terça-feira, 30 de outubro de 2018

A AMEAÇA COMUNISTA...



A ameaça comunista... (Por Antônio Samarone)
Vivam os espíritas, os monarquistas, os anormais, os criminosos de todas as espécies;
Viva a filosofia com muita fumaça e pouco fogo;
Viva o cão que ladra mais não morde, vivam os astrólogos libidinosos, viva a pornografia, viva o cinismo, viva o camarão, viva todo mundo, menos os comunistas.
Pablo Neruda

Hoje, as 3:15 da madrugada, a última célula comunista de Sergipe fechou suas portas. A ameaça de eliminação dos Vermelhos, fora o suficiente. Os últimos comunas organizados em células, obedientes ao centralismo democrático, caíram na clandestinidade eterna.
Agora que acabou, eu posso contar!
Durante a guerra fria, Aracaju foi a moscousinha do Nordeste. Anualmente, em todo 03 de janeiro, Aracaju acordava ao som da queima de fogos de artifícios, nos bairros operários. Era o aniversário de Luiz Carlos Prestes. Os mais velhos lembram e contam.
Nas eleições de 1947, segundo Luiz Antônio Barreto, “Aracaju deu maioria a Iêdo Fiúza, candidato dos comunistas a presidente, também deu mais votos a Luiz Carlos Prestes, para o Senado, do que aos candidatos sergipanos. Elegeu o médico comunista Armando Domingues, e o jornalista e empresário socialista Orlando Dantas, para a Assembleia Constituinte e Legislativa de Sergipe.”
Sem contar a eleição do comunista, Carlos Garcia, como o Vereador mais votado de Aracaju, em 1946.
Esta célula vermelha funcionava numa casa apertada, ao lado do quartel do 28 BC, no Bairro 18 do Forte. Eles eram apenas nove, o mais novo com 82 anos. Liam Marx, Hegel, Bukharin e Plekhanov, possuíam uma pequena biblioteca, e tinham guardadas as fotos da última visita de Prestes à Aracaju.
Eles eram apenas nove, o jornalista Fragmon Carlos Borges, o operário têxtil Manoel Vicente, o gráfico Zé Nunes, o mecânico Lourival, o Jornaleiro Careca, o filosofo Gilberto Burguesia, o relojoeiro João Océas, o servidor público Agonalto Pacheco e o ferroviário Pedro Hilário. E ainda Lídio da Cocada, que citava Lênin a três por dois. A célula recebia orientação de Rosalvo Alexandre, ex representante de Prestes em Sergipe.
Esta célula funcionava desde 1956. Criada logo após o XX Congresso do PCUS, onde Nikita Kruschev denunciou os crimes de Stalin. Hoje, pela madrugada, após a leitura de trechos do “Que Fazer”, clássico de Lênin, decidiram pelo inevitável, fecharam a célula. “Gato escaldado, tem medo de água fria”, profetizou Lídio da Cocada!
Após exaustivas discussões, decidiram, por unanimidade, fechar a célula. Por fim, cantaram a Internacional e, por via das dúvidas, lavraram uma ata circunstanciada. Nesse ato singelo, os últimos que lutavam pela coletivização dos meios de produção, ditadura do proletariado e o fim do estado burguês, penduraram a chuteira. Eles abominavam os vícios da pequena burguesia.
Por uma deferência pessoal, Rosalvo Alexandre me telefonou pela manhã relatando o ocorrido. Autorizou que eu repasse aos interessados pelas redes sociais. E assim está sendo feito.
Espero que esse fato tranquilize os bolsonarianos, e desobrigue-os da montagem de novos comandos de caça aos comunista.

Aproveito para informar ao Jornalista Xico Sá, que andou procurando por comunistas, em belo artigo no El País. O comunismo acabou em Sergipe! Sobraram meia dúzia de gatos pingados, que por questões de princípios filosóficos, coerência e afetividade continuam profetizando o marxismo. Acho que vão morrer assim!
Antonio Samarone.

domingo, 28 de outubro de 2018

SERGIPE QUE SAIU DAS URNAS



SERGIPE QUE SAIU DAS URNAS... (Por Antônio Samarone).
Encerrou-se um ciclo de dominação política em Sergipe, iniciado em 1982. O fim de uma Era! Os velhos chefes, que governaram o estado no período, saíram do jogo: João Alves, Albano Franco, Antônio Carlos Valadares, Jackson Barreto e Marcelo Déda. O futuro governo de Belivaldo será uma transição. Uma nova geração de políticos tentará assumir o comando do estado, a partir de agora.
Quem saiu na frente, em condições de liderar novos projetos de poder?
Quem irá liderar os futuros blocos de hegemonia política em Sergipe, com fôlego para disputar a sucessão de Belivaldo Chagas, em 2022? A política é o reino do imprevisto. O futuro depende dos projetos e das circunstâncias; da conjuntura e da capacidade dos líderes em construir caminhos. A disputa para sucessão de Belivaldo, passa obrigatoriamente pelas eleições municipais em 2020, sobretudo pela disputa da Prefeitura de Aracaju.
Num exercício de probabilidades, especulação, construção de cenários, análise de conjuntura, quem são os políticos que saem na frente nessa disputa, e quais as chances de cada um?
Delegado Alessandro – Recebeu um mandato de oito anos. Se tiver vontade e talento, está em condições de liderar um bloco, com o discurso de que é o novo. Antes, Alessandro precisa tomar duas definições: a sua relação com o governo Bolsonaro, e em qual Partido irá ingressar (A Rede não cumpriu as cláusulas de barreira). Dependendo do seu desempenho no Senado, pode apresentar um nome de peso para disputar a prefeitura de Aracaju. Vencendo, pode liderar um polo para disputar do Governo do Estado, em 2022. Como obstáculo, a inexperiência política, a grande expectativa criada e não possuir grupo político.
Rogério Carvalho – Senador eleito. Preside um Partido (PT) que já governou o estado. Se souber controlar os impulsos, Rogério pode liderar a oposição contra Bolsonaro em Sergipe. O PT disputará a prefeitura de Aracaju, em 2020, com possibilidades de vitória. Elegendo o Prefeito de Aracaju, Rogério Carvalho pode liderar um bloco para o disputar o Governo. Como complicador, Rogério disputará esse espaço de líder, dentro do próprio PT, com a vice-governadora Eliene Aquino.
Edvaldo Nogueira - Por ser o Prefeito de Aracaju, ter experiência nos bastidores e ser um gestor qualificado, entra na corrida para a sua própria reeleição. Dependerá do seu desempenho no restante do mandato e na construção de um bloco político. Sendo reeleito em 2020, Edvaldo criará condições para disputar, com chances, a sucessão de Belivaldo. Entre os obstáculos: Edvaldo não tem grupo político. Como complicador, o PC do B não cumpriu as cláusulas de barreira.
Belivaldo Chagas - Eleito governador com votação expressiva. Vai depender do exercício do próprio mandato, e da sua postura como líder. Belivaldo vai montar uma equipe, ter projeto próprio, comandar o governo? Esse é o seu grande desafio: realizar uma boa gestão e ter talento para liderar! Com o comando da máquina, ele poderá construir e liderar um novo grupo político, atraindo muita gente que precisa do oxigênio palaciano. Belivaldo é do PSD, que tende apoiar Bolsonaro. Vamos aguardar...
Claro, bola de cristal não funciona em política! Os quatros nomes apontados como favoritos podem emplacar ou não, são conjecturas. Outros cenários poderão ser construídos para 2022.
Pode aparecer outra turma?
Entre os derrotados: Valadares Filho, André Moura e Eduardo Amorim continuam vivos. Entre os eleitos: Fábio Mitidieri, Eliane Aquino e Fábio Henrique podem surpreender. Entre os bens votados e não eleitos: Milton Andrade, Emília Correia, Henri Clay e Emerson Ferreira estão na disputa. Claro, com as redes sociais, a qualquer momento pode emergir gente desconhecida, outsiders!
Quem mais terá projetos para o comandar politicamente o Estado de Sergipe?
Antônio Samarone.

sexta-feira, 26 de outubro de 2018

A ESPANTOSA HISTÓRIA DA MEDICINA



A espantosa história da medicina (o nascimento das neurociências - por Antônio Samarone)
Frenologia – o médico alemão Franz Joseph Gall (1758-1828), criou um método de avaliação das saliências do crânio (cranioscopia), onde se poderia identificar os traços do caráter das pessoas, suas habilidades mentais, e até as suas tendências criminosas. Gall dividiu o cérebro em 27 zonas, identificadas nas protuberâncias ósseas.    
Segundo Nicolelis, “Gall “identificou além de áreas especializadas para diferentes emoções, como o instinto de reprodução, o amor a própria prole, o orgulho, a arrogância, a vaidade e a ambição; sugeriu a existência de regiões corticais especializadas na definição da opção religiosa, no talento poético, na firmeza de caráter e na perseverança.”
A frenologia sofreu contestação, mas continuou produzindo consequências. Os consultórios frenológicos se espalharam pela Europa e USA, na primeira metade do Século XIX. A craniologia se tornou influente na era vitoriana, e foi usada para justificar o racismo, a colonização e a dominação de "raças inferiores".
O médico italiano Cesare Lombroso (1835-1909), incorporou outros elementos a frenologia, como a fisiognomia (avaliação das aparências), e criou uma teoria de antropologia criminal, que vigorou por muitos anos. Lombroso achava que certos criminosos apresentavam evidências físicas de um atavismo hereditário, reminiscente de estágios mais primitivos da evolução humana. 
No Brasil, o médico maranhense Nina Rodrigues, diretor do Instituto de Medicina Legal da Bahia, usou amplamente as concepções lombrosianas para realizar os seus estudos eugênicos e racistas.
Durante o Terceiro Reich, a certificação craniométrica tornou-se obrigatória por lei e era realizada por centenas de institutos e especialistas na Alemanha. Muitas pessoas foram condenadas aos campos de concentração ou tiveram negado o casamento ou o trabalho, em função desta "má medida do ser humano", segundo o Dr. Renato M.E. Sabbatini, da UNICAMP.
Antônio Samarone.


Quo Vadis Domine?


Quo Vadis Domine?

Filosoficamente, a medicina tem como principal missão aliviar o sofrimento humano. Uma profissão milenar. A transformação do cuidado médico em mercadoria, em forma de procedimento, enfrenta reação. A desumanização do ato médico, a sua transformação em negócio, guiado pelo lucro, encontra resistência.

Em Sergipe, a Sociedade Brasileira de Médicos Escritores (SOBRAMES), liderada por Lúcio Prado Dias, insiste na difusão da cultura e da arte, entre os esculápios. Iniciativa que restitui aos médicos parte da humanidade perdida.

Hoje no almoço da SOMESE, de forma inusitada, os médicos cantaram, recitaram e representaram. Falaram da vida com alegria. Me preguntei, estamos festejando o que? Será uma despedida, o prenuncio de uma longa noite de escuridão...

Afastei logo esse agouro!

Os médicos, em sua maioria, sempre empunharam a bandeira da vida e da liberdade ao longo da história.

Antônio Samarone.

JOSÉ ABUD


Mestres da medicina sergipana. (Por Antonio Samarone)

JOSÉ ABUD, 80 anos, sergipano, descendente de sírios. Formou-se pela Escola Baiana de Medicina e Saúde Pública, em 1961. Médico, poeta e professor. Foi médico do Hospital de Cirurgia desde 1962.
Professor de antropologia física na Faculdade de Filosofia de Sergipe. Em 1972, ingressou na Faculdade de Medicina de Sergipe como professor assistente de propedêutica médica. Nos tempos em que a clínica era soberana, a propedêutica era o seu principal recurso.
Geriatra e gerontólogo desde 1974, foi um dos fundadores e primeiro presidente da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia - secção Sergipe. Instalou em Sergipe o Conselho Estadual dos Direitos do Idoso, do qual foi presidente. Foi o idealizador e fundador da ONG Universidade da terceira Idade, em 1979.
Publicou como editor, durante 3 anos, no Jornal Gazeta de Sergipe o suplemento literário "Arte e Literatura". Poeta e escritor, é membro da Academia Sergipana de Letras, onde ocupa a cadeira de número 9.
Formou-se em Educação Física pela Universidade Tiradentes em 2007. Membro fundador da Academia Sergipana de Medicina, onde ocupa a cadeira de número dezoito, que tem como patrono o Dr.João Cardoso do Nascimento Júnior.
Fonte: Academia Sergipana de Medicina.

Antonio Samarone.

segunda-feira, 22 de outubro de 2018

FERNANDO SANTOS DE OLIVEIRA - GENTE SERGIPANA


Gente Sergipana.
Fernando Santos de Oliveira, professor aposentado da UFS, natural de Aracaju. Nascido em 18/11/1942. Filho de Roger Torres.
Fernando, sempre discreto, foi um grande atleta do esporte sergipano. Campeão no futebol e voile. Center four do Cotinguiba e do Sergipe, na década de 1960.
Um artilheiro inteligente, clássico. Marcou um gol histórico na poderosa Seleção Brasileira de 1970, nas feras do Saldanha, em 09 de julho de 1969, na inauguração do Batistão. Eu vi!
Fernando é um gentleman, inteligente, bom professor, pouco afeito as badalações. Foi um dos grandes do futebol sergipano.
Minha sincera homenagem - palmas!
Antonio Samarone.

sábado, 20 de outubro de 2018

VAMOS LOUVAR A QUEM MERECE



Vamos louvar a quem merece... (por Antônio Samarone)
A turma do Arquidiocesano que completou 40 anos da conclusão do segundo grau, fez uma festa. Professores e a direção do Colégio foram convidados. Eu ensinava biologia. A atração foi a presença do diretor, o Cônego Carvalho.
Numa breve retrospectiva, o Cônego José de Carvalho Souza dirigiu o Arquidiocesano por cinquenta anos. Em 2012, foi afastado de forma abrupta pela Diocese. O Colégio nunca mais foi o mesmo.
O conservador Cônego Carvalho dirigia o Colégio democraticamente. Reinava um clima de liberdade, do livre pensar e do respeito as divergências no Colégio.  
Durante a revolução de 1964, alguns alunos foram expulsos do Colégio Atheneu, acusados de subversão. O Cônego Carvalho abriu as portas do Arquidiocesano para recebe-los: Wellington Mangueira, Abelardo Souza e o poeta Mario Jorge (irmão da deputada Ana Lúcia). Não foi pouco!
Quando ingressei no Colégio, com professor de Biologia, fiquei preocupado. Como ensinar a Teoria da Evolução, claramente materialista, num colégio de padres? Estávamos na década de 1970, e a biologia moderna, cientifica, ainda era uma novidade nos livros didáticos.
Procurei o Cônego Carvalho, para saber a orientação do Colégio. Eu precisava do emprego. Expus o problema: padre, a biologia tem uma visão sobre a origem da vida e a sobre evolução que contrariam a doutrina cristã, o que fazer? O Cônego Carvalho foi sucinto: o senhor ensine biologia, que eu ensino o catecismo.
O corpo docente era infestado de esquerdistas, líderes estudantis, isso em plena ditadura. O padre sabia, mas o que cobrava é que fossemos bons professores. O Cônego Carvalho valorizava os professores. Era acessível, dialogava com os alunos. E foi um pioneiro no fortalecimento do esporte estudantil.
O Colégio Arquidiocesano foi um grande colégio, em grande parte, devido a dedicação e competência do Cônego José de Carvalho Souza. Foi o eu que ouvi dos ex-alunos, após 40 anos. Eu subscrevo!
Antônio Samarone.

terça-feira, 16 de outubro de 2018

CRIADORES DE BACORINHOS



Criadores de bacorinhos...
Enquanto o mundo discute o impacto no trabalho da automação e da inteligência artificial; o fim dos empregos; a extinção de várias profissões, constatei que uma ocupação centenária, presente em minha infância, permanece forte, e agora mais organizada. Os criadores de bacorinhos são eternos.
Centenas de microempresas informais, de criadores de leitões, permanecem ativas, abastecendo o mercado em Sergipe. O governo só atrapalha. Sem esses criadores autônomos, empreendedores, a nossa deliciosa costelinha de porco, light, não seria possível. Não estou falando dos porcos da Sadia.
Explico melhor. Muita gente em Itabaiana vive criando leitões. A alimentação é a base de farelo, soja, milho, suplementos vitamínicos e proteicos. Para baratear os custos, completam com a lavagem. Saem com uma carroça de burro (foto), de porta em porta, recolhendo os restos de comidas (a tal lavagem). Ajudam na limpeza pública, e oferecem ao criatório alimentos naturais, sem antibióticos, herbicidas ou hormônios.
Os bacorinhos do agreste são abatidos logo, 90 dias, não viram barrão, pai de chiqueiro. O toucinho é fino e os ossos moles. A carne é saudável e tenra. Os leitãozinhos são vacinados; e criados em ambientes higienizados, com água limpa e corrente.
Num dos locais visitados, o criador, para reduzir o estresse dos bacorinhos, deixa um som ligado, com boa música de fundo. Sei que vocês estão querendo saber: onde comprar esses bacorinhos de 30 kg, criados com lavagem e música? Além de Itabaiana, nas feiras livres de Aracaju. É só procurar!
Antônio Samarone.

segunda-feira, 15 de outubro de 2018

MESTRE VALTINHO FUNILEIRO


Gente Sergipana 

Valter Farias (Mestre Valtinho). Filho de Seu Manezinho Funileiro e Dona Rosinha do Ralo; família de funileiros, com oito irmãos. 

Há cinquenta anos produzindo ralos, bicas, candeeiros, coifas, etc. Artesão do flandre, zinco e alumínio. 
Itabaiana possuía dezenas de funileiros bons: Seu Neca, Pedro Funileiro, Cosme, Fobica, Parrachinho, Zé do Brito, entre outros. 

Mestre Valtinho resiste há a meio século, no mesmo local, na mesma oficina, enfrentando a industria do plástico e outras porcarias. 

Fui lá comprar dois ralos de zinco, dos antigos, furados à mão em cima de um cepo de mulungu. Ele fez na hora e me deu de presente. 


Sou amigo de infância do Mestre Valtinho, da mesma idade. Ele zagueiro ríspido, eu atacante medroso. Fazia os meus golzinhos.


Ele sempre bem informado. Conversamos sobre a encruzilhada em que o Brasil se encontra. 


Palmas para o Mestre Valtinho, que continua ganhando o pão decentemente, com o suor do próprio rosto.


Antonio Samarone.

sexta-feira, 12 de outubro de 2018

ROMARIA, SEM ROMEIROS...



Romaria sem romeiros...
As quatro horas da madrugada parti numa Van, com a minha turma de peregrinos, com destino a romaria de Nossa Senhora Aparecida. Cinco e pouco estava em Ribeirópolis. E aí, danei-me a caminhar. O que era aquilo? Um mar de gente! Não sei calcular, dez quilômetros de gente.
Pensei, quem é esse povo? Eles responderam cantando: “esse é o povo que vai morar no céu...” Será se vão esvaziar o inferno? De onde veio esse povo todo? Não sei...
Acostumado com as romarias do Padin Ciço, romarias de penitentes, sertanejos, gente sofrida; a romaria de Aparecida é de outra natureza. Muita gente jovem, sorridente, pousando para selfies; muita gente passeando. Um certo espírito fitness. Claro, tem um ou outro centrado na fé antiga, rosário na mão, pés descalços, fazendo ou agradecendo alguma promessa. As romarias também mudam.
Não entendo como as igrejas católicas andam vazias, com tantos devotos...
Ao longo do percurso vários trios elétricos, daqueles que o som vibra na caixa dos peitos da gente. Soube que quem contrata são as paróquias. A música e o ritmo são baianos, as letras religiosas. As cantoras pedem que as pessoas levantem as mãos, os pés, pulem, deem saltinhos, tudo o que se pede no carnaval. Me disseram que é para atrair os jovens. Já eu, suporto como penitência.
Outra coisa, não vi um padre, um frade, um coroinha. Onde está a instituição igreja, a romana? A capela do povoado Queimadas cabe no máximo cem pessoas. Claro, os padres celebravam as missas.
Com todas as novidades, essa é a fé que temos. As novas tecnologias, o celular, a internet, o drone, o GPS, as sementes transgênicas, nada, nada muda a alma humana. A velha natureza humana. Continuamos religiosos, com medos atávicos e acreditando em milagres.
Antonio Samarone.

quarta-feira, 10 de outubro de 2018

FATO RARO, RARÍSSIMO!



Fato raro, raríssimos!
Entre os finalistas ao Prêmio Jabuti, o mais tradicional prêmio literário do Brasil, na categoria “biografia”, ao lado de gente famosa (Jô Soares, Artur Xexéo, Lilia Moritz Schwarcz, Anita Leocadia Prestes, Claudio Bojunga), apareceu um tabaréu de Itabaiana, o historiador Anderson da Silva Almeida.
Um sergipano com destaque nacional. Gente, é hora de festa. A obra "...como se fosse um deles: Almirante Aragão – Memórias, silêncios e ressentimentos em tempos de ditadura e democracia" (Editora da Universidade Federal Fluminense - Eduff), de Anderson da Silva Almeida, antes que Sergipe tomasse conhecimento, é reconhecida nacionalmente.
A obra finalista, mergulha na trajetória do militar paraibano, Almirante Aragão, que ficou contra o Golpe de 1964. Aragão foi perseguido implacavelmente pelos agentes da repressão, falecendo no ostracismo em 1998. A esquerda esqueceu o Almirante.
Em 2010, Anderson da Silva teve a sua dissertação de mestrado premiada pelo Arquivo Nacional, e publicada em 2012 sob o título “Todo o leme a bombordo: marinheiros e ditadura civil-militar no Brasil”.
Anderson da Silva Almeida é membro da Academia Itabaianense de Letras. Estudou em Itabaiana, no Grupo Escolar Eduardo Silveira e no Colégio Estadual Murilo Braga. É graduado em História pela Universidade Católica do Salvador, especialista, mestre e doutor em História pela Universidade Federal Fluminense.
Anderson da Silva é autor de diversos capítulos em obras de circulação nacional e também atua como músico e diretor da Sociedade Filarmônica 28 de Agosto – SOFIVA – da cidade de Itabaiana.
Ainda não sei o resultado do prêmio, mas a vitória de Anderson da Silva com a sua obra já aconteceu. Ser finalista já é uma grande vitória. Sem influência de editoras, de padrinhos, da mídia, desconhecido até em Sergipe, ter o seu trabalho reconhecido nacionalmente é um grande feito. Palmas, muitas palmas.
Uma conclamação: intelectuais e acadêmicos sergipanos, vamos a leitura!
Antonio Samarone.

segunda-feira, 8 de outubro de 2018

A DERROTA DE JACKSON BARRETO



A derrota de Jackson Barreto.

Jackson Barreto foi o rei do voto em Aracaju. A maior liderança do campo popular em Sergipe, nos últimos 40 anos. Em 1985, foi o prefeito mais votado do Brasil. A sua intimidade com o povo era assombrosa: cumprimentava os eleitores pelo nome e sabia detalhes das famílias de cada um. Quando visitava uma residências, dizia-se que levantava até as tampas das panelas. Jackson era daqueles líderes, que se apoiasse alguém, elegia até um poste. E elegeu!

Com duas vagas ao Senado, como ele foi derrotado? Jackson Barreto repetiu o final carreira política de Leandro Maciel, outro grande da política Sergipana, derrotado por Gilvan Rocha, em 1974.

Não foi o efeito da “onda Bolsonaro”, em Sergipe Haddad ganhou disparado no primeiro turno. E o que foi? Numa primeira reflexão, identifico alguns pontos que atrapalharam a caminhada política de JB ao Senado. Vamos a eles:

1.       A briga desnecessária com os professores. Jackson foi orientado a bater de frente com os professores, derrota-los, destruí-los, numa visão equivocada de que o SINTESE era o grande inimigo. Jackson comprou uma briga e herdou um ódio que não eram dele, seguindo conselhos equivocados. A guerra contra o SINTESE expandiu-se para a categoria.

2.       Belivaldo fez a sua campanha como se fosse um candidato de oposição, nada prestava no governo anterior. Ele veio para resolver. Logo no primeiro dia, Belivaldo detonou a inauguração fantasma da Unidade de Nefrologia. Partiu furioso em cima de Zé Almeida (Primo de JB), e se comportou como se nada da gestão Jackson merecesse defesa. Alardeou que, com ele, o pagamento do funcionalismo seria regularizado. Claro, a rejeição à Jackson aumentou.

3.       Por razoes políticas, Jackson assumiu calado o desorganizado segundo Governo de Marcelo Déda; que por razões conhecidas, não andou bem. No final de Déda, o governo foi entregue a um triunvirato petista, que só aprofundou a crise. Não sendo um bom gestor, Jackson Barreto não soube formar uma equipe ligada a ele. Não tinha nem planejamento, nem paciência para governar, e terminou com a fama do pior governo da história de Sergipe.

4.       O Prefeito Edvaldo Nogueira, aliado histórico de Jackson Barreto, trouxe André Moura para Aracaju. Antes da campanha, levou-o de bairro em bairro, de rua em rua, de casa em casa, anunciando obras e uma nova aliança. Na maioria das vezes, André também assinava a ordem de serviço, em conjunto com o Prefeito.

5.       O apoio a Jackson, virou um meio apoio. Edvaldo indicou a André onde estavam os líderes de bairros em Aracaju, os que tinham prestígio. O que não é pouco. Para que não houvesse dúvidas, André Moura foi recebido na Prefeitura uma semana antes da eleição, e a notícia vazou de propósito. Foi o suficiente, André derrotou Jackson em Aracaju.

6.       A intensa, aberta e bem-sucedida campanha do PT para o voto isolado em Rogério Carvalho deu certo. Só ele foi o candidato de Lula. Não falo do pessoal do SINTESE, esse tinha lá as suas razões; falo do conjunto do PT, que salvo exceções, não votou em Jackson Barreto, mesmo com o direito a dois votos para o senado.

7.       Lula e Haddad elogiavam Jackson, o PT estadual desmentia. Jackson precisava desse voto petista, aliás, merecia esse voto, pois o Partido tinha a metade do Governo. A força de Lula em Sergipe, elegeu Rogério Senador.

8.       Somando-se a desconstrução da imagem de Jackson Barreto realizada pelos “aliados” a uma gestão desastrada, a base da derrocada estava pronta. O próprio Jackson, num momento impensado, gravou declarações dizendo que ao final do mandato de governador deixaria a política, e pedia para que ninguém mais votasse nele.

Claro, existem outras causas, e muita gente vai contestar as razões acima apontadas. Mas é como eu vejo, numa primeira abordagem. Com as derrotas de Jackson Barreto e Valadares, encera-se um período de dominação política em Sergipe, iniciada com as eleições diretas para governador, em 1982.  
Antonio Samarone.

quinta-feira, 4 de outubro de 2018

O DESCOBRIMENTO DE SERGIPE - 04/10/1501


O descobrimento de Sergipe. (04/10/1501)
Hoje completam 517 anos da chegada dos portugueses a Sergipe. Em maio de 1501, por determinação do Rei Dom Manuel, zarpou do Tejo, uma expedição com três caravelas, para reconhecer as terras de Vera Cruz.
Em 04 de outubro de 1501, dia de São Francisco, a expedição chegou a Sergipe, deparando-se com o grandioso Rio Parapitinga, imediatamente batizado de rio São Francisco. Descobriram o rio do Pereira (atual Cotinguiba), e o rio Cirigi (atual Sergipe), que dar nome ao estado. Avistaram a atual Serra de Itabaiana, que denominaram de Nossa Senhora das Graças.
A expedição descobriu ainda o rio Irapiranga (atual Vaza Barris), e em 26 de outubro chegaram ao rio Real, que recebeu esse nome em homenagem ao Rei Dom Manuel, por ser a data do seu aniversário. Portanto, os portugueses passaram 22 dias nas costas de Sergipe, e saíram com as caravelas carregadas de canafístula, considerada uma planta medicinal na Europa. Essa mesma expedição chegou ao recôncavo baiano em 01 de novembro, batizando-o de Baia de Todos os Santos.
Essa primeira expedição, que descobriu o território de Sergipe, teve repercussão nos meios culturais da Europa. Nela viajou Américo Vespúcio, que baseado na viagem, escreveu as suas famosas cartas – Mundus Novus e Lettera – que dava notícias das terras descobertas e de seu povo. As cartas tiveram grande divulgação. O nome América, como se sabe, foi uma homenagem desmedida ao autor das publicações.
Não comemoramos a data do nosso descobrimento, por falta de conhecimento, por falta de amor próprio e civismo. Antes Cabral tinha permanecido em Porto Seguro por oito dias. O mundo tomou conhecimento do Brasil por esta expedição, pois a conhecida carta de Caminha, o governo português engavetou, e só foi descoberta muito tempo depois.
Antonio Samarone.

quarta-feira, 3 de outubro de 2018

UM VOO CEGO


Um voo cego...
O presidente do Sindicato dos Médicos de Sergipe, doutor João Augusto Alves de Oliveira, anunciou em nota nas redes sociais, o seu voto: - “A minha maior prioridade é a segurança e a luta contra a corrupção. Por isso, escolhi Bolsonaro!” Ao exercer a sua liberdade apoiando um candidato, declaradamente autoritário, sem compromissos com a democracia, que pode suprimir a liberdade, enquanto presidente de um sindicato, o senhor assumiu uma responsabilidade perante a história.
A minha discórdia não é do caminho que o senhor escolheu. O senhor tem liberdade de opinião e escolha. A minha reação é ao senhor ter assumido um credo político enquanto presidente do sindicato. A nossa categoria é plural, possui colegas de várias matizes ideológicas, que professam diversas doutrinas políticas. Inclusive, colegas alheios a paixões políticas.
O doutor João Augusto pode argumentar: - “estou seguindo a vontade da maioria dos médicos”! Pode até ser, mas o senhor representa todos os médicos, e existe uma minoria que não subscreve a sua opção. O presidente pode ainda se defender: - “mas falei em meu nome pessoal, e não como presidente do sindicato!” Essa separação só existe na esfera da vida privada.
Quando um presidente de sindicato assume publicamente uma posição política, é impossível a separação. Nesses casos, pessoas físicas e jurídicas são politicamente as mesmas. O senhor, legalmente, representa os médicos.
Não estou discutindo a opção política do doutor João Augusto, não tenho essa pretensão. Estou discordando da postura política do presidente do Sindicato dos Médicos. Presidente, o senhor extrapolou as suas prerrogativas. A história cobrará um preço!
Antonio Samarone