro.

Por outro lado, as redes sociais fornecem uma tribuna para que tem o que dizer, tornam as verdades relativas (pôs verdades), democratizam a participação do cidadão comum, criam uma “Ágora” virtual.

Não adianta os marqueteiros produzirem vídeos tecnicamente bem-feitos, boa imagem, bom som, boa animação. Sendo mentira, não prosperam. As falsas aparências se desmontam nas redes sociais.

Não estou subestimado os profissionais do Marketing, eles terminarão aprendendo. Mas ainda não sabem. Eles são inteligentes, astuciosos e bem pagos.

Sergipe está assistindo o nascimento de um fenômeno eleitoral. O Estado se pergunta, por que essa aceitação de Valmir de Francisquinho?

A explicação requer uma análise mais aprofundada. Mas em qualquer explicação, a linguagem apropriada para as redes sociais terá um peso.

Uma velha raposa política me disse no Shopping: Valmir não se sustenta, você não conhece os poderes da máquina. Acho que ele não será candidato, será impedido.”

Pensei, deixemos os áulicos lorotarem, gente pendurada nas tetas públicas.

Continuo querendo entender o complexo fenômeno Valmir de Francisquinho. Estou convencido que a realidade das redes sociais são partes da explicação. Valmir fala a linguagem das redes naturalmente. O povo entende e acredita.

Segundo o fato de Valmir já ter feito o que está dizendo que vai fazer é decisivo para a credibilidade. O talento administrativo será levado em conta nessa eleição.

Qualquer gênio do marketing que quiser produzi-lo, criar um personagem, vai botar tudo a perder. A força de Valmir é a sinceridade espontânea. Mesmo quando não sabe responder a uma pergunta por não conhecer o assunto, o eleitorado entende. Ninguém sabe tudo.

Vou continuar acompanhando.

Antonio Samarone (médico sanitarista)

SABORES ANCESTRAIS

 

Sabores Ancestrais.
(por Antonio Samarone)

Dona Rosita da Cova da Onça me presenteou com uma raridade: uma porção de mangas “pingos de mel” (vejam a foto). São mangas silvestres, não comerciais. A polpa é fina e fibrosa, o sabor adstringente e forte, com aspecto franzino. O cheiro é bom!

Rosita é um velha amiga dos meus parentes do extinto povoado Matêbe. Na casa da minha avó Gina, tinha um pé dessas mangas. Só Betinho de Bebé dos Passarinho, um amigo do Beco Novo, especialista em frutos tropicais, que está exilado na Flórida, pode fornecer detalhes científicos dessa manga raiz.

A manga Pingo de Mel está para a manga Tommy, como o Araticum está para a Atemoia. No meio da escala agronômica ficam a manga Espada e a Pinha.

Existem no mundo 1600 tipos de mangas, quase todas na Índia. No Nordeste temos uma dezena. As mais apreciadas são as mangas Espada e Rosa. Comercialmente a Tommy e a Palmer. As mangas Maria e a Pão tem o seu valor.

Como diz o poeta: “da manga Rosa eu quero o gosto e sumo”. Eu prefiro a manga Espada da Ilha Mem de Sá, na Enseada do Vaza Barris, em Sergipe. As melhores do Brasil.

A manga Espada se chupa fazendo um furinho na casca, aspirando-se gulosamente a seiva. Depois tira-se a casca com os dedos e enfia-se o carroço na boca, até sujar o pau da venta. As “frepas” ficam entre os dentes. A manga Espada cortada de faca perde o gosto natural.

O cheiro da manga Espada chupada no caroço invade a alma. As mangas de dona Rosita reavivaram a minha memória olfativa e gustativa de infância. Sem esquecer das mangas chupadas, Eu trepado na mangueira.

Cresci sabendo que manga com leite era um veneno. Mamãe tinha certeza de que ninguém escapava. Nunca arrisquei.

Manga com farinha era merenda. Quando a fome apertava comíamos até manga verde.

Sempre soube que um abençoado muito feio e desmantelado, era o Cão chupando manga.

Antonio Samarone (médico sanitarista)

sábado, 14 de maio de 2022

UM APARTE

 

Um aparte!
(por Antonio Samarone)

Contei no texto de ontem que Graciliano Ramos, em um momento de fúria, desejou que o estado de Alagoas afundasse no Oceano. Pelo menos o Brasil ganharia um Golfo.

O mundo é pequeno!

Recebi uma mensagem de Cibalena (Luciano Oliveira) um intelectual de bata longa, ceboleiro exilado em Recife, me corrigindo. Segundo ele a história é mais longa.

Graciliano disse essa heresia numa roda de cachaça entre comunistas, onde o sergipano Joel Silveira estava presente.

Segundo Cibalena, Joel Silveira acrescentou: “Eu defendo que Sergipe afunde junto com Alagoas, o Golfo seria maior e o Brasil mais rico.”

Joel dizia também que Sergipe era uma fazenda iluminada, propriedade de meia dúzia de usineiros. E era!

Quando Joel Silveira retornou à Sergipe para ser o Secretário da Cultura do Governo Valadares. Saiu contando que só encontrou para conversar em alto nível em Sergipe, o arcebispo conservador Luciano Duarte. Fizeram um pacto: nem Joel falava de sexo, nem o Bispo de política.

Joel Silveira, filho de Lagarto, foi o último intelectual sergipano com brilho nacional. Déda o homenageou, dando seu nome á Ponte do Mosqueiro.

Esses intelectuais...

Antonio Samarone (médico sanitarista)

SERGIPE, DOIS SÉCULOS DE ESQUECIMENTO

 

Sergipe, dois séculos de esquecimento!
(por Antonio Samarone)

A sociedade sergipana não comemora o bicentenário da independência (1822 – 2022). A pandemia atrapalhou, mas nada justifica a indiferença. Soube que a Assembleia Legislativa fará alguns seminários, algumas entrevistas na TV ALESE, um ou outro sarau.

As entidades culturais organizarão algumas palestras on-line, tudo limitado a meia dúzia de abnegados. E o executivo estadual? Não sei! As preocupações são outras. Estão enrascados para formarem a “chapa” do continuísmo.

Nem o ano eleitoral despertou os donos do poder. Nada! Eles comandam a máquina, fonte de mimos e privilégios, para os seus. E o Estado cada vez mais pobre e o povo precisado. Um elite política insaciável.

Um dia isso acaba e espero que seja logo.

O grande Graciliano Ramos em um momento de indignação desejou que Alagoas afundasse no Oceano, pelo menos o Brasil ganharia um golfo. Eu não quero que Sergipe afunde, acho que ainda tem jeito.

Vivemos sob o peso de uma classe dirigente atrasada, atolada numa politicagem miúda. Sempre foi assim, mas parece que chegamos às profundezas dos grotões.

No último meio século, tivemos dois momentos de lucidez administrativa: o governo Augusto Franco (1978 – 1982) e o primeiro governo João Alves (1982 – 1986).

E Marcelo Déda?

Bem, Déda foi um grande político. Inteligente, íntegro, orador ao nível de Fausto Cardoso, mas um administrador sofrível. Perdemos a Era Lula! O Nordeste surfou no crescimento econômico. Sergipe ficou para trás.

Os dois últimos governos (Jackson e Belivaldo), foram tempos de trevas e atraso. Eles se apossaram do poder público. São os donos. Gente de poucas ideias. A falta de criatividade é absoluta.

Não sairemos desse atoleiro com facilidade. A nossa autoestima é muito pequena. O sergipano talentoso brilhou e brilha fora de Sergipe.

O trade turístico e uns poucos intelectuais inventaram a “sergipanidade” (existe até um dia). Cada um acha que é uma coisa. E ninguém se entende.

O nosso desconhecido Hino canta em suas estrofes: Alegrai-vos, sergipanos / Ressurge a mais bela aurora / Do áureo jucundo dia / Que a Sergipe, honra e decora.”

Sergipe esqueceu o bicentenário da independência!

Antonio Samarone (médico sanitarista)

GENTE SERGIPANA - JOSÉ AUGUSTO MELO

 

Gente Sergipana - José Augusto Melo (82 anos)
(por Antonio Samarone)

Natural de Itabaiana, nascido em 23 de Janeiro de 1940. Filho de Seu Zezé da Lagoa e Dona Dulce (tia de Zé Bezerra, do Famoso Circo).

José Augusto Melo é um ceboleiro raiz, de uma família de artistas.

O pai de José Augusto, Zezé da Lagoa, foi o dono do primeiro cinema de Itabaiana (1913). O tio, Antonio Melo, foi o maestro da Filarmônica Nossa Senhora da Conceição (a mais antiga do Brasil).

José Augusto Melo foi o "center four" do Cantagalo, num time imbatível na Região. Jogou ao lado de Jairton de Mestre Dé, que depois foi titular do Grêmio porto-alegrense.

O avó de José Augusto Melo, Seu Joãozinho de Totonhinho era um consagrado cantor sacro. Foi Intendente de Itabaiana por dois mandatos.

Seu Zezé da Lagoa foi dono do famoso Bar Simpatia, que depois passou para Bobó, seu filho. Era no Bar Simpatia que se chupava o melhor picolé de coco do Nordeste.

José Augusto Melo é casado com Dona Zezé, uma fidalga, filha de Seu Etelvino Mendonça (que levou o futebol para Itabaiana)

José Augusto foi gerente do BANESE por muitos anos,

0 ÓBVIO ULULANTE

 

O Óbvio Ululante!
(Por Antonio Samarone)

Nelson Rodrigues cunhou a sentença “óbvio ululante”, para uma realidade muito evidente.
A sentença viralizou antes da Internet. Passamos usa-la a torto e a direito. Quando queremos minimizar uma afirmação alheia, dizemos: “isso é óbvio ululante”.

Óbvio é um vocábulo conhecido, mas por que ululante? Pensa-se erradamente que seja um óbvio muito evidente (um óbvio muito óbvio). Nelson Rodrigues não ia usar a sonora expressão de forma banal.

Por que o óbvio pode ser ululante?

Nelson dominava os recantos da língua portuguesa: o leão ruge, boi muge, a cabra bale, o lobo uiva e a hiena ulula.
Puta merda, a hiena ulula e só quem ulula é ululante.

As hienas são culturalmente difamadas como cruéis e traiçoeiras que dão gargalhadas quando estão devorando as suas vítimas. As hienas são injustamente malvistas, como seres desprezíveis. Elas enfrentam os leões com sucesso.

Só as hienas ululam. O óbvio ululante é o óbvio de quem se manifesta ruidosamente, de forma desgraciosa, semelhantes as hienas.

Antonio Samarone (médico sanitarista)

HOSPITAL DO CÂNCER DE SERGIPE

 

Hospital do Câncer de Sergipe.
(Por Antonio Samarone)

O governador Belivaldo volta a anunciar a construção de um Hospital do Câncer. De novo? Essa estória se arrasta há uma década. Parece que os pruridos demagógicos aumentam em época de eleição.

Se o projeto for o antigo, o Hospital do governo terá: 100 leitos de internação adulto; 26 leitos de internação pediátrica; 10 leitos de UTI adulto; 05 leitos de UTI pediátrica; 60 leitos de quimioterapia adulto; 14 leitos de quimioterapia pediátrica; 06 salas cirúrgicas; 24 consultórios médicos; 02, consultórios odontológicos;

O Hospital do governo será equipado com 01 Acelerador Linear; 02 Raio X; Mamografia; 02 laboratórios; Agência transfusional; emergência; setor de fisioterapia; 02 salas de aula; e farmácia.

A construção desse hospital custará cerca de 110 milhões, fora os reajustes do contrato.

Entretanto a preocupação é outra: quanto custará aos cofres públicos a manutenção (custeio, pessoal, logística etc.) de um hospital especializado em câncer deste porte?

Em Saúde construir é fácil. A dificuldade são os recursos para a manutenção.

Ou seja, Belivaldo anuncia a construção de um hospital para o próximos governador administrar, sem deixar prevista uma fonte de custeio. De onde sairão os recursos para o financiamento do custeio desse Hospital do Câncer. O orçamento da saúde do Estado suporta assumir mais essa despesa?

A partir da Emenda do Teto de Gastos, a União reduziu em 19 bilhões os recursos para o SUS. O período de vacas gordas da Pandemia acabou.

Para quem não é da Saúde ter um ideia dos custos hospitalares: para se manter o HUSE funcionando, o Estado gasta em média 40 milhões por mês.

Entretanto, esse não é o maior absurdo. Não! A falta de planejamento é absoluta.
Está sendo construído pelo empresário Henrique Prata um Hospital do Amor em Lagarto, especializado em câncer. Essa experiência iniciada em Barretos, SP, é exitosa no Brasil. Trata-se de um hospital público não governamental.

Lagarto já possui uma Faculdade de Medicina – UFS. e pode se tornar num centro de referência regional no tratamento do câncer.

O avô de Henrique Prata é o médico e escritor sergipano Ranulfo Prata. Gente, o Hospital do Amor é uma referência internacional no tratamento do Câncer. Tem tudo para dar certo também em Sergipe.

Qualquer governo com espírito público se somaria a iniciativa de Lagarto. O Hospital do Amor é uma referência mundial no tratamento do câncer, onde o pobre tem acesso gratuito.

A primeira etapa começa a funcionar esse ano.

Governador, se o senhor quiser anunciar a construção de um hospital em Sergipe, estamos precisando um hospital de retaguarda. O HUSE é um hospital de urgência.

Gente, eleições não pode ser um Vale-tudo!

Antonio Samarone (médico sanitarista)
(A foto é do Hospital do Amor em Lagarto)

O NOVO SEMPRE NASCE

 

O Novo sempre nasce!
(por Antonio Samarone)

Curioso, fui a 2ª Exposição da Indústria, Comercio e Serviços de Itabaiana. Um fato inusitado: o País em franco processo de desindustrialização e uma cidade do interior de Sergipe realizando uma exposição industrial.

Do que se trata?

Um espanto, centenas de pequenos empresários, cheios de esperança, mostrando o que cada empresa está produzindo. Um clima orgulho e otimismo. Itabaiana esbanja dinamismo.

Há menos de uma década, a imagem de Itabaiana estava ligada a violência, ao vale tudo, a um comercio dominado pela ilegalidade. Se dizia em tom de galhofa: em Itabaiana se compra pneus mais barato do que na fábrica. A capacidade de trabalho dos ceboleiros era ignorada.

Itabaiana era uma cidade desorganizada. Fiquei longe no Tempo da Pandemia e agora voltei. A cidade respira grandeza!

Não falo apenas das ruas e praças bem cuidadas, das escolas oferecendo um ensino de qualidade, dos servidores recebendo em dias. Falo da imagem da cidade. Itabaiana virou sinônimo de desenvolvimento.

Itabaiana tem feira de livros, orquestra sinfônica, uma TV de boa qualidade e um comercio competitivo. É a Capital do caminhão. O que você não encontrar, vá em Itabaiana, que tem bem mais barato.
Fiquei impressionado com a Exposição Industrial. Quis saber o que tinha acontecido, qual foi o milagre, o que determinou essa virada?
As respostas foram quase unânimes: a capacidade de trabalho do povo é a mesma, só que há 10 anos a cidade passou a ser administrada com competência e espírito público. Será se aconteceu em Itabaiana o que não acontece em Sergipe há 16 anos?

Um bom Prefeito pode mudar até a imagem de uma cidade? Criar esperança. Criar uma nova narrativa de progresso. Voltei com essa reflexão.

Procurei o Prefeito Adailton, puxei uma conversa recheada de perguntas. Ele foi sucinto: “Tudo começou com Valmir de Francisquinho”.

Continuou Adailton: “Samarone, nem sempre o talento político vem acompanhado da competência administrativa. Muitos são bons na política e péssimos gestores, outros o inverso. Quando coincide incidir numa mesma pessoa o dom político e a capacidade administrativa, surge o novo. Valmir é isso!”.

Será?

Fiquei em dúvidas: esse Valmir pode ser uma alternativa fora da mesmice, para tirar Sergipe do buraco?

Antonio Samarone (médico sanitarista)

O FUTURO DO SUS

 

O futuro do SUS.
(por Antonio Samarone)

Os resultados do combate a Pandemia no Brasil foram negativos. A nossa prioridade foi o atendimento aos casos graves. Os recursos foram destinados a criar leitos de UTI e hospitais de campanha. A atenção primária e as ações de vigilância epidemiológica foram esquecidas.

Claro, analisar por que chegamos a mais de 620 mil óbitos, requer uma abordagem mais profunda. Estou levantando apenas os efeitos da Pandemia sobre o SUS.

A necessária concentração de esforços no combate à Peste desmobilizou as ações rotineiras de Saúde Pública. Os programas de Saúde Pública foram desativados. Estou falando da vacinação de rotina, pré-natal, combate as DST, diabetes, hipertensão etc.

Da mesma forma que os hospitais suspenderam as cirurgias eletivas, as Unidades Básicas congelaram a atenção primária.

Talvez a principal missão na Saúde Pública dos futuros governantes seja retomar e ampliar as ações da Atenção Primária. Antes da Pandemia a cobertura da Atenção Primário no Brasil era de apenas 40%, onde o necessário é cobrir 90% da população. Exige-se mudanças profundas.

Saindo do sonho: a conjuntura aponta em direção contrária, ao avanço na privatização do SUS. Hoje, 38% dos profissionais de saúde do SUS possuem vínculos com as "OS", empresas terceirizadas, contratadas pera gerir o SUS. Os políticos adoram, pelo possibilidades de clientelismo e outras mazelas.

O Brasil gastou em 2017 com a Saúde 9,2% do PIB (600 bilhões). Não é pouco, os países ricos gastam em média 10 por cento. Entretanto, no Brasil tem um detalhe perverso. Desses gastos 52% são privados, para atender a 22% da população e 48% dos gastos são públicos destinados a 78% da população.

A desigualdade de acesso aos Serviços de Saúde no Brasil é faraônica.

A partir de 2017, o financiamento do SUS foi sufocado. Durante a Pandemia foram aportados recursos extras. Em 2021 injetou-se 40 bilhões, desses, 90% para ampliar os leitos de UTI. A medicina de mercado bebeu nessa fonte.

Ressalte-se que a Pandemia deixou sequelas a médio prazo, em especial sobre os idosos. A demanda da população ao SUS será crescente e complexa. Não me peçam otimismo! Os futuros governadores herdarão um grande problema.

A necessidade do SUS ficou evidente durante a Pandemia. Como reconstruí-lo? Não tenho uma receita. O sonho de uma Sistema de Saúde público e gratuito continua. Mas por enquanto, é só um sonho. No Brasil, a medicina de mercado se tornou dominante.

Quanto custa um Sistema de Saúde universal com esses propósitos. Quem vai empunhar essa bandeira? Quem vai pagar essa conta?

Antonio Samarone (médico sanitarista)

GENTE SERGIPANA - BATATINHA, O CURADOR DE COBRAS

 

Gente Sergipana – Batatinha, o curador de cobras.
(Por Antonio Samarone)

Não sei se a profissão de curador de cobras ainda existe, ou se Batatinha foi o último. As cobras sempre estavam presentes em meu imaginário infantil.

Entre as histórias de Trancoso contadas por mamãe, uma me deixou um impressão profunda: Dona Valdecir, matrona do Beco Novo, estava amamentando Betinho, seu filho mais velho. Quando a luz apagava, uma cobra peçonhenta pegava o peito de Valdecir para tomar o leite e enfiava o rabo fino na boca do menino, para ele não chorar. O meu medo era acordar chupando o rabo de uma cobra.

São Bento era um protetor acreditado. “São Bento antes das cobras”.

Em Itabaiana, além de São Bento, apareceu um forasteiro chamado Batatinha, que andava com um caixão de cobras nas costas, rezando e curando. A reza dele era preventiva para afastar as cobras do nosso caminho.

Batatinha todas as vezes que andava pelo Beco Novo, passava lá em casa para rezar. Nunca cobrou, dizia gostar do meu Pai.

Batatinha era baixinho, gordo, papudo, cheio de molecagens. Gostava de meninos e se aproximava dando um beliscão de frade na barriga.

Batatinha era muito amigo de Jorge de Dona Ermelinda, outro sujeito muito amigo das cobras.

Na Bodega de Armilindo vendia-se cachaça curtida com cobras dentro da garrafa. Na seção das cascas de paus: angico, milone, quina, imburana, quixabeira, jurubeba. Além do rabo de galo (cachaça com cinzano), servidos naqueles copos com o fundo de 4 dedos de espessura.

Do mesmo jeito que existem taças apropriadas para os tipos de vinhos, existem copos para se beber casca de pau. Só servem para isso.

Medo mesmo, era pisar em cama de sapo ou espinha de cobra. A espinha de cobra quando não mata, aleija. A cama de sapo causa uma frieira sem cura, daquelas que sangra de tanto coçar. Na hora de dormir, um pé coçava o outro, numa sensação dionisíaca.

Eu andava com um escapulário de Nossa Senhora do Carmo (bentinhos), que me protegia de afogamentos e mordidas de cobras. Sempre funcionou, nunca fui mordido nem morri afogado.

Do mesmo jeito que Batatinha aparecia, desaparecia, misteriosamente. Nunca se soube a procedência daquele mágico das cobras. Não se sabia o nome, a idade, onde morava, quem eram os pais, onde nasceu. Era apenas Batatinha, o curador de cobra.

Pelo tempo, já deve ter morrido, ou quem sabe se encantado. Essa gente nunca morre, se encanta. Já procurei notícias até no Sertão da Bahia. Alguém sabe?

Antonio Samarone (médico sanitarista)