terça-feira, 28 de novembro de 2017

AUGUSTO LEITE


No gabinete de estudos de Augusto Leite existia um quadro, com o celebre soneto do poeta pernambucano Bastos Tigre, sobre o envelhecer, que diz muito sobre o médico sergipano.

Entra pela velhice com cuidado
Pé ante pé, sem provocar rumores
Que despertem lembranças do passado
Sonhos de glórias, ilusões de amores.

Do que tiveres no pomar plantado
Apanha os frutos e recolhe as flores;
Mas lavra ainda e planta o teu eirado
Que outros virão colher quando te fores

Que não seja a velhice enfermidade...
Alimenta no espirito a saúde,
Luta contra as tibiezas da vontade!

Que a neve caia! O teu ardor não mude!
Mantém-te jovem, pouco importa a idade!
Tem cada idade a sua juventude.

segunda-feira, 27 de novembro de 2017

A SAÚDE NAS BARRAS DOS TRIBUNAIS

A Saúde nas barras dos tribunais.
Na Idade Média a igreja tentou controlar a medicina, com efeitos negativos em seu desenvolvimento. A proibição das dissecações é um exemplo, que embotou a anatomia por séculos. Atualmente no Brasil, o controle passou para o mundo jurídico. A judicialização da medicina, em nome de um princípio, o “direito a saúde”, está navegando por mares desconhecidos.
A reforma sanitária brasileira estabeleceu o controle social da saúde, e criou os mecanismos: as conferências e os conselhos. As crises e as insuficiências seriam equacionadas com a participação da sociedade. A questão da saúde não suporta simplificações. O mundo jurídico supõe que criar ou obrigar o cumprimento de normas resolve a questão. Se um hospital não está funcionando, basta uma decisão judicial, com multas e ameaças de prisão para os gestores, que o hospital começará a funcionar. Se esse caminho funcionasse, as mazelas da saúde seriam resolvidas com algumas canetadas.
As contradições do SUS não são modificáveis pelos instrumentos jurídicos. Financiamento, gestão, regulação e modelo assistencial são decisões técnicas e políticas. A discussão precisa passar pelos usuários, movimentos sociais e profissionais da saúde pública, como prevê a Constituição.
Para que não haja mal-entendido, o mundo jurídico é parte da questão sanitária, não o interventor. O ministério público foi parceiro dos movimentos de reforma sanitária em vários momentos. Entretanto, o mal da saúde não responde ao remédio jurídico. Os que discordam, aponte-me um exemplo. A apatia e a descrença da sociedade são partes do problema. Contudo, sem o controle social da saúde, continuaremos na escuridão.
Antônio Samarone.

sexta-feira, 24 de novembro de 2017

INTERVENÇÃO?


Intervenção?

 Em entrevista coletiva, o Procurador Ramiro Rockenbarh, fez um diagnóstico demolidor da regulação da alta e média complexidade em Aracaju. A ferida foi aberta. Como resolver? O procurador aponta para uma intervenção estadual, num primeiro momento; e não resolvendo, uma intervenção federal. Tenho dúvidas da eficacia de intervenções. A crise identificada tem como causas principais as ações de forças beneficiadas pelo caos do serviço público. O povo perde, mas setores da medicina comercial ganham. O povo perde, mas políticos que fazem assistencialismo com o SUS ganham. A má gestão não está só, tem aliados.  

Repassar a regulação para a Secretaria Estadual de Saúde, resolve? Como, quais são as evidências? Entregar o poder de regulação ao Estado, quando é visível a condução política daquela secretaria no momento. Passar a solução para quem não consegue resolver os seus próprios problemas. A regulação deve ser feita pelos profissionais da rede básica. Quem sabe se tal ou qual procedimento é mais ou menos urgente é quem está atendendo o paciente. Essa regulação deve ser pública, as vagas disponíveis e o número de pretendentes. O Ministério Público e demais órgãos fiscalizadores, a justiça, os tribunais de contas, o cidadão, devem acompanhar on-line, via internet. Os políticos vão pensar duzentas vezes para furar a fila.

Mas quem vai organizar tudo isso será uma burocracia indicada pelo Estado? Com todas as dificuldades, os municípios ainda reúnem mais condições, pois são quem comandam a rede básica. Se outros municípios entenderem que devem assumir a sua alta e média complexidade, sem problemas, que assumam. 

Contudo, vale a pena a leitura dos principais pontos da esclarecedora entrevista do Procurador Ramiro Rockenbarh:

"Após esses anos, o MP afirma que há erros de ambos os lados. Beira a vergonha e a irresponsabilidade a forma como tratam o assunto. Ficam lavando roupa na imprensa em vez de resolver o assunto."
"os 3 MPs se esforçaram muito, mas não teve jeito. Só nos restou propor uma
- O Município de Aracaju não tem mais como responder à gestão plena. Se mostrou inapto. Pedimos à Justiça que suspenda a atuação. Com isso, todos os recursos federais não devem ser mais repassados ao Município.
- Que a União estabeleça a retenção de 20% - R$ 4 milhões mês por 3 meses do FPM.
- O Município não pode agir como está agindo. Ele não pode se valer de credor de um recurso que não é seu.
- Que o Estado de Sergipe assuma o contrato.
- Queremos auditoria
- Que a PMA apresente a relação das filas e pq isso não foi solucionado. Quando a gestão passar para o governo, que o MP possa acompanhar mensurando os casos.
- Queremos que o Hospital Cirurgia coloque ordem, de uma vez por todas, naquele lugar que mais parece o shopping da Saúde.
- Quem deveria atender a Saúde fica fazendo lobby e contatos dentro do Hospital
- Que o Hospital faça rescisão dos contratos de quem está lá dentro
- Que preste informações sobre os serviços que estão sendo executados lá dentro. Que não realize no âmbito do SUS sem uma prévia regulação do gestor público
"inspeção feita pela PMA mostrou que leitos contratados pelo SUS estavam sendo usados pelos convênios"
"só quem tem muito crédito com hospital não é a prefeitura, mas a sociedade"
"pedimos o acesso às contas da prefeitura nos últimos dois anos para verificar isso"
O Município pode dizer que tem crédito. Ainda que tenha, se ele não está satisfeito: ou não contrata mais, contrata outro
'A menos que aporte um navio-hospital aí no Porto, a prefeitura não terá como contratar outro'
"Se nós próximos 6 meses esse quadro não se alterar significativamente, que haja intervenção".
"Não encerramos o processo de diálogo com PMA e Cirurgia. Mas apesar disso, agora pedimos essas medidas todas, pq queremos que o município seja afastado desta relação, pq se mostrou incapaz de fazer. Que o estado seja responsável por isso. já falamos na justiça que se nós próximos 6 meses este quadro não se alterar, que união e estado façam uma intervenção, afasta a direção inteira do hospital e faça o hospital funcionar". Conclui o Procurador.

Antonio Samarone.

terça-feira, 21 de novembro de 2017

QUINTINO DE LACERDA

Nascido escravo na Província de Sergipe, em 8 de junho de 1839, Quintino de Lacerda foi o primeiro líder político negro de Santos. Trabalhou como cozinheiro de Antônio Lacerda Franco e na firma Lacerda & Irmãos. Sendo este abolicionista, libertou o escravo que, reconhecido, tomou-lhe o nome, segundo antigo costume romano, passando a chamar-se Quintino de Lacerda – era, entretanto, mais conhecido por Tintino.

O mais atuante agitador da abolição da escravatura do litoral paulista, Quintino foi chefe do Quilombo do Jabaquara, onde abrigava escravos fugitivos de toda a região e do planalto, que aqui buscavam refúgio. De acordo com historiadores, o quilombo era inexpugnável, defendido pela encosta do Morro do Jabaquara e com um único acesso, permanentemente guardado por sentinelas de Quintino.

Em 1850, havia 3.189 escravos em Santos, para uma população livre de 3.956 habitantes. Quinze anos depois já existia uma forte resistência organizada. Tanto que, três meses antes da abolição, já não havia mais escravos em Santos. No dia 13 de maio de 1888, data em que a Princesa Izabel assinou a Lei Áurea, teve início grande festa popular, com comícios, passeatas, música e dança nas ruas, que durou oito dias. Quintino de Lacerda foi o centro das atenções e chegou a receber das mãos de Martim Francisco Sobrinho, em solenidade pública, um relógio de ouro, homenagem popular ao mais querido líder abolicionista de Santos e região.O relógio contava com a seguinte inscrição, de acordo com o historiador Francisco Martins dos Santos, em sua obra História de Santos: "Lei de 13 de maio de 1888. Homenagem popular abolicionista a Quintino de Lacerda, Santos, 1888".

Impulsionado pela abolição, Quintino lança-se à polícia, agregando os negros, pela primeira vez na história de Santos, ao processo político. Organizou e comandou um batalhão na defesa contra uma suposta rebelião para depor o Marechal Floriano Peixoto, o que lhe rendeu o título de Major Honorário da Guarda Nacional, em 1893.

Sua eleição como vereador, em 1895, desencadeou uma grande crise política fomentada por setores racistas da Cidade, iniciada com a negação de sua posse, pelo fato de Quintino ser analfabeto. Começou então uma batalha judicial que chegou aos tribunais paulistanos e terminou com a vitória de Quintino.

Prevendo o resultado favorável ao líder abolicionista, o presidente da Câmara, Manoel Mário Tourinho, renunciou ao mandato, seguido pelos vereadores Alberto Veiga e Sacramento Macuco. Coube ao novo presidente, José André do Sacramento, dar posse ao vereador, garantida graças a um Acórdão do Tribunal de São Paulo. Mas Sacramento  também renunciou ao mandato, declarando-se "enojado" com o que via, conforme registra a obra de Francisco Martins dos Santos.

O historiador destaca ainda que apenas um dos inimigos de Quintino permaneceu na Câmara, embora não mais comparecesse às sessões – Olímpio Lima, diretor do jornal A Tribuna do Povo, hoje A Tribuna.

As atividades da Câmara foram suspensas até 1º de junho, quando voltou a funcionar, agora sob a presidência interina do próprio Quintino. No dia 9, os cargos vagos são preenchidos e, sete dias depois, devido às ausências em plenário, sem justificativa, e cumprindo a Lei Eleitoral, Quintino propõe – e obtém, por unanimidade – a cassação de Lima.

Inconformado, o jornalista voltou à Câmara em 12 de julho, assim que foi empossado o novo presidente, Antônio Vieira de Figueiredo, mas foi solicitado a retirar-se, pois seu mandato fora cassado. Utilizando-se de seu jornal, Lima inicia uma violenta série de ataques contra Quintino e contra a própria Câmara, que culminou com a revogação da Constituição Municipal autônoma, votada em 15 de novembro de 1894 e durou menos de um ano.

A facção da Câmara que insistentemente tentou impedir Quintino de representar a população negra foi enfrentada pelo vereador, que inúmeras vezes recorreu à Justiça. Embora analfabeto, ele conhecia a lei suficientemente para defender seus direitos. Várias vezes adentrou à Sala das Sessões, na antiga Casa de Câmara e Cadeia, reagindo contra as provocações e tentativas de humilhá-lo.

Quintino de Lacerda morreu em 10 de agosto de 1898, deixando três filhos. Seu enterro foi acompanhado por um expressivo número de pessoas, testemunho do reconhecimento de sua importância histórica.

(Informações do site da Câmara Municipal de Santos, consulta em 13/7/2011).
Referindo-se à rua que ganhou o nome desta personalidade pública, o falecido jornalista Olao Rodrigues registrou, em sua obra Veja Santos! (edição do autor, 2ª ed., Santos, 1975, págs. 525/526):

Quintino de Lacerda (Major)
Rua - Bairro: Jabaquara
C. Av. Waldemar Leão (210)
F. Rua M. Nascimento Júnior
Lei nº 1.456, de 23 de fevereiro de 1953, do prefeito municipal, dr. Francisco Luís Ribeiro, autorizou o Executivo a dar o nome de Major Quintino de Lacerda a uma das ruas do Município. Foi o ato legal cumprido pelo decreto nº 648, de 29 de março de 1954, do prefeito municipal, dr. Antônio Feliciano, que oficializou a Rua nº 319, Projeto de Lei nº 254., de 1961, de autoria do vereador Antônio Bento de Amorim Filho, aprovado pela Câmara Municipal na sessão realizada a 12 de fevereiro de 1953.
Em homenagem ainda ao grande lidador da Abolição da Escravatura, o prefeito municipal, sr. José Gomes, promulgou a 21 de setembro de 1962 a lei nº 2.557, que instituiu a 13 de maio o Dia de Quintino de Lacerda, para ser comemorado anualmente.
Do mesmo chefe do Executivo a lei nº 2.427, de 15 de novembro de 1961, que autorizou o Executivo a proceder a estudos para ereção, em logradouro público, no Jabaquara, de monumento em homenagem ao Quilombo do Jabaquara, nos termos do projeto de lei aprovado pela Câmara Municipal na sessão de 6 de novembro daquele ano.
Quintino de Lacerda, natural de Sergipe, foi dos mais dedicados e humildes defensores do movimento abolicionista em Santos. Em seu quilombo, noJabaquara, acolhia os negros fugitivos, dando-lhes conforto moral, teto, comida e trabalho. Ex-escravo de Antônio de Lacerda Franco, que o libertou e de quem se tornou amigo incondicional, foi inspetor de quarteirão e administrador da Limpeza Pública Municipal.
Vereador à Câmara Municipal, em 1895, recebeu consagradora homenagem do povo quando da assinatura da Lei Áurea que, por intermédio de Martim Francisco (3º), lhe entregou relógio de ouro com a seguinte inscrição: "Lei de 13 de maio de 1888. Homenagem popular ao abolicionista Quintino de Lacerda. Santos-1888".
O major Quintino de Lacerda morreu a 10 de agosto de 1898, saindo o féretro do Jabaquara, coberto pelo pavilhão nacional, inhumado o corpo no Cemitério do Paquetá, depois de exposto na Igreja Matriz.
Curiosa passagem de Quintino de Lacerda pela Câmara Municipal: na sessão ordinária de 10 de junho de 1895, sob a presidência do sr. Antônio Vieira de Figueiredo, invocando a Lei Eleitoral nº 16 e justificando não haver o vereador Olímpio Lima comparecido às sessões do Legislativo nem demonstrado por que não o fazia, indicava fosse seu mandato cassado. A propositura foi unanimemente aprovada. Vale acentuar que, desse modo, Quintino de Lacerda exercera represália sobre o fundador de A Tribuna, que abandonara a Câmara Municipal em sinal de protesto contra a posse do major Quintino de Lacerda, que diziam ser analfabeto, apesar dos mais inteligentes propugnadores do movimento abolicionista em Santos.

sexta-feira, 17 de novembro de 2017

MUDA SERGIPE


O novo que já nasce velho...

Existe uma suspeita que os eleitores, desta vez, darão o troco aos políticos. Como os políticos não são bestas, estão matutando um jeito de distrair os eleitores. Os artifícios mais comuns são: passar por novo e dizer que quer mudanças. Acham que o eleitorado vai comprar gato por lebre. Uma velha máxima que orienta a política sentencia: “É preciso que tudo mude, para tudo continuar como está”. Entenderam? O segredo é fazer de conta, se passar por cordeiro, apostar que a memória dos eleitores é curta.

Em Sergipe, só quem não pode aparecer com o discurso de “mudanças” é o bloco PMDB/PT, liderado por Jackson Barreto, por uma simples razão, eles chegaram ao poder há doze anos, com o discurso de que seriam o “governo das mudanças”. Lembram-se? Seria o fim da mesmice. Talvez seja esse o maior enigma que o candidato Belivaldo (ou o seu substituto) precisa decifrar. Ele vai propor o quê? Continuar as mudanças que não deram certo do atual governo, ou ele será a mudança das mudanças, ou seja, nada. O desgaste de Jackson Barreto ao final do mandato pode ser maior que o de João Alves, na última passagem pela Prefeitura. Nesse momento, isso é quase natural. Poucos escapam.

E quem será o novo em Sergipe? O primeiro a se apresentar com essa pretensão foi o bloco liderado por Clóvis Silveira. Isso mesmo, Clóvis Silveira. Quem quiser mudanças, taí a oportunidade. Quem for mais exigente e quiser saber quais serão essas mudanças, vai perder o tempo, não é a hora desses detalhes. No máximo, generalidades. Vamos mudar, somos o novo, agora será diferente, blá-blá-blá. O “projeto” é liderado nacionalmente por Roberto Freire. 

Por enquanto, dois blocos anunciaram os seus candidatos: um liderado por Jackson Barreto, que deve propor a mudança do governo das mudanças (o marqueteiro que se vire); e o outro, liderado por Clóvis Silveira, que irá apresentar-se como o novo, como a verdadeira mudança. Não vai ser fácil para o eleitor que quer mudanças, acertar na mudança certa. O risco é que, apurados os votos, todos ou quase todos, estarão com os seus mandatos renovados, e os eleitores que queriam mudanças, trocarão seis por meia dúzia. É só aguardar...

Antônio Samarone.

domingo, 12 de novembro de 2017

A ESPANTOSA HISTÓRIA DA PSIQUIATRIA

A espantosa história da psiquiatria.

Início do século XX, os manicômios lotados de doentes mentais, e a psiquiatria sem recursos terapêuticos. Em 1917, Julius Wagner von Jauregg, médico vienense, faz uma descoberta surpreendente: uma paciente psicótica, em crise violenta, contraiu uma infecção respiratória, com febre alta. Ao final do período febril a paciente ficou lúcida, e a psicose desapareceu. Conclusão do Dr. Jauregg, a febre pode curar as doenças mentais, a chamada piroterapia. A partir dessa maluquice, passaram a inocular germes patogênicos nos doentes mentais, para tratar a psicose. Em alguns casos inoculavam o sangue contaminado com malária diretamente no cérebro do paciente. Muitos morreram, outros ficaram com lesões irrecuperáveis no cérebro e, claro, a agressão era totalmente ineficaz. O Dr. Julius Wagner von Jauregg, pela descoberta da conduta de infectar os doentes mentais para causar febre alta e prolongada, recebeu o prêmio Nobel de medicina em 1927.

Outra técnica terapêutica do mesmo período, foi a insulinoterapia, descoberta pelo médico austríaco Manfred Sakel. Ele imaginava que se injetasse doses elevadas de insulina nos doentes mentais eles entrariam em coma hipoglicêmico, e que se esse coma fosse repetido por vários dias, os doentes mentais seriam beneficiados. A lesão cerebral era a principal consequência desse tratamento, o que causava uma apatia posterior nos doentes, vista pela equipe médica como vantajosas. A terapia da febre e a terapia do coma foram usadas em quase todos os hospitais importantes do mundo até a década de 1950.

Antônio Samarone.

terça-feira, 7 de novembro de 2017

A ESPANTOSA HISTÓRIA DA PSIQUIATRIA



A espantosa história da psiquiatria.

Benjamim Rush, pai da psiquiatria americana, foi o descobridor de três métodos de tratamento da doença mental, por volta do século XIX. Primeiro, Rush achava que a loucura era decorrente da falta de circulação de sangue no cérebro, e como tratamento, colocava o paciente bem amarrado numa cadeira giratória, acionada com uma manivela, até que o infeliz ficasse tonto e começasse a vomitar; segundo, Rush também acreditava que a doidice se devia a uma sobrecarga sensorial, e como tratamento, o paciente era amarado numa cadeira tranquilizadora, e a cabeça colocada dentro de uma caixa de madeira fechada, para que ele não recebesse estímulos; terceiro, o método de tratamento preferido pelo Pinel americano, era esvaziar o intestino do alienado, com um depurativo contendo 10 grãos de calomelano e 15 grãos de jalapa, até o infeliz botar os bofes para fora.

Ainda tem gente reclamando porque os médicos entopem as pessoas de remédios controlados por qualquer depressãozinha ou insônia.

Antônio Samarone. 

sábado, 4 de novembro de 2017

Eletrochoque: ciência, comércio ou castigo?


Eletrochoque: ciência, comércio ou castigo?

No início do século XX, os psiquiatras acreditavam que convulsões induzidas por metrazol ou insulina eram úteis para o tratamento da esquizofrenia. Em 1937, o neurologista italiano Ugo Cerletti, constatou que o choque elétrico aplicado na cabeça causava as mesmas convulsões, e criou um equipamento com essa finalidade. A terapia por eletrochoque foi espalhada pelo mundo, sendo um dos procedimentos mais usados nos hospitais psiquiátricos, mesmo sem a menor evidência dos seus benefícios terapêuticos. O eletrochoque também foi usado no controle de pacientes agitados, indisciplinados, politicamente incomodo, como punição.

O eletrochoque foi insistentemente denunciado por grupos de direitos humanos e pelos militantes da reforma psiquiátrica no Brasil. O filme “O Estranho no Ninho”, com Jack Nicholson, teve grande repercussão mundial. A partir da década de 1970, o uso do procedimento começou a ser reduzido, sobretudo, devido a descoberta dos neurolépticos, terapeuticamente mais eficazes.

Entretanto, o uso do eletrochoque aperfeiçoado, retornou com força. A terapia passou a ser aplicada com uso de relaxantes musculares, anestesia de curta duração, a pré-oxigenação cerebral, o uso de EEG para monitoração da crise, e melhores dispositivos e formas de onda para ministrar o choque transcraniano. A medicina continua acreditando que eletroconvulsoterapia (ECT) é um tratamento seguro e eficaz para pacientes com transtorno depressivo maior, episódios maníacos, esquizofrenia e outros transtornos psiquiátricos. As máquinas modernas de ECT produzem pulsos elétricos breves de 1 a 2 milissegundos.

Conforme a Associação Psiquiátrica Americana, a Eletroconvulsoterapia (ex eletrochoque) é um tratamento de primeira escolha quando: (a) há necessidade de uma melhora rápida e consistente, (b) os riscos de outros tratamentos são maiores do que os riscos da ECT, (c) existe uma história prévia de resposta pobre a drogas e/ou boa resposta pré- via à ECT ou (d) o paciente prefere esse tipo de tratamento. Atualmente, apenas 14 hospitais no Brasil dispõem da ECT pelo Sistema Único de Saúde – SUS, sendo apenas dois no Nordeste, um na Bahia e outro em Pernambuco.

Em 1992, surgiu a terapia de Estimulação Magnética Transcraniana (EMT) usada nas desordens psiquiátricas, como transtorno depressivo, transtorno afetivo bipolar, transtorno obsessivo compulsivo (TOC); na dependência química e no autismo. Em março de 2006, a Anvisa regulamentou o uso do aparelho de Estimulação Magnética Transcraniana; e em 2012, a Estimulação Magnética Transcraniana (EMT) foi reconhecida pelo Conselho Federal de Medicina como tratamento médico eficaz. Em Aracaju, temos serviços especializados e profissionais treinados em Estimulação Magnética Transcraniana (EMT) e Eletroconvulsoterapia (ECT), em plena atividade.

Antonio Samarone.

quarta-feira, 1 de novembro de 2017

FREUD EM ITABAIANA

Freud em Itabaiana.

Freud é um gênio pouco lido e muito citado. Entre os conceitos freudianos o complexo de Édipo é o mais lembrado, chegando a se tornar popular em Itabaiana. Eu explico. Pegaram o complexo e esqueceram o Édipo. Em psicologia, complexos são aspectos emocionais reprimidos, capazes de provocar distúrbios psicológicos permanentes ou mesmo sintomas de neuroses. Em Itabaiana deram um uso universal aos complexos. Qualquer desajuste psicológico ou comportamental, qualquer desvio de conduta, o sujeito era logo taxado de complexado. É complexo, bradavam nas esquinas. Tinha complexo de pobre, feio, baixo, gordo, corno, burro, e por aí a fora. Um dos piores xingamentos era ser chamado de complexado. Não conheci ninguém em minha infância que, uma vez ou outra, não tivesse recebido essa pecha. Fulano tem complexo de pobre, sicrano tem complexo de feio, cada um tinha o seu.

Freud saiu de moda em Itabaiana. Procurei saber quem eram os atuais complexados, e ninguém sabe mais o que é isso. O complexo desapareceu sem tratamento ou, sei lá, mudou de nome. Deve ser um desses transtornos nomeados pela psiquiatria.

Antonio Samarone.